domingo, 28 de outubro de 2012

TCN Blog Awards 2012 - Votações Abertas


Chegámos à edição de 2012 dos TCN Blog Awards e, por esta altura só me flagelo por não ter feito o anúncio dos prémios mais badalados da blogosfera mais cedo. Surpreendentemente, o meu querido, por esta altura, o nosso querido Not a Film Critic conseguiu uma nomeação na categoria de "Melhor Artigo de Cinema" com "Artes Marciais - O Género Menor". Esta nomeação é tanto mais fantástica pelo facto deste texto ser o único artigo elaborado até à data, sendo, que 99,9% do que aqui se produz são apreciações de filmes. Não que me queixe, a nomeação tem até um gostinho especial pelo carinho com que guardo no coração este género esquecido. Mas não podia ser de outro modo, já que o Not a Film Critic nunca poderia reproduzir um artigo baseado numa lógica de números guiada por uma grande dose de bom-senso; de criar o sempre inevitável e certeiro artigo sobre o Woody Allen; muito menos oferecer uma visão singular sobre o que está por trás de um herói de capa; de abordar os heróis e anti-heróis daqui até à China, atravessando meio mundo, sem nunca perder a fluidez do discurso; pensar os temas do cinema além da imagem em movimento e reduzi-la à sua unidade mais simples; à narrativa de um pensador que consegue encontrar na natureza artificial de robôs encontrar vestígios da humanidade até a uma interessante abordagem histórica do cinema chileno... Aqui no Not a Film Critic, segui as imortais palavras do Bruce Lee e fui beber à minha paixão sediada no extremo oriente e falar um pouco do subestimado cinema de artes marciais, "o género menor". E sabem que mais? Quando esta coisa dos prémios terminar, até pode ser que alguns de vós tenham decidido dar uma oportunidade ao género por que já não basta, queremos retornar ao local onde as coisas são o que parecem e a acção é crua, física, de contacto. Onde vibramos nos assentos, a respiração fica acelerada e damos pancadas inconscientes na almofada ou no parceiro do lado. Onde o cinema de artes marciais se torna, de súbito, emocionante outra vez e não o género menor que nos querem, por força suave, fazer crer. Votações aqui.

PS: Quantos destes artistas conseguem identificar?

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

"Aokigahara: Suicide Forest", 2011



Com apenas 21 minutos de duração e a satisfação de um enredo que pertence à história autêntica da humanidade, devo admitir que foi um caso delicado para vir aqui transmitir a gravidade dos eventos que “Aokigahara: Suicide Forest”, se propõe descrever. Devia ser mais fácil não é? Escrever sobre a realidade que vivemos, neste ou noutro canto do mundo. A imaginação e a suposição são abstractas. A morte não.
Quando se aborda um objecto penoso a tendência é para carpir sobre ele. No entanto, “Aokigahara: Suicide Forest”, compromete-se com a verdade de Azusa Hayano, o geólogo com um dos trabalhos mais ingratos de sempre: patrulhar a floresta Aokigahara localizada no sopé do monte Fuji em busca de potenciais suicidas ou cadáveres. Quando a câmara foca a vegetação virgem, praticamente intocada pelo homem é difícil de imaginar o que podia levar alguém a decidir terminar a sua vida num sítio tão pacífico. De facto, por entre os grandes troncos centenários, fetos que lutam uns com os outros pela luz solar e as trepadeiras que cobrem todo o espaço vital da floresta, Aokigahara podia ser pensada como um retiro espiritual. Então, veio um livro de Seicho Matsumoto, no qual, um casal decide morrer na floresta e de repente, morrer naquele lugar magnífico tornou-se romântico. Mais de cem corpos são encontrados ali todos os anos. Estima-se que muitos mais ficarão por encontrar. Inúmeras fontes consideram ainda a floresta Aokigahara o segundo lugar onde ocorre o maior número de suicídios do mundo, apenas atrás da ponte Golden Gate em São Francisco. O método de eleição, a forca. “Aokigahara: Suicide Forest” é um relato honesto, mas talvez demasiado unidimensional, (bem, não estava à espera que os mortos se erguessem da campa e explicassem porque é que escolheram acabar com a própria vida) mas, mais visitantes da floresta encantadora e sinistra ou familiares das vítimas ou…
Com um enquadramento tão delicado, a frieza de Azusa Hayano é arrepiante. Como pode ele ser tão insensível ao facto de sobre um ramo estar a corda de um dependurado? Como permanecer impassível enquanto o geológo vai descobrindo pistas de pessoas que terão por ali passado e não mais voltado? Ele vai, calmamente, falando das fitas que as pessoas prendem às árvores para regressar, não vão eles arrepender-se. E vestígios de pessoas… E cadáveres… Rebate da realidade, Hayano está tão habituado a conviver com a morte como se de uma amiga se tratasse. Imagine-se o que ele já terá visto, o que ele terá impedido e o que não pôde deter. Retive sobretudo um momento em que Hayano menciona um amigo que terá entrado na floresta para fazer o impensável. A meio do processo desistiu mas ficou com uma cicatriz permanente no pescoço. Uma memória com que ele poderá congratular-se. Já que outros que optaram belo beijo frio da morte não puderam arrepiar caminho e abraçaram o único destino possível, uma morte lenta e dolorosa. Duas estrelas.



