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domingo, 28 de julho de 2013
Hideo Nakata no MOTELx
O Hideo Nakata vem ao MOTELx - Festival Internacional de Terror de Lisboa e ouvem-se gritinhos histéricos oriundos de um blogue minúsculo (assobia para o lado). Mas garanto que a sua dona ainda está em recuperação. Afinal de contas, Nakata sempre é um dos pais do J-horror moderno, responsável por filmes como "Ring", "Dark Water", "Kaidan" e, mais recentemente, "The Complex". Aliás, para recuperar até vou ali dentro fazer mais uma maratona de alguns dos seus melhores filmes. Até daqui a uns dias.
domingo, 21 de julho de 2013
"Apartment 1303" (1303-gôshitsu, 2007)
As pessoas têm o direito de saber no que se estão a meter e como já devem ter percebido não sou de intrigas. “Apartment 1303” não é um drama existencialista sobre uma jovem que não consegue lidar com a pressão de sair de casa pela primeira vez. Não. “Apartment 1303” é o típico j-horror mal disfarçado de drama que tenta cavalgar uma tendência que já devia estar morta e enterrada há 10 anos. Podem as meninas japonesas fazer à humanidade o favor de cortar o cabelo e de não o deixar cobrir os olhos?
“Apartment 1303” inicia-se em ambiente de festa: Sayaka festeja com o namorado e os amigos o achado de um apartamento com uma renda muito baixa para passar o período de férias. Em Portugal, a gente avisada costuma utilizar uma expressão que assenta na perfeição no caso: “Quando a esmola é muita, o pobre desconfia”. E de facto, o apartamento era barato demais. Sayaka fica só por momentos e algo tolda-lhe a mente viva e feliz. Num momento fugaz atira-se da varanda do prédio perante o desespero dos que a rodeiam. Segue-se o pranto da família e a descrença. Sayaka era uma rapariga feliz, ela nunca se iria suicidar. Convencida disso mesmo, Mariko (Noriko Nakagoshi) decide investigar as causas da morte da irmã e põe a descoberto uma estória mais antiga ligada ao apartamento e aos seus antigos inquilinos.
A narrativa consiste numa sucessão de improbabilidades. Começa logo pela questão óbvia: como é possível que um apartamento com uma forte atracção pela morte, nunca tenha chamado a atenção das forças policiais ou de outros inquilinos do prédio? Segundo, face ao conjunto de tragédias, talvez fosse melhor fechar o apartamento durante uns tempos não? Parece-me altamente improvável (se calhar é a uma ingenuidade que fala), que os senhorios e companhias imobiliárias, por mais gananciosos que fossem, se quisessem ver associados a um ciclo de morte e destruição.
Eu, amante de terror, aqui me confesso: abominei o pouco que vi da série de filmes “Tomie” (acho que já vai na sequela número 3448563475634), de tal modo, que nunca consegui verter uma linha de texto no Not a Film Critic sobre as películas mas, dentro do género, eram inventivos. E conseguia perceber o apelo, histerismo até, em torno da série. As miúdas eram giras, as estórias absurdas e as mortes sanguinariamente fascinantes. Ataru Oikawa esteve por detrás do filme original e de “Tomie: Beginning” e “Tomie Revenge” por isso, surpreende o facto de ele ter simplesmente “desistido” do cinema. As obras sobre a assassina que não morre e persegue implacavelmente as suas vítimas está bastante longe de ser boa mas tem uma boa dose de inventividade que podia ter sido reaproveitada em “Apartment 1303”.
Uhhhh, “o apartamento tem o número 13, que medo” ou “miúdas giras a ser atacadas por uma força invisível, nunca se viu antes”. Há uma apatia neste filme que me assusta francamente mais que qualquer outro enésimo remake de clássicos do j-horror, o olhar perdido dos actores que se tentam perder nuns personagens em que nem eles acreditam. É mais do mesmo, remastigado e cuspido com outro verniz. “Apartment 1303” não faz carreiras, não para os actores e o mesmo se aplica à equipa técnica. É uma estória confusa, de avanços e retrocessos que não acrescentam nada à estória, a tornam aborrecida e fazem aumentar a confusão sobre o que se está a passar no ecrã. Mais, não se admirem se derem por vós a bocejar e a olhar para o relógio. E pior, o terror, se alguma vez o tiveram, vai desaparecer tão rápido que “Apartment 1303” não é mais do que apenas mais um filme… Apesar do pontual profissionalismo de algum deles, são apenas pinceladas ocasionais num quadro feio, que há muito devia ter sido esquecido numa galeria mixuruca qualquer. Uma estrela e meia.
