terça-feira, 28 de agosto de 2012

"Shall we Dansu?", 1996


“O que é isto? Uma cópia do meu querido “Shall we dance?” com o eterno galã Richard Gere e a Jennifer Lopez?” Antes que comecem a hiperventilar, deixem-me que vos diga, com toda a seriedade, que o filme original é japonês e que se o remake americano não chega a igualar o primeiro é uma homenagem bastante respeitável. Há motivos que não se conseguem replicar e a primeira nota é a de que não há como traduzir o tradicionalismo japonês, num país liberal. Tímido, mas liberal. À velha maneira dos contadores de estórias, diz-nos uma introdução que o Japão é um país muito tradicional. Os japoneses não têm por hábito demonstrar intimidade em público é embaraço, humilhante até. Assim, se uma carícia pode ser severamente reprovada pelos olhares mais conservadores da sociedade, as danças de salão constituem um escândalo. Homens a abanar as ancas? E uma mulher que permite que o seu parceiro que nem é o seu o par romântico encoste o seu corpo ao delas é impensável.
Shohei Sugiyama (Koji Yashuko) é um contabilista que tem para todos os efeitos uma vida de sonho: tem a mulher fiel e descendência, um emprego seguro e uma casa para pagar até ao fim dos seus dias. No entanto, falta-lhe algo. Todos os dias é o primeiro a sair para trabalhar e o último a chegar. Quando regressa a mulher já limpou a casa, a filha fez os trabalhos para casa e o jantar na mesa. No entanto, falta-lhe algo. “Ele devia sair mais”, diz a mulher. “Sair de vez em quando com os amigos para se distrair não faz mal”. E o programa repete-se todos os dias. Como pode uma pessoa que tem tudo sentir-se vazia? Um dia, Shohei olha através da janela da carruagem e observa uma jovem bela, de olhar sonhador através da noite escura. Algo toca o seu íntimo e, todos os dias, no regresso a casa, procura a janela e nela, a jovem.
Refeito da convulsão que a beleza lhe provocou, Shohei enche-se de coragem para conhecer a jovem. A sua busca leva-o ao lugar mais improvável de todos, uma escola de danças de salão. Com dois pés esquerdos, timidez e embaraço quanto baste, Shohei aventura-se no mundo da dança esperando conhecer Mai (Tamyio Kusakari). E quando a conhece percebe que ela está dedicada à arte da dança, sendo impossível qualquer tipo de aproximação. Mas Shohei não desiste, algo lá dentro se quebrou e ele descobre um conforto que não conhecia há muito. A aventura ainda agora começou. Poderá esta aventura resistir ao preconceito? À desaprovação dos seus pares?
“Shall we Dance?” encontra uma doçura que muitos filmes perderam. É honesto, inocente e escapa ao lugar-comum do drama-romântico. Por que terão todos os filmes de desembocar num rapaz mais rapariga é igual a “e viveram felizes para sempre”? Não pode a mãe, com uns quilitos a mais, amorosa e dedicada vestir o papel de heroína? E Shohei é o homem de meia-idade imperfeito que não é nem herói de acção nem um personagem secundário. O actor principal está muito bem rodeado pelos secundários como Tomio, interpretado pelo sempre exagerado e teatral Naoto Takenaka.  Neste caso, o exagero resulta na perfeição sendo que os momentos de comédia estão quase sempre a cargo dele. Ainda mais curiosa é a dualidade do seu papel, um funcionário de escritório que se esforça por ser comedido durante o dia e é um bailarino de danças latinas com uma peruca espalhafatosa durante a noite. Tomio já aprendeu como se divertir. Torna-se de certo modo, um segundo professor para Shohei que poderá assim descontrair e divertir-se. O que é mais importante afinal? Uma imagem recatada ou a felicidade? Talvez um pouco longo para os padrões ocidentais, “Shall we Dance” é fluído, como o são os movimentos das danças de salão apresentadas pelos melhores profissionais. E o enredo não tem nada de distante da realidade, com personagens com que nos podemos identificar, pessoas que fazem os possíveis por ultrapassar a monotonia e melhorar a sua qualidade de vida. Absolutamente delicioso. Dançam? Três estrelas e meia.
Realização: Masayuki Suo

Argumento: Masayuki Suo
Koji Yakusho como Shohei Sugiyama
Tamyio Kusakari como Mai Kushikawa
Naoto Takenaka como Tomio Aoki

Próximo Filme: "The  Detective 2" (B+ jing taam, 2011)

domingo, 26 de agosto de 2012

"Natural City" (2003)