Próximo Filme: "The Red Shoes" (Bunhongsin, 2005)

domingo, 21 de outubro de 2012

"Sex is zero 2" (Saek-jeuk-shi-gong-ssi-zeun-too, 2007)



Preparados para nova dose da comédia sexual mais sem-vergonha a sair da Coreia-do-sul nos últimos anos? “Sex is zero 2” faz tudo bem: provoca os mais puritanos e faz soltar as gargalhadas e a testosterona dos jovens obcecados por sexo. Esta sequela do filme de 2002 traz as mesmas personagens e sequências ainda mais arriscadas, chegando mesmo a induzir o vómito. Mas “Sex is zero 2” não propõe re-inventar a roda e segue rigorosamente a mesma fórmula do original.

Eun-sik (Ghang-jung Lim) continua o mesmo “adorável” falhado que não tem muita sorte e que cada vez se parece menos com um estudante universitário. Pudera, aos 30 anos! Depois de abandonado por Eun-hyo (Ji-won Ha), ele consegue arranjar uma nova namorada em Kyeong-ah (Ji-hyo Song), que parece gostar genuinamente dele. Mas a sorte dele nem por isso melhora. Enquanto os amigos lá vão conseguindo dar cambalhotas, um deles inclusivamente mudou de sexo nos últimos 3 anos e já está noivo, ele continua sem conseguir a tão almejada intimidade com Kyeong-ah. Ele vai tentando através de insinuações directas e indirectas e às vezes, Kyeong-ah até parece disposta a ceder. Só que na hora H retrai-se. Não está pronta.
Mas Eun-sik já esperou 3 anos e os seus amigos não estão dispostos a vê-lo esperar mais e a desperdiçar a juventude o que conduz às inevitáveis peripécias que o separam de Kyeong-ah, ao invés de os tornar mais próximos. Entretanto, um antigo pretendente da rapariga, Gi-joo (Sang-yoon Lee) mais bonito, rico e bem-sucedido e com as boas graças da sogra retorna decidido a fazer dela sua esposa.
Desta feita as universitárias não praticam fitness mas estão na equipa de natação o que proporciona momentos mais do que suficientes para estarem à beira da piscina em trajos menores. Os homens, esses, continuam obcecados com as artes marciais, tendo por fim, direito a brilhar num torneio elaborado à pressa para o momento climático do filme.
A maioria das personagens são anedotas andantes, com reacções demasiado exageradas e actos demasiado disparatados para que lhes possamos atribuir alguma credibilidade. Uma das personagens tem um comportamento próximo ao da psicopatia sempre que desconfia que o namorado possa estar a trai-la, outra não consegue encarar a realidade de que o ex-namorado é agora uma mulher e que gosta de homens por fim, temos os pervertidos de serviço para quais já não chega espreitar, também têm de brincar com os orifícios dos outros… Só Eun-sik e Kyeong-ah mantêm alguma proximidade com a realidade, parecendo-se com um casal que podia existir. Enquanto meio mundo à sua volta só pensa no acto sexual, 99% do tempo, quer dentro e fora de uma relação amorosa, o par principal mantém um relacionamento parecido com o de adolescentes que estão apaixonados pela primeira vez e ainda possuem alguma inocência quanto aos factos da vida. Eis a vantagem de Kyeong-ah sobre Eun-hyo, a antiga namorada de Eun-sik. Ela tem genuína afeição por Eun-sik, mesmo com um fraco quociente intelectual e as suas tentativas desajeitadas de a levar para a alcova. É a sua doçura que a atrai. Kyeong-ah nunca ficaria com o tolo Eun-sik por piedade. Onde a antiga relação nos faria estremecer a actual aproxima a audiência dos personagens e fá-la ficar do lado destes, torcendo para que as desventuras do par romântico culminem num final feliz. À semelhança do filme anterior, "Sex is Zero 2" está fadado para um último terço dramático. Felizmente, nesta nova aventura a viragem dramática já não é tão desconexa nem radical. Para os fãs do género “Sex is zero 2” é um repescar das piadas que fizeram do primeiro filme um sucesso, com um período ainda menor de reflexão sobre os malefícios do sexo desprotegido ou sem sentimentos envolvidos. Para dizer a verdade, o que a malta quer é passar da palavra à acção e disso, “Sex is zero 2” tem bastante. Três estrelas.

