domingo, 19 de agosto de 2012

"Waterboys" (Wota Boizu, 2001)

Encontram facilmente clipes com legendas em inglês

Quem não adora uma boa estória de pessoas que contra marés e tempestades consegue vingar no mundo do desporto profissional? Não, a sério. Quem não gosta? Existe um amor universal por filmes de cidadãos vulgares que apesar de oprimidos e ridicularizados por competidores mais fortes e poderosos, acabam por encontrar a força dentro de si para vingar sobre todos os obstáculos. É o final feliz que as estórias da vida real não têm. Funciona como uma espécie de compensação para uma ausência experienciada numa vida não ficcional. E vá, aquela estória que deixa uma lágrima no canto do olho e, um pouco mais contentes com a nossa existência na terra durante breves minutos.
Waterboys junta os ingredientes certos para uma hora e meia de diversão que não parece um desperdício de tempo de vida (vide “Disaster movie” (2008), “Date Movie” (2006). Suzuki (Satoshi Tsumabuki) é o último sobrevivente da equipa de natação desfalcada do liceu, que é como um peixe na água e sente que pode fazer algo mais no meio aquático. É ele que vai liderar a revolução na escola de rapazes conservadora e juntar o grupo de rapazes que irá formar o grupo da escola de… natação sincronizada! Sato (Hiroshi Tamaki) é um fala-barato com uma afro (!), que não consegue levar nenhuma actividade até ao fim e, como tal, nenhum dos colegas o leva a sério; Ohta (Miura Akifumi) é o típico miúdo pele e osso que mantém uma obsessão pouco saudável com a prática de exercício físico; Kanazawa (Koen Kondo) é um génio com fobia da água e Saotome (Kaneko Takatoshi) é um rapaz delicado cuja prontidão na resposta aos pedidos de Suzuki faz muitos colegas duvidar da sua orientação sexual.
Suzuki encontrava-se só na equipa de natação da escola, quando a chegada da nova e jeitosa professora Sakuma (Kaori Manabe) fez despontar o interesse de dezenas de colegas. Isso e a possibilidade de impressionar as raparigas de uma escola feminina no festival de Verão. Mas quando a professora Sakuma revela a intenção de criar uma equipa de natação sincronizada masculina, apenas os cinco alunos impopulares parecem apostados em seguir a sugestão.
Com a revelação de que está grávida a professora Sakuma retira-se de cena e deixa os cinco jovens a depender de si próprios. Expostos ao ridículo perante os colegas e com um director que se opõe de modo veemente à iniciativa, parece não existir alternativa senão desistir. Mas Suzuki chegou a uma altura de vida em que desistir já não vai chegar. Indiferente aos que troçam dele e decidido a seguir o sonho até o fim, pede a um treinador de golfinhos (Naoto Takenaka) que os treine.
“Waterboys” tem os seus momentos de gargalhada fácil como o momento em que uma sala inundada de testosterona se esvazia à velocidade da luz, assim que os moços descobrem as verdadeiras intenções da professora, o esquelético Ohta é descoberto a praticar os exercícios de um vídeo de treino vestindo uma tanga minúscula, a professora vai ostentando a barriga de grávida bem à vista de todos alheada da sua condição, e basicamente todas as cenas em que um Sato com uma afro gigante tenta demonstrar seriedade. Os momentos de humor do filme são entrecortados com alguns exageros das personagem do treinador de golfinhos, um Naoto Takenaka, claramente a levar a piada demasiado a sério. Ele que transporta a mesma fórmula de comédia para o filme “Shall we dance?” (1996), a versão japonesa e original! Seria demasiado fácil levar a estória para um campo homoerótico e fazer das personagens, jovens efeminados, enfim, confundir um desporto associado ao universo feminino com a homossexualidade. Foi um caminho que Shinobu Yaguchi felizmente não trilhou. Ora algo me diz que seria demasiado fácil para Hollywood pegar na estória e ir pelo caminho da comédia sexual, como tantas vezes acontece. No máximo, temos actores em tronco nu bastantes vezes, devidamente justificadas pelo argumento para agradar ao público feminino (ou masculino), sem este se sentir culpado por isso (piscadela ao Taylor Lautner). “Waterboys” remete mais para a comédia de uma velha Hollywood de subversão das regras e do género mas com boas intenções. Na verdade, os 90 minutos caminham para o momento especial da grande performance em que os nossos rapazes encontram a verdadeira coragem, todas as promessas são cumpridas e os detractores são obrigados a engolir as suas palavras. Ah e, já referi que nos sentimos bem a seguir? Três estrelas.

