domingo, 31 de janeiro de 2016

"Parasyte: Part I" (Kiseijuu, 2014)


Daqui a uns anos, talvez até meros meses, vou negar que alguma vez disse isto mas aqui vai: se há moda que precisa continuar é a adaptação de filmes a partir de mangá; se uma precisa de morrer é a divisão de filmes em duas ou mais partes.

“Parasyte: Part I” é só apenas um dos muitos filmes que nasceram numa banda-desenhada e passaram ao ecrã nos últimos anos com resultados variáveis. “Death Note” é um esforço incongruente e aborrecido; “Rurouni Kenshin” que teve uma estreia intrigante caiu a pique à medida que foram sendo geradas sequelas. Por entre mortos e feridos, “Gantz” e “Assassination Classroom” emergiram como os esforços mais interessantes ou divertidos.

Em “Parasyte: Part 1” a humanidade é alvo de uma invasão invisível a olho nu por alienígenas. Estes seres funcionam quais parasitas e introduzem-se nos corpos de seres humanos, tomando o controlo destes e adaptam os seus comportamentos com vista a passar despercebidos enquanto canibalizam outros homens. Shinichi (Shota Sometani) um aluno vulgar de liceu, torna-se, por acidente, na única esperança para salvar a espécie humana quando um dos parasitas fracassa a conquista do seu cérebro e apenas assume o controlo do seu braço direito. Shinichi atribui-lhe o nome literal de “Migi” e acaba por criar-se uma amizade insólita e inesperada entre o rapaz e o alienígena invasor, movida de início pela curiosidade mútua. Eles não podem sobreviver um sem o outro pelo que acabam por coexistir como um som. Shinichi distancia-se da mãe e da amiga Satomi (Ai Hashimato) após o conhecimento da realidade que afecta todos os seres humanos e Migi, por sua vez, começa a questionar a brutalidade da sua própria espécie parasítica. Entretanto, Ryoko (Eri Fukatsu) que começa a exercer a profissão de docente na mesma escola onde Shinichi estuda é possuída por um alienígena de elevado estatuto que pretende estudar os seres humanos no seu meio ambiente. Conhecimento significa poder. E conhecer o Homem tornará mais fácil a conquista da espécie.

“Parasyte” sucede na apresentação de uma estória absolutamente absurda que agrade aos fiéis seguidores da mangá e às audiências sequiosas de uma experiência diferenciada no que diz respeito às invasões extraterrestres. Pela primeira vez em algum tempo é conhecia a perspetiva do invasor. Não é apenas um ser terrível, impassível e impossível de demover na sua senda destrutiva. Ele é tão ou mais complexo que o Homem. Quer-se uma mente colectiva qual colmeia mas até ele quebra as hostes e questiona. Por seu turno, Shinichi enfrenta um dilema pior que o do adolescente normal. O jovem que nunca nada fez de extraordinário, tem agora um braço alienígena com quem comunica telepaticamente. Seria caso para internamento psiquiátrico se contasse a alguém, não? Também a personagem de Ryoko é intrigante. Não será um exagero assumir que se o Homem encontrasse uma nova forma de vida a iria estudar e dissecar em toda a medida para a conhecer. Chocante é a perspectiva de que quem o faz é um Ser invasor e o Homem é a Cobaia.
Desta feita, os efeitos digitais são um bom complemento da estória. Destacam-se, em particular, as sequências em que as pessoas são atacadas pelos parasitas. Mas nota-se, que estamos por fim chegados ao século XXI. Os valores de produção já não podem ser assim-assim. O argumento, o elenco, a cenografia, a trilha sonora, os efeitos inseridos em pós-produção entre outros aspectos técnicos são de qualidade média a superior. Há a nítida sensação que existe uma preocupação em não apostar no menor denominador de satisfação possível e que iria agradar de qualquer modo aos leitores da mangá. Se isto abre portas a que se considere, finalmente, a adaptação da BD como uma fonte viável e rentável de boas obras cinematográficas e, também abre todo um espaço de possibilidades para a atracção de públicos que à partida não teriam o menor interesse em ver estes produtos de Ficção. Três estrelas.