Realização: Tae-yun Yoon
Argumento: Je-gyun Yun
Ghang-jung Lim como Eun-sik
Ji-hyo Song como Kyeong-ah
Shin-ee como Kyeong-joo
Chae-yeong Yoo como Yoo-mi
Hwa-seon como Yeong-chae
Sang-yoon Lee como Gi-joo

Próximo Filme: "Aokigahara: Suicide Forest", 2010

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

"Seediq Bale: Warriors of the Rainbow" (Sàidékè balái, 2011)




Parece que deste pequeno país à China, com uma passagem pelos EUA, no topo da lista de erradicação de povos indígenas (culpem a televisão), a estória das tribos nativas é marcada por guerra, sangue e morte. “Coexistência pacífica” é uma expressão maravilhosa mas despojada de sentido no mundo real. Quando esta coexistência apelidada de pacífica apenas é alcançada à custa da conquista e humilhação, como se pode, legitimamente, esperar por mais que uma paz podre e uma subserviência que sobrevive alimentada por uma memória que aguarda por uma centelha inflamatória? O modo de vida dos seediq, população aborígene de Taiwan é um de caça, bebida e de guerrear entre si. Originalmente eram cortadores de cabeças e os seus únicos rivais eram eles próprios, recorrendo a pequenas ofensas para satisfazer o capricho de divertimento. O papel da mulher é relegado para segundo plano. O próprio título do filme conta essa mesma história, seediq bale significa algo como homem verdadeiro.  A mulher está lá para o bom e o mau feitio do seu homem de coração quente seediq. A mulher assegura o calor no lar e a amamentação dos filhos. E pouco mais saberemos dela. A personalidade do homem seediq é tão intempestiva e inesperada quanto a natureza.
Enquanto o homem seediq pulula por entre o terreno selvagem e inexplorado de uma ilha muito distante da cidade de edifícios que rasgam o céu, pouco adiante, o povo japonês, civilizado e calculista prepara uma nova demonstração de força. A ilha não é tão importante quanto demonstrar o poderio do império do sol nascente contra toda e qualquer oposição real ou imaginada. Entre a ilha e o povo japonês está Mouna Rudao (Lin Ching-Tai) o irascível líder de uma facção da tribo seediq, o povo aborígene da ilha de Taiwan. Após a invasão que esmaga quaisquer pretensões de domínio sobre as facções rivais, Rudao aprende a refrear o ego, o seu e o dos outros, temendo que qualquer movimento em falso possa acordar a besta nipónica. Ele vive entre o mundo dos vivos e o dos deuses e ele canta os seus divinos senhores como se vivesse naquele mesmo plano. Superior. Além da ponte do arco-íris, onde os pastos são verdes e existe caça para todos. Mas os deuses estão insatisfeitos. Eles clamam pelas glórias do passado, em que os seediq caçavam e esmagavam os oponentes e com as suas cabeças reclamavam qualquer esperança destes transitarem para o outro lado. O povo japonês esmagou a arrogância dos seediq, retirou-lhes as terras e humilha-os constantemente. Sobreviver a troco da dor do conhecimento da superioridade do inimigo? Sobreviver para não lutar por uma última vez? Sobreviver para as gerações vindouras nunca conhecerem o gosto pela caça, nem provarem a sua masculinidade através da morte? Ou estão destinados a sobreviver como uns bêbados, comprados com o vinho do invasor? Não. Os deuses clamam pelo sangue do inimigo e a época em que os Seediq se unem como um só e lutam até ao último homem… E é Mona Rudao, o homem que irá unir, contra o ego e as escaramuças passadas unir o povo dividido. Pela liberdade.
Em “Seediq Bale: Warriors of the Rainbow” existe o mesmo gosto amargo de “Braveheart”, “Apocalypto” e “O Último dos Moicanos”. A sensação de fatalismo, sem entrarmos por considerações históricas está demasiado presente. Não é latente. É manifesta. Umas centenas de homens armados com flechas nada podem contra milhares de militares, os mesmos que viriam a atacar Pearl Harbour e a atrair a ira americana. No entanto, a piedade, por todo o sofrimento que o povo seediq atravessa só é superada pela barbárie que este povo provoca em igual proporção contra o povo japonês. O incidente Wushe de 1930, que provoca a revolta contra o povo japonês, colonos e militares demonstra que numa guerra não há bons nem maus, apenas dor e morte.