É natural que todas as atenções se virem para um filme quando o marketing faz anunciar um “Blade Runner” moderno. É uma herança muito pesada para honrar quando se trata do FILME para muitos e, invariavelmente, figura dos nos top’s de melhores filmes de sempre ou do género da ficção científica. Se bem que a ideia de um “Blade Runner” moderno se afigura interessante, a incapacidade deste filme em chegar às mesmas alturas não é mais do que uma constatação de uma expectativa prévia, inclusive de quem não é parte imparcial no caso.
“Natural City” desenrola-se no ano 2080, numa altura em que os cyborgs estão ao serviço do ser humano para serviços que variam entre o trabalho mais árduo ao prazer. Para o Homem ainda resta trabalho como o policiamento da população, no qual se incluem R (Ji-tae Yu) e Noma (Chang Yun), por estes dias mais ocupados a combater cyborgs que de algum modo conseguiram escapar à sua programação e viraram "rebeldes" e o tráfico destas entidades. Típico dos humanos: mesmo com tudo controlado não conseguem deixar de ser desconfiados. E é confiança a palavra-chave. A amizade entre os dois homens é abalada pela paixão avassaladora de R pela cyborg bailarina Ria (Rin Seo). Apesar de não ser vista com bons olhos a relação é tolerada, até ao momento em que R se torna trapalhão e começa a deambular dentro e fora da lei, associando-se a personagens duvidosos como o excêntrico Dr. Giro. Ele recorre mesmo ao próprio tráfico que combate, tudo para salvar Ria da morte certa: os seus 3 anos de validade estão quase a terminar. Onde é que já vimos isto? Na sua corrida contra o tempo, R torna-se cada vez mais desesperado e desconectado da realidade, negligenciado os deveres policiais que permitem a Cyper (Doo-hong Joo) um cyborg perigoso, aproximar-se de uma importante base de ADN. Entretanto, o Dr. Giro apresenta-lhe a solução na pele da prostituta Cyon (Jae-un Lee), mas o que terá de fazer para salvar a sua Ria implica ir muito além de uma ofensa menor.
“Natural City” é francamente artificial. Qualquer oportunidade é boa para recorrer ao ecrã verde. As imagens são de tirar o fôlego e com uma qualidade superior até a alguns filmes de grande orçamento americanos, onde se atreveram a ser preguiçosos com a imagem digital. Provavelmente o título do filme advém de uma grande noção de ironia de Byung-shun Min. Mas é nos actores que a sensação de artificialismo é mais evidente. R é frio e quando não o é, limita-se a ser um asno. Infelizmente, sintomas clássicos da paixão, R parece perder todas as faculdades mentais, tomando as decisões mais desafortunadas. Decisões que, como é óbvio, não se limitam ao microcosmos que criou, a bolha de R + Ria onde ele é feliz e, o exterior pode arder à sua volta que ele não será mais indiferente. R passa toda a duração da película num estado depressivo, tem atitudes reprováveis e, não é o facto de estar prestes a perder a amada que o vai tornar mais simpático. Onde o Deckard de Ford era apenas lacónico, R é detestável. E o que ele vê em Ria é um mistério já que ela tem a personalidade de uma planta. Ela passeia pelo ecrã parecendo bonita mas sem contribuir alguma coisa para a sua causa. Se ela desaparecer não fará grande falta ao mundo, entendem? A Rachael da Sean Young era sofisticada, inteligente, respirava sensualidade por todos os poros. A audiência queria que ela sobrevivesse. Quanto a Rin Seo, o seu papel não tem substância suficiente para que possamos afirmá-lo mas, Ji-tae Yu, actor de “Oldboy” e “Into the Mirror” tem capacidade dramática mais do que suficiente para um papel tão inferior.
Salvam-se Cyon (Jae-un Lee) e Noma (Chang Yun) que supostamente servem de apoio à narrativa central. Os restantes cyborgs não possuem emoção, não têm presença humana que justifique a sua continuidade, não são replicantes. Numa análise fria são objectos. É aqui que “Natural City” diverge naturalmente de Blade Runner. Existe uma ausência de humanidade nos personagens humanos e cyborgs que tornam o conflito inócuo. Somos rapidamente confrontados com a inexistência de um cyborg à semelhança de um Roy Batty (“Blade Runner”), não teremos direito a meia dúzia de falas imortais. “Natural City” é fantástico em termos visuais mas, 70% do tempo é um melodrama, à boa moda coreana. Os fãs fervorosos de “Blade Runner” não têm motivos para perder o sono, o trono continua seguro. Mas um sucessor merecia mais. Não acham? Duas estrelas

Realização: Byung-chun Min
Argumento: Byung-chun Min
Ji-tae Yu como R
Jae-un Lee como Cyon
Chang Yun como Noma
Lin Seo como Ria
Eun-pyo Jeong como Croy
Doo-hong Joo como Cyper

PS: O trailer faz um excelente trabalho a esconder os problemas do filme. Parece melhor do que é.

