segunda-feira, 10 de junho de 2013

NAFF - Not a Film Festival: Not a Scary Session - Parte 3

Chegados ao epílogo dos comentários à Not a Scary Session do Not a Film Festival, chega pois a parte mais difícil que é a da despedida. Por aqui vê-se, assumidamente, pouco cinema português e com grandes intervalos de distância. Parte preconceito, que entretanto se tem vindo a desvanecer, parte hábito. É um mea culpa, mas pelo qual assumo total responsabilidade. E a sensação com que fiquei, depois de uma mera sessão de cinema é de que estou a perder imenso e que tenho de me redimir pois, mesmo as curta-metragens menos sólidas demonstram uma técnica, um desejo de aprender e uma vontade de vencer admiráveis. Atestam também aquilo que já se sabe em alguns meios mas alguns parecem não querer acreditar, o cinema nacional está bom e recomenda-se.

“Projecto V”

Sinopse: “Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte.” - Sigmund Freud. Quando um predador é movido por sentimentos de vingança, o que poderá a presa fazer dentro de quatro paredes? Deverá aceitar o seu fim?”
Antes de virem para aqui dizer que a je é muito má deixem-me que vos lembre vingança é um dos temas mais explorados em cinema. É extremamente difícil ser original no que a este tema diz respeito. Posto isto, podia-me lembrar para assim de repente de uma centena de referências cinematográficas onde “Projecto V” pode ter ido beber. Se é que não foi mesmo… Logo à primeira e sem ler o titulo, “V”… de Vingança, certo? Pondo de lado o título óbvio, viram o “Buried”? O protagonista está encurralado sem qualquer hipótese de escapatória e é atormentado por uma voz que não consegue identificar. Já se fez tudo isso antes e melhor. E a jovem protagonista precisava de mais uns minutos até ficar no ponto rebuçado: o choro, seguido de histerismo e desespero, passa-se à velocidade da luz. Pouco credível. Uns minutos mais e… Também a câmara é pouco intrusiva, como se existisse medo de penetrar a intimidade da actriz. Mas ela é uma vítima, o espaço íntimo já foi violado, pelo que é de estranhar o receio de aproximação ao corpo de delito. Uma estrela e meia.

Realização: Bernardo Gomes de Almeida
Duração: 11 minutos


“Som do Silêncio”

A Fernanda Serrano desperta emoções estranhas na minha pessoa. Quero gostar dela terrivelmente mas não consigo. E o facto de dar a cara pelo tipo de livros popularuchos que só as donas de casa com pouco que fazer lêem não a ajuda. Mas depois temos 11 minutos onde a Fernanda demonstra que sem falar consegue dizer muito e tudo fica bem no meu mundinho. O “Som do Silêncio” tem uma ideia profundamente provocadora, a de uma realidade onde as pessoas não podem falar (não, em público, pelo menos). Censura sobre a forma de lei. Umas linhas não se podem sobrepor a uma necessidade humana. Ou podem? É um problema de equilibrismo, aquele que opõe a lei à razão. A resposta de Joana ao problema é apenas um tipo de clausura diferente. O cenário é o museu de arte antiga. Local bem a propósito. Durante séculos afim e, ainda hoje, em algumas regiões do globo tentam calar a arte. Três estrelas.

Realização: Paulo Grade e João Lourenço
Duração: 11 minutos

“Utopia”

“Utopia” é difícil de definir. Mas como diria Joana Maria Sousa, que este simpaticamente à conversa com Not a Film Critic nem podia ser de outro modo. Ela é adepta das sessões de cinema partilhadas, com finais em aberto, que geram discussão e especulação. A sua fantasia envolve duas jovens acossadas. Será uma delas a própria Joana. O perseguidor é desconhecido mas hipóteses não escasseiam. As jovens são vítimas dos seus próprios sonhos, são o reflexo de uma vida anterior, um alter-ego? É possível efetuar a distinção mediante o recurso de filtros. A decisão por uma das realidades reside na mente de quem a vê. Duas estrelas e meia.

Realização: Joana Maria Sousa
Duração: 9 minutos


“Still Room”
Um quarto. Uma mulher inquieta. E uma sucessão de imagens que deviam ter sido antecedidas de um aviso a pessoas com fotossensibilidade e/ou epilépticas. Como trabalho de um artista visual tendo por objectivo a contemplação e discussão funciona. Como estória é fraco. Uma mulher revolve na cama, levanta-se para ir à janela e volta a deitar-se. Crise de insónia contada através da fotografia em sucessão, estática. Não da imagem em movimento. Estrela e meia.
Realização: Mafalda Relvas
Duração: 2 minutos

“O Fim do Homem”
Ou o exemplo clássico da magia da pós-produção. Uma jovem possui um amuleto que poderá salvar a Terra do Apocalipse. Mas enquanto uns lutam para a salvar, as forças do mal não se deterão a nada para obter tal fonte de poder. E sabem que mais? Pode já ser tarde demais.
Enquanto a estória não oferece nada de original, com a ratinho de biblioteca a servir de peça central, capangas à la ninjas e a lutadora das forças do bem de ar andrógino, é o trabalho digital o que mais sobressai numa sessão onde os “efeitos especiais” foram poucos e longínquos. Três estrelas.

Realização: Bruno Telésforo e Luís Lobo
Duração: 9 minutos

Próximo Filme: “Paranormal Activity – Tokyo Night”, 2010

1 comentário:

  1. Som do Silêncio é definitivamente um filme estranho, mas pela sua singularidade, poderá ser um ponto de partida para uma reflexão conjunta do que poderia ser uma sociedade do futuro! A considerar. Bom trabalho de escrita, guião, produção, realização, equipa técnica e excelentes actores! Mostram que representar é uma arte única! Brilhante...

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