quinta-feira, 29 de setembro de 2011

"The Detective" (C+ jing taam, 2007)

Não faço a mínima ideia sobre o que é "Me Panda" e se forem ver o videoclip, como eu fiz, o mais provável é ficarem tão confusos quanto eu mas a música é infecciosa e fica no ouvido. É assim que começa "The Detective", (em cantonês qualquer coisa como detective de baixa categoria), com uma pequena música viciante e uma breve perspectiva das ruas de Banguecoque. Oxide Pang, mais conhecido por ser metade da dupla famosa dos irmãos Pang responsáveis por filmes tão bons quanto maus, situa a acção num cenário comum a muitos dos seus filmes, em Banguecoque, neste caso, no bairro chinês de Chinatown. Somos rapidamente apresentados a Tam (Aaron Kwok), um detective com um gosto muito, mas mesmo muito duvidoso, no que toca a camisas que mais parecem ter sido emprestadas por alguém dos anos 70. Ele dedica-se à investigação de pequenos casos de adultério que não rendem o suficiente para sobreviver durante muito tempo. Se não tivesse uma visão tão limitada, como diz o seu amigo polícia Chak (Kai Chi Liu), Tam teria sido polícia e não estaria com constantes problemas financeiros. Não concordo, se há coisa que Tam demonstra é iniciativa e uma excelente capacidade para o bom velho desenrascanço que pode não ser a atitude mais correcta a todo o momento mas traz resultados. Num dia igual a muitos outros, Tam é confrontado com Lung (Shing Fui-On), um homem convencido que uma mulher chamada Sum (Natthasinee Pinyopiyavid) o está a perseguir e o quer matar. Após uma oferta generosa de Lung, Tam aceita reluntantemente o caso. O que seria um caso fácil à partida torna-se um denso mistério, à medida que Tam se começa a deparar com mortos e mais mortos. A sério, Tam mais parece um Doutor Morte. É que tem o condão de aparecer sempre nos locais onde alguém morreu ou irá morrer.
Desta vez não me vou pôr a barafustar com Oxide Pang e em como ele, mais uma vez falhou o alvo por que de fracasso, "The Detective" não tem nada. Começa à boa maneira noir de um filme de detectives, com o habitual cliente a entrar pela porta e a trazer consigo um grande mistério. Não aqui nada de original mas a história é envolvente. Já tinha dito como adoro um bom thriller detectivesco? Ora aí está. Aaron Kwok está convincente no papel de detective pouco perspicaz, o que lá está, não concordo nada já que ele guarda uma série de truques giros e uma capacidade de dedução bastante razoável. Em toda a honestidade, "The Detective" é um veículo para lançar a carreira de Kwok. Ele demonstra a sua capacidade dramática através de um breve e pouco desenvolvido subenredo sobre o desaparecimento dos seus pais. E mais, likeable como é, deixa a porta aberta para se fazerem uma série de aventuras do detective Tam.
Pois que já vamos em 2011 e Pang acabou de completar o segundo filme que, ao que parece, tem tido críticas razoáveis pelo que não há razão para pensar que não possa existir um terceiro filme. (Estou tão entusiasmada com a possibilidade de ver a sequela que não caibo em mim de contente, a sério). Quanto a este, o argumento não é nada de extraordinário embora, tenha os habituais twists de um dos manos Pang, que acabam por ser compensadores. Achei apenas o epílogo longo e desnecessário. A audiência não é tão pouco perspicaz que necessite de uma longa explicação para compreender o rumo dos acontecimentos, nem o argumento é confuso na apresentação de soluções.
Também a atmosfera é envolvente. Entre momentos frenéticos, filtros amarelos e as ruas densas e sinuosas da Tailândia, temos caso. Faz sentido, o trabalho de um detective não é glamoroso e Oxide transporta os poucos momentos de verdadeira acção para as ruas sujas e ruídosas de Banguecoque com uma supreendente atenção para os detalhes. Depois, se não temos acção temos o trabalho intelectual, com Tam a captar todos os lugares e momentos na sua câmara fotográfica (publicidade descarada à Nokia para a qual, já agora, estou a contribuir e nem sequer recebo por isso!) e escreve no seu quadro a giz, todas as pistas que vai recolhendo. Se gostam de ver filmes de detectives ondem competem com o herói para ver quem descobre primeiro a solução, só essa razão chega perfeitamente para ver "The Detective". Se não, vejam na mesma porque o produto final é empolgante e envolvente. Três estrelas e meia, sem peso na consciência e sem discussão.