Próximo Filme: "Shall we Dansu?", 1996

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

"The Victim" (Phii khon Pen, 2006)



Ficai a saber que não sou fã do fenómeno de “inception” dentro de um filme, à excepção do filme “Inception” (2010). Já o vimos antes, no igualmente tailandês (é um padrão?!), “Coming Soon” (2008). “The Victim” apresenta uma jovem aspirante a actriz que não consegue arranjar trabalho além da presença em talk e gameshows até que um dia um polícia a recruta para um papel diferente. Ting (Pitchanart Sakakorn) é contratada para fazer o papel de vítima na reconstituição de crimes. O papel assenta-lhe na perfeição e, nem os cenários mais macabros a assustam, desde que efetue os devidos rituais budistas em respeito pelos mortos e peça a sua bênção. É um trabalho é certo mas é mais fácil se a rapariga se convencer a si própria que o que está a fazer ajuda a apanhar assassinos e apazigua mortos. E à medida que Ting se vai tornando cada vez melhor parece que até os mortos ganham a capacidade de ressuscitar… Alerta reviravolta 50 minutos dentro do filme e a rapariga afinal é May, uma actriz que interpreta o papel de Ting e o cenário onde fazem as filmagens está assombrado por um fantasma que faz anunciar a sua presença através dos guizos que pertencem ao seu fato de interprete de danças tradicionais tailandesas.
A premissa inicial é interessante o suficiente para manter a audiência ligada. Quer-se dizer, uma mocinha que ganha a vida a representar cenas de homicídio no qual interpreta uma vítima? É preciso ter estômago. Não sabia que os tailandeses levavam a arte da reconstituição tão a sério. Talvez não mas a ideia é intrigante. Como se não fosse já suficientemente macabra esta ideia, os espíritos dos mortos começam a inquietar-se. Nesse momento, os cineastas pegam numa audiência já cativa e forçam-na a desligar-se de tudo o que conhece e voltar a apaixonar-se por uma nova estória. E isso não tem piada, a sério que não.

Eis que a pobre Ting vira a modelo rica May e o factor simpatia voa pela janela. Uma gaja boa, actriz de sucesso e ainda por cima rica? Raios e coriscos! Que ela arda no quinto dos infernos. A reviravolta na estória traz também a transição de uma classe pobre e imaginamos trabalhadora para uma classe rica e, fútil? Já viram o preconceito associado? Ora, se a narrativa inicial também era pobre em pormenores, podemos dizer que a última metade traz uma opulência de elementos que mais do que ajudar só confundem. Sou apologista de que a audiência pense um bocadinho e descubra por si própria o significado do filme, através de sugestões subtis. Mas levar à confusão, de tal modo que já não se sabe muito bem o que se está a ver e, muito menos, compreendê-lo é um exagero. Rapidamente, personagens que não conhecíamos e, com as quais, não podíamos sentir simpatia, conhecem um fim horrendo. E não nos podíamos interessar menos. A preparação para os sustos não é das piores e, para quem já viu outros filmes made in Thailand, é capaz de ficar agradavelmente impressionado com os efeitos digitais. Porventura, o elemento mais agradável de toda a assombração é o fato de dançarina tradicional. Será o momento mais genuíno dos 108 minutos. A fotografia, bem, julguem por vocês mesmos.
Are you scared yet?
Porque “The Victim” tenta ser tudo e mais alguma coisa, perde-se na ambição. Durante esses breves momentos, sabemos que não estamos a ver mais um filme de rapariga descabelada que bem podia ter sido criado em qualquer país a este e sudeste asiáticos, mas um filme do país livre (Thai). Como (quase), sempre digo e, já se torna tão repetitivo que qualquer dia torno a frase o lema deste blogue é: "na simplicidade que está o ganho”. Se há filmes que são tão simples que até um zombie conseguia perceber a sinopse outros há tão rebuscados que não havia necessidade. E tenho de admitir que os cineastas tailandeses, não são uns de fugir do risco, da Tailândia têm saído filmes bastante arrojados, mas por cada um que resulta, há três ou quatro que dão um tiro no pé. “The Victim” é mais uma “vítima” desta mentalidade kamikaze que proporciona uma experiência desigual pois, que qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade poderá pensar que está a ver uma colagem de dois filmes diferentes. Cada um deles tem os seus méritos mas como um todo não funciona. Que desperdício. Duas estrelas e meia.

