domingo, 16 de fevereiro de 2014

"Insidious: Chapter 2", 2013


Em cada ano surge um filme querido por uns quantos mas não tão querido que chegue às listas de melhor do ano. “Insidious: Chapter 2” tinha o potencial para entrar nessas listas (as de terror), arrastado pelo sucesso do seu antecessor. 2012 foi um ano difícil. Houve muita e boa oferta, especialmente, no que toca ao território indie “V/H/S 2”, “ABC’s of Death”, You’re next” e “American Mary” outros de investimento mais avultado e ainda assim inesperados como “The Conjuring”, também do realizador de “Insidious” mas não é como se alguém esperasse que o relâmpago atinge o mesmo local pela terceira vez.

Os Lambert recuperaram Dalton das garras do que quer que o prendia no “outro lado”. No entanto, a aflicção está longe do fim. Elise (Lin Shaye) a médium que ajudou Josh (Patrick Wilson) a resgatar Dalton foi assassinada e Renai (Rose Byrne) começa a denotar atitudes peculiares, pouco características no marido. Para quem viu o filme anterior, esta última constatação dificilmente será uma surpresa. Para os restantes, eis um conselho: “Insidious: Chapter 2” é tão sequela quanto uma sequela pode ser e, neste caso, não ter visionado o primeiro filme constitui um obstáculo à sua compreensão. Despender uns bons minutos de filme apenas tentando compreender a estória é capaz de não abonar a favor dessa mesma obra, digo eu. Ainda sim, “Insidious: Chapter 2” sofre de muitos mais problemas que o facto de ser uma continuação. Tendo Elise morrido e com um suspeito mais do que evidente é bastante estranha a atitude descontraída e desleixada da polícia face ao evento. Serve as conveniências de argumento? Sim. É realista? O menos possível. Qualquer agente com dois neurónios conseguiria chegar com facilidade à identidade do culpado. Conseguindo (sobre)viver com tal falha óbvia, conseguem aguentar 100 minutos de filme… “Insidious: Chapter 2” fragmenta-se em várias direcções, incluindo uma Renai que continua assombrada, desta vez a dobrar pois desconfia que a “entidade” que os ensombra ainda permanece com eles e o facto de Josh revelar um comportamento cada vez mais preocupante e Lorraine (Barbara Hershey) parte com os ajudantes de Elise numa senda para descobrir enfim, as raízes do mal que tocou a sua família.

Dita um dos lugares-comuns do cinema de terror que sempre que existe um qualquer fenómeno sobrenatural inexplicável, a dada altura, alguém tem um momento “ideia luminosa” e decide: “se calhar devia investigar por que é que me está a acontecer isto”. Isso sucede com Lorraine que depois de ter visto o filho Josh por uma assombração em criança e o mesmo repetir-se, agora, com o neto, decide, finalmente, que talvez fosse pertinente compreender as causas da assombração. Ei, mais vale tarde que nunca! E se a investigação não é aborrecida, Wan e Whannell apresentam mais do que bons e numerosos motivos para nos mantermos num estado de expectativa e sobressalto constante. Admito, com um misto de prazer e de culpa que os melhores momentos são aqueles em que depois de um rápido crescendo com aproximação da lente e aumento do som da música à mistura, nada sucede. Valem pelo crescendo da tensão e pela brincadeira com os nervos. A cena que antecede o que pode ou não ser um susto é, ela própria, assustadora. Isso é terror. Foi o que sucedeu com “Insidious” e se veria a repetir, com melhor efeito em “The Conjuring”. Esta dupla sabe do seu ofício. Eles sabem o que têm de fazer para colocar a audiência numa pilha de nervos. O que nos leva ao argumento. Enquanto cada momento brilha por si próprio, enquanto cena ou sequência do mais puro terror, estas peças, em conjunto, não funcionam como um puzzle, como um todo coerente. Há momentos que precisavam de ser afinados para melhor encaixarem no filme global. A exemplo disto, refira-se a dupla Specks (Leig Whannell)/Tucker (Angus Sampson) que apresentam os  poucos momentos de comédia do filme. Ou melhor, tentam, porque a comédia é forçada e no máximo só gera mais momentos de riso nervoso. Lá está, a incongruência, numa obra onde todos se encontram ultra-sensíveis, à espera de algo que os faça quebrar. E depois há todo um recurso a analepses e prolepses, tão recorrente que leva ao questionamento sobre afinal, que raio é que se está a passar no presente? Quanto à direcção assumida apenas posso traçar um breve paralelo a “The Pact” (2012), cuja racionalidade soa, apesar de tudo, mais credível que qualquer outra explicação que fosse apresentada. Três estrelas.


