domingo, 19 de outubro de 2014

"Invitation Only" (Jue Ming Pai Dui, 2009)


Wade Chen (Bryant Chang) é o motorista de Yang (Jerry Huang), o presidente de uma grande empresa sediada em Taiwan, o qual inveja com todas as forças. Ele tem tudo o que o preguiçoso Chen gostaria de ter: rios de dinheiro, uma namorada supermodelo e carros de luxo. Um dia, Wade é apanhado a observar Yang a ter relações com Dana (Maria Ozawa) e este responde com um convite insólito. Wade é convidado a participar numa festa exclusiva onde pela primeira vez tem contacto com a vida da elite. Lá, ele explora ao máximo aquilo com que apenas poderia sonhar: jogar as apostas mais altas, conviver com os famosos, uma noite com Dana e até, a oferta de um carro desportivo. Parece bom demais não é? 
Só entra com convite
Wade e outros convidados são atraídos para uma sala onde descobrem que a sua presença ali faz parte de um plano malicioso. Eles foram convidados para constituir a sobremesa (figurativa) dos seus anfitriões. Aquilo é um jogo e eles não são os jogadores. Foram atraídos para a festa para os ricos e poderosos poderem dar azo à suas fantasias mais sádicas.
A senda de Wade encontra eco no próprio filme. “Invitation Only” é um primo invejoso das películas de torture porn. “Saw”, “Hostel” e outros que tais, são a óbvia inspiração de um filme que se apresenta com o slogan de “1.º Slasher Originário de Taiwan”. O engenho complexo de um e a luta de classes do outro são subaproveitados e amalgamados numa única noite de tortura. As classes baixas são humilhadas. Apresentadas como falsas e invejosas, visto que até encarnam entidades falsas para se enquadrar entre os ricos. Como se isso fosse importante. Note-se que é suposto odiarmos os ricos por brincarem com os indesejáveis pobres que são odiados apenas por pertencerem a uma determinada condição social. A qual, se calhar, nem sequer é controlada por eles. Mas tal é o argumento para que a audiência mantenha os níveis de adrenalina elevados. 

“Invitation Only” está cheia dos lugares-comuns do género pelo que afirmar que “Invitation Only” se desenrola na Europa ou na Ásia, é indiferente. No máximo, os actores asiáticos são tão maus ou piores que os actores originais que pretendem emular. Quase nunca algum dos personagens se assemelha a uma pessoa real pois, todos eles parecem, sem excepção, autênticas bestas. Isto leva-nos a questionar se tal não será, de certo modo, uma protecção dos argumentistas. Como se criar sentimentos pelas pessoas que irão morrer de forma horrenda fosse provocar aflicção junto das audiências. O que eles não sabem é que a simpatia pelos personagens pertence à fórmula que nos faz gostar de um filme. O orçamento é diminuto, os diálogos são atrozes, as personagens caricaturas e poucos aparentam saber o que estão a fazer. Apenas os momentos de tortura são eficazes embora, até esses, não sejam nada de original ou brutal por comparação com os procuram imitar. A cena de sexo gratuito com a actriz pornográfica Maria Ozawa também é capaz de agradar a quem gosta do seu terror com um pouco de erotismo. Mas se o motivo for a actriz, não há por que não ver directamente um “filme” dela a sofrer através do primeiro terço de filme para lá chegar. 
“Invitation Only” é como um convite indesejado. À primeira vista, o convite parece aliciante e alinhamos até que percebemos que fizemos asneira e é tarde demais. O filme é um desperdício de tempo e quando olhamos para o relógio chegamos à conclusão que já vimos metade. É impossível desistir agora. O fim? O terror da possibilidade de uma sequela. Uma estrela.

Realização: Kevin Ko
Argumento: Sung In e Carolyn Lin
Bryant Chang como Wade Chen
Maria Ozawa como Dana
Julianne Chu como Hitomi
Kristian Brodie como Warren
Jerry Huang como Presidente Yang
Vivi Ho como Holly

O melhor:
- As cenas de tortura
- Maria Ozawa (quando está calada)

O pior:
- Imita filmes que já não são muito bons e ainda faz pior
- Argumento é tão ridículo que darão por vós a rir-se da improbabilidade das situações
- Consegue ser um tédio


Próximo Filme: "The Theatre Bizarre", 2011

domingo, 5 de outubro de 2014

"The Chanting" (Kuntilanak, 2006)


Antes de se tornar a “Hammer Girl”, a assassina icónica dos óculos de sol ultra estilosos que transportava dois martelos mortíferos em “The Raid 2: Berandal” (2014), Julie Estelle era a miúda sensação dos filmes de terror indonésios. Em 2006, ela participou em “Kuntilanak”, um dos dois filmes e meio de cariz sobrenatural cque ostentam uma qualidade razoável e em “Macabre” (2009), onde encarnou a “final girl” capaz de escapar a uma família de canibais sedentos de sangue.