Realização: Oxide Pang
Argumento: Oxide Pang e Thomas Pang
Aaron Kwok como detective Tam Chan
Kai Chi Liu como polícia Fung Chak
Siu Ming Lau como Tio Cheung
Natthasinee Pinyopiyavid como Sum
Shing Fui-On como Lung/Choi

Próximo Filme: "Visit" (Dalaw, 2010)

domingo, 25 de setembro de 2011

"Masters of Horror - Imprint", 2006

Há algum tempo que queria ver "Imprint", o 13º episódio  da primeira temporada da série para televisão “Masters of Horror”. Não podia ter ficado mais deliciada quando descobri que “Imprint” não chegou a ser transmitido nos E.U.A. tal o conteúdo perturbador. Entretanto o episódio saiu em DVD, com um “banido” em letras garrafais (querem melhor publicidade?). Até podia dizer que os americanos são uns grande mariquinhas, mas não é para menos, “Imprint” aborda temas difíceis e tabus como a prostituição, violação, incesto, pedofilia, tortura… E depois de ver, percebo porque é que foi censurado. Isto vai soar um pouco saloio mas “Imprint” deixa mesmo uma impressão! As cenas de tortura, em particular, são muito fortes. Não me vou alongar sobre o seu teor, o trailer não faz propriamente segredo, contudo, posso adiantar que tem a marca inequívoca de Miike. Enquanto outros realizadores se centram na sugestão para logo a seguir transitarem para as reacções das personagens, Miike apresenta longas sequências dos actos brutais que parecem uma eternidade. Ele não é realizador de passar da entrada directamente para a sobremesa. Ele degusta devagar e com prazer o prato principal.
 
“Imprint”, tendo apenas um episódio de uma hora apresenta valores de produção altíssimos, mais até que muitas longas-metragens. A caracterização subtil, o guarda-roupa sumptuoso e a maquilhagem têm nota 10. Também o gore acaba por ter uma subtileza inquietante. Infelizmente, “Imprint” também tem os seus problemas. A representação é na generalidade péssima. Entre o overacting de alguns actores e o sotaque de outros – o elenco é japonês – o filme desce uns bons furos em qualidade. Que me perdoem os fãs de Billy Drago (Christopher) cuja actuação é horrenda. Drago é um excelente vilão. Ele encarna o vilão contido, o vilão louco e o vilão sádico como ninguém e, nesse campo, ninguém o bate. Ele sabe utilizar a sua teatralidade natural e aplicá-la às personagens só que noutro registo. O herói apaixonado lamento, não lhe fica bem. Ele interpreta Christopher, um jornalista que viaja pelo Japão à procura da sua amada Komomo (Michie Ito), a quem prometeu levar para a América. Na sua busca, Christopher vai parar a uma ilha maldita, de demónios e prostitutas, onde conhece uma mulher desfigurada que lhe diz que Komomo se suicidou. A mulher é interpretada por Youki Kudoh que é uma das poucas actrizes japonesas a dominar o guião e a proferir o discurso num inglês e dicção quase perfeitos. Algures lá no meio surge um monge que é demasiado mau para ser verdade. Note-se que ele se limita a repetir as sílabas foneticamente. Como é possível?
O argumento é igualmente fraco. A história não é facilmente perceptível e preocupam-me as motivações de Christopher e de Komomo. Sobretudo esta última que se agarra ao sonho de que o seu amado a vá buscar, a ela, de entre tantas, uma prostituta. Não existe uma  backstory que indique como se conheceram ou se amaram e como ficou a ligação tão forte que explique que ele atravesse mares para a ir buscar… Questiono-me se não seria mais eficaz um argumento mais sólido com um registo mais contido. Miike não tinha de mostrar todos os truques que tinha na manga. Recorde-se que na altura em que rodou este episódio, Miike ainda era recordado como o realizador do filme de culto “Audição” (1999) e talvez tenha sentido necessidade de se afirmar. Isto não era de todo necessário. Só no ano passado lançou o aclamadíssimo “Thirteen Assassins”. Com certeza, outros bons filmes virão. Mas como ia dizendo, saiu-lhe o tiro pela culatra e ficámos com um filme japonês, falado em inglês que (na altura) ninguém acabou por ver! O resultado é uma bizarria perturbadora. Analisando “Imprint” do ponto de vista do gore provavelmente atribuiria uma classificação de 5 estrelas. Ora, como tem tantos outros aspectos imperfeitos “Imprint” recebe apenas duas estrelas.