O melhor:
- O terror!
- Sentimento de nostalgia (cenário, adereços, cenas reminiscentes de clássicos)
- Enfoque em Barbara Hershey

O pior:
- A dupla Tucker/Specks
- Qual estória?
- Continuidade


Realização: James Wan
Argumento: James Wan e Leigh Whannell
Patrick Wilson como Josh Lambert
Rose Byrne como Renai Lambert
Ty Simpkins como Dalton Lambert
Lin Shaye como Elise Rainier
Barbara Hershey como Lorraine Lambert
Steve Coulter como Carl
Leigh Whannell como Specs
Angus Sampson  como Tucker

Próximo Filme: "Double Vision" (Shuang Tong, 2002)

domingo, 9 de fevereiro de 2014

"Neighbour n.º 13" (Rinjin 13-go, 2005)


Todos conhecem alguém que sofreu de “bullying” durante os anos de escola, ou foram eles próprios vítimas. É quase um ritual de passagem, uma realidade da vida, que magoa enquanto dura e depois se vai embora, tão rápido quanto surgiu. Uma mera mancha numa vida que se prevê de sucesso e produtiva. É coisa de canalha, não mata ninguém. Aos agressores passa-lhes, às vítimas, essas têm é de ser fortes e aguentar. Não é? Este é o tipo de discurso mais comum e que peca por ainda não ter sido erradicado das mentes comezinhas dos idiotas que, suspeito, se encontravam no lado dos agressores ou dos indiferentes, e não sofriam na pele tal abuso.
“Neighbor no.13” foca a estória de Juzo Murasaki (Shun Oguri) um jovem que durante os tempos de escola era sistematicamente perseguido, atormentado e vítima de sevícias várias por Toru Akai (Hirofumi Arai) e o seu gangue de rufias. Ele é aquele tipo de miúdo introvertido que nunca irá contar a ninguém os abusos de que é alvo e faz, portanto, as delícias de miúdos com a malícia em mente. Anos mais tarde, Juzo continua a ser um adulto calado, levando uma existência benigna e muito aquém de extraordinária. Até ao dia em que se muda para o mesmo edifício onde mora o seu antigo atormentador Toru, agora casado e com um filho. Quer também o destino, (ou é demasiada coincidência?), que Juzo comece a trabalhar na mesma empresa de construção civil que Toru. Tantos anos passados e nada mudou, Toru continua um cretino da pior espécie e inicia a fazer de Juzo a nova cobaia para todo o tipo de maus-tratos no local de trabalho. A pior ofensa? Toru nem sequer se recorda de Murasaki. O que podia tornar-se uma repetição dos tempos de escola, indicia tornar-se em algo completamente diferente. É que todos aqueles anos atrás, algo se quebrou dentro de Murasaki. A sua mente fragmentou-se, criando uma personalidade distinta da sua (Shidô Nakamura) que ostenta as suas cicatrizes, qual Jekyll e Hyde. Ele vive numa luta constante entre manter a fachada de vulnerabilidade e libertar o monstro sedento de vingança que se encontra dentro dele. “Neighbor no.13” resulta pois num estudo sobre os efeitos psicológicos do abuso.

