terça-feira, 24 de janeiro de 2017

"Blair Witch" (2016)


Na lista de sequelas que ninguém queria que acontecessem "Blair Witch" há-de estar lá no topo. A sério. Se têm dito que a fariam em 2000/2001 talvez a expectativa fosse grande. Em 2016 é apenas estar a espancar um cadáver. Se já não existe um sopro de vida naquele corpo para quê insistir? A única parte compreensível do processo é a associação ao projeto de nomes como Adam Wingard e Simon Garrett. Dois nomes jovens e promissores que muito devem ao género de found footage ou não estivessem envolvidos na antologia “V/H/S” e a respectiva sequela. Se na altura, “V/H/S” pareceu adiar a morte ou pelo menos dormência do género, “Blair Witch” é a velhinha resignada que sabe que já não há espaço para novos truques. Onde “Blair Witch Project” foi uma espectacular inovação, termos de fundação das raízes do subgénero, a utilização de um micro-orçamento e de uma manobra de marketing genial e, isto entenda-se que a qualidade do filme não foi e não continua a ser consensual, “Blair Witch” é tudo o que já feito antes e nada traz de novo.

Passados dezassete anos após o desaparecimento de três estudantes algures numa floresta americana é encontrado um vídeo com que se acredita ser uma das últimas imagens de Heather (Heather Donohue) em vida. Obcecado com o acontecimento que marcou para sempre a sua vida, James (James Allen McCune) decide embarcar numa expedição em busca da irmã que então perdeu. Apesar do cepticismo quanto à possibilidade de a encontrar viva, Lisa (Callie Hernandez), Peter (Brandon Scott) e Ashley (Corbin Reid) decidem acompanhá-lo para fechar em definitivo esse capítulo da sua vida. Ao grupo de amigos juntam-se ainda Lane (Wes Robinson) e Talia (Valorie Curry) que encontraram o vídeo que espicaça James a embrenhar-se na floresta.
A partir desse momento torna-se bastante óbvio que Simon Barrett e Adam Wingard estudaram com especial cuidado “The Blair Witch Project” (1999), desde o abuso da câmara aos tremeliques e abanões violentos à sequência de ocorrências estranhas que não é muito diferente do que sucede no filme original, ainda que o grupo seja (apenas) um pouco mais diversificado. James é um homem assombrado pelo momento em que perdeu a inocência. Ele e o velho amigo de infância Peter assistiram e ajudaram às buscas iniciais. Lisa pretende aproveitar a tragédia pessoal de James para realizar um documentário. Lane e Talia cresceram com as lendas da bruxa Blair mas mais do que empatia para com os desaparecidos, desejam conhecer a verdade por trás das estórias de terror. Peter está ali para dar apoio ao amigo ainda que considere que estão ali à procura de fantasmas. Para a namorada Ashley é uma viagem de campismo com amigos. Todos têm motivos muito próprios e a maioria não é particularmente simpática. Depois de êxitos entre o público e a crítica como “You’re Next” e “The Guest”, voltaram aos personagens detestáveis de “Tape 56” e, onde, com a maior sinceridade, mal se podia esperar que tivessem mortes lentas e dolorosas. Depois, claro, as personagens fazem tudo quanto podem de mais idiota que se possa esperar incluindo não tomar as precauções de calçado necessárias para impedir ferimentos debilitantes e que possam infectar longe da civilização. Afastar-se do grupo sobretudo se é noite escura e, por fim, o cliché de todos os clichés, separarem-se. A acepção de que a força se encontra nos números poderá passar por mentira num filme de terror pois não são muitas as vezes que tal se viu acontecer. As novidades encontram-se no aparecimento da Bruxa (mas com atenção), se não, podem perdê-la de vista e lapsos temporais. Bem, eles podem mesmo existir ou será apenas mais uma ilusão da bruxa? O final é porventura o que menos relevante “Bair Witch” tem. Desde os créditos iniciais que existe uma noção de que o “final é um novo começo”. Uma perspectiva circular subjacente à própria razão da existência do found footage. As filmagens existem para ser encontradas e um novo grupo de pessoas vá em busca do que quer que causou aquele incidente, colocando-se numa nova situação de perigo. Duas estrelas.


