segunda-feira, 13 de junho de 2016

“MONSTRA – A colheita de 2016” – FIM


“When Marnie was There” ou como o estúdio Ghibli ter anunciado que esta seria a sua última longa de animação anulou o facto de esta ser uma obra inferior ao que os fãs do estúdio estão habituados. Sim, eu acabei de admitir que “Marnie” é uma obra menor do estúdio Ghibli. Deixem a informação assentar. Confesso-me culpada de suspeitar que o próprio estúdio sabia que esta longa deixava algo a desejar e que o anúncio do fim do Ghibli como o conhecemos terá sido avançado para precipitar bons resultados de bilheteira, bem como fazer desvanecer quaisquer dúvidas levantadas pelas primeiras críticas. Esta notícia não será inteiramente surpreendentemente se pensarmos que o realizador Hiromasa Yonebayashi é o realizador de uma das obras menos fortes do estúdio: “The Secret World of Arriety” (2014).


É certo que “When Marnie was There” foi vencedor do Grande Prémio MONSTRA e que foi nomeado para o Óscar de melhor filme animado na 88ª Edição do certame mas, se por esta altura ainda sentem vontade de discutir porque é que um filme nomeado para os Óscares é muito bom, não tenho tempo nem energia para dissertar as vossas fantasias. Mesmo na MONSTRA foi aparente que o filme não foi consensual, não tendo reunido os Prémios do Público (April and the Extraordinary World), Melhor Filme para a Infância e Juventude (“Phantom Boy”) ou o Prémio Especial do Júri (“Little from the Fish Shop”).

“When Marnie was There” é mais uma estória sobre as dores do crescimento mas sem a magia a que Ghibli já nos tinha habituado. Anna Sasaki (Sara Takatsuki) é uma pré-adolescente demasiado consciente de que é diferente dos seus pares. Ela tem olhos azuis, raros entre a população japonesa, que não consegue explicar pois nunca conheceu os pais biológicos e o casal adoptivo que a cria não se mostra receptivo a contar-lhe a sua história. Sentido perante a sua situação um desconforto latente cada vez mais intolerável Anna começa a sentir uma cisão entre ela e a mãe adoptiva Yoriko que apenas aumenta quando descobre que o casal recebe dinheiro para a criar. Jovem demais para compreender os contornos da situação sente que não é amada. Ela fora apenas um bebé estranho, vendido para que outros criassem. A saúde débil e a súbita revelação levam-na a ter um ataque de asma e a mãe, preocupada, decide enviá-la para o campo para recuperar. Lá depara-se com gentes acolhedoras e um cenário bucólico marcado por uma mansão gigante delapidada que exerce uma atracção estranha sobre ela. A curiosidade de Anna empurra-a para mansão onde conhece Marnie (Kasumi Arimura) uma jovem de aspecto estrangeiro e com a mesma idade que rapidamente se torna a sua melhor amiga e confidente.


Com pouco mais de 100 minutos “When Marnie was There” mais parecem duas horas de eventos mal distribuídos e pouco ou nada explicados. Se películas anteriores eram com mais clareza juvenis, desde a “The Tale of the Princess Kaguya” (2013) e “The Wind Rises” (2013) que o estúdio se tem orientado para faixas etárias mais maduras. “Marnie” não é excepção. A pequenada exposta a esta animação arrisca-se a apanhar um aborrecimento de morte, enquanto os adultos vão ser deixados a apanhar pedacinhos de pistas para compreender uma estória que ora não desenvolve ora avança a uma velocidade vertiginosa. Os avanços e recuos seriam desnecessários se não fosse perdida mais de uma hora em acontecimentos quase triviais. Também parece existir uma brincadeira com as memórias e percepções de Anna que não são concretizadas da melhor forma. Marnie apenas interage com Anna mas esta não se importa ou questiona os súbitos aparecimentos e desaparecimentos desta, tal é o frágil estado emocional. Anna só quer pertencer a algum lado e nenhum outro se sente tão segura como quando está com Marnie. No entanto, esta pode não se encontrar no mesmo plano que ela, tornando-se até perigoso para Anna quando esta descura a sua própria segurança para estar com a nova amiga. Mas até esta, vem Anna a descobrir tem uma vida trágica que a leva a reflectir não só sobre o que não possui como o que de facto tem. “When Marnie was there” afigura-se uma aposta arriscada mas acaba por gorar as expectativas iniciais trilhando caminhos familiares e inofensivos até. “Marnie” não é a película mais espectacular do estúdio em termos de desenho, ainda que seja bastante competente. O problema é que esta animação parece querer afirmar de forma convicta a tradição por oposição a demonstrar Ghibli podia e iria adaptar-se aos tempos de mudança. É portanto, sintoma e efeito. Três estrelas e meia.

Próximo Filme: "Kikujiro" (Kikujirô no natsu, 2013)
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