tag:blogger.com,1999:blog-9317905074217418182024-03-13T03:19:19.702+00:00Not a film criticÀ noite costumava esconder-me dos meus pais para ver filmes de terror. O meu interesse cresceu e cedo voltei a atenção para os filmes asiáticos. Nos intervalos, vejo um filme de Hollywood mas não é a mesma coisa. Como uma viciada, vivo para o próximo susto. Vem procurá-lo comigo.Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.comBlogger405125tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-28710158667449846182021-09-13T22:36:00.002+01:002021-09-13T22:36:42.230+01:00Notas de um Festival de Terror, Edição de 2021 – parte cinco<p>Aqui ficam o quinto e o último dia de festival pois são apenas três filmes. Aproveito para confirmar as minha expectativas <a href="https://notfilmcritic.blogspot.com/2021/09/notas-de-um-festival-de-terror-edicao.html" target="_blank">iniciais</a>: a Edição de 2021 revelou-se uma das melhores dos últimos anos. Venha daí 2022!</p><p>Nota: Estava bastante curiosa acerca de "The Night House" dado advir da lente de David Bruckner ("Southbound", "The Ritual"). Não me foi possível participar na sessão. Por isso, quedo-me por um "Mad God" que, UAU! Mas comecemos do princípio.</p><h2 style="text-align: left;">Dia V</h2><h3 style="text-align: left;">Gaia</h3><p><i>Salvem a mãe terra!</i></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMWNTwf_uXNMezvnxoljKSIXY9bz1lf_yhk3coHjhWRaFlmIEHHFjFRDiH2HKjRrF9hhX2Sw5biYwShWR24ahkXimYgNoyWGk2Uj3bWBKxjJ0gxEAr_TbyAXE6xmAFjCNt4FFN3DP2COs/s1284/gAIA-MOVIE-REVIEW.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="856" data-original-width="1284" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMWNTwf_uXNMezvnxoljKSIXY9bz1lf_yhk3coHjhWRaFlmIEHHFjFRDiH2HKjRrF9hhX2Sw5biYwShWR24ahkXimYgNoyWGk2Uj3bWBKxjJ0gxEAr_TbyAXE6xmAFjCNt4FFN3DP2COs/s320/gAIA-MOVIE-REVIEW.jpg" width="320" /></a></div>Como já tinha dito <a href="https://notfilmcritic.blogspot.com/2021/09/notas-de-um-festival-de-terror-edicao_12.html" target="_blank">aqui</a>, é estranho assistir a "Gaia" com um dia de diferença de "In the Earth". Os<br /> filmes têm demasiadas similitudes. Os eventos decorrem em exclusivo na floresta. Esta parece ganhar vida à própria à medida que o elenco desbrava caminho pela natureza. Os protagonistas sofrem incidentes semelhantes na sua incursão natural pela natureza. Existe uma mensagem ecológica muito forte em alguns personagens. A ideia da natureza como um organismo com uma mente consciente. Ambos os cineastas revelam um fascínio por visões caleidoscópicos e processos químicos e biológicos. Quem ganha a aposta? Uma dica: não é o realizador mais conhecido.<p></p><p>Gabi e Winston são dois guardas florestais que se separam na floresta quando o seu <i>drone </i>cai na floresta. Ferida por meio de uma armadilha, quando ia recuperar o aparelho, Gabi acaba por ser acolhida por Barend e Stefan, uma dupla de homens que vivem em estado quase natural, desligados da vida moderna e dos seus companheiros de espécie. Winston, encontra a pior parte da floresta.