Realização: Takashi Yamazaki
Argumento: Hitoshi Iwaaki (manga), Ryôta Kosawa e Takashi Yamazaki
Shôta Sometani como Shin'ichi Izumi
Eri Fukatsu como Ryôko Tamiya
Ai Hashimoto como Satomi Murano
Sadao Abe como Migi (voz)
Kazuki Kitamura como Takeshi Hirokawa
Masahiro Higashide como Hideo Shimada
Tadanobu Asano como Goto
Miko Yoki como Nobuko Izumi
Jun Kunimura como Detective Hirama

Próximo Filme: "The Invitation" (2015)

domingo, 17 de janeiro de 2016

TCN Blog Awards – O Fim de uma Era


Se há cerca de um ano dizia que “a tradição ainda é o que era”, diz que em 2016 chegou a hora de dizer adeus. Os TCN Blog Awards, pelo menos no modelo em que o conhecíamos, morreram. Se calhar sou uma eterna optimista pois embora os sinais estivessem todos lá, sempre mantive a esperança de continuidade. A partir dali só se podia crescer, certo? Os TCN representam, de certo modo, o percurso dos blogues que fizeram com sucesso a transição de recantos escondidos a espaços com reconhecido mérito de utilização intensiva por quem procurava uma perspectiva pessoal, algo um pouco mais denso que o mero rating de um filme. Hoje em dia, fala-se já não em jeito de sussurro mas em voz alta da morte dos blogues. Não gosto de falar de morte. É uma palavra tão chocante, tão definitiva que prefiro falar de hiatos ou de transição. Gosto de pensar que foi apenas a vida que aconteceu. Os que fazem isto há mais tempo envelheceram, arranjaram outras ocupações, viram a família aumentar e perderam o tempo, a paciência, a motivação (ou todos) para os manter. A malta mais nova se calhar até prefere o Tumblr ou o Podcast, ao dinossauro Blogue. Confesso que nunca me vi tão perto de transitar ao próximo plano de existência (não é desistir, atenção). O tempo e a paciência escapam-se-me ainda que continue tão fascinada pelo Cinema, tal como no primeiro dia em que com um template feioso abri o Not a Film Critic. Continuo a não conseguir encontrar um hobby pelo qual tenha tão grande paixão como por este. Mas noto-me cansada, repetitiva e com pouco de novo a oferecer, pelo menos, no contexto “blogue”. Talvez os leitores o sintam também. Eles, que por aí andam mas não se manifestam. Nem sequer para barafustar. No presente estou cá, no futuro se verá. Mas essa já é outra conversa...

Neste ponto nos encontramos com uns TCN que nunca estiveram tão próximos do cinema que pretende homenagear como neste ano: Houve um afinar de categorias, houve uma academia, houve a exibição de um filme – o “The Big Short” (2015) –, que se encontra nomeado por esta altura para cinco óscares; houve o apoio de distribuidoras e, tudo isto sucedeu num cinema, veja-se. O formato foi talvez o mais próximo daquele que se podia almejar para um momento de celebração do cinema em Blogue. Gostaria de pensar, por isso, que terminámos (plural, sim), em grande. Este ano, já muitas linhas se escreveram sobre este tema e, concordando com quase todas, pouco tenho a acrescentar.

Quero assim agradecer as muitas nomeações que demonstram, desde 2011, ano desde qual tenho participado ininterruptamente nos TCN, que alguma coisa devo fazer bem (yupi!) e o Prémio de Melhor Ranking/TOP para o artigo “Top 15: Música de Filmes de Terror” e que tanto prazer me deu (ainda) escrever, bem como, dar um agradecimento especial ao Carlos Reis que em conjunção com a sua equipa de heróis, provou que o impossível é apenas uma palavra.

Também podia escrever algumas linhas sobre o grupo de amigos que todos os anos procuram estender o evento a uma festa anual (informal é certo) de blogues mas isso soaria demasiado a uma despedida. E como já tinha dito, eu detesto despedidas. Vemo-nos por aí.



Vencedores:
Blogger do Ano: Pedro do Cinemaxunga
Melhor Blogue Individual: A Janela Encantada
Melhor Blogue Coletivo: TVDependente
Melhor Crítica de Cinema: Mad Max: Fury Road
Melhor Crítica de Televisão: Mad Men: 7ª Temporada
Melhor Artigo de Cinema: Cinema Mudo Escandinavo
Melhor Artigo de Televisão: The Daily Show with Jon Stewart
Melhor Ranking/TOP: TOP 15: Músicas de Filmes de Terror
Melhor Rubrica: Posters Caseiros
Melhor Reportagem: Cannes 2015
Melhor Entrevista: Entrevista a Shlomi Elkabetz
Melhor Iniciativa: VHS Podcast
Melhor Novo Blogue: Jump Cuts
Melhor Portal/Facebook: Girl on Film
Melhor Festival: MOTELx
Melhor Distribuidora: Alambique Filmes
Melhor Canal: TVCine & Séries
Prémio Memória: Cinedie

domingo, 3 de janeiro de 2016

"Blind Detective", (Man tam, 2013)