Realização: Ataru Oikawa
Argumento: Ataru Oikawa, Takamasa Sato e Kei Oshi
Noriko Nakagoshi como Mariko
Arata Furuta como Detective Sakurai
Eriko Hatsune como Sayaka
“Apartment 1303” inicia-se em ambiente de festa: Sayaka festeja com o namorado e os amigos o achado de um apartamento com uma renda muito baixa para passar o período de férias. Em Portugal, a gente avisada costuma utilizar uma expressão que assenta na perfeição no caso: “Quando a esmola é muita, o pobre desconfia”. E de facto, o apartamento era barato demais. Sayaka fica só por momentos e algo tolda-lhe a mente viva e feliz. Num momento fugaz atira-se da varanda do prédio perante o desespero dos que a rodeiam. Segue-se o pranto da família e a descrença. Sayaka era uma rapariga feliz, ela nunca se iria suicidar. Convencida disso mesmo, Mariko (Noriko Nakagoshi) decide investigar as causas da morte da irmã e põe a descoberto uma estória mais antiga ligada ao apartamento e aos seus antigos inquilinos.
A narrativa consiste numa sucessão de improbabilidades. Começa logo pela questão óbvia: como é possível que um apartamento com uma forte atracção pela morte, nunca tenha chamado a atenção das forças policiais ou de outros inquilinos do prédio? Segundo, face ao conjunto de tragédias, talvez fosse melhor fechar o apartamento durante uns tempos não? Parece-me altamente improvável (se calhar é a uma ingenuidade que fala), que os senhorios e companhias imobiliárias, por mais gananciosos que fossem, se quisessem ver associados a um ciclo de morte e destruição.
Eu, amante de terror, aqui me confesso: abominei o pouco que vi da série de filmes “Tomie” (acho que já vai na sequela número 3448563475634), de tal modo, que nunca consegui verter uma linha de texto no Not a Film Critic sobre as películas mas, dentro do género, eram inventivos. E conseguia perceber o apelo, histerismo até, em torno da série. As miúdas eram giras, as estórias absurdas e as mortes sanguinariamente fascinantes. Ataru Oikawa esteve por detrás do filme original e de “Tomie: Beginning” e “Tomie Revenge” por isso, surpreende o facto de ele ter simplesmente “desistido” do cinema. As obras sobre a assassina que não morre e persegue implacavelmente as suas vítimas está bastante longe de ser boa mas tem uma boa dose de inventividade que podia ter sido reaproveitada em “Apartment 1303”.
Uhhhh, “o apartamento tem o número 13, que medo” ou “miúdas giras a ser atacadas por uma força invisível, nunca se viu antes”. Há uma apatia neste filme que me assusta francamente mais que qualquer outro enésimo remake de clássicos do j-horror, o olhar perdido dos actores que se tentam perder nuns personagens em que nem eles acreditam. É mais do mesmo, remastigado e cuspido com outro verniz. “Apartment 1303” não faz carreiras, não para os actores e o mesmo se aplica à equipa técnica. É uma estória confusa, de avanços e retrocessos que não acrescentam nada à estória, a tornam aborrecida e fazem aumentar a confusão sobre o que se está a passar no ecrã. Mais, não se admirem se derem por vós a bocejar e a olhar para o relógio. E pior, o terror, se alguma vez o tiveram, vai desaparecer tão rápido que “Apartment 1303” não é mais do que apenas mais um filme… Apesar do pontual profissionalismo de algum deles, são apenas pinceladas ocasionais num quadro feio, que há muito devia ter sido esquecido numa galeria mixuruca qualquer. Uma estrela e meia.
Realização: Ataru Oikawa
Argumento: Ataru Oikawa, Takamasa Sato e Kei Oshi
Noriko Nakagoshi como Mariko
Arata Furuta como Detective Sakurai
Eriko Hatsune como Sayaka
Próximo Filme: "3 A.M. 3D", 2012
domingo, 14 de julho de 2013
"Colic" (Colic: dek hen pee, 2006)
“Colic” atinge as pessoas, sobretudo mães pré-mamãs em todos os pontos certos. Uma mera visualização do poster onde um bebé está sentado perigosamente perto de uma misturadora chega para provocar arrepios. Perigo a pairar sobre criaturas indefesas como bebés sempre foram a última fronteira e, se o resultado não é tão asqueroso como, digamos, um “Art of The Devil” o impacto psicológico é bastante mais vasto.
