quinta-feira, 22 de novembro de 2012

"Sleep Tight" (Mientras Duermes, 2011)


“Sleep Tight” é uma das boas razões pelas quais quase que, de cada vez que vejo um filme espanhol digo para mim própria que tenho de começar a ver mais filmes daquele país. Isso e chorar baba e ranho devido à minha imbecilidade (ninguém vê). A película é do Jaume Balagueró ou JB como carinhosamente lhe chamo. Para fãs de [REC], “Sleep Tight” é uma surpresa agradável. Agora aqueles que detestaram aquele filme de zombies, possessos ou lá o que é, têm aqui a oportunidade ideal de encontrar um motivo para seguir com atenção a carreira do JB. “Darkness” (2002) não deve constar do currículo do senhor. É o chamado erro de julgamento se bem que, entretanto, o senhor já encontrou o norte e as coordenadas trouxeram-no de volta ao bom caminho do suspense/terror. Mauzinho mesmo é o título (já lá vamos).
César (Luis Tosar) é o homem dos sete ofícios no prédio onde trabalha, em Barcelona. Também ninguém lhe presta grande atenção, a maioria dos inquilinos nem sequer se deve lembrar do seu nome. Se calhar deviam, visto que ele possui as chaves de todos quantos habitam naquele sítio. César é metido consigo próprio e, à primeira vista, digno de simpatia. Tem uma mãe doente e, a bem dizer, podia ser inofensivo. Podia. Pois que ele está obcecado com a inquilina Clara (Marta Etura), uma jovem atrevida sempre com um sorriso estampado no rosto. César começa por enviar-lhe cartas anónimas, depois passa às mensagens até que já tem os movimentos de entrada e saída de Clara bem estudados. Não chega. Ele quer um pouco mais de proximidade e usa das chaves tão importantes que lhe foram concedidas. Durante a noite, enquanto Clara dorme, César aguarda-a ali, bem perto de si… Debaixo da cama dela. No que é que ele está a pensar? Pode perder o emprego. Pode ser preso por perseguição. Os motivos dele nunca são suficientemente claros. Predador sexual?! Claro. Mas há algo mais que isso. Ele alterna entre o desejo de possessão de uma mulher que nunca olharia para ele num mundo normal e o ódio pela pêga que o cumprimenta com um sorriso insolente para no momento a seguir ir-se deitar com outro. Ele destila um ódio apenas visível quando começa a deixar pequenas “prendas” atrás de si, tornando a vida de Clara cada vez mais insuportável.
Como pano de fundo para uma psique distorcida está uma mãe envelhecida e inválida, condenada a ouvir os esquemas do filho. Querem decadência melhor do que a de assistir ao apodrecimento moral de um filho?
A surpresa maior de “Sleep Tight” é a actuação de Tosar. Mesmo durante os actos mais atrozes, o seu porteiro arrepiante nunca chega a ser totalmente detestável. Há qualquer coisa de charmoso neste César. Como não simpatizar com um homem tão infeliz que chega a atentar contra a sua própria vida? Como não detestar quem encontra uma réstia de esperança quando os outros estão tão ou mais infelizes que ele? É ou não é o monstro perfeito? Se até na hora de o julgar a audiência é assaltada por dúvidas. Será o ódio a emoção mais correcta? A acompanhar o desempenho poderoso de Tosar está uma maquilhagem que sucede em torná-lo feio, como a personalidade, lá está.
“Sleep Tight” é um registo muito mais subtil para Balagueró. A câmara frenética e o histerismo dos actores de [REC], contrastam com as sequências que tomam o seu tempo até existir um evento significativo e a ingenuidade, quase inocência dos personagens que rodeiam o porteiro do inferno, quanto às verdadeiras intenções de César. Existe uma vizinha, miúda de escola, certamente destinada a tornar-se rufia que vê mas não compreende o que ele faz. Azar o dela que utiliza deste conhecimento como um segredinho sujo que sabe que não devia ter, poder sobre a última pessoa de quem o devia ter retirado. O segredo de Balagueró está, sobretudo na utilização do espaço. Já em [REC], demonstrara uma sensibilidade extrema sobre o espaço da acção. Sempre dentro de um edifício, sempre sufocante. O titulo inglês da película é que não reflecte o verdadeiro sentimento da invasão da privacidade que Balagueró explora durante os 100 minutos de duração. Mais adequado seria “While you sleep”, ou “Enquanto Dormes”. Porque é aí, no conforto do lar, durante um sono reparador, descansado, sob os nossos cobertores, o nosso sítio mais seguro que César penetra sem pedir permissão. Três estrelas e meia.

Realização: Jaume Balaguero
Argumento: Alberto Marini
Luis Tosar como César
Clara como Marta Etura
Petra Martinez como Senhora Verónica


Próximo Filme: “Flashpoint” (Dou Fo Sin, 2007)

3 comentários:

  1. Espanha tem realmente muito, muito bom cinema, e não é de agora. Também me sinto algo culpado por o explorar tão pouco, incluindo ainda não ter visto isto :P

    ResponderEliminar
  2. tb por meia estrela tinhas dado 4 :P

    gostei mto deste filme, temos realizador no Jaume Balagueró :)

    ResponderEliminar
  3. O Narrador Subjectivo: Foi uma boa sessão de cinema, apesar de ter ido um pouco às escuras. Sei que tinha passado no MoteLx e na altura chamou-me a atenção, mas não tive oportunidade de ver. Desta não deixei passar.

    Loot: Olha que mesmo assim já foi uma nota inflecionada. Quando saí dava-lhe 3 estrelas mas a minha apreciação do filme aumentou com o passar das horas.

    ResponderEliminar

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...