quarta-feira, 29 de junho de 2011

"Blood Rain" (Hyeol-ui nu, 2005)

Confesso que sou fã de mistérios de época. Nada como desvendar um crime à moda antiga. Não há cá pós de perlimpimpim para se encontrar impressões digitais nem testes de ADN à CSI. Aqui usa-se o velho amigo cérebro. "Blood Rain" passa-se no início do século XIX, durante a dinastia Joseon, na ilha Dongwha, onde se prepara o tributo anual de papel ao rei. Uma shaman é chamada para abençoar a oferenda e fazer com que esta chegue, literalmente, a bom porto, quando é possuída pelo espírito de um homem injustamente acusado de traição 7 anos antes. Entretanto, o barco incendeia-se com a carga e a população fica desesperada com a possibilidade de não entregar o tributo a tempo e recair sobre si a mão pesada do rei. Won-kyu Lee é designado para investigar o caso mas o que seria uma investigação quase banal complica-se quando os habitantes da ilha começam a aparecer mortos das maneiras mais horrendas.

"Blood Rain" recorda-me o já aqui publicado "Shadows in the Palace" (Goongnyeo, 2007) em diversos aspectos: mortes inexplicáveis, um mix de mistério criminal com elementos do sobrenatural e um elenco muito vasto com a excepção que em "Blood Rain" é predominantemente masculino. A shaman é só para disfarçar. Ah e para dar um alívio de tanta testosterona. Também o argumento é muito menos confuso e não é tão excessivo na alusão ao oculto. Infelizmente, Won-kyu é menos competente que a sua congénere feminina em "Shadows". O pathos, quando Won-kyu tem uma revelação sobre a sua própria vida é quando muito sofrível. Ele parece mesmo estar com prisão de ventre. Desculpem lá qualquer coisinha. Aparte isso, o seu vocabulário facial não é muito mais variado que o de um Keanu Reeves, se é que me entendem. Com isto, não pretendo dizer que Won-kyu não é uma personagem simpática mas que tinha potencial para mais lá isso tinha. As outras actuações estão dentro do espírito do filme que se impõe de medo e de suspeição. Quanto à shaman continuo a achá-la pouco mais que um bibelô. É para continuar a insistir no oculto e não nos esquecermos disso. Certíssimo.
À primeira vista, a solução do mistério não é previsível e com tantas personagens é uma verdadeira roleta russa descobrir quem é o assassino ou a próxima vítima. Tanto, que a dado momento o argumento insiste num certo sentido e afinal é o contrário. Ah, malandros! Um "pormenor" adorável é a música da película. Frequentemente, os filmes mais sombrios utilizam a música ao mínimo e um ou outro som mais intenso para provocar determinadas reacções na audiência. Aqui, temos o que podemos chamar de banda sonora, cujos trechos acertam de forma perfeita nos momentos críticos da narrativa. O clímax está um must. Sentimos tudo aquilo que devemos sentir, quando e como o devemos sentir. Só questiono o uso de uma banda sonora semi-ocidental. "Blood Rain" é um daqueles filmes de época que pedia o uso e abuso de sons tradicionais.Teria sido óptimo para penetrarmos no drama / mistério histórico.
Apenas os minutos finais provocam alguma frustração numa trama de outro modo envolvente. "Blood Rain" tem algumas mortes entusiasmantes para quem é fã de gore, o enredo cativa e aborda temas tão interessantes desde a luta de classes à religião. E tem chapéus. Muitos e giros. Três estrelas e meia.



Realização: Dae-seung Kim
Argumento: Won-jae Lee, Seong-jae Lim
Elenco:
Seong-won Cha  como Won-kyu Lee
Yong-woo Park como In-kwon Kim
Ji seong como Doo-ho
Ji-na Choi como Man-shin (Shaman)
Ho-jin Jeon como Comissário Kang

Próximo Filme: "My Ex" (Fan Kao, 2006)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