Realização: Takashi Miike
Argumento: Mike Garris, Daisuke Tengan e Shimako Iwai
Youkie Kudoh como Mulher
Michie Ito como Komomo
Billy Drago como Christopher

PS: Os DVDs da série já estão disponíveis em Portugal mas se pretenderem também podem adquirir a primeira temporada (volumes I e II) aqui
Próximo Filme: "The Detective" (C+ jing taam, 2007)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

"Insidious", 2011

Ora, vamos ser directos sim? A verdade é que vi "Insidious" há umas boas semanas, talvez na segunda semana de exibição nas salas de cinema portuguesas. E a minha vontade de fazer esta apreciação tem sido, bem, próxima de zero. Também senti o mesmo de "Tron: Legacy" (2010) mas não viram por aqui nenhuma menção ao filme pois não? Foi o que pensei. A somar à surpreendente dose de preguiça que me assolou também não sabia por onde começar uma vez que nem uma opinião formada tinha. Claro que poderia começar com algo do género: "Insidious" é uma homenagem aos velhos filmes de terror com casas assombradas, trazendo mesmo a sensação revivalista de filmes como o "Poltergeist" (1982)... O que não seria de todo verdade mas uma mentira descarada. "Insidious" não é revivalista. É uma cópia de "Poltergeist". Em certos aspectos é. Mas não insistamos mais nisso. O que me perturbou verdadeiramente não foi o terror (ok, isso também, já lá iremos), foi a incoerência esquizofrénica da película. Começa bem, acelera e depois já não vai tempo de meter os travões. Todo o nexo e tensão bem arquitectados anteriormentesão desgraçados por um 3º acto inconsequente.
Entretanto, vejamos a história: Renai (Rose Byrne) e Josh (Patrick Wilson) são um casal que se muda para uma casa nova com os seus três filhos. Com a criançada toda com menos de 10 anos e na idade das descobertas e das birras, Renai é uma mãe estoirada. Para não variar, Josh é um pai que aproveita o trabalho para se escapar à árdua tarefa de pôr ordem em casa. Um dia, o seu filho Dalton (Ty Simpkins) vai ao sotão, onde cai e bate com a cabeça. A principio ele parece bem mas nessa noite cai num sono profundo e não acorda. De acordo com os médicos, Dalton está num sono do qual, não se sabe quando irá acordar. Com um filho fora de combate, Renai é forçada ainda mais a dedicar-se ao seio familiar e à lida da casa, onde começa a reparar em fenómenos estranhos. Quanto a Josh, ele isola-se ainda mais e não quer lidar com a situação. A casa está mais assustadora a cada dia que passa: aparecem objectos fora do sítio, sombras e ruídos estranhos, sentem-se presenças que não são deste mundo... Sentir a aflição de Renai quando estes acontecimentos ocorrem perto das crianças é digno de se ver. No entanto, a melhor cena do filme está em algo absolutamente banal. A porcaria do alarme dispara durante  a noite e, meus senhores, se a cena não vos der arrepios eu não estou aqui a fazer nada... Enfim, até este momento a escrita tinha sido refrescante e vagamente criativa até para um género que já conheceu tantas e tantas versões. A partir daí é o descalabro. Bem, até ao fim mete medo claro, mas a história é tão absurda que dá vontade de sacudir o argumentista Leigh Whannell que até teve direito a mais do que um cameo como um daqueles caçadores de fantasmas que se vêm no canal Discovery assim como ao realizador James Wan (yep, a dupla maravilhosa de "Saw", 2004 e não, não estou a ser irónica), até eles nos dizerem o que lhes passou pela cabeça.
Quanto a Rose Byrne e Patrick Wilson têm actuações regulares, nada de extraordinário. A Rose Byrne alterna cenas arrepiantes com outras previsíveis e o Patrick Wilson parece, a espaços, que não sabe muito bem onde está. Nada de preocupante, "Insidious" sobrevive mais da atmosfera do que nos actores. A solução para a assombração é pavorosa e o modo de se livrarem dela é tão mais absurdo. Do modo como terminou, só pode dar em sequela que ainda estou para decidir se vou querer ou não ver. A minha frustração no meio disto tudo é que o filme assusta, mesmo quando o enredo se torna ridículo. O meu lamento é que podia ter sido tão bom... Seja como for, tão cedo não vou (re)vê-lo, não creio que os meus nervos estejam ainda refeitos... Duas estrelas e meia.