Realização: Monthon Arayangkoon
Argumento: Monthon Arayangkoon, Shi-Geng Jian e Sompope Vejchapipat
Pitchanart Sakakorn como Ting/May
Apasiri Nitibhon como Meen/Oom
Kiradej Ketakinta como Tenente Te
Penpak Sirikul como Fai

Próximo Filme: "Natural City" (2003)


MINI SPOILER

domingo, 19 de agosto de 2012

"Waterboys" (Wota Boizu, 2001)

Encontram facilmente clipes com legendas em inglês

Quem não adora uma boa estória de pessoas que contra marés e tempestades consegue vingar no mundo do desporto profissional? Não, a sério. Quem não gosta? Existe um amor universal por filmes de cidadãos vulgares que apesar de oprimidos e ridicularizados por competidores mais fortes e poderosos, acabam por encontrar a força dentro de si para vingar sobre todos os obstáculos. É o final feliz que as estórias da vida real não têm. Funciona como uma espécie de compensação para uma ausência experienciada numa vida não ficcional. E vá, aquela estória que deixa uma lágrima no canto do olho e, um pouco mais contentes com a nossa existência na terra durante breves minutos.
Waterboys junta os ingredientes certos para uma hora e meia de diversão que não parece um desperdício de tempo de vida (vide “Disaster movie” (2008), “Date Movie” (2006). Suzuki (Satoshi Tsumabuki) é o último sobrevivente da equipa de natação desfalcada do liceu, que é como um peixe na água e sente que pode fazer algo mais no meio aquático. É ele que vai liderar a revolução na escola de rapazes conservadora e juntar o grupo de rapazes que irá formar o grupo da escola de… natação sincronizada! Sato (Hiroshi Tamaki) é um fala-barato com uma afro (!), que não consegue levar nenhuma actividade até ao fim e, como tal, nenhum dos colegas o leva a sério; Ohta (Miura Akifumi) é o típico miúdo pele e osso que mantém uma obsessão pouco saudável com a prática de exercício físico; Kanazawa (Koen Kondo) é um génio com fobia da água e Saotome (Kaneko Takatoshi) é um rapaz delicado cuja prontidão na resposta aos pedidos de Suzuki faz muitos colegas duvidar da sua orientação sexual.
Suzuki encontrava-se só na equipa de natação da escola, quando a chegada da nova e jeitosa professora Sakuma (Kaori Manabe) fez despontar o interesse de dezenas de colegas. Isso e a possibilidade de impressionar as raparigas de uma escola feminina no festival de Verão. Mas quando a professora Sakuma revela a intenção de criar uma equipa de natação sincronizada masculina, apenas os cinco alunos impopulares parecem apostados em seguir a sugestão.
Com a revelação de que está grávida a professora Sakuma retira-se de cena e deixa os cinco jovens a depender de si próprios. Expostos ao ridículo perante os colegas e com um director que se opõe de modo veemente à iniciativa, parece não existir alternativa senão desistir. Mas Suzuki chegou a uma altura de vida em que desistir já não vai chegar. Indiferente aos que troçam dele e decidido a seguir o sonho até o fim, pede a um treinador de golfinhos (Naoto Takenaka) que os treine.
“Waterboys” tem os seus momentos de gargalhada fácil como o momento em que uma sala inundada de testosterona se esvazia à velocidade da luz, assim que os moços descobrem as verdadeiras intenções da professora, o esquelético Ohta é descoberto a praticar os exercícios de um vídeo de treino vestindo uma tanga minúscula, a professora vai ostentando a barriga de grávida bem à vista de todos alheada da sua condição, e basicamente todas as cenas em que um Sato com uma afro gigante tenta demonstrar seriedade. Os momentos de humor do filme são entrecortados com alguns exageros das personagem do treinador de golfinhos, um Naoto Takenaka, claramente a levar a piada demasiado a sério. Ele que transporta a mesma fórmula de comédia para o filme “Shall we dance?” (1996), a versão japonesa e original! Seria demasiado fácil levar a estória para um campo homoerótico e fazer das personagens, jovens efeminados, enfim, confundir um desporto associado ao universo feminino com a homossexualidade. Foi um caminho que Shinobu Yaguchi felizmente não trilhou. Ora algo me diz que seria demasiado fácil para Hollywood pegar na estória e ir pelo caminho da comédia sexual, como tantas vezes acontece. No máximo, temos actores em tronco nu bastantes vezes, devidamente justificadas pelo argumento para agradar ao público feminino (ou masculino), sem este se sentir culpado por isso (piscadela ao Taylor Lautner). “Waterboys” remete mais para a comédia de uma velha Hollywood de subversão das regras e do género mas com boas intenções. Na verdade, os 90 minutos caminham para o momento especial da grande performance em que os nossos rapazes encontram a verdadeira coragem, todas as promessas são cumpridas e os detractores são obrigados a engolir as suas palavras. Ah e, já referi que nos sentimos bem a seguir? Três estrelas.