Quando Phrae (Pimpan Chalaikupp) engravida por acidente, Pong (Vittaya Wasukraipaisan), apesar de não estar preparado para ser pai decide tomar a atitude correcta e casar com a namorada. Esta decisão implica abdicar de uma série de coisas, visto que Phrae deixa de poder trabalhar e sem recursos financeiros para criar um filho, o casal é forçado a mudar-se para a casa da mãe de Pong, longe do centro da cidade, onde ele trabalha como realizador de filmes publicitários. Uma situação temporária, prevêem. Mas mais uma vez, os acontecimentos desenrolam-se contrários aos desejos do casal, já que Pan se revela desde logo um bebé inquieto, sofrendo bastante com ataques de cólicas que não deverão cessar antes de seis meses. O casal terá de depender durante mais algum tempo da boa vontade da mãe de Pong e de Jeen (Kuntheera Sattabongkot), irmã de Phrae. Afinal, o conto-de-fadas apenas teve a duração de uma gravidez pintada de imagens de felicidade conjugal ilusórias. À medida que o choro de Pan se torna cada vez mais incontrolável, Pong afasta-se e Phrae vê-se isolada, provavelmente deprimida e incapaz de lidar com a situação. Será o choro de Pan fruto de uma condição que afecta quase todos os bebés ou há algo mais, algo invisível que perturba o seu primeiro filho?
“Colic” é um longo filme para quem aguarda por momentos de terror visceral. A narrativa arrasta-se uma boa meia hora mais do que o necessário. Entre os episódios em que o bebé é acossado pela maleita há lugar para o drama entre Phrae e Pong. Mesmo que Pan sobreviva às cólicas será que o seu casamento resiste? O nascimento de um filho constitui um motivo suficientemente forte para que duas pessoas que não estão preparadas para o compromisso avançar nesse sentido? “Colic” é pois uma mistela, não se decidindo entre o drama de uma família disfuncional e o terror sobrenatural. As personagens, nomeadamente o casal são fortes o suficiente para carregar o drama aos seus ombros.
É difícil não nos identificarmos com o seu problema: a criança não para de chorar e, tendo vontade de calar a criaturinha perturbada como não perceber a exaustão e o sofrimento de Phrae e a necessidade de escape de Pong? Os secundários fazem as vezes da audiência, são a família e colegas simpatéticos para com o problema do casal mas que pouco podem fazer para o parar. Thammajira sabe o que faz, construindo uma imagem negra com enquadramentos inteligentes, onde o choro da criança acossada, um quarto solitário cheio de objectos que podem atentar contra a sua integridade física e a existência de pais inexperientes e impotentes, coroam a sensação de que algo muito mau rodeia aquele ser indefeso. A raiz dos problemas de “Colic” reside então no terror sobrenatural, não só uma repetição de eventos de filmes que lhe antecederam como a apresentação de uma proposta dispensável para o desencadear da acção. A somar aos momentos inverosímeis que se sucedem para criar o arrepio fácil (entra a música para assinalar quando nos devemos encolher), são apresentadas sugestões e superstições que ao invés de auxiliar a compreensão da estória, contribuem para uma ainda maior confusão. Afinal, o bebé chora porque tem medo ou porque está a avisar os pais de algo? Está a suceder algo mais entre o casal que nós não sabemos ou os problemas conjugais resultam meramente da falta de preparação? A montagem também não auxilia a resolução destas interrogações pois, se em alturas detém-se demasiado em cenas dispensáveis, no panorama geral a continuidade e lógica são profundamente afectados. Com uma premissa interessante “Colic” é um case-study de película que foi perdida na sala de edição. Os meus pêsames. Duas estrelas e meia.
Realização: Patchanon Thammajira
Pimpan Chalaikupp como Phrae
Vittaya Wasukraipaisan como Pong
Kuntheera Sattabongkot como Jeen
Próximo Filme: “Apartment 1303”, (1303, goshitsu, 2007)
quinta-feira, 4 de julho de 2013
"Blind" (Beul-la-in-deu, 2011)
Soo-ah (Ha-neul Kim) é uma antiga recruta da polícia que cegou há três anos, na sequência de um acidente de viação. Ela ainda tem dias maus, dias em que os nervos lhe toldam a concentração e parece tão desamparada como no dia em que experienciou pela primeira vez a cegueira total e permanente. Soo-ah recusa-se a aceitar a ajuda do orfanato que a acolheu e, não se sabe se o motivo por trás desta atitude é o orgulho ou o facto de achar que não a merece, por não ser alheia à responsabilidade no acidente que a cegou a vitimou o “irmão”. Um dia apanha boleia do táxi errado. O condutor é um assassino em série e Soo-ah está prestes a tornar-se a próxima vítima quando atropelam algo. Soo-ah cedo suspeita que atropelaram uma pessoa e aproveita a confusão do acidente para se escapulir das garras do homem estranho, transformando-se na testemunha improvável do desaparecimento de uma jovem mulher.