</p><p>A experiência de "Gaia" acaba por ser muito mais terrena que "In the Earth", abordando temas como o luto, a desconexão entre pessoas, o consumismo desenfreado, o mito do bom selvagem o egoísmo humano ou o livre arbítrio. A vida em sociedade é complicada? Dá vontade de fugir? É possível. "Gaia" é uma t<i>rip</i> no bom sentido. As sequências de beleza fúngica (acreditem que nunca pensei referir beleza e cogumelos na mesma frase) a surgir pelos orifícios mais estranhos e a multiplicar-se são estarrecedoras. Queria mais disto mas sem as inúmeras cenas em que a protagonista acorda de um sonho. Uma vez, duas vezes, ok. À terceira já começamos a revirar os olhos. "Gaia" exibe uma criatura mas é tão paralela ao que de mais há para apreciar que chamar-lhe um filme de monstros será só redutor. O <i>body horror</i> está mais próximo de um "Anihilation" na imagética e na interpretação do seu significado que um "Saw". Semelhante a outros filmes ou não "Gaia" apresenta uma visão suficientemente singular. Se vos oferecerem destes cogumelos aceitem.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrU0_qV2G9x7ynZWWVTSqz-vnu6QwV6GcyG8LpuCNbe8yTZVcKtAAzQz-C3cZGB1JnPZJSGrup1251KnK5-EaWzz9SDcyYAXM6pPcNbPh38KnnBn_VtS_0aSdDEjdQW-0ppzAszbPxOnY/s81/3-estrelas-e-meia-novo.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="56" data-original-width="81" height="56" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrU0_qV2G9x7ynZWWVTSqz-vnu6QwV6GcyG8LpuCNbe8yTZVcKtAAzQz-C3cZGB1JnPZJSGrup1251KnK5-EaWzz9SDcyYAXM6pPcNbPh38KnnBn_VtS_0aSdDEjdQW-0ppzAszbPxOnY/s0/3-estrelas-e-meia-novo.gif" width="81" /></a></div><h3 style="text-align: left;">The Deep House</h3><p><i>O prazer reside no conceito.</i></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxP1yEY6-1Am4h9k9L4DqyKbaQl5CpDUywX7ratKcDCAmeLen9j6y7TbnsVtnmCqvljqZTjzOoVdMhu9sTXCW9TB67wAPjDRh8At_zvdeGNbouFLMir4RYCTd5w33oZ14CMF5Ljty7JHE/s1200/The-Deep-house-underwater.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="675" data-original-width="1200" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxP1yEY6-1Am4h9k9L4DqyKbaQl5CpDUywX7ratKcDCAmeLen9j6y7TbnsVtnmCqvljqZTjzOoVdMhu9sTXCW9TB67wAPjDRh8At_zvdeGNbouFLMir4RYCTd5w33oZ14CMF5Ljty7JHE/s320/The-Deep-house-underwater.jpg" width="320" /></a></div>Eu nem quero imaginar como foi o <i>pitch </i>deste filme. "Tipo: é uma casa assombrada... debaixo de<br /> água". Só consigo imaginar os produtores de pé a bater palmas e a perguntar quando começam as filmagens. É que nem precisaram de uma sinopse para me convencer a assistir ao filme. As casas assombradas são, regra geral um conceito cansado. Portas que rangem, barulhos que vêm do escuro... É uma fórmula e como todas as fórmulas, passado algum tempo, cansa. Do que este subgénero necessita é de inovação. Que ninguém me venha dizer que uma casa assombrada debaixo de água não é inovador porque mostra ignorância quanto ao género de terror e quanto ao conceito de inovação. Juntar a tensão própria do sobrenatural ao terror claustrofóbico da submersão é um golpe de génio e mais, pode ser o mote para um novo subgénero de sucesso.<p></p><p>Um casal passeia pelo sul de França filmando-se a entrar em casas assombradas para ganhar dinheiro com as visualizações no seu canal de <i>youtube</i>. Ele é um viciado na adrenalina. Ela, mais medrosa acompanha o namorado nas aventuras por amor. É por demais claro em diversas oportunidades para voltar para trás que ela preferia ter umas férias como gente normal. Quando o casal mergulha na casa dos Montagnac revelam-se segredos para os quais nunca podiam estar preparados.