As tentativas (pois que são muitas em quatro horas de duração), de se tentar demonstrar o povo seediq como corajoso e valente saem, de certo modo goradas no comportamento bestial e errático do mesmo e na chacina evitável de mulheres e crianças de ambos os lados. Nenhuma canção deste mundo consegue apagar da memória o derrame do sangue dos inocentes. E por tudo quanto resultou tal incidente e a temível, brutal e esperada reacção japonesa que diminuiu grandemente a população seediq, não deixa de ser irónico que no século XXI, sob o jugo chinês, numa “Taiwan civilizada” os aborígenes sejam ainda em menor número. Três estrelas e meia.

Realização: Te-Sheng Wei
Argumento: Te-Sheng Wei
Lin Cing-Tai como Mona Rudao
Masanobu Andô como Genji Kojima
Umin Boya como Temu Walis

Próximo Filme: "Sex is Zero 2" (Saek-jeuk-shi-gong-ssi-zeun-too,  2007)

domingo, 14 de outubro de 2012

"Zebraman", 2004



Ao fim de cinco minutos já sabemos que o Shin'ichi Ichikawa (Shô Aikawa) é um pobre coitado digno de pena. A palavra “falhado” parece estar escrita na testa dele. É um solitário que não tem o respeito de ninguém, nem mesmo dos próprios alunos que não lhe reconhecem a autoridade. O próprio filho, um puto magricela sem espinha dorsal, também está destinado à perseguição implacável dos colegas de turma até ao final do percurso escolar. Pouco o ajuda que o pai seja professor na mesma escola que ele. Estão bem a ver o filme? Se o Ichikawa lhes der más notas, os colegas descarregam no filho. A filha dele não é muito melhor. Acabada de sair da adolescência leva a vida que quer, sem repreensão dos adultos e muito provavelmente prostitui-se para suprir os gostos mais requintados. Para completar o trio infeliz que constitui a família de Ichikawa está uma mulher que o desautoriza à frente dos filhos e o impede de tomar decisões com a sua personalidade dominante.
Como é não havia ele de se refugiar num mundo de fantasia, onde existem super-heróis que lutam contra a injustiça, essa mesma que ele conhece demasiado bem. A obsessão de Shin'ichi recai sobre uma série de televisão que nunca teve grande sucesso, injustamente esquecida: “Zebraman”. O final do dia é o único alívio. Refugia-se no quarto e admira o fato costurado por ele, enquanto fantasia, ir além daquelas paredes e percorrer as ruas da cidade, combatendo os maus e conquistando o reconhecimento que lhe falta dentro de casa.
Quando finalmente se aventura na cidade Ichikawa adquire a coragem que lhe falta como professor falhado e sucede na luta contra um vilão. Entretanto, Shinpei (Naoki Yasukoshi) um pequeno numa cadeira de rodas é introduzido na sua turma e cedo descobre que também ele nutre admiração pelo Zebraman e, ao contrário de todos os outros, vê através da personalidade sensível do professor. Shinpei e a sua mãe Kana (Kyoka Suzuki) completam a vida dupla de Ichikawa, um homem desesperado por afecto. Um retrato negro das relações familiares que se vai tornando cada vez mais alegre com o passar dos minutos e se torna algo completamente diferente.
Zebraman podia ser qualquer herói não fosse o facto de encarnar um animal muito menos sinistro que um morcego ou uma aranha. Quem tem medo de uma zebra? Onde está a complexidade do animal da savana africana que se serve de riscas para confundir os predadores? Onde é que uma zebra cria temor num vilão? Por outro lado, o facto de o homem criar uma vida dupla, na qual encontra um “filho” e uma “mulher” substitutos, apesar de nunca se consumar uma relação com esta última, pode ser condenável e alienar parte da audiência. O encontro entre as duas “famílias” deve ser qualquer coisa de desconfortável. Não é suposto “Zebraman” ser uma paródia? A partir da segunda metade do filme, quando finalmente se “esquece” a verdadeira família de Ichikawa e a cruzada como “Zebraman” começa a tomar forma, torna contornos muito semelhantes aos da velhinha série dos “Power Rangers” mas sem a narrativa totalmente inócua e açucarada. Fazer de alienígenas os vilões também contribui para nos distanciarmos de toda a seriedade inicial. Ainda mais quando nos apercebermos que os efeitos especiais deixam muito desejar. Sobretudo os pequenos aliens fazem lembrar o videoclipe dos anos 90 “Blue” dos Eiffel 65, que na altura parecia muito boa ideia mas hoje em dia ninguém se atreve a cantar em público, por medo de ser alvo de chacota. Quando o herói por fim se veste de zebra, não há como o levar a sério. O único país do mundo onde talvez se pudesse levar “Zebraman” a sério é o Japão, local onde as jovens se vestem de Lolitas e homens crescidos se vestem de bebé anseando que lhes troquem a fralda. Só lá é que Miike, um realizador mais conhecido por filmes ultra-violentos podia fazer um filme adequado a toda família apesar das disfunções mal disfarçadas. Três estrelas

Realização: Takashi Miike
Argumento: Takashi Miike
 Shô Aikawa como Shin'ichi Ichikawa
Naoki Yasukoshi como Shinpei Asano
Kyoka Suzuki como Kana Asano

