quinta-feira, 3 de outubro de 2013

TOP 12: Bonecos Assustadores


Foi quando vi “The Conjuring”, que as memórias se reacenderam. Um medo tão antigo que foi e continua a ser retratado em filme. Nunca fui do género assustadiço mas reconheço que quando estamos sozinhos, os sentidos ficam alerta e o cérebro começa a pregar-nos partidas. Sobretudo, quando estamos sós e os objectos, mesmo ali à mão, parecem ganhar uma força que não lhes reconhecia antes. Como se tivessem vida. Talvez por isso, entenda o porquê de o Robbie se sentir um pouco mais seguro depois de cobrir o boneco palhaço com um cobertor. Um daqueles bonecos tão perfeitos, tão próximos que chegam a dormir nas nossas camas, como se fossem reais, quase diabólicos. Isso recorda-me ainda de outra estória, uma real, de uma amiga que encurralada numa partida por um namorado preferiu cabecear a parede até perder os sentidos a deixar cama na qual fora deixada uma boneca de porcelana… Sem mais delongas e por ordem cronológica, o Top 12: Bonecos Assustadores.


1) “Dead of Night – The Ventriloquist’s Dummy” (1945, Reino Unido) – Um conjunto de estranhos muito britânicos, excepto um, que confere o elemento exótico ao grupo, reúne-se numa casa de campo e considera uma excelente ideia passarem o serão a contar estórias de terror… Uma dessas estórias fala do ventríloquo Maxwell (Michael Redgrave), cuja sanidade parece ir desta para melhor quando o seu boneco Hugo anuncia que o quer trocar por Sylvester, um outro ventríloquo com mais talento. A antiguidade é capaz de ser o que melhor funciona a favor de “Dead of Night”: o facto de ser a preto e branco (há qualquer coisa de inquietante nas sombras); as personagens pouco vividas, ainda sem a influência nefasta dos filmes de Hollywood do séc. XXI e o sorriso irónico de Hugo que sai sobremaneira beneficiado pela ausência do pormenor. Cena memorável: Quando Maxwell diz a Sylvester em tom de aviso “Tu não sabes do que o Hugo é capaz…”
Hugo, em toda a sua glória?

Mad Clown
2) “Poltergeist” (1982, E.U.A.) – Este foi o filme que iniciou o medo irracional de bonecos para muitos. “Poltergeist” é um filme enganador. Os sorrisos de uma família típica americana não conseguem esconder cenário mais perturbador: e se o mal se instalasse no seio da família e atacasse o seu membro mais frágil? Podia enumerar várias cenas para explicar porque é que “Poltergeist” não deve ser visto por crianças mas se não o puderem evitar, a cena que leva o prémio para momento “deve ser supervisionado por adultos” é aquele em que o boneco-palhaço faz das suas. É suposto os palhaços suscitarem a alegria e bons pensamentos mas Robbie Freeling tem medo do boneco que o parece observar enquanto dorme. E olhando para ele como não partilhar dessa opinião? Estava mais que visto o que ia suceder e, quando sucede, o pobre Robbie e vários milhões de crianças ganham medo a palhaços para o resto da vida. Cena Memorável: Quando “Mad Clown” acorda! Instituição que é capaz de não ter gostado do filme: o circo!


"Queres brincar comigo?"
3) “Child’s Play” (1988, E.U.A) – Que seria deste Top sem o seu exemplo mais icónico? Era o mesmo que fazer uma lista de Kaiju mencionar Godzilla! No filme que todos falam mas, em crianças, poucos tiveram a coragem de ver, um serial killer consegue, através do recurso ao voodoo, “reencarnar” num brinquedo de criança. Isso não o impede de continuar a matar pessoas. Andy (Alex Vincent) é o pobre miúdo a quem a mãe, sem saber, oferece Chucky, o boneco que alberga a mente perversa do assassino. Chucky, propriamente dito, não tem um aspecto que grite: “É tão giro. Tenho de ir a correr comprar este boneco para dar ao meu filho”. Mas foi vendido a preço de saldo portanto… Acho que não é muito difícil a qualquer pai perceber onde é que dar um boneco assassino a uma criança de 6 anos é capaz de não correr muito bem. Vejam o lado positivo, se têm um filho pedinchão, ponham-no a ver este filme. Claro que depois é capaz de começar a fazer chichi na cama e renegar os brinquedos mas é por um bem superior. Uma brincadeira de crianças portanto. Cena Memorável: Quando a mãe de Andy percebe que Chucky está a trabalhar… sem pilhas!