</p><p>"The Deep House" tem certamente alguns problemas. Custa-me entender como é que o casal, mesmo aceitando a indicação de um estranho com ar muito suspeito, não sendo perito em mergulho, aceita avançar por águas desconhecidas sem qualquer mapa submarino ou ter um plano B de socorro caso a experiência corra mal. E é certo que corre MUITO MAL. Desde os instantes iniciais a protagonista demonstra uma fragilidade que a irá acompanhar e à audiência como um lembrete de tudo quanto pode correr mal debaixo de água e não são necessariamente fantasmas. Estes são aterradores mais que não seja pelo visão pouco natural através da água turva. Mas o maior susto e que faria a audiência da sala Manoel de Oliveira saltar das cadeiras foi provocado por um peixe. Ainda assim, as minhas palmas para a cena reminiscente do "Jaws" e que resultou. Já o acompanhamento do casal enquanto atravessam as divisões da casa são o arder em lume brando com a excitação acrescida do perigo real de falta de ar. Altamente recomendado para fãs de terror em busca de emoções novas.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrU0_qV2G9x7ynZWWVTSqz-vnu6QwV6GcyG8LpuCNbe8yTZVcKtAAzQz-C3cZGB1JnPZJSGrup1251KnK5-EaWzz9SDcyYAXM6pPcNbPh38KnnBn_VtS_0aSdDEjdQW-0ppzAszbPxOnY/s81/3-estrelas-e-meia-novo.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="56" data-original-width="81" height="56" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrU0_qV2G9x7ynZWWVTSqz-vnu6QwV6GcyG8LpuCNbe8yTZVcKtAAzQz-C3cZGB1JnPZJSGrup1251KnK5-EaWzz9SDcyYAXM6pPcNbPh38KnnBn_VtS_0aSdDEjdQW-0ppzAszbPxOnY/s0/3-estrelas-e-meia-novo.gif" width="81" /></a></div><p>"Mad God"</p><p><i>Do repugnante se fez um mundo.</i></p><p>Afirmo sem pudor ou hesitação que "Mad God" é a obra mais interessante, mais criativa e visualmente impressionante da edição do MOTELx de 2021. Nada me podia preparar para esta obra de Phil Tippett.<br /> Nada. Pensar que "Mad God" é um trabalho de avanços e recuos. Que demorou 30 anos a ser completado e precisou de apoio através de <i>crowdfunding</i>. Tantos anos depois demonstrou ter amplos truques na manga. É surpreendente. Mas também aviso, se os filmes de extrema brutalidade não são a vossa preferência não é "Mad God" que vos vai fazer mudar de ideias. Quando muito só vai repelir e aumentar o vosso asco ao estilo. Eu estive naquela sala cheia (dentro das normas possíveis em tempos de pandemia) e assisti a algumas desistências.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5ivFzREmrvf-fqU-COgNt1JHJktkiMcpRgYrw-Op9hITmIKkXMy0TOCzIlrfdwGK3Oli6qsb3qxJNBXIJF9jLjWCrxmZBQ7fpMpzYEtr2IShac5UHeAjKDg_itWHcJvuuFrlZbjpB0-4/s278/Mad-God-Still.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="181" data-original-width="278" height="181" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5ivFzREmrvf-fqU-COgNt1JHJktkiMcpRgYrw-Op9hITmIKkXMy0TOCzIlrfdwGK3Oli6qsb3qxJNBXIJF9jLjWCrxmZBQ7fpMpzYEtr2IShac5UHeAjKDg_itWHcJvuuFrlZbjpB0-4/s0/Mad-God-Still.jpg" width="278" /></a></div><p></p><p>"Mad God" não choca pelo prazer de chocar, como tenta fazer um Tom Six ou "A Serbian Film". É sobre o inferno na terra após a entidade superior considerar a humanidade além salvamento. O Homem causou o inferno na terra que provocou a sua extinção. O que sobra é não natural, primário, feio, nojento, brutal e Phil Tippett não se coíbe de nos mostrar tudo isso em toda a sua fealdade, em <i>stop motion</i>. Ao invés de fugir o foco é tudo o que é horrendo como se estivessemos a ver o quadro "Jardim das delícias terrenas" do Hieronymus Bosch com uma lupa. Da destruição surge a criação, como Tippett não de cansa de mostrar sobre a forma de metáfora. Detesto a expressão "cinema de autor". Todas as obras têm uma autoria. No entanto, se quiserem saber o que é uma visão singular, vejam "Mad God". Sugestão? Vão de estômago vazio.