domingo, 5 de julho de 2015

"Cold Prey" (Fritt Vilt, 2006)


Por mais anos que passem e, por mais dessensibilizados que fiquem, ainda existem slashers que conseguem, se não surpreender, pelo menos não insultar a nossa inteligência.

Um grupo de amantes de desportos radicais decide praticar snowboard nas remotas montanhas norueguesas, onde poderão divertir-se sem ser incomodados. O que poderia correr mal? A lei de Murphy entra em efeito. Morten Tobias (Rolf Larsen) tem um acidente aparatoso e parte a perna como se um galho se tratasse. Nesse momento que daria jeito que a civilização os acudisse, dão por eles a demasiadas horas de uma localidade e sem sinal de rede no telemóvel. Jannicke (Ingrid Berdal), Eirik (Tomas Larsen), Mikal (Endre Midstigen) e Ingunn (Viktoria Winge) vêem-se obrigados a arrastar o amigo até um velho hotel abandonado ali próximo antes que escureça para poderem tentar pedir auxílio pela manhã. Mal sabem eles que estão acompanhados e que o seu anfitrião mal pode esperar por lhes apresentar a sua picareta.

Até aqui nada de novo e… Daí em diante também não. O assassino de serviço é tão parco nas palavras como os que lhe antecederam mas não é adepto de disfarces. Não deve ter visto o “Halloween” (1978) ou qualquer coisa que o valha. A explicação mais simples é, tão-somente, que é indiferente usar um disfarce. A identidade dele não é importante e as suas vítimas ficam aterrorizadas com alguma rapidez. Com temperaturas negativas e sem populações num raio de vários quilómetros não é como se tivessem para onde fugir. De resto, o psicopata faz uso das convenientes ferramentas para a prática de desportos na neve. A necessidade de “fogo-de-artifício” é nula. A maior “novidade” de “Cold Prey” é que, pela primeira vez em muito, muito tempo, os personagens são simpáticos. Não escapam na totalidade aos estereótipos, (achavam que não ia haver pelo menos uma boazona seminua?), mas desta feita não é como instilassem instintos assassinos por parte do público. Podiam ser o vosso grupo de amigos. Outro toque de frescura, a que não é alheia a cultura nórdica é o facto de o líder natural do grupo ser Jannicke. Ao invés da mulher vulnerável que se revela numa altura de grande pressão ela demonstra ser forte e determinada a todo o momento. Não chega aos calcanhares da esquiva e calculista Erin de “You’re Next” (2011) mas faz tudo o que está ao seu alcance para levar a melhor sobre o seu caçador. A seu lado tem Eirik, um namorado que acha que está na altura de tomar o passo seguinte: viver juntos. Na congénere americana o passo seguinte seria evidentemente dormir juntos (revirar de olhos). Os restantes amigos variam entre o comediante e o melhor amigo, mas sem se excederem nos retratos.

“Cold Prey” não é um blockbuster mas é tão eficaz como qualquer produto massificado. Não abusando, porque não pode, nas cenas que evocam a emoção de repugnância, a construção de um ambiente atemorizante é a sua maior força. Sem se aperceberem passará a marca da meia hora com o grupo ainda intacto. “Cold Prey” toma o seu tempo a apresentar as personagens e a situação desconfortável em que se encontram. Isto, acompanhado pelas paisagens ofegantes das montanhas silenciosas da Noruega revisitadas inúmeras vezes para não nos esquecermos que ninguém os pode ajudar. O perigo, real encontra-se dentro das paredes de um hotel isolado e lá fora, no exterior gélido. Onde iam tentar a vossa sorte? Três estrelas.

O melhor:
- Um grupo de personagens com o qual nos conseguimos identificar
- Cinematografia
- Elenco sólido

O pior:
- A identidade do assassino. Anti-climático!
- Não tenta ser original

Realização: Roar Uthaug
Argumento: Thomas Moldestad, Martin Sundland e Roar Uthaug
Ingrid Bolsø Berdal como Jannicke
Rolf Kristian Larsen como Morten Tobias
Tomas Alf Larsen como Eirik
Endre Martin Midtstigen como Mikal
Viktoria Winge como Ingunn
Rune Melby como Fjellmannen
Erik Skjeggedal como Gutten
Tonie Lunde como Mor
Hallvard Holmen como Far

Próximo Filme: "The Girl who Leapt Through Time" (Toki o kakeru shôjo, 2006)

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