Johnston Chong See-tun (Andy Lau) é forçado a abandonar a polícia após ficar cego. Considerado o melhor entre os seus pares pela extraordinária capacidade de dedução, a sua perda é um duro golpe para o departamento. Mas ele é incapaz de parar na sua senda de justiça e dedica-se agora aos casos para os quais a polícia não tem tempo: os casos antigos e aparentemente insolúveis, recolhendo as recompensas. Numa das suas mais recentes investigações cruza-se com a inspectora Goldie Ho Ka-tung (Sammi Cheng), incansável mas ainda um pouco “verde” que se revela o contraponto ideal para o seu estilo mais sóbrio. A nova dupla dedica-se a resolver casos em conjunto, incluindo um que afecta Goldie desde miúda, o desaparecimento da sua melhor amiga Minnie (Cheng Ho-lam) e que a fez tornar-se polícia. Pois que o mundo está cheio de gente mal-ajustada e Goldie tornou-se polícia por causa do trauma de infância. Alguma vez se viu alguém tornar-se agente polícia por genuína devoção à justiça?

Johnnie To está para os thrillers policiais/mafia como, bem… é o que ele faz de melhor (“Election”, 2005; “Mad Detective”, 2007, etc.). No entanto, não se pode dizer o mesmo de “Blind Detective”. A ideia de um agente da polícia/detective cego não é a mais original, temo dizê-lo mas, ainda que aceitemos a premissa absurda, o filme sobrevive mais da química entre Lau e Cheng do que das inúmeras investigações enfiadas à força num filme que já tem muita tralha. Parece que a tragédia da perda de visão de Johnston se arrastou ao longo de vários anos até ficar invisual. Johnston sente ainda os efeitos da solidão, o que pretende sugerir por um lado, o motivo pelo qual ele é incapaz de deixar de dedicar por completo ao trabalho policial e, por outro, a conveniência do aparecimento de uma certa detective. Pelo meio, é ainda apresentado um potencial interesse amoroso para Johnston para insinuar um triângulo romântico que não chega a ter pernas para andar (entenda-se que ainda assim “Blind Detective” tem 130 minutos de duração) e Johnston tem tempo para resolver diversos casos com o do maníaco que atira ácido sobre inocentes até finalmente, se debruçar sobre o caso que desola Goldie há mais de uma década. Adicionalmente, enquanto Johnston foi perdendo um dos sentidos, ele foi apurando outros, conferindo-lhe entre outros, um olfacto extraordinário e que o auxilia a resolver casos que seriam, para outros complicados. Não deixa de me espantar, a facilidade com que o cinema asiático e, o coreano em particular, chama às suas forças policiais uma anedota. Por entre polícias com os instintos de um calhau, chefias mais preocupadas com a manutenção do status quo e políticos que apenas querem ficar bem na fotografia, tem de aparecer um individuo especial para salvar o dia.
“Blind Detective” também não parece ter a certeza daquilo que quer ser. Os personagens alternam entre interpretações mais subtis e o exagero cómico. Lau, a despeito de ter ganho um prémio (surpreendente) pela sua interpretação nesta película, sai algumas vezes, demais da personagem. Ele “esquece-se” de que é suposto ser um invisual, o que é uma franca distracção. Os “casos” nem sempre interessantes que surgem para querer demonstrar vezes sem conta as capacidades fantásticas de Johnston assim como um pretexto para divertir, não duram o tempo suficiente para entreter e acabam por roubar tempo à resolução da investigação principal. Mas até a solução desta peca pela falta de investimento numa direcção clara e uma montagem cuidada. As sequências de acção estão impecáveis, ou não fosse a sua coreografia um dos pontos mais fortes de um filme do Johnnie To. Se ao menos houvesse a mesma atenção para o remanescente… Duas estrelas e meia.

Realização: Johnnie To
Argumento: Ryker Chan, Ka-Fai Wai, Nai-Hoi Yau e Xi Yu
Andy Lau como Johnston Chong See-tun
Sammi Cheng como Goldie Ho Ka-tung
Guo Tao como Szeto Fat-bo
Gao Yuanyuan como Tingting
Zi Yi como Joe
Lang Yueting como Minnie Lee
Cheng Ho-lam como Minnie (adolescente)
Lam Suet como Lee Tak-shing
Philip Keung como Chan Kwong
Lo Hoi-pang como Pang

Próximo Filme: "Parasyte: Part 1" (Kiseijuu, 2014)
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