"The Maid", 2005

Já era tempo de nos chegar uma surpresa agradável de Singapura. O problema é ser também a primeira, que não há termo de comparação. Ainda assim fiquei bem impressionada. "The Maid" representa uma realidade bem mais negra que a ficção. Quantas vezes não se ouve falar de casos de jovens que são atraídas para outros países para trabalhar e acabam nas malhas da escravidão, prostituição e de tráfico de órgãos? Calma, que a película é inspirada no real mas prefere a rota do sobrenatural. Ora, "The Maid", pega precisamente na prática recorrente da contratação de jovens pobres para irem trabalhar como empregadas fora dos seus países de origem. Kelvin Tong mostra, desde logo, a banalidade do processo e da mercantilização de vidas humanas num álbum de fotografias de potenciais candidatas. Beleza, idade, postura corporal, peso... Selecção de gado? Rosa Dimaano (Alessandra de Rossi), de 18 anos é a jovem seleccionada que troca pela primeira vez a tranquilidade da sua localidade rural nas Filipinas pelos edifícios altos e trânsito ruidoso de Singapura. A sua reacção inicial é de fascínio, o que não é para menos, dado o meio de onde veio. Nas suas palavras, aquela é a sua oportunidade de conhecer o mundo. E bem diferente é o mundo em que vai entrar. Rosa será a empregada de um supersticioso casal chinês o que contrasta, profundamente, com a sua crença católica. Para mais, ela chega no primeiro dia do sétimo mês chinês, aquele em que (segundo se diz), os portões do inferno se abrem e os espíritos andam à solta para se vingar das ofensas cometidas contra eles em vida. À sua volta, todos parecem levar muito a sério esta mitologia e fazem oferendas para apaziguar os espíritos e mantê-los longe dos seus lares. Entretanto, Rosa fica a conhecer Ah Soon, o filho do casal, um homem com mente de criança que desde logo se afeiçoa à nova criadita.
"The Maid" é um pouco de "The Sixth Sense" (1999), e de filmes baseados em velhas superstições populares em partes iguais. Assim, dos mais recentes posso nomear o "Tali Pocong Perawan" (2008) da Indonésia e o "Sick Nurses" (2007), da Tailândia. Mas arranja força e originalidade pelo seu próprio mérito. A cinematografia é belíssima: as cores vibrantes das comemorações do sétimo mês chinês e o seu contraste com as cores frias da vida quotidiana de Singapura estão algo de especial. E o melhor é que vemos e sabemos tanto quanto Rosa pois o mundo dos mitos e ritos chineses é novidade para ela! Tanto que Rosa, logo à chegada, comete sem intenção uma grave ofensa aos espíritos, quando pisa a oferenda que o casal chinês tão encarecidamente lhes tinha feito. Rosa atrai sobre si azar e começa a ver coisas que não deveriam estar... O resto é história.
Kelvin Tong, volta a brindar-nos com algumas surpresas. O pormenor da narrativa de Rosa, o olharmos pelos seus próprios olhos inocentes é um toque brilhante. E o modo como esta se transforma mais para o final está um modo original de contar uma história sobre outra perspectiva. Como não podia deixar de ser, o elemento sobrenatural está muito presente e fornece alguns sustos eficazes. Houve alturas em que pulei da cadeira com Rosa e pensei: "eu teria sentido o mesmo". Numa reflexão final e porque tantos filmes insistem nos perigos do oculto, por vezes, urge questionarmos se o mal estará mesmo naquilo que desconhecemos ou no comportamento humano, que pode ser tão imprevisível e perigoso. No meio de tanta coisa igual, Kelvin Tong arrisca e apresenta-nos um final inesperado. Quatro estrelas em cinco.



Realização: Kelvin Tong
Argumento: Kelvin Tong
Elenco:
Alessanda de Rossi como Rosa Dimaano
Huifang Hong como Senhora Teo
Chen Shu Cheng como Senhor Teo
Benny Soh como Ah Soon
Zhenwei Guan como Wati

