domingo, 11 de junho de 2017

Headshot, 2016


O cinema indonésio tem estado sobre a mira do público internacional, tendo conseguido exportar – com algum sucesso admita-se –, actores como Iko Uwais, Yayan Ruhian, Julie Estelle ou Joe Taslim. Também a dupla Stamboel/Tjahjanto, mais conhecida como os “Irmãos Mo”, não são novatos nestas lides desde que chamaram a atenção pelo fantástico “Macabre” (2009), uma espécie de “The Texas Chain saw Massacre” (1973) dos tempos modernos, tendo-se destacado por terem criado algumas das intervenções mais criativas e interessantes em antologias de cinema a oeste, da 2ª década do novo milénio (“ABC’s of Death”, 2012 e “V/H/S/2”, 2013). A pressão para gerar novos sucessos de bilheteira deve ser tão grande quanto a sentida por Ishmael (Iko Uwais), o personagem principal de “Headshot” que encontra mauzões em cada esquina, os quais chacina com brutalidade, minuto após minuto de acção frenética e um pouco louca. A movê-lo está um dos clichés mais utilizados, irritantes e cansativos em cinema ou telenovela. O pobrezinho sofre de amnésia. Encontrado numa praia como morto, ele é assistido pela Dra. Ailin (Chelsea Islan), a personagem mais desesperada por afeição que tenho visto nos últimos tempos. Que importa que ele tenha uma bala na cabeça? Qual é o mal de alguém ter tentado assassiná-lo? Pelos vistos o desconhecido misterioso é atraente e, se for bonzinho, como aparenta, uma vez que depende da boa vontade de estranhos já que não se recorda do próprio nome, deverá ser fácil amestrá-lo até se tornar o namorado perfeito. Ela até lhe dá o nome do personagem principal do livro que está a ler naquele instante: Ishmael um marinheiro resgatado com vida após o encontro funesto do seu barco com a baleia Moby Dick. Tão romântico. Até que ele é visto pelos mauzões que lhe espetaram com uma bala na cabeça. Eles pertencem a uma seita secreta de assassinos e gostariam que desta vez ele ficasse morto. Ailin acaba por ser raptada e Ishmael toma a decisão de a resgatar, mesmo que isso implique descobrir factos menos abonatórios sobre o seu caracter pré-amnésia.

Para este filme os irmãos Mo vão reciclam estórias clássicas do cinema de acção e vão repescar estórias do próprio corpo de trabalho, de que “Killers” (2014) ou “V/H/S/2” constituem um bom exemplo. Existe um entendimento perfeito de que o argumento é secundário. “Heashot” poderá afugentar alguns cinéfilos devido à sua matriz base que é repetitiva. As suas qualidades encontram-se antes nos momentos de combate corpo a corpo, coreografados pelo próprio Uwais e intercalados com acção bélica que faz recordar “The Raid 2” (2014). A título de exemplo, um dos instantes que ficarão para a estória envolvem um autocarro cheio de inocentes e armas. Muitas Armas. O filme tem ainda alguns repetentes tais como Julie Estelle e Very Tri Yulisman que retomam os papéis de “The Raid 2” “Rapariga do Martelo” e “Rapaz do Taco de Baseball”, perdão, como “Femme fatale do facalhão” e o “Assassino Hipster”. Quem pode julgar os “manos Mo” por estas brincadeiras? Eles sabem o que o público quer ver? Os actores é que poderão se cansar de interpretar o mesmo saco de pancada vezes sem conta. As cenas de luta são longas e extenuantes, exageradas e irrealistas mas que ninguém diga que não têm estilo ou não ficam na memória. Morte por facalhão, catana, metralhadora são o pouco nosso de cada dia. Apenas o estilo shaky cam acaba por confundir mais em alguns momentos do que a compreender a acção dura que se vê no ecrã.

O cinema de acção indonésio apresenta-se como a solução para colmatar o vazio entre a acção ultra-violenta mas estilizada do cinema coreano e o wire fu de uma Hong Kong que parece ter-se esquecido dos seus “Hard Boiled” ou “A Better Tomorrow”. Falta apenas encontrar um meio-termo entre a sofreguidão das cenas de acção e a exigência de um argumento que apresente uma estória nova que valha a pena contar através deste estilo tão peculiar. Duas estrelas.

Realização: Kimo Stamboel e Timo Tjahjanto
Argumento: Timo Tjahjanto
Iko Uwais como Ishmael
Chelsea Islan como Ailin
Sunny Pang como Lee
Very Tri Yulisman como Besi
Julie Estelle como Rika
Yayu A.W. Unru como Romli

Próximo filme: Get Out, 2017
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