domingo, 25 de janeiro de 2015

"Macabre" (Rumah Darah, 2009)

Grupo de amigos dá uma boleia a uma mocinha. O que poderia correr mal?

Estreado em Portugal por ocasião do MOTELx – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa em 2009, que se encontrava ainda apenas na 3.ª Edição, “Macabre” apresentou-se como uma das melhores obras saídas do prolífico cinema indonésio nesse ano. 

Em “Macabre” um grupo de amigos segue de carro para Jacarta para se despedir de dois deles: o casal Adjie (Ario Bayu) e Astrid (Sigi Wimala) grávida de 8 meses, que vão começar um novo projecto de vida na Austrália. A meio da viagem efectuam um desvio para convencer Ladya (Julie Estelle) a irmã de Adjie a colocar de parte as suas divergências antes de ele partir em definitivo para um novo país. O plano sofre um revés quando se deparam com Maya (Imelda Therrine) que lhes pede ajuda. Ela diz ter sido roubada e não tem boleia para casa. À chuva e na noite escura, o grupo oferece-se para a levar a casa. Agradecendo a generosidade, a jovem convida-os a tomar uma refeição com a família dela e refugiar-se do mau tempo. Apesar da relutância de alguns, eles acabam por aceitar e entrar. Lá dentro esperam-nos Dara (Shareefa Daanish) a mãe de Maya que parece não ter um dia mais do que 30 anos e os dois irmãos desta. Existe algo de desconcertante naquela família, algo que descobrirão muito em breve. É que a família de Maya gostou tanto deles, em particular da expectante Astrid que não tencionam deixá-los sair de casa… Nunca. Abriu a época de caça e os hóspedes são as presas!

Se “Macabre” parece a repetição de tantos outros slashers é porque não existe qualquer elemento surpresa. Os personagens são conhecidos na maior parte por constituírem os já habituais estereótipos do género como a sobrevivente final, o bom rapaz e o pervertido. Os vilões são maquiavélicos, aterrorizantes e são tão maus quanto seria de esperar de uma família de canibais! Eles gizam um plano para atrair as suas vítimas e quando a mãe Dara, qual chefe de um gangue organizado dá ordem para perseguir, atacar e dominar, vale tudo. A panóplia de armas utilizadas inclui armas como espadas samurai, serras eléctricas (uma homenagem a “The Texas Chainsaw Massacre” de 1974), jarros e tudo o mais que esteja espalhado pela casa que possa ser utilizado como arma mortal. E são ultra-resistentes. Para os eliminar é preciso nada menos que esfaquear, esquartejar, triturar, queimar, enforcar…

O cinema há muito que demonstrou que uma mulher grávida não está livre de perigo, vejam por exemplo “Inside” (2007) ou “Dream Home” (2010) e a pobre Astrid é prova disso mesmo com uma das cenas mais demoradas a deter-se na sua luta para defender a criança por nascer. Já Ladya é uma versão anterior da desenrascada Erin de “You’re Next” (2011), menos eficaz e mais dependente da sorte e dos seus amigos. Tanto ela como Arifin Putra que interpreta o psicopata Adam foram recentemente catapultados para a fama em “The Raid 2: Berandal” (2014) mas é Shareefa Daanish que rouba todas as atenções. Alguns poderão considerar a sua representação exagerada mas não irão ficar indiferentes.
Com olhos grandes, esbugalhados que sugerem a possibilidade de esta penetrar na alma das suas vítimas e extrair os pensamentos e desejos mais profundos da sua vítima e a pronunciação lenta, ponderada das palavras, Dara é inquietante. Aliás, cada aspecto desta personagem soa a uma nota dissonante logo a partir do momento em que a patriarca parece partilhar a idade da prole; vestimenta, cabelo e trejeitos de quem parece anunciar um estilo de vida antiquado; um olhar que não pestaneja e toda uma frieza e atitudes gélidas que sendo suspeitas, fariam visitantes “normais” atalhar caminho assim que tivessem oportunidade. Quando é apresentada a história da família, todos esses elementos desconcertantes encaixam no puzzle, incluindo as mais diversas peças e mobiliário espalhados pela casa.
“Macabre” é um autêntico banho de sangue. Imagino que se aquela casa tivesse sido palco de um massacre real, as pessoas que fazem a limpeza de tais cenários teriam muito trabalho pela frente. “Macabre” vem da Indonésia para provar que a tradição do slasher, ainda que possamos enumerar os lugares-comuns, continua a funcionar. Três estrelas.