Próximo Filme: "Blood Rain" (Hyeol-ui nu, 2005)

domingo, 19 de junho de 2011

"Kung Fu Panda 2", 2011


Po: Ah. My old enemy... stairs!
Bem-vindos ao maravilhoso mundo das sequelas superiores aos filmes originais e dos filmes de animação com alma. Ouviram bem argumentistas do "Shrek" (2001-2010) 1, 2, 3... Ah, esperem alguns deles estiveram mesmo ligados ao "Shrek" e a outros títulos tão interessantes como "Mars needs Moms" (2011) e "Madagáscar" (2005-2009*). Estão perdoados.
Admito desde já uma mea culpa. Raramente vou ao cinema ver um filme de animação. Costumo esperar que saiam em DVD. É daquelas coisas em que vejo o trailer, acho engraçado e encolho os ombros. "Kung Fu Panda 2" foi uma boa aposta. Começo pelo óbvio. A animação está magnifica. Os pequenos momentos de animação dentro da animação, i.e., flashbacks estão magníficos. O 3D é de bradar aos céus de tão bom que está. Até que enfim, um 3D que acrescenta algo ao filme e que não se limita a aumentar o preço dos bilhetes de cinema. "Kung Fu Panda 2" ganha em três frentes diferentes: a animação, a narrativa e a banda-sonora. Temos clássico. A narrativa foi mesmo o mais surpreendente. Estava à espera de muita palhaçada do Jack Black (Po) e muitas, demasiadas sequências de luta dos seis guerreiros. A palhaçada do Jack Black está lá mas é contida e as sequências de luta não estão desafasadas do contexto nem são gratuitas. A história está suficientemente desenvolvida para vermos uma evolução desde o "Era uma vez" a "O Fim". Gostei da procura do Panda Po pelos seus pais verdadeiros e do conflito interno em torno da sua verdadeira identidade, elevou a história a um patamar mais alto. Também o "vilão que quer dominar o mundo" não é propriamente novidade. Mas até a história do pavão Shen (Gary Oldman) é interessante e demonstra uma densidade psicológica e emocional pouco comum. Normalmente, os vilões praticam o mal porque... sim. Posso mesmo dizer que alturas houve em que fiquei comovida. São momentos ternos e tocantes, dignos dos grandes clássicos da Disney (o estúdio que fez esta animação foi a Dreamworks), e de dois favoritos pessoais, "Beauty and The Beast" (1991) e "The Lion King" (1994).
É nesta altura que faço um aviso: o Panda do Kung Fu é o tipo de filme que as crianças mais pequenas verão acompanhadas pelos pais e que logo a seguir os inundarão de perguntas dado o tema maduro que estas ainda não têm a maturidade emocional para processar. É ainda um filme para adultos. Por isso, podem ir ao cinema à vontade, sem se preocupar em levar uma criança pela mão. Relativamente, à banda-sonora, com Hans Zimmer ao leme nada pode correr mal. A música captura na perfeição as cenas de artes marciais e os elementos de comédia com a cultura chinesa. Já das novas personagens a minha favorita foi a Soothsayer ou a cabra vidente de Michelle Yeoh que parece feita de encomenda (e foi!) e nos proporciona algumas das maiores risadas do filme. No capítulo das relações fiquei rendida a Po (Jack Black) e ao seu pai Mr. Ping (James Hong) que é uma das relações entre pai e filho mais especiais que já se viu no cinema de animação.
Por fim, a minha única crítica vai para o desfecho de Panda Kung Fu, a acção foi muito despachada e os destinos de algumas personagens ficaram uma incógnita. Visto que a acção levou o seu tempo a montar de modo a que a audiência estabelecesse um envolvimento emocional para com as personagens, não deixo de pensar que o final acontece demasiado rápido (e o filme só tem 90 minutos)! Mas é uma falha menor, "Kung Fu Panda 2"é um filme feliz. A julgar pela sessão a que fui (e isso vale o que vale), a audiência saiu globalmente satisfeita, com um sorriso no rosto e o coração um pouco mais cheio. Quanto a vós não sei mas gosto de sair do cinema sentindo que o meu dinheiro valeu bem a pena. Quatro estrelas.