Próximo Filme: "Warriors of the Rainbow: Seediq Bale", 2011

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

"Dredd 3D", 2012


“Dredd 3D” podia apresentar-se como o mais recente saco de pancada onde discorrer sobre a minha relação amor-ódio com as adaptações de banda-desenhada dos últimos anos. Podia, mas não é. Gostava de pensar que existe uma certa ingenuidade quanto aos motivos que levam os fãs de comics a seguir religiosamente cada número dos seus heróis preferidos. O produto final é regra geral, tão editado, que os fãs mais fervorosos encontrarão poucas ou nenhumas parecenças com a banda-desenhada que o originou e, se encontra mais próximo daqueles que nunca ouviram falar do herói. “Dredd 3D” não é uma experiência do género, sendo ainda mais parecido com a banda-desenhada que o inspirou, que o fenomenal flop com o Sylvester Stallone e, que muito provavelmente não contribuiu para as receitas nas bilheteiras do filme de 2012. “Dredd 3D” destina-se aos adultos, com toda a violência gráfica que isso implica. Podia tecer considerações sobre “uma civilização pós-apocalíptica, na qual os bandidos estão em maior número que as forças da lei” mas, em quantos outros filmes já vimos isso antes? Não, os argumentos de “Dredd 3D” são outros. Admitamos que quase qualquer coisa que se oponha a um filme onde o Rob Schneider está encarregue de proporcionar os momentos de humor é melhor. O 3D, (pela primeira vez em muito tempo posso dizer isto e, até me vêm lágrimas aos olhos), é bem utilizado. Atente-se por exemplo às sequências onde água, fumo ou uma looooooooooooonga queda estão envolvidas. O herói, interpretado por um Karl Urban irreconhecível, (talvez seja melhor assim), nunca retira a máscara. A mística está na sua personagem, tão ciente do papel de “polícia, juiz e carrasco” que nunca se dá ao luxo de ficar com o flanco desprotegido ou de expor cidadãos inocentes ao perigo. E depois a estória. Se já viram “The Raid – Redemption”, o mais é certo é terem uma sensação de déjà vu. Para quem apreciou este último, “Dredd 3D” não será surpreendente mas não deixará de ser agradável. Se não gostaram do filme de artes marciais e nutrem gostos mais bélicos, dêem uma oportunidade a “Dredd 3D”.
O juiz implacável é instruído a levar a nova recruta Cassandra Anderson (Olivia Thirlby) para um dia no terreno. Com resultados abaixo da média, o mais certo é morrer logo no primeiro dia de trabalho, mas ela é uma caixinha de surpresas. E nós sabemos como adoramos personagens com truques na manga. Certo? Até o nome da moça soa bem, Anderson, como o nome de Neo na Matrix, o elemento que não pertence, ou que pertence a um plano superior ou de qualquer um dos três realizadores. A Lei de Murphy entra em acção e depressa uma operação de rotina dá lugar aos dois juízes encurralados num bloco de apartamentos com 200 andares e perseguidos por um gangue de traficantes assassinos, determinado a aniquilá-los. Quando me refiro à lei de Murphy não estou a falar do Alex Murphy do Robocop, se bem que… também ele usava um capacete que raramente retirava e perseguia os vilões mais implacáveis, no brutal universo de Verhoeven. Hmmmm…
De qualquer modo, esta foi a última vez que vi ser utilizada a desculpa de uma droga dura para justificar acção pura e dura. Que importa? Resulta. Uma droga com o nome espectacular de slo-mo (câmara lenta), pois sob o efeito dela o tempo parece nunca mais passar. E a vilã Ma-Ma (Lena Heady), sim a vilã é uma mulher - feministas deste mundo regozijem -, é malédica ao nível de uma velha que oferece fruta envenenada a crianças. Isto, sem mencionar a cara desfigurada e inexpressiva. Ela tem poucas ou nenhumas falas. Mas não é como se precisasse de proferir uma palavra para termos medo dela...
Por tudo isto, o que me escapa à compreensão é o facto de as audiências não terem aderido. A violência não tem de assustar ninguém dos cinemas, nem impedir alguém de utilizar meios menos legais para visionar o filme (não disse isto). Uma personagem de BD desconhecida é tão acessível como qualquer personagem criada de raiz. E não é como se o departamento de efeitos especiais tivessem cometido alguma falha grave. Não pretendo que milhões de pessoas estejam erradas e uma minoria certa quanto às suas opções cinematográficas mas, talvez, seja altura de repensar as opções e dar oportunidade a gemas que à partida estariam confinadas aos DVDs a 5 € no supermercado. Mais que não seja, façam-me lá a vontade, por que eu quero uma sequela. Sim?! Quatro estrelas.

Realização: Pete Travis
Argumento: Alex Garland, Carlos Ezquerra e John Wagner
Karl Urban como Dredd
Olivia Thirlby como Cassandra Anderson
Lena Heady como Ma-ma

Próximo Filme: "Zebraman", 2004

domingo, 7 de outubro de 2012

"Sex is Zero" (Saekjeuk shigong, 2002)



Comédia coreana que deverá agradar a quem gostou de “American Pie” e “Van Wilder”. 

