domingo, 14 de dezembro de 2014

"The Sylvian Experiments" (Kyofu, 2013)


“Que raio é que acabei de ver?” foi a primeira reacção após o termino do filme. Para meu e vosso mal, esta única frase não serve como crítica de cinema e explica muito pouco pelo que vou forçar-me a tentar extrair um sentido coerente desta película japonesa.
“The Sylvian Experiments” abre com uma cena em que pacientes do que aparenta ser um hospital são submetidos a uma experiência bizarra que envolve brocas, cérebros expostos e choques eléctricos. A cena seguinte revela que afinal estes acontecimentos já sucederam há algum tempo e é agora um casal quem assiste aos eventos sobre a forma de documentário. Talvez seja um daqueles registos históricos um pouco aborrecidos que convém não ser exibidos ao grande público durante muitos e muitos anos, se é que o serão de todo. Eis que Etsuko (Nagisa Takahira), a mulher do casal, se apercebe que as duas filhas menores assistiram (a que parte, não se sabe ainda) ao filme. O que é assim um bocado chato.
Por fim (e calma que não passaram sequer dez minutos), temos um grupo de estanhos que seguem numa carrinha que estaciona num local isolado, junto a uma floresta. O que vão eles fazer perguntam vocês? Snifar umas linhas de coca? Uma orgia? Jogar Trivial Pursuit? Não. Fizeram um pacto suicida. Fixe. Por esta altura já terão dando uma pancada seca na cabeça e estarão a censurar-me pela sobre-exposição. Mas não, ainda não sabem nada. Miyuki (Yuri Nakamura) uma das raparigas que desistiu de vier era uma das crianças que apanharam os pais a ver filmes porcos (sangue e miolos, entenda-se), como tínhamos visto uns minutos antes e agora a outra, Kaori (Mina Fuji) está perturbada com o desaparecimento da irmã e decide armar-se em pseudo detective. Ela fala com a polícia, pernoita na casa dela, contacta com o namorado desta e nos intervalos alucina com luzes brilhantes. A partir daí o significado desvanece-se numa névoa. “The Sylvian Experiments” é pois uma daquelas bestas ambíguas que levantam mais questões do que apresentam respostas e polarizam opiniões. Herdeiro de “Ringu” (1998), “Ju-on” (2000) e outros sucedâneos mais antigos, “The Sylvain Experiments” afirma-se como um animal diferente. A ligação com um objecto como intermediário na ligação entre o mundo espiritual e o dos vivos (uma casa ou um telefone, por exemplo), não é visível mesmo que aborde, como sempre, os temas da vida e sobretudo da morte. Um caminho possível seria a exploração do sulco lateral do cérebro, também conhecido como a fissura de Sylvius, que lhe confere, afinal o titulo anglo-americano mas este território é logo afastado. Entre as piores ideias também não se encontraria o enfoque no sentimento de perda de Kaori trilhando a infância das duas irmãs, a relação difícil com a mãe e o evento que motivou o seu distanciamento. No entanto, até esta linha de pensamento é estéril.
O mais próximo de um vislumbre de significação advém da obsessão de uma médica com a vida após a morte (mini flashback de “Martyrs” de 2008). Se bem que até esta nunca esboça um motivo para a obsessão. O resto do elenco está ainda mais perdido. Miyuki poderá ou não ser uma suicida relutante e Kaori que afirma desejar encontrar a irmã não se parece importar com os avanços amorosos do namorado desta. Como não surgissem respostas, quer do rumo da investigação quer, mediante o recuso à analepse para fornecer algum insight para o desejo mórbido de Miyuki em pôr termo à própria vida, resta uma Kaori apagada. A personagem de Mina Fuji é capaz de ser a personagem feminina mais fraca desde a estreia do primeiro Ringu, já lá vão 16 anos. Isto, a despeito de ela ser apresentada como a única luz num quotidiano cinzento. A realização opta pelos tons cinza no que se refere ao resto do mundo, mas irrompe de cor quando Kaori interage com os outros. Com ela o mundo ganha cor. Mas até aqui os apontamentos de cor são pessimistas, pois a cor privilegiada para enfatizar o contraste é o encarnado, longamente associado em cinema com a morte. Fuji precisa de toda a ajuda que lhe possam dar pois Kaori marca os momentos mais enfadonhos da pelicula. Kaori é uma detective que pouco faz de concreto. Se a início colabora com a polícia, logo se esquece deles perante uma primeira pista. Alia-se de modo cego ao namorado daquela e sem pudor acede às investidas amorosas deste. Ela é ineficaz, ele é ineficaz, a polícia é ineficaz. São todos ineficazes juntos. Um possível drama familiar descamba numa teia difícil de descortinar, com estórias de vampiros, virgens suicidas, recordações de meninice agridoces e alucinações que são atirados a eito para o caldeirão. E o final não é mais que o embuste típico dos cobardes. “The Sylvian Experiments” mais se assemelha à confluência de dois ou 3 argumentos que por si só se calhar tinham mais poder que a amálgama que daí resultou e que carecia de uma edição séria. Lamento não conseguir alcançar na sua total extensão a significação que me era pedida mas confesso que me perdi a meio da aborrecida viagem. Duas estrelas.

Realização: Hiroshi Takahashi
Argumento: Hiroshi Takahashi
Yuri Nakamura como Miyuki
Mina Fuji como Kaori
Nagisa Takahira como Etsuko

Próximo Filme: "The Protector" (Tom Yum Goong, 2005)

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