Realização: Mo Brothers (Kimo Stamboel e Timo Tjahjanto)
Argumento: Mo Brothers (Kimo Stamboel e Timo Tjahjanto)
Shareefa Daanish como Dara
Julie Estelle como Ladya
Ario Bayu como Adjie
Sigi Wimala como Astrid
Arifin Putra como Adam
Daniel Mananta como Jimmy
Dendy Subangil como Eko
Imelda Therinne como Maya
Mike Muliadro como Alam
Ruly Lubis como Arman
Felicia A. Sumarauw como Bebé
Risdo Alaro Martondang como Sersan Syarief
Cansirano como Sony Samba
Roni Kribs como Petrus

Próximo Filme: "Blood Letter" (Thien Menh Anh Hung, 2012)

domingo, 18 de janeiro de 2015

"Body of Water" (Syvälle salattu, 2011)

Boa sorte para conseguir encontrar um trailer decente com legendas, pelo menos, em inglês.
Era uma vez um pobre moleiro que ao encontrar o rei exagera as qualidades da filha de modo a captar o interesse deste e chega a contar uma estória fantasiosa em como a moça consegue transformar palha em oiro. Decidido a dar uma lição ao moleiro, o rei manda fechar a jovem num quarto cheio de palha que terá de transformar em oiro, como declarado pelo pai, ou será executada. Durante a noite, a rapariga desesperada pela insensatez do pai e a expectativa de morte iminente, é visitada por uma criatura mágica que lhe propõe uma troca: ele fará a tarefa por esta, desde que ela lhe dê o seu colar. No dia seguinte, o rei fascinado perante a boa execução da tarefa dá-lhe ainda mais palha para fiar em oiro. À noite e perante novo apelo da rapariga chorosa o visitante continua o trabalho a troco de um anel. Pela manhã, o rei promete casar-se com ela, se esta transformar uma quantidade ainda maior de palha em oiro. Nessa noite, a rapariga, em pânico e sem mais nada com que negociar com o pequeno ser, acede a entregar-lhe o seu primeiro primogénito se ele a auxiliar uma última vez. Como bem saberão, a rapariga desta estória de encantar torna-se rainha e dona de grandes riquezas e o ser com quem firmou o pacto, Rumpelstilskin. Neste conto com final feliz, a rapariga aprende um ensinamento antigo mas sempre actual: ter cuidado com quem se faz um negócio e a não prometer aquilo que não se pretende dar em troca! “Body of Water” alia parte do imaginário dos irmãos Grimm ao folclore finlandês, em particular, do Nakki um espírito que atrai as crianças que se debruçam em parapeitos e margens demasiado próximas da água para a morte. Apenas mais uma estória criada como advertência para os perigos em que incorrem as crianças marotas que desobedecem aos pais.

Julia Mannerla (Krista Kosonen) é uma advogada que foi contratada para deter a destruição de um lago que deverá dar lugar a uma central de energia. Há muitos anos Julia morou naquele local com os pais antes de se mudar para Helsínquia. As memórias de infância não são agradáveis pois coincidem com o período em que a mãe adoeceu, dando lugar a uma mulher instável que nem reconhece os familiares a melhor parte do tempo. Julia tem ainda uma relação difícil com o pai mas ela é obrigada a apoiar-se neste pois está a divorciar-se e o filho Niko (Viljami Nojonen) ainda não tomou real consciência das consequências da separação dos pais. Como é de imaginar, o timing para a defesa de uma causa ambiental, num sítio que lhe traz memórias de eventos tristes, em pleno Verão e a braços com um filho menor não poderia ser pior. Ademais, a recepção dos habitantes do lago Hallow é hostil. Eles recordam-se de uma antiga família Mannerla que morou ali antes e da qual não guardam nem saudades nem simpatia mas se calhar, a chegada de uma advogada da capital que vem de repente dizer-lhes como viver, quando o lago nunca constituiu uma fonte de riqueza é demasiado atrevimento. Quanto a eles o lago pode desaparecer para todo o sempre, a protecção do ambiente é totalmente secundária perante a possibilidade de uma indemnização e um emprego estável. Para aumentar o stress de Julia, o local onde está alojada de modo temporário com o filho é a antiga escola primária, agora degradada e cuja canalização tem vontade própria. Entre o risco de uma inundação e infiltrações que colocam em causa a própria qualidade do ar que respiram, o lago não faz muito pela sua defesa. Niko encontra-se no seu estado mais desobediente e desafiante e insiste em aproximar-se dele, a despeito das ordens da mãe.
As semelhanças de “Body of Water” com o mais recente “The Babadook” (2014) quedam-se pelo desespero de um mãe cujo mundo ruiu à sua volta, com ela a assistir e sem nada poder fazer para o deter. A maior riqueza, a única que lhe resta é o filho. E a sua perda fará desabar o que resta das suas forças e sanidade. “Body of Water” tem um desenlace cuja explicação só é possível se considerarmos o receio dos argumentistas de que a audiência pudesse ficar de algum modo angustiada e, por outro lado, a manutenção do status quo da “existência de uma reviravolta” somente porque hoje em dia, já não é cinematograficamente aceitável que a narrativa seja linear. Como se a existência de uma reviravolta garantisse o efeito choque. Além disso, “Body of Water” sofre com uma personagem principal que tem uma história de fundo muito bem desenvolvida mas depois toma as decisões mais idiotas que se possam imaginar. Quando se realiza o teste da empatia, na pele de Julia poucos tomariam as decisões desta personagem. Restam os aplausos para a cinematografia que apoia a hipótese fantástica que é colocada em cima da mesa sem nunca esquecer as agruras da vida real. Duas estrelas e meia.

