quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Top 10: Assassinos Mascarados

Diversas questões me fascinam no universo do terror. Mas nenhuma outra como a motivação para o homicídio. O que leva alguém a matar? Necessidade? Prazer? Loucura? Ambição? Chegou-se a promover uma votação no Not a Film Critic, na qual se perguntava quais os vilões mais assustadores. O vencedor foi, sem grande surpresa, a rapariguinha de cabelos despenteados que sai de televisões e outras peças de mobiliário. É uma visão a que a sociedade ocidental não estava de todo habituada quando surgiram os primeiros filmes. Suponho que o que mais assuste nesta personagem seja uma aparência frágil, que em nada se coaduna com a de um assassino, pese embora o longo cabelo negro com vida própria. A segunda resposta mais indicada foi o serial killer. Este pode não apresentar uma aparência tão arrepiante quanto as meninas do J-horror e K-horror, mas a sua ameaça é bem mais real. Especialmente, quando se escondem por detrás de uma máscara. Seguem-se alguns dos assassinos mais icónicos a alguma vez usar uma máscara, assim como outros menos conhecidos que merecem ser vistos/revisitados.

ATENÇÃO: Spoilers!


“Curtains” (1983) – Este obscuro filme de terror canadiano só recentemente entrou no meu radar. Foi um daqueles filmes que tiveram problemas desde o início ao fim da rodagem que se reflectiram depois no resultado final. Com o advento do VHS e o passa a palavra “Curtains” tornou-se um filme de culto. A sério, os nerds dos filmes série B sabem do que estou a falar (piscadela). A película é sobre um realizador que chama a si seis aspirantes a actrizes para encontrar a personagem principal para o filme “Audra”, sobre uma mulher de sanidade instável. Escusado será dizer que ao realizador só interessa um tipo de casting, o do sofá e que ele não hesita em utilizar métodos pouco escrupulosos para retirar o melhor desempenho das candidatas. A dada altura surge um assassino com uma máscara de velha que começa a abatê-las uma a uma. Estará uma delas a eliminar a concorrência? Será que o realizador tem uma agenda mais sinistra do que se pensava? Será que uma delas finalmente compreendeu o papel de Audra e está a desempenhar a personagem? Fiquem com uma cena da perseguição da velha horrenda num lago gelado.

“Onibaba” (1964) – Em “Onibaba” que se pode traduzir por mulher demónio, tudo é luxúria: na vegetação alta a perder de vista, nos jogos de sombras, nos excessos da carne. Duas mulheres, sogra e nora levam uma existência digna de necrófagos. No meio de uma guerra civil, atraem os samurais mais desatentos para a morte após o que lhes roubam todos os pertences que trocam por comida. O retorno do vizinho Hachi da guerra, trazendo a nova da morte do marido da mulher mais nova desencadeia a discórdia entre elas. Vendo o seu modo de vida ameaçado, a velha mulher tenta assustar a nora para deixar de se entregar aos prazeres do sexo com Hachi, com a máscara de demónio que roubou a uma das suas vítimas. O plano falha e a mulher vê-se encurralada na máscara. Ela pede ajuda à nora mas as suas acções já foram longe demais. A máscara demonstra a corrupção que grassa nas suas vísceras e não faz tenções sair. Quem não é demónio, não lhe veste a pele. “Onibaba” é uma história de um castigo anunciado pela via corrupta que as mulheres optaram por seguir.

“Alice, sweet Alice” (1976) – A obsessão americana com o sexo e a religião é digna de se ver. Aposto que daria uma boa tese de doutoramento. Que mais esperar quando se selecciona para o papel de uma Alice de 12 anos, uma Paula Sheppard de 19 e para a irmã Karen a futura “pretty baby” Brooke Shields? Karen é estrangulada enquanto aguarda pela sua primeira comunhão por um assassino que veste um corta-vento amarelo vivo, luvas brancas e uma máscara de boneca. Mas que fixação os cineastas têm com bonecas, hein?! Infelizmente, para a pobre Alice o corta-vento é igualzinho ao dela o que faz si a principal suspeita da morte da irmã. Com representações que variam entre o mau e o sofrível, só a actriz principal se safa no papel de uma menina que pode não ser assim tão inocente. “Alice, sweet Alice” aborda temas assuntos bem adultos como o fanatismo religioso e exige um pouco mais de reflexão que os slashers mais conhecidos, sem ser uma obra-prima. No entanto, fica na memória, a imagem de um assassino cuja aparência nada teria de assustador, de face escondida pela máscara de uma boneca, como se de uma brincadeira de criança se tratasse…