Realização: Shinobu Yamaguchi
Argumento: Yasushi Fukuda e Shinobu Yamaguchi
Satoshi Tsumabuki como Suzuki
Hiroshi Tamaki como Sato
Miura Akifumi como Ohta
Koen Kondo como Kanazawa
Kaneko Takatoshi como Saotome
Kaori Manabe como professora Sakuma
Naoto Takenaka como treinador de golfinhos

E por que também ficámos imbuídos do espírito juntamos uma lista de dez filmes para deixar aquele sorriso nos vossos rostos.

Top 10 Filmes de Desporto

1. “Cool Runnings” (1993) – EUA: A tagline é “baseado numa história verídica”, mas antes que isso provoque bocejos profundos imaginem a seguinte situação: um grupo de jamaicanos faz a primeira presença do país nas Olimpíadas de Inverno na categoria de trenó em pista de gelo. Er, a Jamaica não tem gelo. Ah e tem o John Candy, num dos seus últimos papéis. I rest my case.

2. “Forever the Moment” (Uri saengae choego-ui sungan, 2007) – Coreia do Sul: Lição sobre como fazer um filme capaz de quebrar o coração mais gélido, com uma modalidade que é provavelmente uma das mais menosprezadas. Até na Coreia do Sul, antes deste filme, o andebol não era levado a sério. Apesar de terem uma equipa de estatuto olímpico! Prova que por vezes o importante não é a meta mas a integridade durante o percurso.

3. “Rocky” (1976) – EUA: "Rocky" foi o filme que fez questionar a capacidade dramática de Sylvester Stallone. Se por toda a carreira foi considerado como uma anedota, (enfim, ele põe-se a jeito), em "Rocky", Sylvester teve um rasgo de génio como o lutador com mais olhos que barriga que trava o combate da sua vida contra o opositor invicto Apollo Creed. “Rocky” é um filme de vitórias morais.

4. “Beautiful Boxer” (Biutiful Boksoe, 2004) Tailândia: Um homem que deseja ser mulher abre passagem a murro e pontapé para conseguir a tão desejada operação de mudança de sexo. O maior obstáculo de “Beautiful Boxer” reside na crise de identidade do protagonista e na dualidade que é o facto de lutar como um homem para se poder tornar uma mulher.

5. “Seabiscuit” (2003) – EUA: Então e se o cavalo é demasiado pequeno e jockey demasiado pequeno? Esta dupla consegue vencer e colocar todo um país do seu lado. Tobey Maguire, com a sua aparência eternamente jovem, confirma, se tal ainda fosse necessário, que é perfeito nos papéis em que é preciso alguém “subestimado”.

6. “A League of Their Own” (1992) – EUA: Geena Davis no seu pico, o Tom Hanks dá uma perninha como irritante e Madonna numa boa interpretação? Tudo é possível neste filme sobre baseball feminino na América dos anos 40, quando os homens combatiam na IIª Grande Guerra e as mulheres descobrem a independência.


7. “Remember the Titans” (2000) – EUA: O Denzel Washington nasceu para inspirar e já o sabia fazer antes de interpretar o papel de treinador de uma equipa de futebol americano. Os seus discursos motivacionais inspiram qualquer um independentemente do resultado, embora, não se esteja a ver um final triste.
8. “Sumo Do, Sumo Don’t” (Shiko Funjatta, 1992) – Japão: Um conjunto de inadaptados forma uma equipa de Sumo de circunstância para recuperar o prestígio da equipa da universidade e evitar o seu desaparecimento, à medida que os desportos ocidentais ameaçam a continuidade do desporto nacional japonês.


9. “Lagaan: Once Upon a Time in India” (2001) – India: Se quisermos ser maus “Lagaan” é sobre a luta do povo indiano oprimido contra os colonialistas britânicos impiedosos. Desmontado, é um filme sobre o desporto do cricket, numa odisseia de três horas e meia made in Bollywood, com as cores vibrantes, danças divertidas e belezas estonteantes que lhe estão associadas.

10. “Chariots of Fire” (1981) – Reino Unido: Uma pessoa sabe que o filme ficará para a estória quando a música, de Vangelis, nem mais, é selecionada para os Jogos Olímpicos e a preferida dos momentos desportivos ultra-dramatizados em câmara lenta. Uma música moderna para a época que ainda hoje perdura, ainda que o filme não tenha envelhecido tão bem. Atletas do hectómetro caucasianos? A sério?


Próximo Filme: "The Victim" (Phii khon Pen, 2006)

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