Realização: Joona Tena
Argumento: Pekka Lehtosaari, Joona Tena e Mikko Tenhunen
Krista Kosonen como Julia
Kai Lehtinen como Leo
Viljami Nojonen como Niko
Peter Franzén como Elias
Risto Aaltonen como Lantto
Kari Hietalahti como Koskela
Terhi Panula como Saara

O melhor:
- A personagem de Júlia
- Inspiração no folclore local
- A banda-sonora


O pior:
- Previsibilidade da estória mata o potencial e a possível excitação da audiência

Próximo Filme: "Macabre" (Rumah Darah, 2009)

domingo, 11 de janeiro de 2015

TCN Blog Awards 2014: A tradição ainda é o que era


Esta pessoa nunca irá escrever uma das primeiras reacções aos prémios mais badalados da blogosfera de cinema nacional. Elas desmultiplicam-se pore com superior qualidade mas a “cobertura” dos TCN Blog Awards constitui a única tradição anual no mundo da 7.ª Arte que não posso falhar. Nem com os Óscares, indiscutível maior evento cinematográfico mundial, consigo manter tal compromisso (desculpem lá qualquer coisa, mas essa cerimónia de entrega de prémios é uma seca). Também se diga de passagem, que é o único dia do ano em que me posso reunir com a maioria dos meus heróis escritores de cinema e dizer-lhes qual groupie maníaca, que sou sua fã e continuarei a seguir muito atentamente os seus blogues pelo que, por favor, não parem, enquanto aproveito para cravar um ou dois autógrafos. Também ainda não perdi a esperança de um dia, um fã vir ter comigo pedir-me um autógrafo, para depois se apoiar no meu ombro e chorar copiosamente porque era fã do “Alien” e ainda hoje está a tentar retirar sentido do “Prometheus”. Isso, ou vir ter comigo e dar-me um abraço porque, coitada, não sei o que escrevo e mais vale dar-me coragem para um dia vir a escrever alguma coisa de jeito. Não sou esquisita. Além disso, já descobri que sou verdadeiramente importante e que a minha opinião importa pelo que aproveito desde já para dar a conhecer que no próximo ano conto ter uma passadeira vermelha e paparazzi à minha espera… Quanto à cerimónia propriamente dita, este ano descobri que estou velha. Além dos recém-descobertos papos, rugas e cabelos brancos que um penteado alternativo já não é capaz de esconder, descobri que a média de idades dos nossos bloggers desceu drasticamente. Alguns até podem ter surgido em anos anteriores mas só este ano é que dei pela coisa. Não é um ponto negativo, nem poderia ser. Sou apologista de sangue novo, tal como eu própria já o fui, ainda que tenha ainda poucos anos disto em comparação com alguns dinossauros – o Not a Film Critic faz apenas 4 primaveras a 31 de março! E não podia, à altura, ter-me sentido melhor acolhida. Mas se houve muito cara nova, chocou-me talvez a quantidade de ausências de alguns bloggers mais antigos. Faltou o Jorge, o Samuel, o Pirata, a Inês, o Tiago, o Aníbal e o Hugo, (etc.), alguns dos quais, justificam a mera existência destes prémios. Outra novidade foi a mudança do local da cerimónia de uma sala de cinema/auditório para o Deliart Caffé, sendo que se, se lamenta a perda do cenário onde a magia acontece, se podem acomodar algumas das necessidades identificadas em anos anteriores. A cerimónia deste ano foi ainda mais criativa que o ano anterior, se é que tal era possível e o Manuel Reis esteve na