Realização: James Wan
Argumento: Leigh Whannell
Rose Byrne como Renai
Patrick Wilson como Josh
Ty Simpkins como Dalton
Lin Shaye como Elise
Leigh Whannell como Specs

Próximo Filme: "Masters of Horror - Imprint", 2006

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Suicide Club (Jisatku sâkuru, 2001)


A minha estreia no MoteLx iniciou-se com "Suicide Club" (ou se preferirem "Suicide Circle", esta gente não se entende com as traduções). Teria sido muito bom se tivesse visionado outros títulos, mas infelizmente não deu (sou uma pessoa ocupada sim?) E que dizer desta entrada de Shion Sono? Pois... um grupo de 54 colegiais japonesas atira-se para a frente de um comboio na estação de Shinjuku, Tóquio. Na plataforma é encontrada uma mala com um conteúdo grotesco: um enleado de pele humana pertencente às vítimas. O aparente suicídio colectivo levanta as suspeitas da polícia de que um culto talvez esteja por detrás do sucedido. Entretanto, uma hacker contacta a polícia, liderada pelo detective Kuroda (Rio Ishibashi) e indica-lhes um website onde uma série de pontos vermelhos correspondem ao número de mortos. Ponto. Acaba aqui a sanidade. Esta é a parte em que começa a tocar J-pop e quase que posso imaginar um David Cronenberg sob o efeito de calmantes a ver um game-show japonês. E esta, meus caros, é a descrição mais aproximada daquilo que vi. O filme é uma grande trip, uma grande mescla alucinogénia à volta de uma das pragas do século XXI. Com uma das maiores taxas de suicídio do mundo a ter lugar no Japão, um estudo do fenómeno no círculo cinematográfico não seria uma mera coincidência, tão-somente uma questão de tempo. O modo como Sono abordou a questão é que levanta muitas dúvidas.
Com todo o hype que circundou o filme e, ainda hoje existe, as minhas expectativas foram desde sempre altas. Ok, também não ajudou o facto de já ter visto para aí 60% do filme antes vá.  E caíram, ai se caíram, como que de um precipício e vieram a rolar por aí fora, batendo em todas as pedras no caminho. Percebi alguma coisa das intenções de Sono ou acho que percebi, outras nem por isso. Por exemplo, é irónico que numa sociedade onde é virtualmente impossível não estar ligado, não soem gritos de ajuda. Onde os telemóveis, a ligação à Internet e o escondermo-nos por detrás de uma alcunha parecem mais naturais do que dizer simplesmente: "estou deprimido". Talvez seja apenas difícil dizer aos adultos aquilo que se está a sentir ou talvez eles não estejam sintonizados para ouvir, tal é o fosso geracional. Seja como for, "Suicide Club" não deixa de ser uma sátira onde se debate um poderoso jogo de vontades onde eles (os suicidas) ganham e todos os outros em redor perdem. O meu grande problema é que esta reflexão está por baixo de camadas e camadas de J-pop (aparentemente) aleatório já que é preciso chegar ao fim do filme para se compreender o significado da misteriosa banda "Dessert" de miudinhas de 12/13 anos com músicas também, aparentemente, inócuas, um bando de tarados com a mania das grandezas que matam e violam e cuja maior pretensão é a comparação ao Charles Manson e outras tantas distracções.
As actuações não são nada de extraordinário mas também não se pode dizer que exista um grande argumento embora a oportunidade de nos concentrarmos no velho polícia esperto como uma raposa, avesso às novas tecnologias tenha sido claramente perdida. Outra oportunidade desperdiçada foi a de instalar um sentimento de pânico, um sentimento de urgência para a resolução da série de suicídios que começam a varrer o país. Um thriller detectivesco puxaria sempre menos pelos miolos mas seria infinitamente mais satisfatório. Com a cena inicial brutal e brilhante como é, um dos melhores inícios de filmes que já vi (sim, é uma declaração arriscada), sinto que me puxaram o tapete debaixo dos pés. “Suicide Club” promete imenso mas não cumpre. Deixa-nos num intenso êxtase prematuro para chegarmos ao final, com a sensação de que sabemos tanto quanto antes, ou menos, que o raio do filme é confuso. "Suicide Club" ou se ama ou se odeia e eu não amei. Tecnicamente está bem conseguido, há gore, há... Uma grande confusão. Uma estrela.
Realização: Shion Sono
Argumento: Shion Sono
Elenco:
Rio Ishibashi como Detective Kuroda
Masatoshi Nagase como Detective Shibusawa
Rolly como Genesis