“Scream” (1996) – Poupem-me à lengalenga de: “o Wes Craven já foi melhor e blá, blá, blá.” Os diálogos de “Scream” têm uma ousadia que só se voltaria a encontrar bastantes anos mais tarde com a aclamadíssima e sobrestimada Cody Diablo. O filme tem tantas referências aos filmes de terror que chega a ser ridículo. Matar a Drew Barrymore que era a única estrela do elenco é de génio. Craven desmontar e desvalorizar os clichés que ele próprio originou é de valor. Criar não um, mas dois assassinos foi um choque para as audiências. O assassino por que todos estavam à espera era afinal, uma parelha de sociopatas. Podia continuar a enumerar os méritos deste filme contra aqueles que são demasiado rápidos a disparar os seus defeitos mas essa é outra batalha. A máscara “Ghostface” foi idealizada tendo por base o quadro “O grito” de Munch e continua na linha do tom jocoso do filme. As suas feições exageradas demonstram, em simultâneo, raiva, temor, surpresa e lamento. É a última expressão, uma de desprezo, aquela que a sua presa vê, enquanto Ghostface acaba com a sua vida.

Friday the 13th Part III (1982) – Pessoalmente gosto mais da mãe do Jason, Pamela. Os monitores do acampamento Crystal Lake andam com as hormonas aos saltos e desleixam-se das suas funções. Acto contínuo, um pequeno Jason vai para o lago sem supervisão e morre afogado. Não é de admirar que Pamela não queira que o acampamento seja reaberto. É de doidos, mas compreende-se. Agora Jason erguer-se da sua campa aquática é mais rebuscado. Passa um filme a vingar a morte da querida mãezinha e a perseguir adolescentes excitados e nos filmes seguintes, limita-se a repetir a obra. É no terceiro filme, ao contrário do que é senso-comum, que Jason encontra a máscara de esqui. Depois de um filme e meio à procura do estilo que melhor condiz com a sua cara deformada ele encontra uma máscara apropriada à sua personalidade. A máscara é tão vazia de expressão quanto ele é vazio de sentimentos. Os que levaram à sua morte negligente há muito que se foram, a sua mãe vingadora também já foi enterrada, persiste a única réstia de humanidade dispensável, um furioso instinto assassino.

“Bloody Reunion” (2007) – Há histórias de ressentimentos tão grandes que se tornam assassinos. É mais fácil olhar para o que ficou para trás do que enfrentar o que somos agora. “Bloody Reunion” é a única película desta lista que é totalmente motivada pela vingança e na qual, não existe nenhuma morte aleatória. Quando um grupo de ex-alunos se reúne para se despedir da antiga professora da escola primária, velhos ódios regressam à superfície. Surge um assassino com uma máscara de coelho que começa a eliminá-los, um por um, das formas mais horrendas. Já vi máscaras que não metem medo nenhum mas isto é absurdo. De todos os animais… Um coelho? Um coelho inocente, pequenino e fofinho? A professora teve um filho deformado, que se ainda for vivo andará pela mesma idade que os seus alunos. Com vergonha do próprio filho, fechou-o na cave de sua casa onde ele passava os dias a fazer desenhos e a brincar com máscaras de coelhos. O assassino pode ser o único filho dela mas, também, pode ser alguém muito arguto que conhece a história da professora e pretende desviar as atenções de si.

“Halloween” (1978) – Depois de uma noite de sexo com o namorado, Judith Myers é assassinada pelo irmão Michael então com 6 anos. Ele passa 15 anos internado até escapar do hospício. É a noite de Halloween, a mesma na qual matou a irmã. Talvez o facto de regressar ao antigo bairro na mesma noite em que cometeu tal acto odioso o faça reviver tudo de novo. Myers retoma a sua senda assassina a coberto de uma máscara. As suas vítimas são quase sempre jovens que repetem continuamente os actos de Judith e do namorado. Lindas raparigas que constituem o objecto de desejo de Myers e os rapazes que as possuem. Uma sexualidade reprimida é comummente apontada para explicar as suas motivações. A pretexto de um orçamento baixo, a produção adquiriu a máscara do William Shatner em “Star Trek” (1966) que foi sucessivamente descaracterizada e pintada até se obter o produto final. O filme não demonstra como ele obtém a máscara, isso não é importante. Mas é noite de “Halloween” e Myers não se destaca no meio dos outros mascarados. Happy Killin’ Spree!