4) “Curse, Death & Spirit - The Cursed Doll” (1992, Japão) – Antes de “Ring” não havia dinheiro e Hideo Nakata tinha de se contentar com produções baratas feitas para televisão. “Curse, Death & Spirit” que segue a obsessão asiática com antologias de horror inicia-se com “The Cursed Doll”. Satomi, inicia, numa cena típica dos contos de terror, a contar às colegas da aula de teatro, um sonho recorrente. Ela ouve uma voz chamar o seu nome. Não está lá mais ninguém... excepto uma boneca! Logo depois encontra-a numa caixa que pertence à família mas estaria guardada há muito, muito tempo. O seu aparecimento vem desencadear uma série de memórias recalcadas e desvendar segredos que não deviam ter sido mantidos. Com um orçamento muito reduzido os efeitos digitais são naturalmente fracos. A boneca não possui um visual aterrador mas o exotismo conferido pelas vestes tradicionais fazem bem as vezes do pouco impacto visual. Vista por trás podia ser confundida com uma criança. Cena Memorável: Enquanto Satomi conta a sua estória, as amigas vêem a boneca atrás dela.
Primeiro encontra-la, depois ela vira-se e... olha para ti.


Quem tem medo de uma beleza destas?
5) “Small Soldiers” (1998, E.U.A.) – Pensem no “Toy Story” se o Woody quisesse fazer um churrasco convosco e o Buzz Lightyear vos quisesse enviar para o espaço… “Small Soldiers” pode já não ter grande impacto visual – o desenvolvimento da tecnologia e o desencanto de centenas de filmes depois fizeram o seu papel mas a verdade é que na altura teve tanto de “Frankenstein” como de inócuo filme semi-animado. Esta é provavelmente a escolha mais polémica da lista mas reflictam sobre a premissa: e se fosse utilizada tecnologia militar nos brinquedos de crianças? Agora imaginem que a tecnologia era capaz de gerar inteligência artificial que se revoltava contra os seres humanos. Cena Memorável: Quando as “Bombshells” se viram contra os miúdos que as possuem e estes não têm outra hipótese senão, tornar-se máquinas assassinas.



May e a companheira Suzy
6) “May” (2002, E.U.A.) – Felizes seriam os fãs de terror se todos os filmes de Hollywood tivessem um pouco do estranho e fascinante mundo de "May". É o único exemplo da lista em que o actor principal não é atacado ou se tenta livrar de um boneco. Antes encontra conforto nele como substituto (na sua mente distorcida) dos humanos. Bem lá no fundo a May até nem é má rapariga, nem perturbadora nem nada. Tudo o que ela quer é um amigo. Como não o encontrasse, resolveu fazer um. Com pessoas. Mortas. Por ela. Ah… Pormenores. “May” não teria metade do impacto se não tivesse sido interpretado por Angela Bettis. Ela que tem um aspecto de garotinha traumatizada e que fez carreira dos seus olhos penetrantes algures entre o frágil e o psicótico. A sua May socializa sobretudo com Suzy, uma boneca que é a sua única amiga no mundo e que também é, aparentemente, a causa das suas más escolhas de vida. Cena Memorável: May contempla a sua criação num misto de concretização e desilusão.


7) “Saw” (2004, E.U.A.) – A segunda aparição numa lista do Not a Film Critic faria crer que é um filme que guardo próximo do coração mas nem por isso estão certos, apesar de considerar o primeiro filme uma obra sólida e emblemática pelo que fez pelo género de terror. E Diabos me levem se a expressão torture porn não passou a ser utilizada por tudo e por nada depois de “Saw”, ele revisitou grandes clichés na sua longa e tortuosa saga. Por tudo quanto contribuiu negativamente, também trouxe aspectos positivos. Se não, reparem que por aquela altura, o género do boneco articulado estava adormecido. Se há indício de más notícias ele é o aparecimento do brincalhão Billy. Quando ele surge montado no seu triciclo significa que os espectadores podem esperar um jogo mortal. A definição de eufemismo no dicionário devia vir acompanhada de uma imagem de Billy! E é tão famoso que James Wan prometeu que a cada novo filme que realizasse Billy faria um cameo disfarçado. E até agora cumpriu. Cena memorável: Billy conta a Amanda (Shawnee Smith), o que terá de fazer para escapar da sua armadilha.

Billy faz uma breve aparição em "Insidious" (2010)


8) “The Doll Master” (2004, Coreia do Sul) – “The Doll Master” inicia-se num tom romântico, indiciando contornos de vingança mas a narrativa torna-se tão confusa que até o espectador mais atento se poderá sentir perdido. É nos bonecos que reside a grande força "The Doll Master". Em toda a experiência cinemática AQUI descrita, “The Doll Master” é aquele que aposta nos bonecos anatómica e esteticamente mais similares ao dos seres humanos. São verdadeiras belezas, simultaneamente fascinantes e perturbantes. Controladas por um "senhor" que apenas vê a cor vermelha da vingança, as  marionetas executam as suas vítimas com requintes de malvadez. Digamos que quando são encontradas, elas estão desconjuntadas, como se de bonecas articuladas se tratasse. Cena memorável: Sun-young, a estudante com Q.I. limitado é atacada na casa-de-banho por uma boneca.