Realização: Shinobu Yamaguchi
Argumento: Yasushi Fukuda e Shinobu Yamaguchi
Satoshi Tsumabuki como Suzuki
Hiroshi Tamaki como Sato
Miura Akifumi como Ohta
Koen Kondo como Kanazawa
Kaneko Takatoshi como Saotome
Kaori Manabe como professora Sakuma
Naoto Takenaka como treinador de golfinhos

E por que também ficámos imbuídos do espírito juntamos uma lista de dez filmes para deixar aquele sorriso nos vossos rostos.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

"Loner" (Woetoli, 2008)

(Pssst... Filme todo. Aproveitem enquanto é tempo)

Quem quis matar a sede por filmes de terror coreanos em 2008 não teve grandes opções. Houve o brilhante “The Chaser” mas esse é mais rapidamente contemplado na categoria de thriller de acção que em K-horror. “Loner” não vai buscar inspiração muito longe. A Coreia do Sul tem sido apontada, de modo sistemático, como um dos países com a taxa de suicídio mais elevada do mundo senão mesmo a maior. De facto, o suicídio é tão prevalente que os casos ocorridos entre personalidades de sucesso transversalmente aos diferentes sectores de actividade, incluindo, pessoas da indústria do entretenimento e, de quem, se poderia dizer, que tudo tinham para serem felizes são usuais. Neste cenário negro Jae-shik Park ataca o problema do ponto de vista da adolescência, problemática e complexa, susceptível à menor provocação. Após o suicídio da melhor amiga Ha-jeong (Da-in Lee), incapaz de lidar com a extrema crueldade dos rufias da escola, Soo-na (Eun-ah Ko) fecha-se no quarto e isola-se do mundo. À medida que a sanidade mental de Soo-na parece deterior-se o tio Se-jin (Yu-seok Jeong) pede ajuda a Yoo-mi (Min-seo Chae), a sua nova namorada que é psicóloga, para ajudar Soo-na a lidar com a perda e regressar à vida social, antes que esta possa também atentar contra a sua vida.

Se há coisa de que não podem acusar Jae-shik Park é de previsibilidade mas, pelo contrário, o seu argumento dispara, sem contemplações, em todos os sentidos. Em 117 minutos, Park consegue fazer-nos acreditar numa aparição fantasmagórica, numa exploração dramática da síndrome Hikikomori (reclusão em casa), num mistério de suspense e um drama familiar. E como parece que Park tem dificuldade em efectuar escolhas ele opta por todos estes subenredos.
Creio que a audiência não terá um problema com reviravoltas, isso é o mais sucede nos filmes de terror, excepto talvez se for uma produção independente, aí talvez já possamos ansiar por um pouco mais originalidade. Aliás, em termos pessoais (sim, eu tenho opinião), tenho vindo a apreciar o facto de qualquer filme possuir um twist. E se tal não suceder, quase (!) fico desapontada. O que muitos argumentistas parecem não compreender é que a simplicidade pode ser a sua maior vantagem. Nem todos podem aspirar a ser o novo “Oldboy”. “Loner” é apresentado como um filme de terror a não perder quando, retirando, alguns momentos de sobressalto, não é mais que um grande aborrecimento.  Não. “Loner” é um embuste com um grande segredo de família no núcleo que, quando exposto faz de personagens de si já pouco simpáticas, patéticas ou detestáveis. Queiram os bons costumes e uma ânsia de ocultar tudo o que possa culminar numa exibição pública embaraçosa, que se varram os segredos para debaixo do tapete e, desse clima de secretismo, resultem gerações inteiras perturbadas. Deixemos temáticas como o suicídio e a síndrome Hikikomori que tão actuais estão na sociedade e deixemos de lado as virtudes da reflexão social em nome de uma estória bem mais familiar.
Apesar do empenho dos actores, que não é pequeno, já que gritam, choram, esperneiam e recolhem-se dentro de si mesmos a cada momento, “Loner” não podia ser menos excitante. Além disso, tem a desvantagem de suceder a filmes como “Cello” (2005) ou “Cinderella” (2006), que trilharam o mesmo território antes e com resultados igualmente díspares. Tivera mais concorrência nesse ano e talvez nem tivesse ouvido falar de “Loner”, que não é um dos melhores filmes de terror a sair da Coreia do Sul mas, porventura, dos mais deprimentes. Duas estrelas.

Realização:  Jae-shik Park

Argumento:  Jae-shik Park
Eun-ah Ko como Soo-na
Yu-seok Jeong como Se-jin
Min-seo Chae como Yoo-mi
Da-in Lee como Ha-jeong

Próximo Filme: "Waterboys", (Wota Boizu, 2001) 


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

"Shaolin" (Xin shao lin si, 2011)


