quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Space Battleship Yamato, (Supesu Batorushippu Yamato, 2010)


Ah o espaço, alvo de ínfimas versões que pertencem aos sonhos molhados dos fãs mais ardentes da teoria de que existem seres inteligentes nas estrelas. Em quaisquer versões “eles” são mais inteligentes, embora, seja sempre o Homem que acaba por resolver os conflitos iniciados pelos alienígenas e a ter o ónus da superioridade moral. Vá-se lá perceber porquê. “Space Battleship Yamato” baseia-se na série anime dos anos 70 (74-75), que com apenas 26 episódios, conquistou um espaço no imaginário japonês e mundial, de tal modo, que ao longo dos anos proliferou o mercado de novas séries, filmes para TV, mangá e todo o tipo de merchandising que possam imaginar. Os ocidentais são capazes de reconhecer a série pelo nome “Star Blazers”. Se me pedissem para classificar “Space Battleship Yamato” diria que é um híbrido de “Star Trek”, “Battlestar Galactica” e “Star Wars”.
A versão japonesa possui um elenco fixo de notáveis, uma tripulação facilmente reconhecível e com a qual o fã desenvolve uma relação de quase dependência como sucedia com “Star Trek” e “Battlestar Galactica”. É muito complicado “matar” uma personagem sob pena de sofrerem a fúria dos fãs. Mas as semelhanças não se ficam por aí, focando-se num poderoso comandante, confiante na sua equipa, de raciocínio em tudo superior, side-kicks robóticos e personagens-tipo facilmente identificáveis entre as séries. Onde Susumu Kodai é James T. Kirk (William Shatner), Yuki Mori corresponde a uma Starbuck (Katee Sackoff). E onde o sentimento de aventura é apurado, tendo por pano de fundo paisagens e planos ofegantes, as relações humanas não podiam ser menos exploradas à boa maneira do subgénero de ficção científica tão odiado, space opera, qual “Star Wars”.
“Space Battleship Yamato” apresenta uma humanidade em decadência, forçada a viver debaixo de terra para escapar à radiação, que aposta numa viagem final da única nave de combate que resistiu ao ataque dos gamilas, uma espécie alienígena apostada em levá-la à extinção. A “Yamato”, comandada pela mão de ferro do experiente e respeitado Capitão Okita (Tsutomu Yamazaki), deixa a Terra com uma pista, uma capsula com as coordenadas para o planeta Iskandar, a base da espécie invasora. Quem sabe o que poderão encontrar por lá. Entre a tripulação encontra-se o cabeça-quente Susumu Kodai (Takuya Kimura) que acredita que o Capitão Okita é o culpado pela morte do seu irmão Mamoru e a temperamental Yuki Mori (Meisa Kuroki). Se a perspectiva do que se encontra no final da viagem é fascinante, o caminho para lá chegar é uma estopada. Na ideia de contentar os fãs da série que atravessa várias décadas, o argumentista demonstrou voracidade tremenda no sentido de apresentar todos os personagens queridos. Alguns não possuem mais do que segundos de ecrã e apenas servem para confundir quem não está integrado naquele universo. Meia dúzia de personagens inconsequentes desviam o foco da acção principal e não auxiliam o desenvolvimento dos que realmente conduzem o filme. Isso explica que em pouco mais de 130 minutos de filme, Susumu passe de intempestivo, a moderado e, finalmente, o herói que todos sabiam que ele tinha dentro dele, sem que exista um grande motivo para tal. Pior sorte tem a adorável Meisa Kuroki, cuja personagem parece uma feminista tal como é percepcionada por um machista. Eu explico melhor. Ela é toda fogosa e combativa porque tem falta de sexo. A sério. A partir do momento em que enceta um romance toda ela é cores rosadas e uma ternura que, minutos atrás, não imaginávamos que tivesse.
A acção é o que seria de esperar de um super-orçamento e é nas cenas de combate espacial entre os caças terrestres e as naves Gamilas que se encontram os momentos mais divertidos. Os miúdos, em particular, acharão um mimo. Apenas não esperem um argumento brilhante. O objectivo é agradar aos velhos conhecidos sem alienar novos espectadores. Mas, eu, céptica, aqui me confesso: por regra não apoio a existência de sequelas porque raramente fazem sentido. Em “Space Battleship Yamato”, com qualidade técnica e bons actores que tão-somente tinham papéis subdesenvolvidos, mais valia tem partido a estória em dois ou três filmes para explorar com calma o material que tinham entre mãos. Duas estrelas e meia.

Realização: Takashi Yamazaki
Argumento: Shimako Sato, Yoshinobu Nishizaki (estória) e Leiji Matsumoto (mangá)
Takuya Kimura como Susumu Kodai
Meisa Kuroki  como Yuki Mori
Tsutomu Yamazaki como Capitão Jūzō Okita
Toshirō Yanagiba como Shirō Sanada
Yusuke Santamaria como Yuji Oda
Naoto Ogata como Daisuke Shima, chief navigator
Reiko Takashima como Dra. Sado

PS: Créditos Finais - música pirosa do Steven Tyler. Mau flashback de 1998.


Próximo Filme: "The Road", 2011

4 comentários:

  1. Omg, como não conhecia isto?! É lindo :O
    Tenho de ver a série e o filme, muito obrigado Not a film critic!

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  2. Não diria que a "space opera" seja um subgénero "odiado" da FC. Longe disso, aliás. Quanto à série (que ainda não vi), não só antecede Star Wars e BSG como está fortemente ancorada no imaginário japonês. O nome "Battleship Yamato" está ligado à WW2, e a um navio de guerra muito especial.

    Não tenho muito interesse por live action movies de anime, mas a série está há muito tempo no meu radar. Quando acabar Evangelion sou capaz de lá ir.

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  3. João Campos: Da mini-pesquisa que fiz e de resto, do conhecimento de senso comum (que ainda vale menos que nada), o subgénero pareceu-me tudo menos consensual. Relativamente a Star Wars e Battlestar Gallactica antecederem a série er,.. pois? O objectivo destas menções foi situar o filme no imaginário do comum dos mortais. Não me pareceu que fizesse sentido referir ficção científica japonesa (da qual, aliás, conheço pouco ou nada), para dar a conhecer ficção científica japonesa a quem dela, nada sabe. :)

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  4. Expliquei-me mal :) O filme baseia-se na série de animação, certo? O que queria dizer é que essa série tem uma ligação não com a ficção científica japonesa (da qual só conheço os exemplos mais evidentes) mas com a realidade - no caso, com a verdadeira "Battleship Yamato", orgulho da Marinha Imperial Japonesa e um dos maiores navios de guerra construídos até à época. Foi enviada numa missão suicida durante a Segunda Guerra Mundial para tentar proteger Okinawa. A nave da série, se não me engano, é uma "reconstrução" da Yamato original, mas em versão "spaceship" :)

    No caso das space operas, há uma diferença entre "popularidade" e "densidade", na falta de melhor designação. Star Wars, Star Trek, Battlestar Galactica, são exemplos de space operas extremamente populares no cinema e na televisão - até Firefly pode cair no género, ainda que numa versão "wild west". Nos videojogos, para nem irmos muito longe, há Mass Effect. E na literatura o que não falta é boas space operas. Enquanto subgénero, está longe de ser o mais intelectualmente estimulante, mas em termos de popularidade a coisa até lhe corre muito bem.

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