Realização: Adam Wingard
Argumento: Simon Barrett  
James Allen McCune como James
Callie Hernandez como Lisa
Corbin Reid como Ashley
Brandon Scott como Peter
Wes Robinson como Lane
Valorie Curry como Talia

Próximo Filme: "The Autopsy of Jane Doe" (2016)

domingo, 8 de janeiro de 2017

"Haunted Universities" (Mahalai Sayongkwan 2009)


Da Tailândia chega mais uma antologia de terror. Ênfase no “mais uma” que o país dos sorrisos reproduz antologias como Hollywood sequelas. Como é de senso-comum, quantidade nem sempre significa qualidade e, em comparação com os pares “Haunted Universities” encontra-se na parte inferior da tabela… “Haunted Universities” é composto por quatro segmentos diferentes mas que se encontram interligados através de Muay uma jovem que integra uma equipa de salvamento, que percorre as ruas da cidade de Banguecoque ao longo de uma noite numa ambulância.

“The Toilet” – Um pequeno traficante tenta enganar os seus fornecedores e ficar com as drogas e o lucro para si. Numa festa, é confrontado pelos bandidos e acaba por descobrir da pior maneira que é má ideia enganar pessoas metidas em negócios ilegais. Ele apanha uma grande tareia e a namorada, que não fazia ideia do negócio sujo do namorado, acaba por ser arrastada para a universidade onde ele terá escondido as drogas. É bastante tarde e os jovens impressionáveis demonstram receio ao calcorrear aqueles corredores, sobretudo perto da casa de banho das raparigas no quinto andar que se diz estar assombrada. Um dos bandidos não contente com a tareia e ameaças dirigidas ao casal decide arrastá-los e ao seu parceiro para o local para observar com os próprios olhos a assombração.

“The Elevator” – Caloira na universidade, Noknoi é uma descendente directa de um general ditador brutal. Lá entra em conflito com um líder de estudantes que faz questão de a recordar de uma matança que sucedeu num dos velhos elevadores da universidade, a mando do familiar desta. Para se libertar do assédio Noi aceita o desafio de entrar no infame elevador, cujas paredes estão tingidas de vermelho, para disfarçar o tom do sangue ali derramado.


“The Morgue” – Prasert é um aspirante a dentista que não suporta as aulas de anatomia em face do seu terror perante cadáveres e de assombrações. Tanto que é supersticioso ao ponto de usar um amuleto ao pescoço para se proteger. Em uma tentativa de recuperar pontos junto de uma professora depois de entregar o último trabalho após o prazo estipulado, voluntaria-se para substituir um auxiliar no hospital onde ela trabalha. Os problemas surgem depois de ser destacado para a ala mortuária. O “amigo” Joke tenta pô-lo à vontade e prega-lhe inúmeras partidas para que Prasert descontraia. Para azar de Prasert, durante essa noite, Joke prefere marcar um encontro romântico do que fazer o turno para recuperar as notas perdidas e deixa-o sozinho quando mais necessita.

“Stairway” – Sa (Anna Reese) está cansada depois de falar no chat com um desconhecido que termina dirigindo-lhe ameaças. Muay (Panward Hemmanee) mostra-se receosa mas a amiga tenta deixá-la descansada. Como é que o desconhecido iria saber onde elas moram? Se calhar nem vive no mesmo país… E sai para ir buscar comida. Muay, entretanto, decide ir descansar. Na rua, Sa é assediada por um grupo de homens que acaba por a deixar em paz depois de um homem bem-falante e ar respeitável se interpor entre eles. Sa acaba por aceitar a boleia deste mas as suas intenções podem não ser as melhores.

