domingo, 21 de junho de 2015

"13: Game of Death" (13 Game Sayong, 2006)


Bem-vindos ao século XXI, era em que a dignidade humana passou em definitivo para segundo plano e a religião mais importante é a do dinheiro. O Homem não pode viver sem dinheiro e aquele que não lhe aceder contenta-se em observar o outro humilhar-se para o conseguir, porque nada é grátis.

Phuchit Puengnathong (Krissada Sukosol) é a mais recente vítima da conspiração universal para ver mais um Homem cair em desgraça. Enganado num esquema de um colega sem escrúpulos e sem alcançar os duros objectivos que lhe são impostos pela empresa é despedido. A somar à sua infelicidade, a mãe continua a gastar o dinheiro que ele acumulou com dificuldade e a namorada troca-o pela ambição de se tornar uma estrela pop. Desesperado e a acumular dívidas, Puchit alinha de imediato quando recebe uma proposta para ganhar 100 milhões de baht. Mas há um senão. Há sempre um senão. Ele terá de cumprir 13 missões. A primeira é simples: matar uma mosca. A segunda é comê-la e já deixa antever o que estará por vir. A escalada é brutal e a cada passo Puchit fica cada vez mais longe do que é bom e puro e mais perto do monstruoso. Não sendo desinteressado, Puchit também se apercebe que, tomando determinadas decisões não poderá voltar atrás. A ex-colega e amiga Tong (Achita Sikamana) é a única que tenta lutar por Puchit mas conseguirá ela salvá-lo?
A noção de transformar a vida dos personagens num jogo mortal não é propriamente nova: “Cube” (1997), “Saw” (2004), “Incite Mill” (2010), etc. Apenas varia o grau de conhecimento dos seus participantes e da audiência, que alterna entre a inexistência de informação e a exposição total. Puchit é um participante activo e tem perfeita consciência dos efeitos das suas acções sendo que apenas ignora a sua proeminência no grande esquema das coisas. A psicologia desta personagem é o que de melhor e mais intrigante “13: Game of Death” tem para nos apresentar. As armadilhas que lhe são apresentadas são brutais, repugnantes e assustadoras e constituem uma delícia para os fãs deste subgénero. É um parente interessante dos filmes anteriormente mencionados pelas sequências impressionantes, ainda que com efeitos digitais duvidosos. Apresenta também uma das reviravoltas mais espantosas dos seus congéneres que dita a convicção entre o ódio e o amor pela estória. Mas nunca foi tão interessante explorar o paradoxo de uma personagem que está disposta tudo para salvar a vida em ruínas, a mesma que destrói enquanto joga! Onde muitos hesitariam, Puchit não hesita em seguir em frente até à destruição total. O personagem não só não tem nada a perder como não se considera especial o suficiente para despoletar mecanismos de auto-defesa. “13: Game of Death” é inteligente em explorar a herança étnica de Puchit, filho de uma tailandesa e um cidadão americano, que nunca sentiu que pertencia a um local, já que os outros fizeram questão de o relembrar disso. Desde o pai, considerado o intruso que é capaz de pouco mais que violência e crueldade, passando pela mãe fraca que faz questão de o recordar da sua inferioridade, através das exigências pouco razoáveis e a criançada que ataca Puchit apenas por ele ser diferente.
Persistente, ele aguentou e aguardou sempre à sempre do pote de ouro no fim do arco-íris. Pelo que quando ele surge, Puchit não quer deixá-lo escapar, ainda que seja um presente envenenado. Três estrelas.

O melhor:
- O conceito
- A falência moral em que o personagem principal incorre
- Sequências muito impressionantes em termos visuais

O pior:
- Chega a um momento em que se torna impossível continuar a apoiar o personagem principal
- O desenlace

Realização: Chookiat Sakveerakul
Argumento: Eakasit Thairatana (estória) e Chookiat Sakveerakul
Krissada Sukosol como Phuchit Puengnathong
Achita Sikamana como Tong
Sarunyu Wongkrachang como Surachai
Nattapong Arunnate como Mik
Namfon Pakdee como Maew
Piyapan Choopech como Chalerm
Philip Wilson como pai de Phuchit
Sukanya Kongkawong como Mãe de Phuchit

O Próximo Filme: "Cold Prey" (Fritt Vilt, 2006)

domingo, 7 de junho de 2015

"Sweet Rain" (Suwîto rein: Shinigami no seido, 2008)