Situado algures entre as piadas nojentas de “Van Wilder” (2002) e com um pouco mais de alma do que o primeiro “American Pie” (1999) que agradaram a multidões de pré-pubesceres convencidos que aprenderam tudo quanto ao sexo dizia respeito, “Sex is zero” é surpreendentemente espirituoso. Apesar de possuir um corpo de actores mais velho que os filmes já mencionados, nem por isso o juízo destes é melhor. Estudar? A preocupação com os estudos está perto de ser a última coisa que os estudantes do campus da Universidade Nacional têm em mente. Numa palavra: sexo. Sexo pela primeira vez, sexo com outro parceiro que não o habitual, sexo com a pessoa que se ama, definição do próprio sexo, inveja do seu próprio sexo, falta de sexo. E para tais preocupações há cenas em suficiente quantidade para agradar a todos os adolescentes obcecados pelo sexo, nomeadamente a cena em que, após uma saída, todos os "jovens" já completamente alcoolizados iniciam as maquinações para acabarem a noite com o seu par de eleição. Mas que seria de uma comédia arriscada sem um par romântico pelo qual torcer? O Jim e Michelle da saga “American Pie” são Eun-sik (Jung Lim Chang) e Eun-hyo (Ji-won Ha). Desta feita, enquanto ele se apaixona à primeira vista por debaixo da saia por Eun-hyo, ela só tem olhos para o garanhão de serviço, Sung-ok (Min-jung) que namora com a mulher com os atributos físicos mais invejados da universidade Ji-won (Jae-yeong Kim). Todos sabem onde é que isto vai dar menos eles. O par amoroso deverá passar pelos gags mais hilariantes e as maiores provações para descobrirem que foram, afinal, feitos um para o outro, como já tivemos oportunidade de observar noutros filmes, uma cem vezes, no mínimo. Para (não) ajudar a que o parzinho se reúna no final da película está o habitual grupo de amigos pouco inteligente que nos proporcionará muitas cenas de sexo, nudez e inúmeros disparates.
Infelizmente, enquanto o Jim de “American Pie” era um tolo adorável, Eun-sik não desperta a mesma simpatia. É mais fácil pensar, por todas as atitudes desastradas, fracassadas e acéfalas que ele é portador de um qualquer tipo de deficiência. Mais velho que os restantes personagens, visto que o seu personagem começa a frequentar a universidade apenas após o cumprimento de serviço militar, ele tem a mentalidade de adolescente de 16 anos mas sem o expediente típico da idade. Ele é apanhado por diversas vezes em posições comprometedoras e chega a uma altura em que não conseguimos acreditar na sua inocência tal o azar em se colocar constantemente nessa posição. A protagonista não é muito melhor. Ji-won Ha que interpretou recentemente o papel de durona em “Sector 7”, não terá culpa do papel que lhe caiu em sorte, mas custa a compreender em que lógica é que um “vamos ficar juntos por que sei que tu nunca me vais abandonar” pode soar agradável a alguém. Excepto a um Eun-sik que coitado, deve bastante à inteligência, embora lhe conceda, toda a compaixão deste mundo e arredores.