9) “Reincarnation” (2005, Japão) – Uma equipa de filmagens determinada em fazer um filme baseado em eventos reais, decide ir até ao hotel abandonado onde um professor enlouquecido acabou por matar 11 pessoas, incluindo os próprios filhos. Durante as filmagens, diversos membros da equipa acabam por sentir que o passado não foi totalmente enterrado. Impressionada por um professor da universidade que lhe sugere pela primeira vez a tese da reincarnação e uma colega atriz, Nagisa (Yuka) que interpreta o papel da filha do assassino, convence-se de que é a reincarnação de uma das vítimas do homicídio brutal que ali ocorreu tantos anos antes. À medida que lhe surgem visões do sucedido e encontra brinquedos das crianças mortas como uma bola e uma boneca e ela decide impedir que tudo volte a acontecer novamente. Cena memorável: um daqueles casos em que a imagem é infinitamente mais forte que qualquer comentário que se possa tecer.



10) “Good will evil” (2008, Taiwan) – Se estiverem a pensar adoptar uma criança ver “Good will evil” é capaz de ser má ideia. Este filme semi-obscuro de Taiwan foca a estória de Tien (Cindy Chi), uma órfã adoptada por um político pouco escrupuloso. O que ele não esperava é que ela lhe desse trabalho. À volta de Tien sucede todo o tipo de coisas más, incluindo a empregada doméstica que vai parar ao hospital e dois coleguinhas de escola que aparecem atados depois de se meterem com ela. Pouco conversadora e alheia do mundo ela carrega um boneco para todo o lado, o único bem que salvou depois do incêndio que vitimou a sua família. Será que a menina adquiriu um comportamento violento por ter visto a família morrer ou as causas serão um pouco mais dramáticas? O boneco poderá até ser um anjo protector mas o certo é que as culpas dos eventos acabam por vir sempre para Tien. Será que isso o iliba dos comportamentos que magoam outrem? Cena memorável: Os acontecimentos que levaram a que Tien ficasse só no mundo.


Cucu?
11) “The Ghost Child” (2013, Singapura) – É má política arranjar uma nova mulher depois de enviuvar tendo uma filha adolescente. É ainda pior que se engravide a nova mulher. E deve-se, sobretudo, assegurar que a nova esposa não é supersticiosa. Nesta produção de 2013, de Singapura, a moral da estória podia ser qualquer coisa como: depois de uma bênção inesperada, aguardar pela retribuição. Ou melhor, se esperamos bons resultados sem ter trabalho, não podemos esperar que a bonança dure para sempre. O universo vai exigir um pagamento pela sua boa nova e este pode ser bem exigente. Se “The Ghost Child” não enfoca necessariamente um boneco assassino, pelo menos, o mal chega a materializar-se por diversas vezes num boneco. Cena Memorável: A sogrinha começa a ter alucinações durante a noite. Serão mesmo alucinações?


Annabelle "The Conjuring" (2013)
12) “The Conjuring” (2013, E.U.A.) – Uma espécie de caça-fantasmas moderno, misto de exorcista, com a tradicional assombração de uma casa de família foi considerado como uma das últimas oportunidades para o género de terror regressar às bilheteiras. “The Conjuring” foi beber inspiração ao casal Warren que esteve por trás de casos tão emblemáticos como a assombração em Amityville, a família Perron e a assombração no Connecticut. Em comum? Todos viraram filme. “The Conjuring” fala do estranho caso de possessão que o casal enfrentou na casa dos Warren e entra na sua vida privada, dando inclusive tempo de antena à boneca Annabelle que tempos antes tinha assombrado jovens enfermeiras e agora figura no seu museu do oculto. Mais assustadora que a boneca que a inspirou, a “Annabelle” é figura secundária mas omnipresente e ea cada nova cena que surge rouba as atenções. Cena Memorável: Sequência inicial.
Lorraine Warren segura a verdadeira (e menos impressionante) Annabelle

Menções Honrosas: “Puppet Master” (1989), “Trilogy of Terror” (1975), “Magic” (1978), “Dead Doll” (2004), “Dead Silence” (2007), "Dolls" (1987) e "Tourist Trap" (1979).

PS: No que me diz respeito e, por muito amor que tenha à Jennifer Tilly, a noiva do Chucky nunca existiu!

6 comentários:

  1. Há tanto tempo que ando para ver o Dead Of Night... Top original!

    ResponderEliminar
  2. Olá Narrador. Obrigada (acho eu). Encontrei alguns tops similares online mas achei que batiam todos na mesma tecla. O cinema asiático também é permeável às bonecas assassinas, então, tentei demonstrar isso mesmo. O "Dead of Night", que não conhecia, encontrei quando fazia pesquisa para o top e acabei por vê-lo todo. Se não o tiveres, deverás conseguir encontrar em dificuldade e em om estado, online.

    ResponderEliminar
  3. Excelente top, Rita! :) Raio dos bonecos, hein? :P

    ResponderEliminar
  4. Obrigada Inês. Este top NÃO foi fácil de criar. E já há muito tempo que tinha esta ideia na cabeça.

    ResponderEliminar
  5. Realmente a Annabelle é tão diferente. Acho que essa boneca foi o que mais gostei no conjuring.

    Grande viagem pelo terror, estes bonecos vieram para ficar :P

    ResponderEliminar
  6. Obrigada Loot. De facto, a "pesquisa" para criar esta lista foi o que mais me deu gozo :)

    ResponderEliminar

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...