Em “Kuntilanak” Estelle interpreta Samantha, uma rapariga que após a morte da mãe foge de casa para escapar às investidas amorosas do padrasto. Sam recusa-se a aceitar o apoio do namorado Agung (Evan Sanders) que não esteve ao lado dela quando a mãe dela morreu e procura refúgio numa residencial de estudantes. Esta é gerida por Yanti (Lita Soewardi) uma mulher supersticiosa que lhe explica as regras do local e lhe conta como o edifício teve um incêndio há muitos anos, sendo propriedade, nos dias de hoje, da elusiva Madame Mangkujiwo (Alice Iskak). Segundo a tradição local, a árvore em frente à residência é habitada por um demónio, motivo pelo qual, a população evita passar ali, à excepção de jovens estudantes com parcos recursos e desconhecimento da História. A acreditar no folclore local, o monstro pode ser convocado através de um encantamento que procede a entoar. Se ele aparecer e o som parecer próximo é por que na verdade ele encontra-se ainda longe. Se, por outro lado, se ouvir uma gargalhada distante ele encontra-se mais perto do que se poderia pensar. Claro que tudo não passa de um conto de gente supersticiosa. No entanto, após esta interacção Sam nunca mais é a mesma. Ela fica fascinada pelo espelho que possui no seu novo quarto que aparenta possuir poderes místicos e mostra um comportamento irascível crescente. Em simultâneo o corpo dela inicia a demonstrar sequelas físicas. Em breve, aqueles que a maltratam começam a surgir mortos. Será que a dor que sente a está a transformar num monstro? Será tudo obra de uma mente bem mais maléfica ligada ao mundo dos espíritos?

No totoloto que é o cinema de terror indonésio, “Kuntilanak” é uma das experiências mais entusiasmantes e seguras. Uma tendência da indústria e, em particular, no género de terror é a utilização exagerada da técnica da subexposição. Esta serve uma dupla função: utilizar a ausência de luz como modo de acentuar o sentimento de desconforto e, o mais provável, tentar disfarçar na ausência de cor, as deficiências do orçamento que se denotam por demais nos cenários e “efeitos especiais”.  Em “Kuntilanak” são evidentes os dois lados da moeda. Durante o dia é utilizada a sobreexposição que acaba por ter o mesmo efeito de disfarçar eventuais deficiências e de conferir uma atmosfera de desconforto genuíno e não apenas ensaiado. “Kuntilanak” continua a apostar na velha fórmula de jovens na maioria bonitos e um pouco parvos, para quando estes encontrarem o fado, não termos pena excessiva deles. O que lhes acontece é menos importante que os demónios de Samantha. É em Estelle que se encontra o potencial e na tragédia da personagem uma estória mais do que vaga. A morte da mãe dela, a relação péssima com o namorado e a sugestão de abuso por parte do padrasto são material muito mais interessante do que criaturas rastejantes de cabelos compridos. A mente perturbada aliada às estórias contadas para assustar a pequena e adultos em semelhante medida constituem o ingrediente ideal. A ideia de que Sam finalmente quebra perante a pressão e ataca em todas as direcções é tentadora mas ainda assim uma improbabilidade. Só que à época, Julie Estelle era ainda uma actriz verde e o argumento demasiado óbvio. Talvez por isso é que quando Sam entoa o encantamento pela primeira vez a imagem parece ridícula ao invés de desconcertante. Afinal, “Kuntilanak” continua a constituir um mistério sobrenatural. Três estrelas.

Realização: Rizal Mantovani
Argumento: Ve Handojo e Rizal Mantovani
Julie Estelle como Samantha
Evan Sanders como Agung
Ratu Felisha como Dinda
Alice Iskak como Madame Mangkujiwo
Lita Soewardi como Yanti
Ibnu Jamil como Iwank

Próximo Filme: "Invitation Only" (Jue ming pai dui, 2009)
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