Murasaki é um capacho, disso não restam dúvidas, mas a personagem criada pelo ódio retido na sua carapaça frágil é o oposto dele. Nem este Jekyll é uma personagem que inspire respeito nem o seu Hyde possui algo mais do que perversidade, o erotismo da maldade do personagem de Mary Shelley. O único momento de sugestão de volúpia sucede numa breve interacção entre Juzo e Nozomi (Yumi Yoshimura), a bela mulher de Toru que, vá-se lá perceber porquê, acha boa ideia que o vizinho, que não conhece de lado nenhum, tome conta do filho enquanto vai numa saída romântica com o marido. Mas até ela representa algo de amoral, como demonstra uma sequência que não interessa particularmente à construção do enredo que não a de declarar que qualquer personagem possui pelo menos um aspecto da personalidade duvidoso em “Neighbor no.13”. Até o puto, que ainda agora começou a andar, já ameaça tornar-se um pequeno terrorista à semelhança do pai!
Ao longo de toda a película, há uma sensação crescente de tensão e desconforto pois nunca se sabe quando é que Murasaki irá finalmente explodir. Será que ele irá finalmente confrontar o seu agressor? Haverá possibilidade de paz ou foram, já, ultrapassadas quaisquer hipóteses de perdão? A estas perguntas são dadas várias respostas revelando ou receio do argumentista em comprometer-se com uma solução ou o desejo de agradar a gregos e a troianos. A hipótese de vingança é possível e expectável desde os primeiros minutos do filme mas levanta a questão do incentivo à justiça pelas próprias mãos numa sociedade colectivista. Outra perspectiva é uma de inactividade que não acalma os desejos de punição dos agressores. É a possibilidade mais usual mas pode assemelhar-se a concordância implícita com os actos realizados se não menos o minimizar da questão. A decisão é sempre um imbróglio mas a não-decisão do argumentista redunda em cobardia. Note-se que “Neighbor no.13” é uma obra tão mais relevante porque, no Japão, o “bullying” é um fenómeno persistente, sendo que miúdos desde a pré-adolescência continuam a suicidar-se e a auto mutilar-se na sequência das humilhações a que foram sujeitos, sem consequências práticas para os que motivam tais actos desesperados. Realizado em 2005, “Neighbor no. 13” mantém-se actual, mas perde toda uma série de oportunidades, desde personagens unidimensionais a soluções que evitam a verdadeira reflexão sobre o problema e propostas para a sua resolução. A manutenção do “status quo” é conveniente mas não faz um bom filme. Duas estrelas.


O melhor:
- A tensão!
- A sequência de animação que surge de nenhures
- O cameo de Takashi Miike

O pior:
- Amo o actor Shidô Nakamura aos molhos mas este não é o seu melhor papel.
- Um cacto tem mais personalidade que o Shun Oguri.
- Desenlace teatral que já vimos 294738347 vezes antes.
- O à-vontade de Nozomi em deixar um filho com um estranho.
- A falta de coragem em assumir tudo o que se passou durante 100 minutos.


Realização: Yasuo Inoue
Argumento: Hajime Kado e Santa Inoue (Mangá)
Shun Oguri como Juzo Murasaki
Hirofumi Arai como Toru Akai
Shidô Nakamura como Vizinho n.º 13
Yumi Yoshimura como Nozomi Akai
Takashi Miike como Kaneda

Próximo Filme: "Insidious: Chapter 2", 2013

domingo, 2 de fevereiro de 2014

"Heaven and Hell" (Wong Jorn Pid, 2012)