Entretanto, surge Gi-seob (Seung-ho Yoo), um jovem desenraizado e extemporâneo que põe em causa as declarações de Soo-ah. Ele semeia a dúvida sobre a credibilidade de uma testemunha já frágil, ao mesmo tempo que faz a própria Soo-ah questionar as suas capacidades. Para o caso é destacado o desajeitado mas bem-intencionado detective Cho (Hie-bong Jo) cujo instinto parece estar a milhas de Soo-ah e do assassino. Estará numa invisual a chave para a captura de um assassino que tem conseguido iludir a polícia? “Blind” é comedido nas personagens mas não se poupa a esforços para as caracterizar. O assassino é calculista, dissimulado, aterrorizante e brutal. A construção da personagem está ligada ao que de pior se pode conceber na existência humana, é conscientemente unidimensional, como se não merecesse mais respeito. Acto consciente é, também, a exploração de Soo-ah como uma mulher que a despeito da incapacidade recém-descoberta explora o melhor dos seus outros sentidos e da sua intuição de polícia. Já Gi-seob utiliza o confronto como modo de escape a situações incómodas e impedir que os que estão à volta o magoem. Ela perdeu o “irmão” com quem foi criada no orfanato e Gi-seob constitui em simultâneo uma recordação penosa e uma nova oportunidade, dando espaço a um laço que poderá ser a fronteira intransponível para um assassino que não conhece o afecto. O detective Cho parece retirado a papel químico da polícia de outros filmes mas revela competência ligeiramente superior. Ele contribui para o mito de que as forças da autoridade sul-coreanas têm um QI bastante inferior ao da população média. Quase como se fosse um requisito para se tornarem polícias. Com uma taxa de crime das mais baixas dos países desenvolvidos é normal que a polícia seja no mínimo, relaxada. Junte-se um sistema penal onde as penas são consideradas leves pela população e o sistema judicial é considerado desclassificado em efeito cascata. O ecrã não é mais do que o reflexo do senso comum da população.
“Blind” é a segunda incursão do realizador Sang-hoon Ahn nas longas-metragens, cuja primeira obra, “Haunted Village” foi um thriller sobrenatural, também tendo por foco uma personagem feminina forte mas com uma narrativa menos coesa e mais improvável. Erm, thriller sobrenatural?! A cena da autópsia improvisada ao cadáver de um cão permanecerá para sempre comigo… Enfim, a julgar pelas duas obras Ahn não deve ter grande impressão do melhor amigo do homem. A personagem de Soo-ah tem ainda algumas idiossincrasias: tão depressa apresenta capacidades sobre-humanas como as alterna com atitudes incoerentes com o treino policial e fraca habituação à condição de invisual. Há deduções demasiado brilhantes para ser reais! O grande problema de "Blind" reside na distribuição desigual de cenas de tensão. Após a primeira metade do filme existe uma cena de perseguição no metropolitano que é uma das mais enervantes (no bom sentido), que vi nos últimos tempos. O final, por contraste é quase anticlimático.
Mas desengane-se quem pensa que “Blind” é mais um thriller genérico. Ou melhor, a indústria cinematográfica sul-coreana alberga um verdadeiro dom que respeita a resgatar uma estória das malhas da vulgaridade e, se a não reinventa, tem pelo menos habilidade para a moldar e polir, sólida como um rochedo. Os sul-coreanos são os melhores contadores de estórias negras, perigosas e envolventes da 7ª arte. Eles não sabem como não fazer um bom thriller de assassinos em série. Devia existir alguma lei científica quanto a isso. É tão certo quanto a existência da gravidade, provas aqui, ali e acolá. Por isso, se tencionam passar ao lado de “Blind” por entender que retrata mais uma mulher desamparada contra um vilão superior, cometem um grande erro. Só não vê quem não quer. Três estrelas.
Realização: Sang-hoon Ahn
Argumento: Min-seok Choi e Andy Yoon
Ha-neul Kim como Soo-ah
Seung-ho Yoo como Gi-seob
Hie-bong Jo como Detective Cho
Yoeng-jo Yang como Myeong-jin
Próximo Filme: “Colic” (Colic: Dek hen pee, 2010