O grande general Hou Jie (Andy Lau) evoca todas as características de um tirano: cruel e déspota que vê a compaixão como uma fraqueza e apenas encontra um breve sentimento de conforto na persecução das ideias paranoicas. Ele é tão bom no seu papel que até os subordinados têm medo da sua admoestação e aliena aqueles, dos quais depende a sua segurança e a da sua família. Como um mestre camaleão Hou Jie alterna o papel de senhor da guerra com o de marido dedicado e pai extremoso, algo que esconde convenientemente do exterior. Ele sabe que é este afinal, o seu grande ponto fraco, aquele que conduzirá à sua queda. Ao seu engenho escapam as maquinações de Cao Man (Nicholas Tse), o subordinado leal que tratava como de um animal se tratasse. Com a queda do pedestal e a perda do que lhe é mais querido Hou Jie descobre o perdão no local onde menos esperaria, no seio daqueles que tanto ridicularizou e maltratou.
A acção tem lugar nos anos 20, uma altura em que os senhores da guerra e os “invasores” estrangeiros faziam negócios altamente lucrativos para si e, totalmente ruinosos para as populações. Tal período histórico abre espaço para uma estória de redenção centrada na filosofia budista. Ademais, compreende aqueles temas de redenção e de crime e castigo que as audiências tanto gostam e tanto sucesso deu ao cinema de Hong Kong já em Hollywood no final do século XX e no início do século XXI. Se a isto se juntarem a superestrela asiática Andy Lau, o super prometedor Nicolas Tse, o sempre fiável e rei das artes marciais além-mar Jackie Chan, com a beleza exótica da Fan Bingbing, temos êxito certo.
“Shaolin” só falha no campo das expectativas. Com 131 minutos, a estória podia ter sido facilmente contada em pouco mais de uma hora. E, no entanto, falta-lhe algo, o que me leva a questionar a edição do filme. A conversão de Hou Jie a um monge, no próprio templo que vitimizou quando possuía um poder que lhe parecia inesgotável, alimentado na própria miséria dos seus alvos. Pode um homem mau tornar-se bom sobretudo depois de ser vítima do maior ataque que alguém pode sofrer? Não seria antes um motivo para uma investida implacável contra os maiores opositores? O percurso de Hou Jie mais se afigura a uma obrigação, visto que ele perdeu tudo, do que o desejo consciente e tomado de coração de um homem que opta por perder. Sem alternativas, não pode agir muito além de um templo onde tem a garantia de protecção e de uma disciplina rígida que servirão de guias ideais à preparação de um contra-ataque brutal. Céus, mais depressa soa a manipulação industrial qual lavagem cerebral fora do ecrã, no sentido de as massas recolherem às suas casas calmas e submissas, sobe a égide dos preceitos. A velha revenge que é francamente mais apetitosa mas essa é a minha opinião. O conceito de perdão e compaixão não está ao alcance de todos os mortais.
Falta ardor no Hou Jie, aquele que de todo o elenco, se esperaria mais. Quanto aos monges, para o título “Shaolin”, não têm o tempo de antena suficiente. Eles encarnam a mensagem que o argumento almeja transmitir: nos ideais budistas e na acção corporal, coreografada de modo impressionante por Corey Yuen. Nesse campo podemos aguardar o melhor, em particular nas cenas do cozinheiro Wudao (Jackie Chan igual a si próprio). Num pequeno aparte e, isto fascina-me deveras, conseguem colocar a única personagem feminina importante, com mais do que duas ou três falas como “esposa de alguém”. A pobrezinha é assim tão insignificante que não tem direito a um nome? Acrescentar um (!) nome gasta muito papel no argumento?
“Shaolin” tem bastantes pontos a seu favor em termos técnicos, mas não é visualmente tão interessante como os últimos filmes da fábrica de épicos de Hong Kong. Uma injustiça que o tempo irá, (espera-se), superar. Além disso e, com uma longa duração e um argumento que não vai a lado nenhum durante bastante tempo, “Shaolin” perde para os mais próximos concorrentes. Para o interesse que a menção da palavra Shaolin suscita em torno do rigoroso código moral e religioso, do estilo de vida austero e, claro, o esforço extremo do corpo até aos seus limites, “Shaolin” é maçador. Talvez seja altura de pegar em papel e lápis e começar de novo. Duas estrelas e meia.

Realização:  Benny Chan
Argumento:  Alan Yuen, Chi Kwong Cheung, Quiyu Wang, Kam Cheong Chan e 
Andy Lau como Hou Jie
Nicholas Tse como Cao Man
Fan Bingbing como esposa de Hou Jie
Jackie Chan como cozinheiro Wudao
Jacky Wu como Jing Neng
Yu Xing como Jing Kong

Próximo Filme: "Loner" (Woetoli, 2008)

domingo, 5 de agosto de 2012

"Don't be Afraid of the Dark" (2010)



Assumir que Katie Holmes é a culpada pelo fracasso de todo e qualquer projecto em que está envolvida é tão comum, quanto fazer uma piada sobre a religião (com contornos de seita), da cientologia ou sobre saltar em sofás em programas de televisão, sempre que é mencionado o seu ex-marido, Tom Cruise. Por isso se esperam que as próximas linhas sejam dedicadas à destruição do trabalho da actriz lamento mas, mais vale passarem ao próximo texto. “Don’t be Afraid of the Dark” é, no entanto, literal. Carecem os motivos para termos medo do escuro e não é por pertencer ao elenco uma actriz (na altura), em fase descendente da carreira. 