Realização: Jennifer Yuh
Argumento: Jonathan Aibel, Glen Berger, Ryan Crego, Ed Gombert, Robert Koo e Simon Wells
Elenco:
Jack Black como Po
Angelina Jolie como Tigress
Dustin Hoffman como Shifu (mestre)
Gary Oldman como Shen
James Hong como Senhor Ping
Michelle Yeoh como Soothsayer

* Especial de Natal
Próximo Filme: "The Maid", 2005


quinta-feira, 16 de junho de 2011

"Senjakala" 2011

Foi com "Senjakala" (crepúsculo em Língua Portuguesa - mas sem os vampiros brilhantes), que me aventurei no mundo do cinema malaio. Nada mau. Nada mesmo. Gostei dos actores, em especial, da actriz principal Liyana Jasmay que interpreta a inocente Khalisa. Ela tem nariz grande, lábios grandes (faria concorrência à Angelina Jolie) e tez escura. Notem que isto não é uma crítica é antes um elogio. Por que é um rompimento completo com os cânones de beleza ocidentais das raparigas de feições pequeninas, perfeitinhas e pele de alabastro, que nem sequer são vulgares entre o comum dos mortais. Até podia não ter sido ela a escolhida, visto que no elenco existem actrizes com feições mais moderadas e tez mais clara. Só acho que a dupla de actores seleccionada para interpretar os seus pais não tem a mínima semelhança física com ela. Bem que Khalisa poderia ter sido adoptada que Mazidah (Aida Aris) parece demasiado nova para ser sua mãe. Mas quem sou eu para julgar?
No que diz respeito ao enredo, Khalisa é uma jovem que está a sofrer com a morte do seu noivo num terrível acidente. O tempo passa e os seus pais e amigos ficam preocupados com a sua incapacidade de ultrapassar o que aconteceu. A somar à tragédia, ela começa a ter sonhos que a atraem para a sua terra natal, uma aldeia em nada semelhante a Kuala Lumpur. Juntamente, com a sua cúmplice e amiga Isabella (Faezah Elai), Khalisa decide regressar para descobrir a razão dos seus sonhos e aprender a lidar com a morte do noivo. Lá, Khalisa irá deparar com a má recepção dos locais e com um antigo segredo de família que a liga a um rapaz estranho chamado Arman. Quando digo estranho não estou a brincar. Arman tem olheiras de quem não dorme há muitas luas, além de que não é muito educado. Confesso que de início até pensei que fosse mudo. Um simples "olá" e "adeus" bastavam, ok?
No seu percurso Khalisa irá lidar com presenças sobrenaturais, histórias de família antigas e criar novos afectos. A cena musical pseudo-romântica é das coisas mais incidentalmente cheesy que já vi. Como que retirada a papel químico de uma novela. Totalmente desnecessária. A simples demonstração das imagens seria suficiente para montarmos um cenário romântico.  Também adoro o facto da espécie masculina ser sempre tão dotada nas artes marciais nos filmes asiáticos. É quase um requisito. Intimidante não é? A história vai-se mantendo ainda interessante, com um bom rítmo intercalado com cenas fantásticas da natureza que envolve os personagens. Temos mesmo aquele feel da "pequena povoação remota envolvida por uma paisagem selvagem".
Adicionalmente, fiz um esforço consciente para não ser demasiadamente crítica com "Senjakala" porque se há grandes produções que cometem erros imbecis, não é justo julgar quem comete os mesmos erros por falta de capacidade para mais. A dobragem das vozes, por exemplo, não está perfeita mas não é nada que se torne incomodativo. Já os sons que supostamente representam "coisas que não são deste mundo", não são os melhores, chegando a ser irritantes. A caracterização dos personagens também é fraquinha. Gostaria mesmo de saber qual é a marca do batom que Arman utiliza em todo o filme. E duvido que pretendessem que a caracterização dos seres sobrenaturais fizesse rir. A certa altura, uma personagem desaparece e a actriz principal nem sequer se apercebe disso. Pelo menos, não lhe atribui importância nenhuma, nem questiona por ela. Era suposto que se tivesse ido embora? Aconteceu-lhe algo? Vem a verificar-se que não mas se têm explicado antes escusava de me distrair da acção principal. Por fim, o teor religioso não satisfaz. Não é que tenha problemas de religião e metafísicos, só que teria preferido uma solução mais imaginativa para o desfecho. Em última análise, "Senjakala" entretém.  Não tenta ser mais do que é e tem uma história audience friendly, relativamente bem estruturada. Fiquei com vontade de ter uma nova experiência cinematográfica malaia. Como tal, recebe duas muito simpáticas estrelas.