Os segmentos são bastante diferentes na direcção e no tom. Alguns seguem uma narrativa mais clássica no que diz respeito aos fantasmas e repetem inclusivamente cenas de sustos de filmes anteriores. Surpreendente nesta antologia é a sua crueza. É pouco habitual assistir a cenas com nudez e violência incluindo violência sexual. Apesar de o cinema tailandês não fugir a estes temas, sobretudo nos filmes de terror estes momentos são mais sugeridos do que explícitos e mais curtos, para dar ênfase a outros aspectos. Acaba por ser banal ver-se um cadáver, um fantasma ou um zombie, por exemplo, e não o processo da morte em si. Em “Toilet” o bad boy com aspirações a gangster leva uma tareia que seria caso para estar no mínimo em coma e uma caracterização mais condicente. A insistência da câmara neste momento é desnecessária e insólita. Passados alguns segundos, a persistência dos murros do gangster torna-se mórbida e gratuita. Tipo, acho que percebemos à primeira que o Jimmy (Atis Amornwetch) está a levar a lição da sua vida.
Porventura pretendiam prolongar um pouco mais esta curta? No geral “The Toilet” não convence podendo constituir motivo de desistência bem cedo na antologia. De modo curioso é a sequência que envolve um elevador onde os piores pesadelos dos personagens se tornam realidade, que se revela a mais interessante e assustadora de toda a curta. Tal sequência é até mais impactante que a da curta que se lhe segue e se chama… “The Elevator”. Esta, apresenta uma abordagem mais próxima da audiência tailandesa através do recurso à utilização de elementos históricos, como o confronto de estudantes com uma das ditaduras militares que perpassaram pelo país. Com algum potencial, “The Elevator” acaba por se perder numa estória romântica de que não necessitava. A tragédia da carnificina de estudantes no elevador de uma universidade e o encontro com uma descendente de um dos homens que orquestraram esse infeliz acontecimento deveria bastar. Também a actriz principal neste segmento ultrapassa os limites do aceitável na representação, tendo alguns momentos histriónicos que não deviam ter saído da sala de montagem. Mas como a maioria das curtas aqui presentes, transparece alguma falta de capacidade de edição por parte da realização.
“The Morgue” tem uma premissa insólita mas perde-se ao longo do caminho. Temos um estudante de um ramo da medicina com horror a cadáveres que é destacado para estar de guarda a uma morgue. A agonia de Prasert (Pangsit Piseesotgan) é prolongada em cenas contínuas em que não sucedem eventos que se revelem de facto assustadores. Talvez para Prasert. Estará tudo na cabeça dele? Porque as cenas arrastam-se de tal modo que provocam sonolência até aos mais corajosos. Em seguida, vem a última e mais brutal das curtas que compõem este “Haunted Universities” e serve como uma lição contra os perigos da internet. As duas personagens femininas tomam algumas atitudes que parecem escapar à lógica: num momento uma delas recusa boleia de estranhos para logo a seguir aceitar boleia de um outro estranho! A aparência deve ser mesmo tudo! Noutro momento, um intruso entra no apartamento e após assustar e ameaçar a estudante decide sair. O que faz a estudante que foi interpelada pelo estranho? Volta a dormir. É legítimo mas as prioridades estão um bocadinho trocadas não? Outro ponto que deverá levantar alguns pontos de exclamação é que “The Stairway” apesar de seguir duas estudantes numa noite que mudará as suas vidas para a eternidade, afasta-se, tal como “The Morgue” do tema da universidade assombrada. O título em inglês não faz justiça nem reflecte a realidade da antologia. Também as curtas se encontram interligadas mas em alguns casos, a ligação é no mínimo forçada. A conexão não é de todo orgânica, antes um pretexto, para contar estórias que de outro modo podiam não ver a luz do dia. Talvez tivesse sido melhor assim. Uma estrela e meia.

Realização: Bunjong Sinthanamongkolkul e Sutthiporn Tubtim
Atis Amornwetch como Jimmy
Pantila Fuglin como Pon
Panward Hemmanee como Muay
Prinya Ngamwongwarn como Jok (as Parinya Gamwongwan)
Ashiraya Peerapatkunchaya como Noknoi
Pangsit Piseesotgan como Prasert
Anna Reese como Saa

Próximo Filme: Blair Witch (2016)
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