“Sex is zero” atinge pelo menos um feito digno de nota que é: copiar alguns gags de filmes anteriores como uma cena muito famosa de “Van Wilder” que envolve esperma – não finjam que não sabem do que estou a falar – e, conseguir com que a piada pareça menos forçada do que no filme que a originou. Depois de uma primeira hora brutal em gargalhadas, eis que “Sex is zero” toma a única decisão que o podia diferenciar dos demais competidores e adquire um tom ultra-dramático à boa maneira sul-coreana. A tragédia desta viragem é que o filme não necessitava dela. O registo engraçado e bem-intencionado sem levantar grandes controvérsias, chegava perfeitamente para 90 minutos de entretenimento bem passados, a ver com os melhores amigos ou o parzinho romântico e muita pipoca. Mas não, o argumentista tinha de demonstrar que o sexo pelo sexo não traz valor algum, quando muito a desgraça e que aqueles que não tiverem relações sexuais com responsabilidade pela saúde e pelos sentimentos poderão pagar cara a negligência. Esta advertência soa tão mais desnecessária dada a idade dos actores. Mas alguém acredita que aqueles actores têm vinte e poucos anos e que estão dependentes dos adultos? Mesmo numa sociedade onde manter a face é o mais importante, qualquer ultraje cometido é sempre mais inócuo devido à sua maturidade. Precisávamos mesmo da lição de moral? Se conseguirem ultrapassar a esquizofrenia da estória, pelo final estaremos de volta às situações hilariantes que nos fizeram rir à gargalhada desde os créditos iniciais com a promessa de sexo, mas muito sexo e ainda assim poder ser visionado por pessoas que não necessariamente de se inserir na categoria de pervertidos. Três estrelas.
Realização: Je-gyun Yun
Argumento: Je-gyun Yun
Jung Lim Chang como Eun-sik
Ji-won Ha como Eun-hyo
Min-jung como Sung-ok
Jae-yeong Kim  como Ji-won
Chae-yeong Yu como Yoo-mi

Próximo Filme: "Dredd 3D", 2012

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

"Pulse" (Kairo, 2001)



Os clássicos são uma daquelas coisas. Como clássicos ficam registados na memória colectiva para a posteridade e alvo de amores e ódios extremos. Até os grandes como o “Ring” e “A Tale of Two Sisters”, são olhados com um esgar de indiferença por muitos. No pior dos casos, serão comparados e considerados inferiores aos remakes ocidentais, embora possa afirmar com relativa segurança que esse é um evento raro.