“Saw” (2004) – Se existe um assassino ritualista, ele é John Kramer (Tobin Bell). Ele é confrontado com a sua mortalidade quando descobre que tem cancro terminal e adquire um novo apreço pela vida. Ele tenta “influenciar” terceiros a adoptarem a sua nova visão de vida. O que não teria mal nenhum, se ele não criasse um elaborado esquema de jogos de vida e morte, no qual os jogadores não se podem recusar a entrar. Mas não faz mal, queiram ou não, eles são obrigados a enfrentar o seu passado negro e a lutar pela vida. “Jigsaw” como foi apelidado pela polícia é original entre os muitos assassinos desta lista. Ele não mata ninguém em lutas corpo a corpo, nem pelo prazer de matar. Quando as vítimas aprendem a lição, ele deixa-as escapar, o que infelizmente, não sucede muitas vezes. Quando caça as suas cobaias Jigsaw utiliza uma assustadora máscara da cabeça de um porco em decomposição. Só no quarto filme da série é explicado o seu significado: simboliza o ano do porco, aquele em que Kramer iniciou a nova “actividade”. Para os seus criadores, o porco apodrecido é também uma metáfora para a decadência humana. Certo.

“The Texas Chainsaw Massacre” (1974) – O título deste filme é enganador. O número de mortes provocadas por uma serra eléctrica é diminuto e também não se pode dizer que a morte de meia dúzia de pessoas seja considerada um massacre. O antagonista principal tem o nome sugestivo de “Leatherface” e usa uma máscara igualmente apelativa, feita com remendos de pele… humana. Tobe Hooper foi beber à história de Ed Gein, um verdadeiro serial killer dos anos 50, que terá inspirado o Buffalo Bill de “The Silence of the Lambs” (1991) e o Norman Bates do “Psycho” (1960). Quando a polícia capturou Gein descobriu entre a sua “colecção”, mobiliário feito de corpos humanos e um vestido de pele, que ele tencionava vestir para se tornar uma mulher. Daqui se pode ver a forte influência dos acontecimentos reais em “Massacre”. Leatherface é como uma criança grande, suja personalidade nunca se desenvolveu graças à família disfuncional. Ele é o que os outros querem que ele seja e por isso, veste a “face” mais apropriada ao contexto. Assim, quando mata usa a máscara de matança e quando está a desempenhar tarefas domésticas coloca a máscara de “mulher bonita”. Não queiram estar por perto quando ele colocar a máscara de matança…

“The Hills Run Red” (2009) – É um filme lançado directamente para DVD que é inesperadamente superior ao slasher habitual. Mas só um pouco. Não vale a pena ficarem muito excitados. Quer dizer, a Sophie Monk mostra os seios. Imagino que isso agrade a uma boa parte da audiência. A história é sobre um jovem obcecado com um filme chamado, adivinhem lá… “The Hills Run Red”. O filme foi retirado rapidamente dos cinemas e as poucas cópias que existiam foram destruídas. Ele decide realizar um documentário sobre o mistério e vai procurar respostas para o bosque onde a rodagem terá tido lugar. Lá, depara-se com Babyface um assassino brutal que usa uma máscara que é um misto de bebé de porcelana com o maxilar inferior visível. Babyface é uma criatura perturbada, fazendo dele a marioneta perfeita nas mãos das pessoas erradas. Não é como se ele utilizasse métodos de morte que já não tivéssemos visto antes mas tem uma aura desconcertante, acentuada pela sua história trágica. Uma, que nos leva a pensar que ele, desde o início, nunca teve uma chance. E é isso que o torna memorável a ponto de figurar no passeio da fama dos assassinos de slashers.

Menções honrosas: Sam do “Trick ‘r Treat” (2007), os Intrusos de “The Strangers” (2008), o Mocho de “Stage Fright”(1987) e Chrome Skull de "Laid to Rest" (2009).

6 comentários:

  1. Já nem me lembrava da máscara de porco no Saw. É um disfarce macabro é.

    E o Scream 1 é bom sim senhor :)

    A máscara do demónio fez-me foi lembrar o filme do Bava com o mesmo nome. Essa máscara tem uma carga enorme

    Bom top

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  2. Olá Loot,

    A máscara do Saw foi precisamente a última que adicionei. Também já não me lembrava dessa e era para adicionar uma das menções honrosas mas achava que não eram icónicas o suficiente.
    Eu acho que o Scream 1 é um bom filme mas nos últimos anos, não sei por via do cansaço com os slashers se pelas sequelas terem sido inferiores, virou moda dizer que o primeiro Scream não é assim tão bom.
    De quando é o filme Loot? Não estou a encontrar.
    Obrigada

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  3. 1960. O título em inglês é Black Sunday. E depois tem outro filme que em inglês é Black Sabbath LOL (onde a banda foi buscar o nome)


    http://www.imdb.com/title/tt0054067/

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  4. Olha boa. Agradeço a sugestão. Tenho de me dedicar a (re)descobrir velhos clássicos :)

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  5. As máscaras de lobo do "You're next" também levam com uma menção.

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  6. Olá Brain-mixer, confesso que, na altura, o "You're Next" ainda não se encontrava no meu radar, mas sim, merece a menção!!

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