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpsqa2r3UnbgSwUnNrFpgxoDg2JEFdRvzdCMcP5f4tvSt1RLP8T09e21suEbqYX7BkPnU0JpUeaFmXvZFbmSJO8u6UUDtMboZn-_oMtHhgMfNRGjct7qQOFp3lx3IcVv4j8cpR8DJBhk0/s86/4-estrelas-e-meia-novo.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="58" data-original-width="86" height="58" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhpsqa2r3UnbgSwUnNrFpgxoDg2JEFdRvzdCMcP5f4tvSt1RLP8T09e21suEbqYX7BkPnU0JpUeaFmXvZFbmSJO8u6UUDtMboZn-_oMtHhgMfNRGjct7qQOFp3lx3IcVv4j8cpR8DJBhk0/s0/4-estrelas-e-meia-novo.gif" width="86" /></a></div>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-72693465568036937892021-09-12T16:46:00.001+01:002021-09-12T16:46:51.445+01:00Notas de um Festival de Terror, Edição de 2021 – parte quatro<p style="text-align: left;">O quarto dia de festival, foi aquele em que a mensagem foi o meio e foi o fim. Também se revelou um dia inferior às expectativas.</p><h2 style="text-align: left;">Dia IV</h2><h3 style="text-align: left;">Amusement Park</h3><p><i>A mensagem de Romero</i></p><p>Esqueçam tudo o resto que pensam que sabem sobre George Romero e foquem-se apenas no seguinte: era um realizador altamente consciente da sociedade em que estava inserido. O racismo, o consumismo desenfreado, humanos como meros veículos de pulsões primitivas... nada lhe escapava. Será para sempre conhecido pelos filmes de zombies. Pensar neles como horror gratuito é no mínimo redutor. Por isso, quando este documentário perdido, foi encontrado e restaurado pela Fundação George Romero, instituída depois da sua morte, não assistir não era uma opção. Tudo à volta de "Amusement Park" é intrigante. Foi criado para uma campanha de sensibilização de uma Sociedade de Serviços Luterana do oeste da Pensylvannia com vista a dar visibilidade para o abandono e tratamento negligente dos cidadãos idosos. Chegou a ser lançado, sendo rapidamente esquecido e guardado. Só em 2017 foi encontrada a única cópia existente que passou por um trabalho de restauração. A sinopse? Um velhote simpático tenta aproveitar um momento de lazer num parque de diversões. À medida que o tempo passa, este vai-se tornando cada vez mais infernal e começa a testar o seu espírito.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi33YY5he6syFwe_DaPPYFT8WRCfF9re42YQeEsZLA7StLNQ1l5NC21r7z80AfGI-O499lndVk3YN0866NxHTZv23UYk0B0rE7kjaE54cznc3Gs1vLPjUgiZYizbEGl4_V13UdSGXH4kC0/s681/The-Amusement-Park.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="383" data-original-width="681" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi33YY5he6syFwe_DaPPYFT8WRCfF9re42YQeEsZLA7StLNQ1l5NC21r7z80AfGI-O499lndVk3YN0866NxHTZv23UYk0B0rE7kjaE54cznc3Gs1vLPjUgiZYizbEGl4_V13UdSGXH4kC0/s320/The-Amusement-Park.jpg" width="320" /></a></div><p></p><p>"The Amusement Park" nada tem de divertido. É uma visão infernal da inevitabilidade do envelhecimento com tudo que de mau tem associado: a invisibilidade, a descrença, o paternalismo, a negligência e até asco. O velhote apenas quer divertir-se dentro das suas limitações e a humanidade egoísta não se pode dar ao trabalho de uma palavra de compaixão. O único momento de alívio advém na forma de criança mas até este é rapidamente posto de lado, devido aos adultos à sua volta. O filme é cansativo na exposição da sua mensagem, bombardeando continuamente os nossos sentidos. Não é uma experiência cinéfila agradável. Se a metáfora é óbvia, não parece existir uma mensagem de esperança. Saímos esgotados, vazios e pessimistas quando ao envelhecimento. Brilhante na mensagem, parco na execução. <i>I was not amused</i>.