“Pulse” foi o último dos grandes clássicos do J-horror moderno que vi e digamos que ter assistido a doses massivas de J-horror anteriormente, tem a sua influência. Por outro lado, até o mais leigo dos leigos admitirá que “Pulse” é um dos filmes de terror mais introspectivos e reflexivos da primeira década do século XXI. O que “Ring” fez pela cassete de vídeo, “Pulse” fez pela internet. Nesse aspecto, espero daqui a dez anos, esteja eu neste planeta e consiga olhar para o filme com outros olhos. Claro que “Pulse” pode ser apenas uma grande partida e de crítica social não ter nada. Somos nós os tolos que pensam que sim! Onde “Pulse” não corre tão cedo o risco de ficar desactualizado, infelizmente fará maravilhas pelas insónias. Se ao menos a porcaria do filme fosse mais curto!
E a premissa, para simplificar o complicado, envolve a jovem Michi (Kumiko Aso), que fica preocupada após o colega Taguchi (Kenji Mizuhashi), que estava a trabalhar em casa ao computador nunca mais dar sinais de vida. Quando ele comete suicídio de modo inesperado, reina o choque. Quem podia imaginar? Ele nem era do tipo depressivo… Entretanto Ryosuke (Haruhiko Kato) toma um renovado interesse pelos computadores quando a bela Harue (Koyuke) se sente intrigada pelo facto do seu computador parecer ter vontade própria. Cedo se começa a ouvir falar numa vaga de suicídios, aos quais a visualização de uma imagem perturbadora no computador não é alheia. A resposta óbvia é resistir à tentação de ligar o aparelho, o que no início do milénio nem seria assim tão complicado. Mas a curiosidade, ai a curiosidade...
Onde “Ring” e “Grudge”, se encontram claramente interessados em utilizar a figura da mulher para corporizar todas as coisas demónicas, “Pulse” nunca aponta o dedo a nenhum personagem, preferindo escapar às instigações de uma sociedade patriarcal. Quando os créditos iniciais são apresentados já a maquinaria avança a todo o vapor: os personagens pertencem a uma estória superior a eles. Ao contrário de 99,9% de todos os filmes produzidos, os personagens que vemos no ecrã não são o centro do mundo.  Também não são procuradas respostas no sentido tradicional. Enquanto o retorno ao passado surge como a redenção natural nos filmes anteriores, os personagens de “Pulse” têm o instinto mais apurado para o tempo presente. Infelizmente, a audiência não está alheada da experiência e exige respostas para seu descanso. O ser humano não lida muito bem com ausências e se não tiver as informações que necessita racionaliza. Pois isto é tudo quanto nos resta deste filme do Kiyoshi Kurosawa. Apenas podemos supor quais seriam as suas intenções de aproximação bastante Lynchiana. E Kurosawa é muito mais que um realizador de filmes de terror. Apelidar “Pulse” como um filme somente de terror, não é só redutor como ingénuo. Basta examinar outros esforços do realizador como “Cure”, “Loft” ou “Retribution”. E admitir que a sua visualização não é fácil é um eufemismo. Apesar de se abrir a porta para uma reflexão sobre a solidão e o isolamento da sociedade por influência directa dos equipamentos produzidos pelo ser humano para seu entretenimento, em última análise é a falta de foco que trai “Pulse”. O filme inicia-se com uma vaga de suicídios. Pelo final, nem suicídios nem corpos, apenas uma mancha negra, no sítio onde estariam os desaparecidos. O mais assustador talvez nem seja aquilo que não vemos no ecrã mas as impressões. Onde estão todos? Três estrelas.

Realização: Kiyoshi Kurosawa
Argumento: Kiyoshi Kurosawa
Haruhiko Katô como Ryosuke Kawashima
Kumiko Asô como Michi Kudo
Koyuki como Harue Karasawa
Kenji Mizuhashi como Taguchi
Kurume Arisaka como Junko Sasano

Próximo Filme: "Sex is Zero" (Saekjeuk shigong, 2002)
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