Próximo Filme: "Insidious", 2011

domingo, 11 de setembro de 2011

"The Coffin" (โลงต่อตาย ou Lhong Tor Tai, 2008)

Bem-vindos ao maravilhoso mundo das superstíções. Se, como eu vaidosamente gosto de pensar, já leram alguma crítica no Not a Film Critic, decerto saberão como os tailandeses são dados a rituais insólitos até para as mais abertas mentes ocidentais. "The Coffin", segue as histórias de Chris (Ananda Everingham) e de Sue (Karen Mok), ambos apanhados pela desgraça. Mariko (Aki Shibuya), namorada de Chris encontra-se em coma profundo e sem grandes probabilidades de alguma vez vir a acordar e Sue, uma dietista de Hong Kong descobre que tem cancro nos pulmões. Numa tentativa desesperada de mudar a sua sorte eles acedem a participar num ritual tailandês que consiste em deitarem-se dentro de caixões e lá permanecerem por algum tempo, orando, para reverter a roda da fortuna.
O plano parece correr melhor do que o esperado. Mariko desperta e Sue, além de escapar ilesa de um violento acidente de automóvel descobre que o cancro desapareceu. Esta seria a altura em todos batíamos palminhas, soltavamos sorrisos e íamos para casa contentes. Mas há um twist, há sempre um twist. Chris e a namorada começam a ser assombrados por um fantasma e Sue recebe a notícia de que o seu noivo morreu num acidente rodoviário. Não se consegue mesmo enganar a morte pois não? É um pouco de "Final Destination" (2000) mas sem as mortes requintadamente planeadas e um pouco mais de história. Pena. As mortes é que lhe davam piada. Não me considero de compreensão lenta mas só a meio de filme é que entendi o que se estava a passar. Tipo, o que é que Chris e Sue têm em comum, excepto o fetiche de se enfiarem em caixões? Com diálogos atrozes e um enredo a um passo de ser incompreensível, não há muito que se possa fazer. A cena em que finalmente Chris e Sue se encontram é forçada. Bem que dava para fazer da narrativa fragmentada dois filmes: "The Coffin 1" e de "The Coffin 2". Considerando que a película se estreou na bilheteira em primeiro lugar, não seria muito mal pensado.
O Ananda Everingham estava em muito melhor forma em "Shutter" (2004), do que em "Coffin" onde tirando uma cena mais tocante, roça a banalidade. Quanto a Karen, lamento mas não senti ali grande coisa. Pouco sofrida para quem tem cancro, ainda menos sofrida para quem perdeu o amor da sua vida. Culpa? Medo? Não aparece. Ela lá faz umas caretas faciais mais simpáticas mas nada em que se preveja algum tipo de identificação com a personagem.
O melhor são mesmo os benditos filtros azuis. A cena de abertura em que se tem um longo plano geral é belíssima. Marca um tom vencedor que é pouco recuperado em cenas posteriores. Damn it. Notem que ainda não referi os elementos de terror. Pois. Viram o trailer? Et voilá. Aí têm os momentos mais assustadores do filme. Se me perguntarem se mete medo, respondo que nem por isso. No entanto, a espaços, as cenas dentro do caixão conseguem ser claustrofóbicas. Embora, nisto seja suspeita: eu sou aquela que tremeu com as cenas subterrâneas de "The Descent" (2005). Se não acharam este filme minimamente claustrofóbico, não têm o mínimo motivo para temer "The Coffin". Já a música é tão, tão aborrecida que se não estivesse a ver um filme de terror adormecia. Até pan pipes, e não sou fã do género encaixariam melhor que o minimalismo deprimente que resolveram imprimir ao filme. Há uma diferença entre melancolia e aborrecimento que claramente não foi entendida. Quanto à classificação não é preciso pensar muito. Eles meteram-se no caixão e pregaram-se lá dentro. Uma estrela.