A morte é gira, anda de fato, faz incursões pela Terra para ir buscar as suas vítimas e não, não se chama “Joe Black”. Esse é o filme de 1998. No caso presente, a personagem da Morte (e ele encarna-a tão bem), pertence a Takeshi Kaneshiro numa versão ingénua e doce.
Ele é conhecido por Chiba e é um dos enviados especiais para os assuntos da Terra relacionados com vida e morte. O procedimento é tão eficiente quanto simples. Abre-se um portal para o deixar transitar para o mundo dos vivos, introduz-se na vida da pessoa que lhe foi indicada e, em pouco tempo, terá de tomar uma decisão sobre a sua existência. O seu único companheiro, nesta tarefa solitária a maior parte do tempo é um cão negro que comunica com ele através da telepatia e sabe, e viu, muito mais do que ele. Ele faz de juiz e carrasco das pessoas que lhe são indicadas até que conhece Kazue Fujiki (Manami Konishi), uma jovem mulher triste que abraçaria com prazer uma morte precoce. Passam alguns anos Chiba é inserido numa estória sórdida que envolve um órfão que perdeu o norte e a máfia japonesa (yakuza). A sua terceira missão, mais calma, revolve uma cabeleireira que pretende cumprir um último desejo antes de transitar para o outro lado.

O questionamento sobre o sentido da vida não é a ideia mais brilhante ou mais original que já perpassou pelo cinema. A abordagem à temática já batida é o mais interessante. Doce como indica o título. Ao contrário de “Meet Joe Black”, “Sweet Rain” não se detém numa estória e tenta espremer todo o melodrama patente na realização de um romance impossível. “Sweet Rain” foca-se nas nuances, na sugestão ténue de um amor e apontamentos cómicos que não destoam com a seriedade da morte. Conhecido pela sua eficácia, Chiba questiona pela primeira vez a facilidade com que aceita o destino tal qual este lhe é apresentado. Perante uma situação de desespero, ao invés de aceitar com facilidade a morte como a única opção possível, sente um pesar pela incapacidade de realização do potencial da vítima. Sentimento que lhe era até então estranho. Caracterizado como convém a cada missão (atente-se ao vestuário questionável e penteando chunga na segunda missão ou a aparência de membro de uma boyband na última), ajudado pela sua boa parecença (pois que as pessoas estão mais predispostas a confiar em quem consideram bonito) e uma inocência que é mal julgada como humor, os personagens acabam por confiar com facilidade no estranho.

Chiba é intemporal mas é uma criança. Como se a existência como mensageiro da morte, fosse ela própria uma aprendizagem. Chiba atravessa três épocas diferentes e, a cada uma delas, as suas decisões vão se tornando menos extemporâneas, à medida que a sua compreensão das suas acções se aproxima de algo cada vez mais parecido com clareza. Também é comum o sentimento de melancolia a que não é alheia a selecção musical e que impacta ela própria as personagens. Para Chiba é uma das maiores criações da humanidade, para outras personagens significa dor, nostalgia ou catarse. Em simultâneo, Chiba lamenta o facto de as suas missões serem sempre acompanhadas de chuva. Irá ele ver um dia de sol?
“Sweet Rain” é bem carregado pelos ombros experientes de Takeshi Kaneshiro. À semelhança de outras grandes estrelas de Hollywood ele foi abençoado e amaldiçoado por uma aparência que faria pensar que é pouco mais uma face gira que será ultrapassada em breve pelas gerações mais novas e, tão parcas em talento quanto ele. Nada podia encontrar-se mais longe da verdade. “Sweet Rain” é como um calmo dia de chuva. Possui vários acontecimentos de elevada gravidade, no entanto, estes nunca são capazes de provocar reacções de choque. No final, permanece a sensação de que ar ficou mais leve, acompanhado de um aroma doce. Tal doçura pode ser atribuída ao desempenho sólido, mas subtil de Kaneshiro e de Manami Konishi e Sumiko Fuji em curtas aparições, que parecem querer dizer para a audiência olhar ao todo e não a cada uma das partes. Três estrelas e meia.

O melhor:
- O desempenho do elenco
- Uma nova abordagem a um tema muito explorado

O pior:
- Inexistência do factor uau que pode provocar algum aborrecimento
- Sentimento de que “Sweet Rain” nunca pretende ser pouco mais do que bom

Takeshi Kaneshiro como Chiba
Manami Konishi como Kazue Fujiki
Sumiko Fuji como Junko Fuji
Mitsuru Fukikoshi como Kentaro Oomachi
Takuya Ishida como Shinji Akutsu
Ken Mitsuishi como Toshiyuki Fujita
Jun Murakami como Aoyama
Erika Okuda como Takeko

Próximo filme: "13 Beloved" (13 game sayawng, 2006)
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