domingo, 3 de junho de 2012

"Haunted Changi", 2010



Nos anos 30 foi construído um grande edifício em Changi, na Singapura. Na altura, Singapura estava tomada pelos britânicos que consideraram a colina o local ideal para construir um comando militar central. Com a agressão Japonesa, por ocasião da Segunda Guerra Mundial, o quartel foi desmantelado e acabou por se tornar um hospital de campanha, com muitos militares e civis a serem lá tratados. Diz que não foi só isso que por lá se passou e que muitas pessoas acabaram por ser torturadas e até alvo de experimentação por parte do povo invasor. Após a saída do exército japonês, Changi voltou a tornar-se um hospital e depois quartel militar após o que foi finalmente fechado e deixado ao abandono.
Ultimamente, o hospital no topo da colina, qual filme ou banda-desenhada, recorde-se por exemplo o asilo de Arkham no universo do Batman, tem sido palco de vandalismo por parte de arruaceiros e mendigos, provocando uma maior degradação no já envelhecido edifício.
Com uma estória tão rica e lendas sobre bunkers subterrâneos e câmaras de tortura escondidas, que os locais sabem na ponta da língua como se de uma qualquer coscuvilhice se tratasse Changi é o perfeito cenário para um filme de terror.

Uma equipa de jovem cineastas decide realizar um documentário sobre o Hospital pesquisando bibliografia sobre o tema, entrevistando os locais e… visitando as instalações. Eis, onde a ideia corre mal, a “equipa de filmagens vai filmar edifício assombrado e nunca mais retorna. Por tremenda sorte, o equipamento foi encontrado e, o que estamos a ver são as filmagens do que se passou por lá”. Recordam-se disto de um lado qualquer não é? Refresco-vos a memória: “Blair Witch Project”, “Grave Encounters”, “Haunted House Project”… Portanto já estão a ver onde isto vai dar. O problema é que “Haunted Changi”, ao contrário do desastre “Haunted House Project”, tinha potencial. Os actores são naturais e não houve necessidade de inventar estórias visto que estas são parte integrante do imaginário local. É infinitamente mais difícil tentar convencer um público de estórias de assombro quando não há dados factuais. No caso de Changi, não só as estórias existem, como o medo colectivo, transmitido entre gerações perpetuou a noção deste lugar como malévolo. A completar a moldura está o próprio hospital, metade destruído, metade vandalizado, que não convida à visita dos mais sensíveis.
Ora, Changi podia ter dado o documentário perfeito. Infelizmente, Andew Lau e companhia decidiram que ainda fazia falta mais um falso documentário, na paisagem dos filmes de assombrações.  E de facto, “Haunted Changi” começa numa nota intrigante, com a narração do historial do lugar e das entrevistas aos locais, sempre intercalados com fotografias e filmagens do lugar. É, curiosamente, no exterior do cenário dignos dos sonhos molhados dos cineastas de terror, que ocorrem os melhores momentos do filme. Porque, quando eles entram no hospital, não há dados novos que possam recolher verdadeiramente significativos. Só paredes e soalhos sujos e tectos caídos. As paredes não contam uma história melhor que a de arquivos ou da sabedoria popular e ninguém vai afirmar que, por muitos anos que passaram e inúmeros ocupantes, ainda há segredos por desvendar. Como tal, surge o argumento do fantasma, mais fraco, a cada novo filme. Posto isto, noventa por cento é paisagem e dez por cento, explora os nossos medos mais profundos. Medo do escuro? Labirintos intermináveis? Impressão de outra presença na mesma sala? Medo de ver surgir alguma coisa inumana a cada nova esquina que se dobra? Farid, Sheena e Audi são, a maior parte do tempo credíveis, mas não podemos ansiar pelo que não existe. Retirando duas ou três cenas assustadas nada acontece de importante para nos importarmos. Quanto a Andrew ele devia ter um pouco mais de noção. Sendo realizador e exigindo destes uma performance que lhes é por vezes, impossível, comporta-se com todo o exagero teatral que se pede que um actor de cinema reprima. A sua actuação é desfasada, desconcertante e alucinante. Infelizmente, esta é depois acentuada pelo péssimo trabalho de maquilhagem. Dificilmente teriam feito pior e atendendo ao baixo orçamento, é embaraçoso descobrir que a edição e fotografia, duas áreas-chave em qualquer obra são superiores a uma caracterização simples dos actores. Se retirarmos um certo estado melancólico acentuado pela fotografia, à qual a movimentação do sol não é alheia e, que torna o documentário “real”, Changi sofre com inúmeras falhas estruturais e um número desgastado que o público já conhece de cor. Para os cidadãos de Singapura talvez faça sentido, mas perde-se no vasto mercado internacional onde existem alternativas mais bem concretizadas. Duas estrelas.

Realização:  Andrew Lau
Argumento:  Farid Azlam, Sheena Chung e Audi Khalis
Andrew Lau como Andrew
Farid Azlam como Farid
Sheena Chung como Sheena
Audi Khalis como Audi

Próximo Filme:  "The Yellow sea" (Hwanghae, 2010)

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