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT5Z2Wnov8ns4lQlEr09y4qcpjNA3YmLJzR3NIv6NOqKuM1BGE5cfxPRlj3EBADSrI9CCBlrMswXof5mb8dwxOCuWLpoH3MaIjHj-6ZHWwyTg71qiIb1f9boYUdYGmEX4LLlOsULjtmUs/s52/2-estrelas-novo.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="29" data-original-width="52" height="29" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgT5Z2Wnov8ns4lQlEr09y4qcpjNA3YmLJzR3NIv6NOqKuM1BGE5cfxPRlj3EBADSrI9CCBlrMswXof5mb8dwxOCuWLpoH3MaIjHj-6ZHWwyTg71qiIb1f9boYUdYGmEX4LLlOsULjtmUs/s0/2-estrelas-novo.gif" width="52" /></a></div><h3 style="text-align: left;">In the Earth</h3><p><i>Visões cósmicas ecológicas</i></p><p>É estranho falar deste filme um dia após assistir a "Gaia", concorrente direto na exposição dos mesmos temas. E no entanto, com todas as similitudes são muito diferentes.<br /></p><p>Este "In the Earth" é Ben Wheatley no seu mais brutal. Percebo agora que ele está à vontade em qualquer cenário. Seja numa garagem com armas de fogo ou na clareira de uma floresta com gadgets tecnológicos, ele vai partir-nos a cabeça com o seu suspense e forçar-nos a sentir cada momento dos seus heróis torturados.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6GaFejDq3JNOTvj99O5xFLQ-4c7x7LijGTrXHJmMvGvNLLX7XVPHKp4Vl1hnujDGtGXj2AGLOxa9HD8xKtGS1i94Z6qJW1SJuw-u1EGJMsXJhKpWt6qn9MC0tA3UmmrGuGKyfwcc2JRo/s930/in-the-earth-cast.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="558" data-original-width="930" height="192" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6GaFejDq3JNOTvj99O5xFLQ-4c7x7LijGTrXHJmMvGvNLLX7XVPHKp4Vl1hnujDGtGXj2AGLOxa9HD8xKtGS1i94Z6qJW1SJuw-u1EGJMsXJhKpWt6qn9MC0tA3UmmrGuGKyfwcc2JRo/s320/in-the-earth-cast.jpg" width="320" /></a></div>Joel Fry interpreta Martin um cientista que envereda por uma floresta com a sua guia Alma, para encontrar a Dra. Olivia Wendel que está a estudar aquele solo fértil em busca de uma solução para a humanidade na natureza. A viagem começa a correr mal quase de imediato. São atacados e despojados de mantimentos por desconhecidos e depois Martin é ferido e deixado a coxear descalço pela floresta. A aventura piora quando ficam à mercê de Zach, um homem há demasiado tempo na floresta e que venera uma entidade desconhecida. Para ele Martin e Alma são meros veículos. Um meio para atingir um fim misterioso. A Dra. Wendel não parece muito melhor. Desconectada da realidade. Louca? Desde cedo somos avisados que a floresta tem um efeito estranho nas pessoas. Será a loucura do isolamento? Algum processo químico nos fungos? A paranoia pós-pandémica?<p></p><p>O par de protagonistas é sujeito a tortura por via humana e dos equipamentos colocados na floresta que provocam explosões de som, visões caleidoscópicas e flashes de luz encadeante. Estes, em particular são também capazes de desorientar e provocar respostas físicas na audiência. A organização do festival devia ter tido o cuidado de avisar o público para a natureza das imagens, designadamente, de fotossensibilidade. Tenho ainda a impressão de já ter visto visões caleidoscópicas mais interessantes no passado. Se gostam de rótulos, "In the earth" pode encontrar-se alegremente nos subgéneros de eco e folk horror com o ocasional gore. Hoje em dia mesmo filmes mais contidos já apresentam o seu q.b. de gore. Num filme de Wheatley, tal não surpreende. “In the Earth” provaria ser inferior às expectativas mas ainda assim consistente o suficiente para fazer avançar o género eco-horror, o qual, suspeito, num contexto de alterações climáticas ainda se vai multiplicar e democratizar nos próximos anos.