terça-feira, 12 de abril de 2011

"The Child's Eye" (Tungngaan, 2010)

Ah, os irmãos Pang. Por onde começar? Esta dupla de Hong Kong é a responsável pelo sucesso de "The Eye" (Gin Gwai, 2002) e consequente franchise "The Eye 2" (Gin Gwai 2, 2004) , "The Eye 10 (Gin Gwai 10, 2005)" e o mais recente: "The Child's Eye 3D" (Tungngaan, 2010). Uma série de filmes sofríveis a maus, excepto o original, esse é bom e apresentou, na altura, uns sustos originais. Hollywood até fez um remake do filme com Jessica Alba no papel principal. Suspiro. "The Child's Eye", deveria ser uma brincadeira de criança para quem já fez três filmes da série, mas em vez de aprimorarem, os irmãos Pang parecem afundar-se cada vez mais no absurdo. A acção passa-se na Tailândia, (um olhar rápido pela filmografia dos realizadores confirmará a familiaridade com o terreno), numa altura de plena convulsão social e política. Desta vez, tentaram imprimir alguma seriedade ao filme, com o cenário bem real das manifestações anti-regime que a Tailândia atravessa. No entanto, ficam-se por aí. Esta nota introdutória apenas contribui para explicar a permanência dos heróis num hotel misterioso até poderem viajar em segurança.
Os personagens são três casais, oriundos de Hong Kong que vieram passar umas férias à Tailândia e quando tentam regressar encontram o aeroporto fechado. Como estão demasiado longe para regressar ao hotel onde ficaram, inicialmente, o creepy hotel é a the next best thing.  A nossa heroína Rainie (Rainie Yang) está desavinda com o namorado Lok (Shawn Yue), não se percebe bem porquê mas ele mostra uma personalidade tão desagradável, que a relação terminar, não seria a pior coisa que lhes poderia acontecer. Entretanto, ela tem algo para lhe contar... Até que ele e os outros dois rapazes desaparecem. Cabe-lhe a ela e às suas duas BFFs (best friends forever) encontrarem-nos e escaparem à ameaça que paira sobre os ocupantes do hotel. Ora, se o início não é auspicioso a qualidade vai sempre a descer, produzindo-se momentos de comédia num filme que se pretende de horror.

Para começar as duas amigas de Rainie passam o filme todo nuns calções perigosamente curtos. Deve ser para nos distrair da representação. Embora, a Ling (Elanne Kwong), pareça, a espaços, ter mais potencial como actriz do que Rainie. A culpa é dos calções pah! Quanto a Rainie, passa o filme a fazer uns olhares lânguidos para a câmara por entre a sua franja sexy. Dos rapazes, só o namorado de Rainie é que tem direito a uma personalidade, que como já se viu não é agradável. Os outros dois só servem para momentos de comédia e um ou outro susto. Não lhes queria chamar peças de mobiliário mas têm a profundidade artística de um móvel. Yep, as personagens estão assim tão pouco desenvolvidas. Depois, a narrativa é muito confusa, ficando, a sensação de que há ali muitos pormenores, muitos quase sub-enredos que poderiam ter sido cortados pela raíz. Um ghost movie puro seria sempre mais do mesmo mas ao menos compreenderiamos para onde é que os irmãos Pang pretendem ir. É que temos um cão (espírita?!), três orfãos, um dono de hotel comprometidissimo com o que se está a passar, uma suposta mulher que foi assassinada, um estranho ser que passeia nos corredores, possessões, mitos urbanos sobre mulheres grávidas numa mini-alusão ao "The Eye 2"... Enfim, são demasiadas micro-histórias, que podem não ser o que parecem e mesmo que se desvendem por completo, para que é que precisávamos de saber aquilo? Por exemplo, quando se vêem os três orfãos sentimos que a história vai tomar uma dada direcção que acaba por não se concretizar. É assim até meio do filme: irmãos Pang, já se decidiam!
O filme também é responsável pelas piores cenas de tensão que tenho visto. Tudo em nome do 3D. Não tenho dúvidas que a história foi sacrificada para provocar uns bons momentos de: "agora vês-me, agora já não, agora apareço de repente e apanhas um cagaço que até cais da cadeira". A cena de Rainie com o cão é estúpida, ponto. Uma estranha criatura com o olfacto muito desenvolvido, não consegue encontrar Rainie e um cão que tremem que nem varas verdes ali ao lado dela. Noutra cena, Rainie, num "confronto do outro mundo" faz olhinhos melados à criatura que lhe quer fazer mal, derretendo-lhe o coração... Verosímil não é? Acabei por forçar-me a ver o filme até ao fim apenas para fazer esta apreciação. O próprio final, também é fraquíssimo, se bem que se não prestarem atenção a alguns detalhes não irão entender a última cena. A imagem também não é nada que justifique o 3D. Pronto, eu disse-o. A grande maioria dos filmes não justificam a utilização da imagem a três dimensões. Contudo, o filme é um sucesso de bilheteira, o que decerto não irá limitar os irmãos Pang, na sua exploração do "horror" em 3D. Resta-nos esperar, por dó de nós, que eles vejam o "The Eye" em repeat e vejam onde é que erraram, vezes sem conta, nos filmes seguintes. Meia estrela, sem mais comentários.
Próximo Filme: "I Saw The Devil" (Akmareul Boatda, 2010)

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