Realização: Ahmad Idham
Argumento: Shariman Shafie e Ahmad Idham
Elenco:
Liyana Jasmay como Khalisa
Zahiril Adzim como Arman
Faezah Elai como Isabella
Aida Aris como Mazidah
Ruminah Sidek como Avó Maimun


Próximo Filme: "Kung Fu Panda 2", 2011

domingo, 12 de junho de 2011

"Three..Extremes - Curta #2: Cut" (Saam Gaang Yi, 2004)

Depois de "Dumplings", segue-se "Cut", num registo mais contido. Embora, "Cut" mostre mais que o anterior, sugere muito menos. É muito menos extremo. Opiniões. E a premissa nem é má. Um realizador interpretado por Byung-hun Lee, que é uma paz de alma no set e trata a todos com igual bondade e educação é raptado da sua casa por um figurante. Esse personagem é completamente chanfrado e embirra com o realizador por ele ser bom. Pois. Isso mesmo. Rico, bem casado e sucedido, não tem direito a ser boa pessoa. Enfim, a inveja é uma coisa muito feia. Como tal, o louco arrasta para a sua "vendetta" a mulher do pianista e uma criança desconhecida. Ele propõe um desafio a Lee que de desafio não tem nada pois que é forçado a isso, se ele não estrangular a criança, ele cortará os dedos da sua mulher, um a um, enquanto ele não agir. Notem o requinte de malvadez: a mulher do realizador é pianista... Não só lhe arranca os dedos como o seu sustento. Ouch. Mas ele é louco e com os loucos não dá para argumentar. Na sua insanidade ainda espera que o realizador se lembre dele, a ele que é um mero figurante, entre centenas de pessoas. Ah, um pormenor que a mim arrepia os pêlos da nuca é o realizador ser raptado de sua casa para o estúdio que é uma réplica exacta da sua casa! Não é espécie de violação de privacidade? Deve ser só de mim.  Quanto à atmosfera propriamente dita, acho o início mais forte que o final, talvez também por ainda estar imbuída do espírito de "Dumplings". A cena do rapto está bem conseguida até ao momento em que ele acorda no estúdio. A partir daí perde-se alguma da atmosfera psicológica e que se nota também no ambiente físico. O estúdio, réplica da casa do realizador, apresenta cores vibrantes que contrastam com o assunto negro.  É revelador da dicotomia que é o figurante, uma personagem louca e divertida ao mesmo tempo. Talvez por isso, não fui capaz de o levar a sério, mesmo quando ele ameaçava o casal. Quanto ao realizador, não convence enquanto homem bom por demais, nem mesmo quando finalmente, confessa os seus segredos mais obscuros. Não existe ali um verdadeiro ponto de ruptura o que acaba por ditar um fim igualmente inconsequente.  Apreciei apenas o facto de "Cut" terminar, de certo modo,  como começou, vampires anyone? Sendo uma fã de Park e de Lee, não pude deixar de pensar que este filme me parecia desfasado do contexto de "Dumplings" (é o mal de se verem as curtas por uma determinada ordem) e mesmo da temática: extremos! Dá vontade de dizer, "corta e passa à próxima". Por isso, leva umas comedidas três estrelas.


Realização: Chan-wook Park
Argumento: Chan-wook Park
Elenco:
Byung-hun Lee como Realizador
Won-hie Lim como Figurante
Hye-jeong Kang como Mulher do Realizador

Próximo Filme: "Senjakala", 2011

quinta-feira, 9 de junho de 2011

"Rule number 1" (Dai yat gaai, 2008)


