quinta-feira, 9 de agosto de 2012

"Shaolin" (Xin shao lin si, 2011)


O grande general Hou Jie (Andy Lau) evoca todas as características de um tirano: cruel e déspota que vê a compaixão como uma fraqueza e apenas encontra um breve sentimento de conforto na persecução das ideias paranoicas. Ele é tão bom no seu papel que até os subordinados têm medo da sua admoestação e aliena aqueles, dos quais depende a sua segurança e a da sua família. Como um mestre camaleão Hou Jie alterna o papel de senhor da guerra com o de marido dedicado e pai extremoso, algo que esconde convenientemente do exterior. Ele sabe que é este afinal, o seu grande ponto fraco, aquele que conduzirá à sua queda. Ao seu engenho escapam as maquinações de Cao Man (Nicholas Tse), o subordinado leal que tratava como de um animal se tratasse. Com a queda do pedestal e a perda do que lhe é mais querido Hou Jie descobre o perdão no local onde menos esperaria, no seio daqueles que tanto ridicularizou e maltratou.
A acção tem lugar nos anos 20, uma altura em que os senhores da guerra e os “invasores” estrangeiros faziam negócios altamente lucrativos para si e, totalmente ruinosos para as populações. Tal período histórico abre espaço para uma estória de redenção centrada na filosofia budista. Ademais, compreende aqueles temas de redenção e de crime e castigo que as audiências tanto gostam e tanto sucesso deu ao cinema de Hong Kong já em Hollywood no final do século XX e no início do século XXI. Se a isto se juntarem a superestrela asiática Andy Lau, o super prometedor Nicolas Tse, o sempre fiável e rei das artes marciais além-mar Jackie Chan, com a beleza exótica da Fan Bingbing, temos êxito certo.
“Shaolin” só falha no campo das expectativas. Com 131 minutos, a estória podia ter sido facilmente contada em pouco mais de uma hora. E, no entanto, falta-lhe algo, o que me leva a questionar a edição do filme. A conversão de Hou Jie a um monge, no próprio templo que vitimizou quando possuía um poder que lhe parecia inesgotável, alimentado na própria miséria dos seus alvos. Pode um homem mau tornar-se bom sobretudo depois de ser vítima do maior ataque que alguém pode sofrer? Não seria antes um motivo para uma investida implacável contra os maiores opositores? O percurso de Hou Jie mais se afigura a uma obrigação, visto que ele perdeu tudo, do que o desejo consciente e tomado de coração de um homem que opta por perder. Sem alternativas, não pode agir muito além de um templo onde tem a garantia de protecção e de uma disciplina rígida que servirão de guias ideais à preparação de um contra-ataque brutal. Céus, mais depressa soa a manipulação industrial qual lavagem cerebral fora do ecrã, no sentido de as massas recolherem às suas casas calmas e submissas, sobe a égide dos preceitos. A velha revenge que é francamente mais apetitosa mas essa é a minha opinião. O conceito de perdão e compaixão não está ao alcance de todos os mortais.
Falta ardor no Hou Jie, aquele que de todo o elenco, se esperaria mais. Quanto aos monges, para o título “Shaolin”, não têm o tempo de antena suficiente. Eles encarnam a mensagem que o argumento almeja transmitir: nos ideais budistas e na acção corporal, coreografada de modo impressionante por Corey Yuen. Nesse campo podemos aguardar o melhor, em particular nas cenas do cozinheiro Wudao (Jackie Chan igual a si próprio). Num pequeno aparte e, isto fascina-me deveras, conseguem colocar a única personagem feminina importante, com mais do que duas ou três falas como “esposa de alguém”. A pobrezinha é assim tão insignificante que não tem direito a um nome? Acrescentar um (!) nome gasta muito papel no argumento?
“Shaolin” tem bastantes pontos a seu favor em termos técnicos, mas não é visualmente tão interessante como os últimos filmes da fábrica de épicos de Hong Kong. Uma injustiça que o tempo irá, (espera-se), superar. Além disso e, com uma longa duração e um argumento que não vai a lado nenhum durante bastante tempo, “Shaolin” perde para os mais próximos concorrentes. Para o interesse que a menção da palavra Shaolin suscita em torno do rigoroso código moral e religioso, do estilo de vida austero e, claro, o esforço extremo do corpo até aos seus limites, “Shaolin” é maçador. Talvez seja altura de pegar em papel e lápis e começar de novo. Duas estrelas e meia.

Realização:  Benny Chan
Argumento:  Alan Yuen, Chi Kwong Cheung, Quiyu Wang, Kam Cheong Chan e 
Andy Lau como Hou Jie
Nicholas Tse como Cao Man
Fan Bingbing como esposa de Hou Jie
Jackie Chan como cozinheiro Wudao
Jacky Wu como Jing Neng
Yu Xing como Jing Kong

Próximo Filme: "Loner" (Woetoli, 2008)

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