quinta-feira, 6 de setembro de 2012

"One Missed Call 2" (Chakushin Ari 2, 2005)



Na lista de coisas que m’atormentam em “One missed call 2”, o modo como o adjectivar, não é das menores. Existirá adjectivo que consiga albergar todo o potencial dissipado neste filme?
Se o primeiro filme não era brilhante e, ele obra de Miike pelo menos não comprometeu. Há ínfimos exemplos de experiências cinematográficas de pseudo-terror inferiores. Mas o caminho estava traçado e “One missed call 2” apenas necessitava de um golpe de génio já que a premissa por si só era fantástica: “jovens recebem chamadas de si próprios vindas do futuro, nas quais conseguem ouvir a sua própria morte”. A benção do primeiro filme, em todo o seu absurdo esplendor, o reconhecimento do mundo dos espíritos através da transmissão televisionada de uma morte, foi abandonada. Como mais uma notícia, ao sabor da agenda dos que mandam nos media, tal revelação é esquecida, uma ninharia. Todas as respostas que tantas pessoas, em todo o mundo procuram são assim, algo de secundário. Ao invés de brincar com a nova realidade, o par de argumentistas retrocede e torna a “chamada perdida” novamente, um segredo. Pior, há mais do que um fantasma a utilizar a tecnologia. Estes espíritos de hoje em dia…
Estão a ver com faço uns olhos esbugalhados na perfeição?
As duas amigas Madoka (Chisun) e Kyoko (Mimura) deparam-se com a maldição, quando durante um jantar alguém atende uma chamada que não devia e, acaba por falecer de um modo atroz. Daí a chegarem à conclusão que a culpa é do telemóvel é um ápice. Que o telefone nos distraia o suficiente para cairmos num poço ou termos um acidente de automóvel é provável e credível agora morte por possessão espírita e/ou libertação de ectoplasma (o palavrão não é meu), via telemóvel já é assim ligeiramente difícil de acreditar. Ou seria, se no primeiro filme uma rapariga não tivesse sido morte à frente das câmaras. E depois, seguindo o padrão do primeiro filme, o fantasma busca na agenda do aparelho por ordem alfabética, o nome da próxima vítima. Infelizmente, o pouco nexo da estória é ainda mais destroçado quando a pessoa errada atende o telefone e acaba por morrer. A vítima desejada não atende o telemóvel e, por isso, quem atender é quem sai na rifa? Que sucede ao pessoal que se esquivou a atendê-lo? Isto quer dizer que está safa da maldição? Mas como é que a maldição seleciona a vítima para começar? E já agora, seria de pensar que uma maldição tão poderosa não iria deixar a sua vítima original escapar incólume. Bolas, se até já envia imagens e tudo…Tudo isto para dizer que a maldição é tão aleatória que é caso para nos perguntarmos se os argumentistas não foram escrevendo toda e qualquer ideia que se lhes ia desenhando na mente…
Claro que eventualmente retornam à fórmula mais que vista, a imitação sem-vergonha e, por vezes na mesma cena de filmes anteriores. Houve uma cena em particular que levará muitos espectadores a questionar-se onde é que já viram aquilo antes. Eu respondo: Ju-on e Ringu.
E com a alusão a este último filme que tenho de me perguntar se a mulher comum não possui um único neurónio decente. Só as jornalistas é que são inquisitivas, inteligentes e destemidas? Por favor deixem-me dar mais exemplos, “The House” (2007, Tailândia), “Phone” (2002, Coreia do Sul). Se as actrizes até se safam invariavelmente bem, começa a tornar-se cansativo o esterótipo “repórter demasiado esperta para ser próprio bem”.
Parece que estou no filme errado...
Já a educadora de infância Kyoko, cuja cara horrorizada parece cómica por oposição a trágica é uma má alternativa à jornalista típica e bastante inferior à personagem da Kou Shibasaki de “One missed cal” e o namorado Naoto (Hisoshi Yoshizawa) é uma não-presença. Imaginem que têm 3 dias de vida. O que fariam? Se calhar iam aos restaurantes finos, aqueles que sempre se quis ir? Faziam coisas que sempre quiseram mas nunca tiveram coragem. Dizer que se lixe e ter horas intermináveis de sexo com o bonzão/boazona que sabem que está caidinho por vós? Não… embora ficar parado a chorar o destino inevitável, não fazendo rigorosamente nada para impedir o acontecimento mais importante das vossas vidas: a vossa morte! Ou pelo menos, curtir até lá. Pessoal… Se não tivessem telemóvel, nada disso aconteceria! Pelo menos até os fantasmas descobrirem os tablets…
Enfim, “One missed call 2” torna-se trágico a cada minuto que passa, com revelações cada vez mais improváveis a casa esquina… Nem as mortes são “dignas”, ocorrem fora do ecrã. Seria de pensar que quem teve a coragem de filmar a sequela de um filme com tanto sucesso não fosse tão cobarde na sua execução. Duas estrelas.

Realização:  Renpei Tsukamoto
Argumento:  Jae-shik Park
Mimura como Kyoko
Asaka Seto como Takako
Chisun como Madoka
Hisashi Yoshikawa como Naoto

Próximo Filme: " A Tale of Two Sisters" (Janghwa,  Hongryeon, 2003)

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