*Trailer + Legendas em PT

"Os fantasmas não existem" é a primeira e mais importante regra. Admito que a premissa me enganou. Contudo, pormo-nos a adivinhar, não nos levará a lado nenhum neste filme de Kelvin Tong: o enredo está cheio de reviravoltas e de flashbacks. Por isso, se gostam de filmes sem grandes sobressaltos este é o alvo errado.
"Rule number 1" começa a um ritmo alucinante, com o polícia novato Kwok-Keung Lee (Shawn Yue) a levar mais do que podia contar numa operação de rotina. Lee acaba por ficar gravemente ferido e por testemunhar um evento sobrenatural (ou será que não?) que o afectará para sempre. Ora, acontece que ele tem demasiados escrúpulos e não se coíbe de descrever o evento estranho que presenciou no seu relatório. O seu chefe que (hão-de reparar surge a comer em todas as cenas), não quer nem ouvir falar em "coisas do outro mundo" e vá de o recambiar para um departamento obscuro. Notem, que Lee é destacado para um departamento que se dedica à intervenção em assuntos de origem, no mínimo, curiosa. Portanto, fica a dúvida sobre se este destacamento foi inocente ou não. O departamento é apropriadamente denominado de "MAD - Miscellaneous Affairs Department", assuntos que ninguém da força policial normal quer tratar. Sons estranhos, electrodomésticos com mente própria, alucinações... são o quotidiano do MAD.
Entretanto, Lee que foi desterrado para uma força policial que só tem mais dois homens, cada um com os seus rituais: um é alcoólico, o outro além de viciado em jenga utiliza uma cadeira de rodas para se movimentar quando tem tanta mobilidade como qualquer ser humano saudável, depressa se arrepende dos seus escrúpulos. Isto já para não dizer que o departamento parece uma sala de espera da função pública desactivada há muitos anos. Estão a ver o cenário?
O seu novo chefe é o Inspector Wong (Ekin Cheng), um polícia atarracado, pouco amistoso e acabado que o introduz à regra de ouro do MAD: a regra número um. Foi aqui que surgiu o primeiro equívoco do filme: pensava que ia ver um duelo entre o polícia que acredita vs. o polícia céptico, uma batalha de mentes como um Mulder e Scully. Nada disso. Mais, até determinado ponto interrogamo-nos se os cenários que vão surgindo no decorrer das investigações do MAD, não terão explicações racionais, o que seria perfeitamente aceitável. A frustração de Lee alastra e nem a sua bela mulher May (Fiona Xie), num papel unidimensional e também horizontal, pois que está sempre na cama deitada, lhe consegue aliviar o trauma inicial ou fazer esquecer a tristeza da despromoção. Surgem ainda outras personagens, nomeadamente ligadas à vida íntima dos dois actores principais que são apenas aborrecidas. Será que foram enfiadas à pressa no argumento? Ok, essenciais para compreendermos as suas motivações e background, mas que soam apenas a um prelúdio de algo maior. Afinal, o que interessa é o desvendar do mistério. De bom grado seriam postas de parte e teríamos só um duelo de mentes entre os dois polícias e a sua luta contra o sobrenatural.
Tong fez um filme incoerente em termos de acção: "Rule" inicia-se com um ritmo avassalador, abranda substancialmente e depois levanta voo muito rápido, sem que nada o fizesse prever. Embora, não seja uma grande fã do género de acção e à excepção da cena na piscina, os momentos acelerados são os que melhor funcionam. Quando às reviravoltas do argumento, elas não convencem nem funcionam por aí além. Não me entendam mal, não é um mau filme, nem sequer está mal feito e até se percebe onde Tong pretende chegar. Não sei é se concordo. Mais do que medo, pena, qualquer coisa, o que fica no final da película é um profundo sentimento de frustração. Not bad, just not great. Duas estrelas e meia.


