Grupo de amigos dá uma boleia a uma mocinha. O que poderia correr mal?
Estreado em Portugal por ocasião do MOTELx – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa em 2009, que se encontrava ainda apenas na 3.ª Edição, “Macabre” apresentou-se como uma das melhores obras saídas do prolífico cinema indonésio nesse ano.
Em “Macabre” um grupo de amigos segue de carro para Jacarta para se despedir de dois deles: o casal Adjie (Ario Bayu) e Astrid (Sigi Wimala) grávida de 8 meses, que vão começar um novo projecto de vida na Austrália. A meio da viagem efectuam um desvio para convencer Ladya (Julie Estelle) a irmã de Adjie a colocar de parte as suas divergências antes de ele partir em definitivo para um novo país. O plano sofre um revés quando se deparam com Maya (Imelda Therrine) que lhes pede ajuda. Ela diz ter sido roubada e não tem boleia para casa. À chuva e na noite escura, o grupo oferece-se para a levar a casa. Agradecendo a generosidade, a jovem convida-os a tomar uma refeição com a família dela e refugiar-se do mau tempo. Apesar da relutância de alguns, eles acabam por aceitar e entrar. Lá dentro esperam-nos Dara (Shareefa Daanish) a mãe de Maya que parece não ter um dia mais do que 30 anos e os dois irmãos desta. Existe algo de desconcertante naquela família, algo que descobrirão muito em breve. É que a família de Maya gostou tanto deles, em particular da expectante Astrid que não tencionam deixá-los sair de casa… Nunca. Abriu a época de caça e os hóspedes são as presas!
Se “Macabre” parece a repetição de tantos outros slashers é porque não existe qualquer elemento surpresa. Os personagens são conhecidos na maior parte por constituírem os já habituais estereótipos do género como a sobrevivente final, o bom rapaz e o pervertido. Os vilões são maquiavélicos, aterrorizantes e são tão maus quanto seria de esperar de uma família de canibais! Eles gizam um plano para atrair as suas vítimas e quando a mãe Dara, qual chefe de um gangue organizado dá ordem para perseguir, atacar e dominar, vale tudo. A panóplia de armas utilizadas inclui armas como espadas samurai, serras eléctricas (uma homenagem a “The Texas Chainsaw Massacre” de 1974), jarros e tudo o mais que esteja espalhado pela casa que possa ser utilizado como arma mortal. E são ultra-resistentes. Para os eliminar é preciso nada menos que esfaquear, esquartejar, triturar, queimar, enforcar…
O cinema há muito que demonstrou que uma mulher grávida não está livre de perigo, vejam por exemplo “Inside” (2007) ou “Dream Home” (2010) e a pobre Astrid é prova disso mesmo com uma das cenas mais demoradas a deter-se na sua luta para defender a criança por nascer. Já Ladya é uma versão anterior da desenrascada Erin de “You’re Next” (2011), menos eficaz e mais dependente da sorte e dos seus amigos. Tanto ela como Arifin Putra que interpreta o psicopata Adam foram recentemente catapultados para a fama em “The Raid 2: Berandal” (2014) mas é Shareefa Daanish que rouba todas as atenções. Alguns poderão considerar a sua representação exagerada mas não irão ficar indiferentes.
Com olhos grandes, esbugalhados que sugerem a possibilidade de esta penetrar na alma das suas vítimas e extrair os pensamentos e desejos mais profundos da sua vítima e a pronunciação lenta, ponderada das palavras, Dara é inquietante. Aliás, cada aspecto desta personagem soa a uma nota dissonante logo a partir do momento em que a patriarca parece partilhar a idade da prole; vestimenta, cabelo e trejeitos de quem parece anunciar um estilo de vida antiquado; um olhar que não pestaneja e toda uma frieza e atitudes gélidas que sendo suspeitas, fariam visitantes “normais” atalhar caminho assim que tivessem oportunidade. Quando é apresentada a história da família, todos esses elementos desconcertantes encaixam no puzzle, incluindo as mais diversas peças e mobiliário espalhados pela casa.
“Macabre” é um autêntico banho de sangue. Imagino que se aquela casa tivesse sido palco de um massacre real, as pessoas que fazem a limpeza de tais cenários teriam muito trabalho pela frente. “Macabre” vem da Indonésia para provar que a tradição do slasher, ainda que possamos enumerar os lugares-comuns, continua a funcionar. Três estrelas.
Realização: Mo Brothers (Kimo Stamboel e Timo Tjahjanto)
Argumento: Mo Brothers (Kimo Stamboel e Timo Tjahjanto)
Shareefa Daanish como Dara
Julie Estelle como Ladya
Ario Bayu como Adjie
Sigi Wimala como Astrid
Arifin Putra como Adam
Daniel Mananta como Jimmy
Dendy Subangil como Eko
Imelda Therinne como Maya
Mike Muliadro como Alam
Ruly Lubis como Arman
Felicia A. Sumarauw como Bebé
Risdo Alaro Martondang como Sersan Syarief
Cansirano como Sony Samba
Roni Kribs como Petrus
Próximo Filme: "Blood Letter" (Thien Menh Anh Hung, 2012)