quinta-feira, 11 de outubro de 2012

"Dredd 3D", 2012


“Dredd 3D” podia apresentar-se como o mais recente saco de pancada onde discorrer sobre a minha relação amor-ódio com as adaptações de banda-desenhada dos últimos anos. Podia, mas não é. Gostava de pensar que existe uma certa ingenuidade quanto aos motivos que levam os fãs de comics a seguir religiosamente cada número dos seus heróis preferidos. O produto final é regra geral, tão editado, que os fãs mais fervorosos encontrarão poucas ou nenhumas parecenças com a banda-desenhada que o originou e, se encontra mais próximo daqueles que nunca ouviram falar do herói. “Dredd 3D” não é uma experiência do género, sendo ainda mais parecido com a banda-desenhada que o inspirou, que o fenomenal flop com o Sylvester Stallone e, que muito provavelmente não contribuiu para as receitas nas bilheteiras do filme de 2012. “Dredd 3D” destina-se aos adultos, com toda a violência gráfica que isso implica. Podia tecer considerações sobre “uma civilização pós-apocalíptica, na qual os bandidos estão em maior número que as forças da lei” mas, em quantos outros filmes já vimos isso antes? Não, os argumentos de “Dredd 3D” são outros. Admitamos que quase qualquer coisa que se oponha a um filme onde o Rob Schneider está encarregue de proporcionar os momentos de humor é melhor. O 3D, (pela primeira vez em muito tempo posso dizer isto e, até me vêm lágrimas aos olhos), é bem utilizado. Atente-se por exemplo às sequências onde água, fumo ou uma looooooooooooonga queda estão envolvidas. O herói, interpretado por um Karl Urban irreconhecível, (talvez seja melhor assim), nunca retira a máscara. A mística está na sua personagem, tão ciente do papel de “polícia, juiz e carrasco” que nunca se dá ao luxo de ficar com o flanco desprotegido ou de expor cidadãos inocentes ao perigo. E depois a estória. Se já viram “The Raid – Redemption”, o mais é certo é terem uma sensação de déjà vu. Para quem apreciou este último, “Dredd 3D” não será surpreendente mas não deixará de ser agradável. Se não gostaram do filme de artes marciais e nutrem gostos mais bélicos, dêem uma oportunidade a “Dredd 3D”.
O juiz implacável é instruído a levar a nova recruta Cassandra Anderson (Olivia Thirlby) para um dia no terreno. Com resultados abaixo da média, o mais certo é morrer logo no primeiro dia de trabalho, mas ela é uma caixinha de surpresas. E nós sabemos como adoramos personagens com truques na manga. Certo? Até o nome da moça soa bem, Anderson, como o nome de Neo na Matrix, o elemento que não pertence, ou que pertence a um plano superior ou de qualquer um dos três realizadores. A Lei de Murphy entra em acção e depressa uma operação de rotina dá lugar aos dois juízes encurralados num bloco de apartamentos com 200 andares e perseguidos por um gangue de traficantes assassinos, determinado a aniquilá-los. Quando me refiro à lei de Murphy não estou a falar do Alex Murphy do Robocop, se bem que… também ele usava um capacete que raramente retirava e perseguia os vilões mais implacáveis, no brutal universo de Verhoeven. Hmmmm…
De qualquer modo, esta foi a última vez que vi ser utilizada a desculpa de uma droga dura para justificar acção pura e dura. Que importa? Resulta. Uma droga com o nome espectacular de slo-mo (câmara lenta), pois sob o efeito dela o tempo parece nunca mais passar. E a vilã Ma-Ma (Lena Heady), sim a vilã é uma mulher - feministas deste mundo regozijem -, é malédica ao nível de uma velha que oferece fruta envenenada a crianças. Isto, sem mencionar a cara desfigurada e inexpressiva. Ela tem poucas ou nenhumas falas. Mas não é como se precisasse de proferir uma palavra para termos medo dela...
Por tudo isto, o que me escapa à compreensão é o facto de as audiências não terem aderido. A violência não tem de assustar ninguém dos cinemas, nem impedir alguém de utilizar meios menos legais para visionar o filme (não disse isto). Uma personagem de BD desconhecida é tão acessível como qualquer personagem criada de raiz. E não é como se o departamento de efeitos especiais tivessem cometido alguma falha grave. Não pretendo que milhões de pessoas estejam erradas e uma minoria certa quanto às suas opções cinematográficas mas, talvez, seja altura de repensar as opções e dar oportunidade a gemas que à partida estariam confinadas aos DVDs a 5 € no supermercado. Mais que não seja, façam-me lá a vontade, por que eu quero uma sequela. Sim?! Quatro estrelas.

Realização: Pete Travis
Argumento: Alex Garland, Carlos Ezquerra e John Wagner
Karl Urban como Dredd
Olivia Thirlby como Cassandra Anderson
Lena Heady como Ma-ma

Próximo Filme: "Zebraman", 2004

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