Realização: Kelvin Tong
Argumento: Kelvin Tong
Elenco:
Shawn Yue como Lee Kwok-keung
Ekin Cheng como Inspector Wong
Fiona Xie como May


Próximo Filme: "Three...Extremes - Cut" (Saam Gaang Yi, 2004)

domingo, 5 de junho de 2011

"Tali Pocong Perawan", 2008

"Tali Pocong Perawan", nome sonante não acham? Infelizmente, é apenas mais um, numa série de filmes com o Pocong. E que é o Pocong, perguntam vocês? Eu respondo. O Pocong é um fantasma indonésio de quem se diz ser a alma de um morto enclausurado nas suas ligaduras. Estas, ou se preferirem, sudário é o que é utilizado pela comunidade muçulmana para cobrir o corpo de um morto. Ele é atado acima da cabeça, debaixo dos pés e no pescoço. Nem na morte há liberdade para um morto! Diz a tradição popular que a sua alma permanece na terra durante 40 dias. Após este período, se os nós não tiverem sido desfeitos, a alma saltará da campa para que os vivos o façam, após o que deixará de vez este mundo. E como está amarrado, o Pocong persegue os vivos dando saltos. Uma ideia: e que tal não atarem o morto para começar?
Aparte as superstições dos vivos, "Tali Pocong Perawan" pouco traz de novo para os ocidentais. É uma triste cópia de "Shutter" (2004). Mas passando à história, Nino (Ramon Y. Tungka) é um jovem slacker, também voyeur, com traços de stalker que passa a vida ao computador ou a espiar o seu irmão Aldo (Ibnu Jamil) a enrolar-se com a namorada Virnie (Dewi Perssik), por quem ele, a propósito, está apaixonado. Querido como só ele, tenta roubar a namorada ao irmão. Como? Ora, da maneira mais razoável e sensata possível. Ele rouba um sudário de uma virgem que morreu recentemente. Curiosamente, ou talvez não, essa jovem tinha-se suicídado, no campus onde eles estudam...
Entretanto, há muitas coisas que me chateiam. Há algum motivo para Nino estar sempre a coçar-se? Inclusivamente nas virilhas? Ewwwwwww... Algo me diz que há sérios problemas de higiene ali. E talvez algo mais, se é que me entendem. Nada disto é de admirar, já que Nino tem o quarto todo desarrumado e ar de quem se levanta da cadeira... raramente. Portanto, além de tentar espiar a namorada do irmão e de a tentar roubar, também tem falta de higiene. Isto não o torna digno de piedade, torna-o detestável. Não se preocupem que há mais: Virnie, também tem uma série de tiques e não é nada likeable, aparte encontrar-se  num estando constante de gata que ronrona mas não convence. Está sempre a provocar Nino e outros homens, de tão senhora que é do seu sexo. Isto funcionaria bem se transmitisse com sucesso uma imagem de femme fatale. Pelo contrário, mais parece uma femme desespérée. Já Aldo, jeitoso que dói, mal diz uma palavra até metade da película e a própria câmara também não se digna a focá-lo, a ele que é a coisa mais bonita de todo o filme! O horror! Depois, vai-se a ver e ele até tem um papel importante! Shame on you! O que me leva ao argumento que é uma grande trapalhada. É como se a meio do filme tivessem despedido o argumentista e contratado outro. Não é como se a primeira parte do filme estivesse a correr bem. A dada altura há uma cena no elevador, que só vos digo isto: "The Eye" (2002). Reviro os olhos e não é de satisfação. Quanto à última parte... Posso repetir "Shutter"? Tem uma revelação surpreendente e inacreditável porque podem acreditar-me, não é de todo convincente. O pouco nexo que existia até então, desapareceu para parte incerta. Há ainda cenas desconexas, comportamentos sem sentido (como é que ela sabia que ele estava no telhado? Uh?) Enfim, mauzinho mesmo. Meia estrela e já estão a ter muita sorte.

Realização: Ari Azis
Argumento: Eviv Elham
Elenco:
Dewi Perssik como Virnie
Ramon Y. Tungka como Nino
Ibnu Jamil como Aldo
Próximo Filme: "Rule number 1" (Dai yat gaai, 2008) + Bónus: trailer com legendas em PT

quinta-feira, 2 de junho de 2011

"Yoga Institute" (Yoga Hakwon, 2009)