Parece que ainda ontem “Dumplings” de “Three… Extremes” (2004) e “Phobia” (2008) pareciam recuperar o subgénero através de uma boa dose de arrojo, criatividade e imagens fortes. Esses eram os tempos… Seguiu-se uma sucessão de réplicas com personagens ostensivamente semelhantes, talvez com outros nomes e noutros cenários, essencialmente a mesmas estórias recontadas numa tonalidade diferente. “Heaven and Hell” apresenta tonalidades a preto e branco e às vezes cinzentas. As três estórias apresentadas apresentam uma única característica em comum: as imagens são captadas pelas câmaras de segurança instaladas nos edifícios respectivos. Em “Ghost Legacy” duas irmãs siamesas únicas herdeiras vivas que se conhece de Khun para conhecer a sua última vontade, expressa no testamento. Cedo percebem que o avô Khun, que mal conheciam era obcecado com a sua segurança, tendo instalado um sistema de vigilância em todas as divisões da casa. Enquanto não conhecem os conteúdos do testemunho torna-se óbvio que elas não são desejadas ali e que não é claro quem é que observa e quem está a ser observado. O velho Khun também não se mostra grandemente interessado em deixar que alguém fique com as suas possessões, ainda que já não se encontre neste mundo… “Ghost Legacy” é um enredo demasiado enredado para 20 minutos de filme e, que não abona a favor de quase nenhuma das personagens. As gémeas são demasiado reminiscentes da curta-metragem “Alone”(2007) desde a parecença das jovens actrizes ao pormenor dos acessórios. Uma tem óculos porque aparentemente há sempre uma intelectual num conjunto de gémeas. A diferença maior é pois no estilo, que “Ghost Legacy” é um filme mudo. Apenas não tem um acompanhamento sonoro mais do que esporádico, tornando a curta-metragem num visionamento longo e penoso. Existe ainda um contraste perturbador entre as expressões dos actores e as linhas de diálogo que estampadas no ecrã alimentam alguma esperança de seguimento da estória. Onde um actor deveria emular agressão há um olhar de complacência, onde uma actriz deveria demonstrar medo, surge desafio. Onde a pós-produção devia completar o processo, preencher os buracos, torna-se o seu maior fracasso. Elimina quaisquer propensões artísticas que o realizar pudesse ter.
“Heaven 11” passa-se numa menos glamorosa loja de conveniência. Dois novos empregados relatam como já faleceram ali quatro empregados antes. Uma maldição qualquer assombra aquele lugar e, se não tiverem cuidado eles poderão ser as próximas vítimas. Isso explica o pouco tempo de permanência de cada empregado. Um deles é Jick (Patcharee Tubthong), filha do patrão que se entretém durante as longas horas de plantão, em conversas telefónicas e na internet com as melhores amigas Noo e Sam. O que se segue são invejas e intrigas próprios da idade, que poderão ter consequências muito sérias, sobretudo se empurradas por fantasmas que não pretendem passar a eternidade sozinhos. Temas como romance, amizade, ciúme, bullying formam um compêndio de culpas e troca de acusações que podiam funcionar melhor se se tratasse de um filme independente ao invés de uma curta-metragem. Mas o melhor devem ser mesmo as breves cenas cómicas, como a imagem de um homem másculo que se transforma num medricas perante uma situação de morte iminente e uma empregada vesga pouco esperta que tem tiradas tão fabulosas como “Tenho ar de quem precisa de sexo telefónico?” Tais linhas de diálogo quebram a tensão crescente mas ajudam a elevar uma película que até ali se revelava meramente mediana.
Cara de poucos amigos
“Hell no. 8” foca um elevador assombrado e dois técnicos muito divertidos que se calhar é melhor despacharem-se a fazer a manutenção do dito. Ao que parece uma mulher foi ali esfaqueada pelo ex-companheiro e… ali ficou. É o segmento mais divertido e prova, mais uma vez que no que face a fantasmas de mulheres assassinadas, os homens encontram-se sempre em desvantagem. (Só é pena que elas só façam valer os seus argumentos depois de mortas). Misóginos, pervertidos e um pouco destravados, mas o absurdo torna-os tão divertidos que vê-los vítimas de uma mais uma descabelada parece é um desperdício. Enfase na palavra “parece” porque há mais estória do que as primeiras aparências podiam fazer crer. E sempre tem a vantagem do cameo da personagem mais engraçada do filme anterior. Mais uma antologia desigual, mais uma antologia desnecessária. Duas estrelas e meia.
O melhor:
- Homenagem ao cinema mudo
- Todas as falas da empregada vesga
- Alguém sabe onde foram desencantar os técnicos e a empregada vesga? São hilariantes.

O pior:
- Contraste entre a imagem e a legenda
- Falta de rítmo
- “Homenagem” a “Alone” (2007)
- “Heaven 11” ser uma curta-metragem
- Descabelada vingativa. Bocejo.

Realização: Yuthlert Sippapak e Tiwa Moeithaisong
Argumento: Kiattisak Sriratnonsung, Kosess Chalidtiporn, Taweewat Wantha e Kiradej Ketakinta
Natta Bangkhomnet como Siamesa 1
Nattaya Bangkhomnet como Siamesa 2
Akarin Akaranitimaytharatt
Theeradanai como Pricha
Patcharee Tubthong como Jick
Adirek "Uncle" Wattleela  como policia
Artir Wiboonpanitch
Panita Thumwattana

Próximo Filme: "Neighbour n.º 13" (Rinjin 13-gô, 2004)
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