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpBT2wyvmsKqEm19SeN3IH8bHszAZHERUWB-K1XwQmFbeosFfi3m1lQWDiNWMQlG04lLrRgY3wYgzPUO4cjKahSIv-sCIlSMfDeqdN73djjGyvwRAG1C75QP9TpORfOBcjw5kOWTRQvy0/s77/3-estrelas-novo.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="30" data-original-width="77" height="30" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpBT2wyvmsKqEm19SeN3IH8bHszAZHERUWB-K1XwQmFbeosFfi3m1lQWDiNWMQlG04lLrRgY3wYgzPUO4cjKahSIv-sCIlSMfDeqdN73djjGyvwRAG1C75QP9TpORfOBcjw5kOWTRQvy0/s0/3-estrelas-novo.gif" width="77" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: right;">Notas de um Festival de Terror, Edição de 2021 – parte cinco</div>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-68821065439800842572021-09-11T17:01:00.004+01:002021-09-13T10:21:29.115+01:00Notas de um Festival de Terror, Edição de 2021 – parte três<p> Um dia marcado pela boa disposição.</p><h2 style="text-align: left;">Dia III</h2><h3 style="text-align: left;">Alien on Stage</h3><p><i>On stage everyone can make you laugh</i></p><p>Se não estivesse familiarizada com o fenómeno "The Room", quase acharia estranho o conceito de um grupo de teatro amador composto por motoristas de autocarro de uma pequena vila inglesa, levar uma adaptação séria de "Alien" ao palco. </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdCfym7riSmf_YWMKz7sbU9AG1Gm6H_UDI-C2J5cd_WH17ZcqyuYkS1mr6zCqN9u7ztMqdfFJ1nGnR_fGe05hzy2aANqsfokVF84ltUe8oH1satJ8teUdWi7-MFiigbv3D_PPQqviJtvQ/s1200/alien-on-stage-post-cover.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="1200" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdCfym7riSmf_YWMKz7sbU9AG1Gm6H_UDI-C2J5cd_WH17ZcqyuYkS1mr6zCqN9u7ztMqdfFJ1nGnR_fGe05hzy2aANqsfokVF84ltUe8oH1satJ8teUdWi7-MFiigbv3D_PPQqviJtvQ/s320/alien-on-stage-post-cover.jpg" width="320" /></a></div><p></p><p>Depois de dar vida a pantominas divertidas em natais anteriores para angariar fundos para caridade, a decisão do grupo de criar uma peça inspirada no icónico filme de Ridley Scott confundiu muita gente.</p><p>A encenação revelou-se um fracasso. Passaram de natais de casa cheia para apenas 20 pessoas. Uma adaptação séria de Alien não equivalia às habituais comédias de Natal. Agora, podia dizer que a estória ficou por aqui mas tal não seria verdade. </p><p>No meio do escasso público encontravam-se duas londrinas que encontraram um flyer sobre a peça que as intrigou tanto que as levou a conduzir três horas para assistir à peça. O resultado não podia ser mais feliz: elas fizeram da sua missão levar a peça aos palcos de Londres. O melhor? Conseguiram.</p><p>O documentário “Alien on Stage” é o caminho desde os ensaios penosos e de imaginação fértil amadora até aos palcos do West End. É a estória da Cinderella, se esta conduzisse um autocarro. </p><p>A candura daquele grupo de pessoas ordinárias, que se vêm surpreendidas pelo amor à pequena peça que fizeram com alegria e ingenuidade fazem deste documentário o momento <i>feel good </i>do festival MOTELx de 2021.