Filha de pais divorciados, a pequena Sally (Bailee Madison) é desterrada pela mãe para junto de Alex (Guy Pearce), que se encontra mais preocupado com a renovação da mansão do século XIX, “Blackwood”, do que em exercer os seus direitos parentais. A juntar ao sentimento de abandono decorrente de uma mãe desconectada e um pai negligente, Sally tem ainda de lidar com Kim (Katie Holmes) que deve querer assumir o papel de nova mãe dela. Afectada pelas disfunções da sua família e num local que desconhece Sally torna-se o alvo ideal de um predador. Que local pode oferecer menos perigo que um lar? Pobre Sally.
O mal que “Don’t be Afraid of The Dark” refere é menos óbvio que de alguém querer molestar a frágil menina, de uma madrasta malvada ou sequer de um tratamento pernicioso por parte dos seus cuidadores ou mal-entendidos que provoquem uma explosão com consequências devastadores… Não. A malicia tem origem numa fonte bem mais fantasista. Não queremos desconforto entre os membros da audiência pois não?

Digamos que como Sally se sente sozinha no mundo, ela está disponível a aceitar uma realidade além da percepção dos adultos e abraça, com curiosidade, as pequenas vozes que saem de um velho fogão…
“Don’t be Afraid of The Dark” envolve elementos de contos-de-fadas com a estética dos anos 80, modernizada pela utilização do computador com resultados mistos. Se o recurso a uma lenda conhecida por todos e querida, em especial, pelas crianças é um ponto a favor, em ultima análise, a utilização da tecnologia digital faz cair por terra esse potencial. Nem o facto de ter o selo de Guillermo del Toro como produtor e co-argumentista o salvam. Para del Toro é um projecto falhado. Apenas a utilização de uma criança como objecto de desejo das forças do mal é eficaz na criação de desconforto da audiência. Desde um mais antigo “Poltergeist” (1982) com uma angelical Carol Anne à corajosa Ofélia de “Pan’s Labyrinth” (2006), comprova-se a afinidade dos espectadores com uma criança em perigo. Infelizmente é a natureza dessa mesma ameaça, em conjunção com um argumento deficiente e personagens pouco simpáticas que fazem de “Don’t be Afraid of The Dark”, uma sombra daquilo que podia ter sido. Digamos que os monstrinhos, mais depressa induzem a gargalhada que o medo. Até os ETs em “Critters” (1986) têm um design mais conducente ao ranger de dentes. Quanto aos desempenhos, toquem os tambores, por favor…

A pior performance pertence a Guy Pearce, com a honra de interpretar o pai mais sem noção, presunçoso, egoísta e narcísico dos últimos tempos na tela. Digamos que todas as ofertas a Sally não vêm sem uma contrapartida. Ele quer paz e sucesso que implica que a filha deixe de ser uma rapariga de dez anos normal. A sua compreensão dos eventos depende da apresentação de provas empíricas. Do mesmo modo, a concepção da filha é o resultado directo de relações sexuais praticadas entre dois adultos conscientes e nunca atribuído ao “milagre da vida”. A Bailee Madison é um talento em bruto. Terá muito que aprender mas é de louvar a capacidade de contracenar com apenas um ecrã verde a fazer as vezes de um personagem de carne e osso. Além disso ela está na idade “esquisita” de Sally. Ela não é nenhuma adulta mas também já não é uma criança alheia dos acontecimentos à sua volta. Quanto a Katie Holmes continua a não ser digna de uma entrevista para o “Inside the Actors Studio” mas evoluiu bastante desde os tempos de “Dawson Creek”. O papel de mãe assenta-lhe que nem uma luva. Será por acaso que Bailee Madison é muito parecida com Katie Holmes e, por associação, com a Suri Cruise?
Especulação à parte, “Don’t be Afraid of the Dark” é o filme standard com uma mansão assombrada e é por isso que, tendo, hipótese de escolha, é preferível por optar por um produto de qualidade superior. Duas estrelas.

Realização:  Troy Nixey
Argumento:  Guillermo del Toro, Matthew Robbins e Nigel McKeand
Bailee Madison como Sally
Katie Holmes como Kim
Guy Pearce como Harris

Próximo Filme: "Shaolin"  (Xin shao lin si , 2011)

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

"Ong Bak: The Thai Warrior" (Ong bak, 2003)



Levar uma cotovela na cabeça não deve ser lá muito agradável. Pensado melhor, uma joelhada no abdómen também não. Mas é assim a meios que espectacular de observar, sobretudo se o realizador recorrer à técnica de “vamos repetir esta cena quatro vezes em slow motion, de ângulos diferentes”. Com estes artifícios existe a forte possibilidade do filme ser equiparado a um “série B” mas e, daí, também pode ser comparado ao John Woo (“Face off” e “Red Cliff”), o que, como podem imaginar, não deve ser lá muito aborrecido.

