domingo, 20 de março de 2016

"Teke-Teke" (2009)


Kana (Yuko Oshima) é uma estudante que acabou de perder a melhor amiga de uma forma brutal. Ela foi assassinada, tendo sido encontrada desmembrada. A sua morte impressiona Kana de tal modo que a instiga a investigar mais sobre o caso. Ela depara-se com o mito-urbano “Teke-Teke”, sobre uma mulher que teve uma morte muito violenta, ao cair para os carris de comboio e foi atropelada por um comboio que partiu o seu corpo em dois. Agora ela assombra as estações ferroviárias procurando fazer dos passageiros e transeuntes incautos as próximas vítimas da sua fúria cruel. O mito não só parecer encaixar-se na perfeição no modo como a amiga faleceu como se pega a Kana que se começa a sentir acossada. Se o mito for verdadeiro, Kana deverá decidir como agir com rapidez, pois que diz que quem trava conhecimento com a estória irá morrer dentro de três dias…

Se “Teke-Teke” faz recordar algo saído da escola de cinema de terror cabeludo de início do milénio, com o slogan imediatamente reconhecível “irás morrer em sete dias”, à cabeça não é por acaso. É aliás tão similar que se não soubesse diria ter sido realizado em 1998. Koji Shiraishi continua a ser recordado pelo seu “The Curse” de 2005, um dos melhores exemplos do subgénero do found footage antes deste se tornar particularmente intragável e irritante e por “Carved”, uma deambulação anterior por terrenos dos mitos urbanos. Com “Teke-teke” dá um passo atrás e vai buscar o que há, em simultâneo, de melhor e de pior no género de terror. “Teke-Teke” é um telefilme inspirado numa lenda local que vai buscar o retrato já tradicional da mulher como um ser monstruoso capaz de devorar e destruir tudo à sua volta, mesmo que não tenha um motivo grave para tal. Se não tiverem por hábito assistir a terror do sudeste asiático e/ou japonês, esta interpretação pode revelar-se interessante. Se este tipo de filmes forem tão óbvios para vós como respirar digamos que a ideia da mulher malévola é muito “fim de milénio”. Já era hora de a figura “mulher” deixar de ser percepcionada como rancorosa, vingativa ou odiosa mas parece que procurar novas soluções de vilões é como pedir ao cinema de terror japonês para se regenerar. Tarefa árdua.
Uma (!) das boas notícias é que “Teke-Teke” não fica o tempo suficiente para uma pessoa se cansar. São apenas cerca de 70 minutos de drama adolescente intermediado por ataques e perseguições. A equipa técnica percebeu que outro dos pontos positivos era a imagem forte do monstro, no entanto, a repetição desta aparição vezes demais porventura devida a limitações de orçamento, estraga o efeito que seria desejado. O maior foco de interesse de “Teke-Teke” constitui a própria lenda pelo que é muito estranha a decisão de a expôr ostensivamente no trailer. Ainda mais estranho se pensarmos que a lenda é conhecida pelo público japonês. O elemento surpresa não existe e se pensarmos nos parcos momentos de acção, pouco mais existe que a exibição de cadáveres. O factor medo talvez resida apenas nas mentes dos mais impressionáveis que não sofrem da dessensibilização advinda de anos a fio de sobre-exposição ao terror tão característico deste país. Restam actrizes jovens e bonitas que só ali estão pela popularidade pré-existente e pretendem demonstrar que possuem talento além dos atributos físicos e personalidades espirituosas que as colocaram no filme. A película necessita delas para atrair telespectadores e, ao mesmo tempo, elas utilizam este pequeno filme de terror, de um especialista é certo, como rampa de lançamento para uma carreira mais “séria”. “Teke-Teke” não é muito mais do que um conceito interessante produzido para consumo rápido e descartado como a tendência da semana. Dá para acreditar que até fizeram uma sequela? Duas estrelas.

Realização: Kôji Shiraishi
Argumento: Takeki Akimoto
Yuko Oshima as Kana Ōhashi
Mami Yamasaki as Rie Hirayama