</p><p>O valor de "Alien on Stage" não reside na componente técnica mas nas emoções que provoca. Como documentário não existem muitas ideias. É quase amador. De facto Lucy Harvey e Danielle Kummer têm pouca experiência como uma breve passagem pelo IMDB vos poderá demonstrar. Sobra um amor incomensurável pelo material. Amam o filme “Alien” e amam a dedicação daquele grupo de pessoas, tratando-as com o máximo de respeito. Se aplicarem a mesma paixão aos próximos projetos e adquirirem mais experiência talvez nos possam vir surpreender.</p><p>“Alien on Stage” não é sobre actores à procura do estrelato. É sobre pessoas normais, com trabalhos normais que fazem o melhor que podem com os parcos meios de que dispõem. Nas horas livres dos trabalhos a tempo inteiro decoram textos, montam cenários e arranjam soluções criativas para encenar uma peça muito difícil e nada óbvia de levar ao palco. Um <i>chestburster</i> de espuma a fazer a sua estreia no palco ao vivo? Brilhante. A despeito de alguns momentos de autoconsciência como um encenador que se recusa a perder a paciência enquanto é filmado ou uma das actrizes a censurar os palavrões que lhe pesam na alma, é nas interações reais entre o grupo amador que o documentário ganha vida. Impossível assistir e não ficar bem disposto.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZxH4S_PvMxwjmrwB3KGYv3pgLOrm2fcT5wuVeA97Z8W2FYuHXyUwNbTyqc4_mrDKpiLphgG1QLxHrnqpkZPste6BD8zzZUIMVn3n0zs3E49BaF-vGm7WQ_7c270CvoQ9R_elz9QViAA8/s81/2-estrelas-e-meia-novo.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="30" data-original-width="81" height="30" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZxH4S_PvMxwjmrwB3KGYv3pgLOrm2fcT5wuVeA97Z8W2FYuHXyUwNbTyqc4_mrDKpiLphgG1QLxHrnqpkZPste6BD8zzZUIMVn3n0zs3E49BaF-vGm7WQ_7c270CvoQ9R_elz9QViAA8/s0/2-estrelas-e-meia-novo.gif" width="81" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><h3 style="text-align: left;">Sweetie you Won’t Believe it</h3><p><i>A comédia física, música cazaque e a descrença entram num bar e…</i></p><p>Já posso riscar da minha<i> bucket list </i>ter assistido a um filme do Cazaquistão e posso confirmar que foi a surpresa positiva do 3º dia.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1cXj1KxnEWTH0VrbtuJ7Bq8abx13btg-AZEVBm9Qhl3hCDTyabyDeyI1cLs2lzOyPgcj5FFY6tM9Lzy7FRO495nz8sEk1JWcAvXfe1X40sXpiFow0sOr14F37KijD8outqZi2k3Cl0Lo/s810/Sweetie-You-Wont-Believe-It.jpeg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="443" data-original-width="810" height="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj1cXj1KxnEWTH0VrbtuJ7Bq8abx13btg-AZEVBm9Qhl3hCDTyabyDeyI1cLs2lzOyPgcj5FFY6tM9Lzy7FRO495nz8sEk1JWcAvXfe1X40sXpiFow0sOr14F37KijD8outqZi2k3Cl0Lo/w320-h175/Sweetie-You-Wont-Believe-It.jpeg" width="320" /></a></div><p>Confirmo que “Sweetie you Won’t Believe it”, mantém a tendência de comédias de terror inesperadas que vêm de mansinho e roubam o coração da audiência depois de “One Cut of the Dead” ou “Extra ordinary”. Ri-me tanto com aquele aquele último que quase tive contracções. #truestory</p><p>“Sweetie you Won’t believe it” segue a alegre tradição da comédia de enganos.