domingo, 30 de agosto de 2015

"Cult" (Karuto, 2013)


Kôji Shiraishi, um dos melhores realizadores japoneses a impulsionar o género “Found Footage”, continua no estilo onde foi mais feliz. Shiraishi é apenas o realizador de obras como “The Curse” (Noroi, 2005), “Occult”(Okaruto, 2009) ou “White Eyes” (Shirome, 2010). Se os filmes mais recentes não possuem o brilhantismo de “The Curse”, não podemos censurá-lo por insistir num género de onde tem extraído os maiores êxitos.

Em "Cult" um programa de televisão sobre eventos paranormais contrata três actrizes para acompanhar um mestre no oculto para acompanhar a família Kaneda cuja casa se suspeita estar sob o efeito de influências malignas sobrenaturais.

“Cult” inicia-se de modo convencional, o que ajuda a vender este falso documentário como se de um documentário real se tratasse. As primeiras cenas seguem as três actrizes e as conversas banais de quem ainda está a criar uma primeira impressão das colegas e as expectativas partilhadas, do mais recente trabalho em televisão. Como seria natural, elas têm diferentes sensibilidades, sendo que algumas temem mais o oculto do que outras mas este é apenas mais um trabalho. O salário e o profissionalismo sobrepõem-se a uma emoção tão “superficial” quanto o medo. As apresentações iniciais, a suas reacções a um vídeo realizado na casa Kaneda que põe a descoberto fenómenos sobrenaturais e a visita à família que demonstra necessitar de auxílio urgente conferem o toque de realismo que resulta tão bem em “The Curse”. A existência de câmaras em quase todos os cantos da casa e no exterior contribuem para um sentido de voyeurismo típico do género mas que só funciona numa percentagem ínfima de casos. É suposto a câmara direccionar a atenção para os eventos e não ser ela própria o foco de interesse. Este não é um dos problemas de "Cult" e sim, "Paranormal Activity" é um dos que falham nesse aspecto. Processem-me. Em última análise, será o início tão forte que salva “Cult” do desastre total. Também esta característica faz suspeitar, tendo por base a remanescente carreira do realizador, que ele é um excelente introdutor de estórias mas um mau finalizador.

A primeira tentativa de exorcismo corre mal, à semelhança de qualquer outro filme do género (e desafio alguém a provar-me o contrário), pelo que Unsui, o mestre-de-cerimónias é forçado a procurar alguém ainda mais especializado que ele para salvar a filha da família Kaneda de um destino terrível. Daí em diante a estória dá algumas piruetas, incluindo a introdução de um exorcista excêntrico (onde é que já se viu isto antes?), possessões e a suspeição de que uma seita se encontra no centro do mistério. Esta revelação até podia ser considerada um spoiler, não fosse o simples facto de a película ter sido intitulada de “Cult” (Culto). É nesta altura que a premissa resvala do improvável para o absurdo e ridículo. Na cultura popular sobressaem a Sra. Barrons (Zelda Rubinston) de “Poltergeist”(1982) e mais recentemente, a Elise (Lin Shaye) de “Insidious” (2010) como o modelo de espírita a seguir. Elas que resultam tão bem que quase não ver uma mulher de meia-idade ou superior tomar conta da situação toda ela maternal e inteligente é uma desilusão. O Neo (Ryosuke Miura) de “Cult” encontra-se no espectro oposto. Ele próprio quer ser chamado pelo nome da personagem de “Matrix” (1999), o que logo aí faz suspeitar de ilusões de grandeza e uma desconexão com a realidade até ali fomentada. A sua entrada em cena representa uma viragem de 180º na direcção semi-séria mantida até ao momento para um registo cartoonesco. Os efeitos digitais são tão fracos quanto seria de esperar para uma produção com um óbvio problema de orçamento. Se por vezes é possível disfarçar a ausência de qualidade dos mesmos com a desculpa da visão nocturna ou problemas na captação de imagem, outras é mesmo impossível não esboçar uma expressão de desapontamento. Ainda assim, a parte mais ofensiva de “Cult” é pretender terminar com a sugestão de uma sequela (não merecida). Adivinhem? Não existe. Duas estrelas e meia.

O melhor:
- O estilo documental

O pior:
- Estória torna-se crescente e desnecessariamente complicada
- Efeitos digitais
- Personagem Neo

Realização: Kôji Shiraishi
Argumento: Kôji Shiraishi
Yû Abiru como Yû Abiru
Mari Iriki como Mari Iriki
Mayuko Iwasa como Mayuko Iwasa
Ryosuke Miura como Neo
Natsuki Okamoto
Sayuri Oyamada

Próximo Filme: "Long Weekend" (Thongsook 13, 2013)

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