sua melhor interpretação de Neil Patrick Harris (aquele tipo que a maioria das pessoas não consegue detestar) duns prémios. Este presente a celebérrima Tuxa; o Francisco Oliveira que irá ser daqui a 15 anos o maior galã das televisões portuguesas e quicá, oscarizado; o Brain Mixer que disponibilizou os seus “Posters Caseiros” que ganharam vida própria e o TCN para Melhor Rúbrica de 2014 para o leilão mais divertido (e único) da estória dos prémios, tendo havido até lugar a copos partidos e mousse espalhada pelo chão, tal era o entusiasmo do licitador e, essa lenda viva do cinema xunga que é o Pedro Cinemaxunga! Quanto aos momentos mais especiais tenho de dar destaque à primeira exibição em directo para a plateia dos TCN Blog Awards, dos podcasts do VHS e do TVdependente e a estreia exclusiva e mundial de “Um Conto de Natal na Trafaria”. E que não nos falte o humor que vimos a descobrir que um certo blogger fica mais inspirado na semana antes da submissão das candidaturas aos prémios; que alguém queria mesmo MUITO que um poster do Crime do Padre Amaro com uma erecção figurasse sobre a sua lareira; que a falta de bateria na câmara de filmar é lixada; que alguém tem uns olhos provocadores e boca de apito (alguém me explique o que é!); que o debate cinema/televisão se mantém mas agora o que está a dar é “atacar” a malta da banda-desenhada (alguém se acusa?)... E agora, aquilo que sei que todos vós estavam mortinhos por saber: não, não foi desta que o Not a Film Critic arrecadou um Prémio, no caso, na categoria de “Melhor Artigo de Cinema” com o  "Top 12: Final Girls". Mas asseguro que o Prémio ficou em boas mãos. Quero ainda referir que o Prémio de Melhor Iniciativa foi atribuído a “Já vi(vi) este Filme” do blogue Hoje Vi(vi) um Filme na qual tive o prazer de participar e deixo uma curiosidade para quem mais passe por aqui. Desde 2012, que este Prémio tem sido entregue às iniciativas nas quais o Not a Film Critic participou. Fixolas. É claro que se falássemos em desejos pessoais, gostaria que mais algumas das minhas páginas favoritas tivessem sido reconhecidas mas as coisas são o que são e, ainda bem que as vontades da maioria se sobrepõem às do individuo. Alguém ficaria muito satisfeito mas o conceito de justiça sairia prejudicado. Como digo ano após ano, para os meus 3 leitores, um evento que é organizado por e em prol de bloggers, quando estes 99% das vezes não obtêm qualquer vantagem financeira ou reconhecimento, com a susceptibilidade de verem o seu trabalho a ser repescado ou copiado por outrem deve constituir uma festa e um momento de partilha de experiências e criação de mais e melhores projectos. A todos os vencedores felicitações. Da minha parte, enquanto escrever continuar a ser divertido, por aqui continuarei. E porque a tradição também é importante, até para o ano.

domingo, 4 de janeiro de 2015

"Marshland" (La isla Mínima, 2014)


Os créditos vêm como uma bomba: um take contínuo percorre a paisagem natural, paradisíaca do sul de Espanha enquanto ecoa o choro de uma guitarra. A paisagem é verde e azul, laranja e castanho, em alternância, o terreno incerto, os sulcos a fazer recordar o próprio cérebro humano, ora digam-me se a película a que vou assistir não é inquietante.