 
Realização: Ekachai Uekrongtham
Argumento: Jin Han
Elenco:
Ananda Everingham como Chris
Karen Mok como Sue
Florence Vanida como Nan
Aki Shibuya como Mariko
Napakapapa Nakaprasitte como May

Próximo Filme: "Suicide Club" (Jisatku sâkuru, 2001)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Top 5: Monstros do Cinema Asiático

Após o soberbo sucesso do Top 10: Revelações mais Chocantes (notem o exagero), decidi reunir uma colectânea de alguns dos monstros mais memoráveis do cinema asiático e de outros que não sendo tão conhecidos têm um potencial enorme. A palavra "Monstro" deriva da palavra Latina monstrum e pode ter vários significados: algo que está "contra a ordem natural das coisas", "animal que no todo ou em parte se afasta da estrutura ou da conformação natural da sua espécie ou sexo" ou uma "coisa gigantesca e colossal". E a lista nunca mais acabava. É, fim e ao cabo, um ser que inspira temor e que é utilizado com frequência na ficção para provocar medo ou choque. Está presente em quase todas as culturas, apresentando muitas vezes as mesmas características (só muda o nome). O monstro encarna normalmente a figura do Mal devido aos seus atributos hediondos. Por vezes existem regras para evitar que eles nos perturbem, outras vezes, não temos essa sorte... À semelhança da lista anterior, não existe uma ordem específica.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

5ª Edição MoteLx

É já esta quarta-feira que o grande monstro tentacular vai atacar e eu, meus amigos vou lá estar. O MoteLx, festival de cinema de terror de Lisboa estreia-se esta quarta e prolonga-se até domingo (7-11 Set.) no cinema São Jorge. São sessões continuas por isso, se tiverem um tempo livre aproveitem e passem lá. Quanto aqui à je, vou ver o filme "Suicide Club" (2001) e, com alguma sorte, "Exte: Hair Extensions" (2007). Assistir a toda a retrospectiva de Sion Sono seria ouro sobre azul mas valores mais altos se impõem, ou seja, trabalho. Para não variar, depois cá estarei para vos dizer o que achei.

Podem consultar a programação aqui.