"Yoga Institute" que também se pode encontrar por aí como "Yoga School", é um filme que tinha guardado na gaveta há já algum tempo. Nem sei bem o que é que atrai, se o poster da mulher contorcida se a possibilidade de o ioga possuir um lado perverso. Mas ok, o tema também é interessante. A discussão sobre se a beleza se o valor profissional da pessoa é mais importante é muito actual, sobretudo para as mulheres. Sorry guys! Se o valor profissional é muito importante, a verdade é que um palminho de cara vende muito mais. E até onde estaremos dispostos a ir para ir buscar alguma da beleza que não nos saiu nas cartas? Embora, esteja a imaginar alguns membros do sexo maculino a deliciar-se com as contorções de ioga das actrizes (o elenco é quase todo feminino), não estou a ver grande empatia destes com a temática, que de horror o filme tem muito pouco. Mas espero estar enganada. Entretanto, não consegui vêr o filme antes porque tenho um método aleatório de selecção dos filmes, com direito a papelitos com as várias hipóteses e tudo. I kid you not! Achei que devia partilhar.
Posso adiantar que fiquei desiludida com a película. O argumento de "Yoga Institute" tem mais buracos que um queijo suiço. Após ser ultrapassada por uma novata bonita na estação televisiva onde trabalha, Hyo-jeong (Yoo Jin Kim) começa a questionar a sua própria aparência e decide inscrever-se num curso intensivo de ioga que de acordo com uma ex-colega, é o segredo de beleza mais bem guardado. O instituto é gerido uma ex-actriz e uma instrutora rígida chamada Na-ni (Soo-Yeon Cha) que infoma Hyo-jeong e as outras candidatas de que terão de seguir à risca uma série de regras: não comer; não tomar banho até uma hora depois das aulas; não olhar para espelhos; não sair do edíficio e não contactar com ninguém fora do curso. Inicialmente, tudo aparenta correr bem, até que as raparigas começam a quebrar as regras...
Como já tinha referido o argumento apresenta problemas, demasiados problemas. Desde logo com Hyo-jeong, a veterana de televisão que não sendo simpática e até desagradável para Seon-hwa (Young-Jin Lee), uma antiga colega de escola, acaba por lhe sugerir o instituto de ioga! Quanto a vocês não sei mas se eu tivesse uma colega que era uma cabra, a última coisa em que estaria interessada seria o seu bem-estar.
"Yoga Institute" deixa mais dúvidas do que respostas. Por exemplo, a ligação da actriz ao ioga não é nada explorada. Como é que chegou à brilhante conclusão que o ioga é a fonte da juventude? Umas plásticas e uns peelings não? À medida que os dias passam, Dong Hun (Daniel Choi), o interesse amoroso de Hyo-jeong, não sabe onde esta se encontra começa a procurá-la. É uma história paralela que começa interessante mas acaba repentina e insatisfatória. Mais uma vez fiquei sem perceber qual era a intenção de Jea-yeon Yun, realizador e argumentista. E o cumprimento das regras é condição essencial para se alcançar a suprema beleza? Ok. Como é que chegaram a essas regras? O filme é todo assim. Jae-yeon Yun é parco nas respostas.
Agora, chega a altura de ser simpática, porque este filme não apresenta só falhas. A cinematografia está excelente, a atmosfera no instituto é pesada e sinistra. Quando se entra no instituto quase que se sente o ar a mudar e a ficar pesado. Gosto do look dark do filme que se coaduna com a temática. Ajuda a explorar o lado negro da beleza, o preço da beleza, a luta entre a beleza interna e a externa... Infelizmente, há cenas em que tive de me tornar adivinha porque eu, pelo menos, na escuridão total não consigo ver nada. Quanto ao fim é insatisfatório. Acredito que se virem "Yoga Institute" com outras pessoas, todos chegarão a conclusões diferentes. É bom para quem não aprecia finais fáceis. Ora quem gosta de ver respondidas todas as suas questões exaustivamente, "Yoga Insitute", deixa um sabor a insatisfação na boca. Duas estrelas.



Realização: Jae-yeon Yun 
Argumento: Jae-yeon Yun  
Elenco:
Yoo Jin "Eugene" Kim como Hyo-jeong
Soo-Yeon Cha como Na-ni
Eun-Ji Jo como In-soon
Daniel Choi como Dong-hoon
Young-Jin Lee como Seon-hwa

Próximo Filme: "Tali Pocong Perawan", 2008
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