Juan (Javier Gutiérrez) e Pedro (Raúl Arévalo) aguardam à beira da estrada sob o calor abrasador que os venham socorrer. Acabados de chegar sul de Espanha, advindos de Madrid para investigar o desaparecimento de duas irmãs, já dão a imagem de uns inúteis a necessitar de ajuda. Na pensão onde irão pernoitar houve um equívoco: terão de passar a primeira noite no mesmo quarto. Deverá ser pouco tempo, acreditam os locais. As irmãs desaparecidas têm uma má reputação e nem os habitantes, nem o pai destas demonstram grande interesse em fornecer pistas para a resolução do caso. Apenas a mãe Rocío (Nerea Barrios), atormentada pela dor colabora com o pouco que tem para lhes dar, o negativo de fotografias lascivas que o fogo da lareira não conseguiu queimar na totalidade. Esta é sem dúvida uma localidade mínima. Na Espanha abaixo do Guadalquivir pós-Franco, a ditadura apenas findou em termos políticos. A cruz do ditador permanece firme nas paredes das casas. Estado, Família e Igreja governam a mente colectiva. Não existe ainda espaço para a emancipação ou uma sexualidade liberta de preconceitos: aquilo que aquelas adolescentes perigosamente representam. Eis que surgem corpos no meio do terreno pantanoso e aquilo que parecia uma fuga ao tédio, matrimónio em terra idade e aos constrangimentos de uma localidade onde os rumores são difundidos ao sabor do vento, se transformam numa caça a um assassino em série.
“Marshland” é um regresso aos thrillers policiais, um género em decadência, talvez pela sobreexposição, nos últimos anos. Uma das óbvias excepções tem sido o cinema coreano que apresenta de modo sistemático, anualmente, pelo menos um thriller de qualidade para saciar um público que ainda não acusa o cansaço do género. Mas as coincidências de “Marshland” com o cinema coreano não se ficam por aqui. “Marshland” é fantasticamente similar a “Memories of Murder” (2003), de Joon-ho Bong. Ambos ocorrem durante os anos 80, o primeiro pós-ditadura militar, o segundo decorre ainda durante uma no último fôlego, com o surgimento de cadáveres femininos mutilados em campos de arroz. Ambos os casos requerem a visita de um ou mais polícias da cidade, dominantes de novas técnicas, que contrastam com os saberes e desconfiança locais. “Marshland” também mantém a combinação típica do polícia moderno mais subtil e do polícia mais vivido, com métodos mais questionáveis, pelo menos para os padrões actuais. Mas não tenta dizer-nos qual o melhor, deixa as ilações para quem o vê ou, se preferirem, a interpretação estará sujeita à época em que nos inserimos. Gutiérrez e Arévalo estão fantásticos nos papéis convencionais que lhes foram atribuídos. No entanto, as fronteiras entre o polícia bom e o polícia são, no mínimo, nebulosas. Cada um tenta demonstrar o seu caminho ao outro sem criticar abertamente as opções deste. Algures, conseguem manter a cabeça fria ou dão azo à bestialidade quando não o fariam antes. Deles, é Juan o que possui a moralidade mais dúbia e o que parece mais atormentado pelos anos mais de experiência do que Pedro e um passado misterioso. Por isso, encontra maior facilidade em mover-se nos terrenos pantanosos, de segredos obscuros, terríveis e de mostrar as garras sem hesitação ou receio dos locais. Ele conhece as regras implícitas daquelas terras. Juntos, cruzam-se com uma série de personagens, cada uma com uma informação importante a fornecer, mesmo que não o saibam. A cinematografia fabulosa de Alex Catalán completa o cenário de desintegração daquela sociedade. Se não podem sequer confiar nas pessoas que pertencem àquela “ilha”, então em quem? É um sinal dos tempos, terão de reajustar-se se quiserem sobreviver além das próximas colheitas e das mudanças políticas de Madrid. Quatro Estrelas.


Realização: Alberto Rodríguez
Argumento: Rafael Cobos e Alberto Rodríguez
Javier Gutiérrez como Juan
Raúl Arévalo como Pedro
Nerea Barros como Rocío
Jesús Castro como Quini
Antonio de la Torre como Rodrigo
Salva Reina como Jesús
Manolo Solo como Periodista
Cecilia Villanueva como María
Juan Carlos Villanueva como Juez Andrade

O melhor:
- A cinematografia é soberba. Alex Catalán tem motivos para estar satisfeito
- A banda-sonora completa na perfeição as imagens
- Não podiam ter escolhido melhor dupla de actores, em particular, Javier Gutiérrez no papel de um polícia atormentado com esqueletos no armário

O pior:
- Alguma ambiguidade no desenlace

Próximo Filme: "Body of Water" (Syvälle salattu, 2011)
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