domingo, 4 de setembro de 2011

"Lawang Sewu Dendam Kuntilanak", 2007

Lawang Sewu, que significa literalmente a casa das 1000 portas é conhecida como uma das mansões mais assombradas em Semarang, na ilha de Java (Indonésia). Desde o século XVIII passou pelas mãos dos holandeses, japoneses e por fim, dos nativos. Várias são as histórias de tortura na época da invasão japonesa que contribuem para a lenda deste edifício. É pois, de pensar que este será o cenário ideal para um filme de terror. Não podiam ter falhado de forma mais espectacular o alvo. "Lawang Sewu Dendam Kuntilank" é um fracasso estrondoso do início ao fim. Não vale a pena estar com paninhos quentes. A realização e o argumento pertencem a Arie Aziz e Eviv Elham que se voltam a juntar depois em "Tali Pocong Perawan" (2008) já aqui revisto com resultados igualmente maus. Eles falham miseravelmente na capitalização de terem uma verdadeira! casa assombrada no filme e transformam-na quanto muito num cenário medíocre de um filme de igual qualidade.
Não me acreditam? Então, vejamos. Esta dupla consegue ir buscar a lenda do "Kuntilanak" ou vampiro, representado normalmente por uma mulher de longos cabelos negros que anda pelas povoações a assustar sobretudo as criancinhas e também aí pecar pelo absurdo. Para uma indústria absolutamente obcecada com os filmes de terror, a maioria deles baseados em monstros de crenças populares como o Kuntilanak ou o Pocong, o amadorismo é surpreendente. Ok,os orçamentos são praticamente inexistentes mas os cineastas e argumentistas tendem a replicar e continuar o ciclo vicioso dos erros de filmes anteriores e, basicamente, reciclar histórias anteriores. A premissa podia ser retirada de qualquer filme de Hollywood: um grupo de adolescentes entra numa casa assombrada e começam a cair mortos um por um. Vou perder um pouco de tempo com os clichés já que cada curva e reviravolta no guião é um hino ao que já vimos antes. Bem que "Lawang Sewu Dendam Kuntilanak" se poderia tornar um caso de estudo de como não fazer um filme de terror. 
1) Portanto, temos um grupo de jovens que fazem uma viagem de finalistas após a conclusão de mais um ano escolar. Visto.
2) Uma das raparigas, Diska interpretada por Thalita Latief, tem um fraquinho por um dos rapazes do grupo que não assume directamente. É a santinha do grupo. Visto.
3) As outras raparigas são as sluts. Como as raparigas promíscuas são sempre tão amigas de florzinhas de estufa, ainda estou para perceber. Visto.
3) Após uma noite de borga uma das raparigas (Cika), entra na casa assombrada. Ela desaparece. O que é que o grupo faz? Vai procurá-la, claro está. Visto.
4) O ambiente na mansão é assustador: sons de portas a ranger, correntes de ar, sombras e outros barulhos estranhos... Visto.
5) Depois de uns quantos sustos eles decidem fazer a acção mais insensata e previsível possível: separam-se. Visto.
6) O Kuntilanak persegue-os a todos e vai fazendo vítimas, uma a uma. Visto.
7) A heroína tem sonhos premonitórios. Visto.
8) A heroína acaba por descobrir afinal que o ataque não é aleatório que e que os seus grandes amigos terão feito algo para provocar a ira do monstro. Visto.
9) Acontece que um deles conhece uma bruxa ou mulher mística. Não é tão comum? Visto.


Poderia continuar com a enumeração dos clichés, mas isto deixaria de ser uma crítica para se tornar apenas uma sessão de masoquismo para a minha já traumatizada massa cinzenta. Vou ser sucinta: a direcção é péssima, a história não faz sentido e o elenco é mau demais para ser verdade. Espero não ouvir falar da dupla Arie Aziz/Eviv Elham durante muito tempo. Quem lhes disse que eles tinham talento devia ser severamente castigado. Podiam ver, digamos, uma maratona de todos os filmes que já fizeram juntos. Retiro o que disse sobre os filmes indonésios que já tive oportunidade de ver. Perdoem-me. Os outros, ao pé deste são muito superiores. "Lawang Sewu Dendam Kuntilank" tornou-se facilmente o melhor candidato a pior filme que já passou neste blogue. Se quiserem vê-lo força, mas não me responsabilizem por eventuais danos cerebrais. Não leva classificação. Não consigo encontrar uma classificação que consiga descrever aquilo que vi.
Realização: Arie Azis
Argumento: Aviv Elham
Elenco:
Thalita Latief como Diska
Salvina como Naya
Bunga Jelita como Cika
Tsania Marwa como Dinda
Marcell Darwin como Yugo
Ronald Gustav como Onil
Melvin como Armen

Próximo Filme: "The Coffin" (โลงต่อตาย ou Lhong Tor Tai, 2008)
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