quinta-feira, 2 de agosto de 2012

"Ong Bak: The Thai Warrior" (Ong bak, 2003)



Levar uma cotovela na cabeça não deve ser lá muito agradável. Pensado melhor, uma joelhada no abdómen também não. Mas é assim a meios que espectacular de observar, sobretudo se o realizador recorrer à técnica de “vamos repetir esta cena quatro vezes em slow motion, de ângulos diferentes”. Com estes artifícios existe a forte possibilidade do filme ser equiparado a um “série B” mas e, daí, também pode ser comparado ao John Woo (“Face off” e “Red Cliff”), o que, como podem imaginar, não deve ser lá muito aborrecido.

“Ong Bak: The Thai Warrior” decorre na longínqua Tailândia. Não naquela das praias paradisíacas e vida de reis mas na pobre vida rural onde a devoção pode (acredita-se), fazer toda a diferença. Tal como por terras portuguesas, os pescadores rezam pela santinha para que o mar não os engula e lhes permita trazer sustento para as famílias, na Tailândia, ora-se pelo “Ong Bak”, para que este os abençoe com uma terra fértil. Curioso mundo onde, de uma Europa ocidental a um sudeste asiático, as orações a diferentes divindades revelam a esperança de um destino similar. Tudo depende da bênção dos deuses e, quando a cabeça do Buda (“Ong Bak”) é roubada, a aldeia cai em desgraça. Sem uma divindade a quem prestar o culto os terrenos irão tornar-se inférteis e toda a vida morrerá. Ting (Tony Jaa) um jovem simples e devoto promete seguir os ladrões devolver o “Ong Bak” aos seus legítimos donos. O resto é história, quer dizer, não há grande estória, ele vai para a cidade, tropeça numa rede de tráfico de antiguidades, os ladrões descobrem que se meteram com o homem errado e o mundo (re)descobre o Muay Thai. 
“Ong Bak: The Thai Warrior” surge numa altura de relativa acalmia face ao mundo das artes marciais. Tirando os mais conhecidos como Jet Li e Jackie Chan e, com o desaparecer das velhas glórias dos anos 80, “Ong Bak: The Thai Warrior” surge extraordinário e supera as expectativas dos mais fervorosos fãs do cinema de acção. Tony Jaa é um grande atleta, como atestam as inúmeras cenas de luta e perseguição pelas ruas da cidade de Banguecoque. Ele são corridas desenfreadas, nas quais Jaa faz mortais como quem respira e, vejam só a coincidência, aterra em torneios de luta livre clandestinos. Mas ele não se desvia um milímetro do seu objectivo, nem pensar. Apenas uma questão o motiva: recuperar a cabeça do Buda e trazer de novo a prosperidade para a aldeia. Ele não luta à mínima provocação. Ele evita ao máximo demonstrar as suas habilidades atléticas excepto se vir situações de injustiça. Ele não suporta ver mulheres a ser fisicamente atacadas. Seria até de pensar que ele não fuma, não bebe e evitará até perder a virgindade antes do casamento. Tal é a pureza. Claro que depois dá pontapés, joelhadas, cotoveladas, murros incapacitantes e mortais mas só em último caso. Por muito agradável o pensamento que um homem que domina tal disciplina não é um vicioso. Não se deve estar mais longe da verdade. Ninguém é perfeito e, custa-me, mais uma vez, fazer de um homem tal modo superior em termos físicos, a todos os outros, um puro. É assustador pensar que uma pessoa com tal poder não é boa de coração mas, o inverso seria sempre mais interessante e, uma escapadela aos facilitismos de argumento. E já que menciono facilitismos, Ting tem um número de falas só comparável ao Arnold Schwarzenegger. Para apimentar um pouco a estória, visto que Jaa não prima pelo carisma, o seu personagem reencontra George (Petchtai Wongkamlao), um velho conhecido da aldeia que foi para a cidade ganhar a vida de um modo não tão honesto quanto isso. Ele conhece ainda uma miúda que é capaz de ter a voz mais irritante que já se ouviu em película. Imaginem o som de unhas a riscar um quadro… Agora, imaginem que estão a ouvi-lo num cinema com a melhor qualidade de som… Mas a mocinha, Muay Lek (Pumwaree Yodkamol) é praticamente inofensiva, uma santa de boca fechada. O melhor actor do trio improvável é, provavelmente Wongkamlao, que deve ter o maior número de falas no argumento. Face às limitações de Jaa como actor, hey o homem já é sobrehumano, que mais querem?! E à voz de Yodkamol, nem seria de esperar outra coisa. 
O que a audiência pode esperar são: cenas de acção intensas sem cablagem à vista, muito estremecer pelos pobres duplos e uma perseguição de “Tuk Tuk” (táxis de três rodas), pela cidade. Toma lá John Woo! E ainda um jovem com uma capacidade de reacção explosiva reminiscente (sim, eu atrevo-me a proferi-lo), de um Bruce Lee. Três estrelas.


Realização: Prachya Pinkaew
Argumento: Prachya Pinkaew, Panna Rittikrai e Suphachai Sittiaumponpan
Tony Jaa como Ting
Petchtai Wongkamlao como George
Pumwaree Yodkamol como Muay Lek

Próximo Filme: "Don't be afraid of the Dark", 2010

2 comentários:

  1. Antes de mais parabéns pelo blog, realmente não estou habituado a ver muitos que tenham a tendência a falar sobre o cinema asiático, também comecei a explorar o cinema de esse lado do mundo recentemente com mais força, para começar já vi que tivemos o mesmo gosto em termos de bons filmes, como o The Chaser e o Yellow Sea, agora estou a procurar um que falaste aqui, se for tão bom como descreveste podes contar com uma visita extra todos os dias da minha parte.

    Continua o bom trabalho, e já agora o Don't be Afraid of the Dark.. é um pouco.. eu deixo-te ver e descobrir.

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  2. alucardscorner: Obrigada! Fiquei curiosa, qual é o filme que estás à procura?!

    Quanto ao Don't be Afraid of the Dark, já vi. Hoje mesmo vou publicar a apreciação.

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