“Ong Bak: The Thai Warrior” decorre na longínqua Tailândia. Não naquela das praias paradisíacas e vida de reis mas na pobre vida rural onde a devoção pode (acredita-se), fazer toda a diferença. Tal como por terras portuguesas, os pescadores rezam pela santinha para que o mar não os engula e lhes permita trazer sustento para as famílias, na Tailândia, ora-se pelo “Ong Bak”, para que este os abençoe com uma terra fértil. Curioso mundo onde, de uma Europa ocidental a um sudeste asiático, as orações a diferentes divindades revelam a esperança de um destino similar. Tudo depende da bênção dos deuses e, quando a cabeça do Buda (“Ong Bak”) é roubada, a aldeia cai em desgraça. Sem uma divindade a quem prestar o culto os terrenos irão tornar-se inférteis e toda a vida morrerá. Ting (Tony Jaa) um jovem simples e devoto promete seguir os ladrões devolver o “Ong Bak” aos seus legítimos donos. O resto é história, quer dizer, não há grande estória, ele vai para a cidade, tropeça numa rede de tráfico de antiguidades, os ladrões descobrem que se meteram com o homem errado e o mundo (re)descobre o Muay Thai. 
“Ong Bak: The Thai Warrior” surge numa altura de relativa acalmia face ao mundo das artes marciais. Tirando os mais conhecidos como Jet Li e Jackie Chan e, com o desaparecer das velhas glórias dos anos 80, “Ong Bak: The Thai Warrior” surge extraordinário e supera as expectativas dos mais fervorosos fãs do cinema de acção. Tony Jaa é um grande atleta, como atestam as inúmeras cenas de luta e perseguição pelas ruas da cidade de Banguecoque. Ele são corridas desenfreadas, nas quais Jaa faz mortais como quem respira e, vejam só a coincidência, aterra em torneios de luta livre clandestinos. Mas ele não se desvia um milímetro do seu objectivo, nem pensar. Apenas uma questão o motiva: recuperar a cabeça do Buda e trazer de novo a prosperidade para a aldeia. Ele não luta à mínima provocação. Ele evita ao máximo demonstrar as suas habilidades atléticas excepto se vir situações de injustiça. Ele não suporta ver mulheres a ser fisicamente atacadas. Seria até de pensar que ele não fuma, não bebe e evitará até perder a virgindade antes do casamento. Tal é a pureza. Claro que depois dá pontapés, joelhadas, cotoveladas, murros incapacitantes e mortais mas só em último caso. Por muito agradável o pensamento que um homem que domina tal disciplina não é um vicioso. Não se deve estar mais longe da verdade. Ninguém é perfeito e, custa-me, mais uma vez, fazer de um homem tal modo superior em termos físicos, a todos os outros, um puro. É assustador pensar que uma pessoa com tal poder não é boa de coração mas, o inverso seria sempre mais interessante e, uma escapadela aos facilitismos de argumento. E já que menciono facilitismos, Ting tem um número de falas só comparável ao Arnold Schwarzenegger. Para apimentar um pouco a estória, visto que Jaa não prima pelo carisma, o seu personagem reencontra George (Petchtai Wongkamlao), um velho conhecido da aldeia que foi para a cidade ganhar a vida de um modo não tão honesto quanto isso. Ele conhece ainda uma miúda que é capaz de ter a voz mais irritante que já se ouviu em película. Imaginem o som de unhas a riscar um quadro… Agora, imaginem que estão a ouvi-lo num cinema com a melhor qualidade de som… Mas a mocinha, Muay Lek (Pumwaree Yodkamol) é praticamente inofensiva, uma santa de boca fechada. O melhor actor do trio improvável é, provavelmente Wongkamlao, que deve ter o maior número de falas no argumento. Face às limitações de Jaa como actor, hey o homem já é sobrehumano, que mais querem?! E à voz de Yodkamol, nem seria de esperar outra coisa. 
O que a audiência pode esperar são: cenas de acção intensas sem cablagem à vista, muito estremecer pelos pobres duplos e uma perseguição de “Tuk Tuk” (táxis de três rodas), pela cidade. Toma lá John Woo! E ainda um jovem com uma capacidade de reacção explosiva reminiscente (sim, eu atrevo-me a proferi-lo), de um Bruce Lee. Três estrelas.


Realização: Prachya Pinkaew
Argumento: Prachya Pinkaew, Panna Rittikrai e Suphachai Sittiaumponpan
Tony Jaa como Ting
Petchtai Wongkamlao como George
Pumwaree Yodkamol como Muay Lek

Próximo Filme: "Don't be afraid of the Dark", 2010

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