</p><p>Farto de Zhanna, a sua mulher grávida ultra exigente, Dastan só quer um bocadinho para si, antes de o bebé nascer. Sem sequer saber pescar marca uma fugida para ir pescar com dois amigos, longe das preocupações do quotidiano. Quer o acaso que assistam a um homem a ser assassinado por causa de um negócio que correu mal e põem-se em fuga do bando de malfeitores pelo meio da mata. Pelo caminho cruzam-se com um serial killer temível, um pai e uma filha muito estranhos (a sério, o que é que aquela gente põe na água?) e a realização de que Zhanna entrou em trabalho de parto. Será que conseguem fugir dos bandidos? Será que conseguem chegar antes que a criança nasça? E se chegarem a tempo, será que a mulher não irá matar, ela própria Dastan, por ter dado de frosques?</p><p>O filme é acompanhado por uma excelente banda-sonora, um mix de folk com eletrónico cazaque que admito já, não me importava de ouvir de novo. Faz recordar as comédias tailandesas e outros filmes mais mainstream como “Tucker & Dale vs Evil”, sem passar por parente pobre. Em particular a sequência de eventos que desembocam numa autêntica bola de neve são um pequeno toque de génio. Digamos que a culpa de tudo quanto sucede no filme pode ser atribuída à mulher grávida. </p><p>Não é isento de erros, incluindo alguns subenredos que podiam ser melhor explorados: Dastan tem as finanças numa miséria. Nos instantes iniciais é focada uma reportagem sobre o desaparecimento de três mulheres. É mostrado um álbum que demonstra um acontecimento vital na vida do <i>serial killer</i>. O par pai e filha é tão peculiar que mereciam mais minutos só para eles. Estas e muitas outras questões ficam por explorar e isto leva-me a uma sugestão: teria sido muito interessante desdobrar este “Sweetie” numa mini série, acompanhando cada grupo de personagens e as suas estórias já que são estas que dão cor ao guião. Não faço ideia como se irá materializar a distribuição internacional deste filme mas estejam atentos. Vale a pena o esforço.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhau2lc-lrD1UxoI3uTvjx9MVciteHbQ-qpfT2P7LdLRbFs0f2hh6lXFuWo0Nay6bscN9G0k0SmzwiwaupZZmJOpd2DMfxjmgXJ2Q_yVrg2yGapT27AsPwWzLyOM3s0ohvPp4GyTVVdzyg/s81/2-estrelas-e-meia-novo.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="30" data-original-width="81" height="30" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhau2lc-lrD1UxoI3uTvjx9MVciteHbQ-qpfT2P7LdLRbFs0f2hh6lXFuWo0Nay6bscN9G0k0SmzwiwaupZZmJOpd2DMfxjmgXJ2Q_yVrg2yGapT27AsPwWzLyOM3s0ohvPp4GyTVVdzyg/s0/2-estrelas-e-meia-novo.gif" width="81" /></a></div><br /><p style="text-align: right;">Notas de um Festival de Terror, Edição de 2021 – parte quatro</p><div><br /></div>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-39258527034397621322021-09-10T12:51:00.001+01:002021-09-11T13:12:43.666+01:00Notas de um Festival de Terror, Edição de 2021 – parte dois<p>O segundo dia festival manteve o padrão do dia de abertura, com duas opções que não podiam ser mais diferentes.</p><h2 style="text-align: left;">Dia II</h2><h3 style="text-align: left;">Post Mortem</h3><p><i>O primeiro filme de horror húngaro</i></p><p>O marketing apresentou ostensivamente "Post Mortem" como a primeira longa-metragem de terror desse país.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEho64XPcBZLY7Y-Y0y-_jAE_NOI7-7E4lAn-1r3O67SuIt91rVgpeREUMw9HlWF_WbyeUZI11fgXcqRkHp2nposyk92XRPbipgbXuUhyvin-uImQ44_mkMdlwDCjoNODxMGg5gODGWsC2o/s1000/6d6354_3f5f11218e504e33a755b4b6a71a15ff_mv2.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="667" data-original-width="1000" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEho64XPcBZLY7Y-Y0y-_jAE_NOI7-7E4lAn-1r3O67SuIt91rVgpeREUMw9HlWF_WbyeUZI11fgXcqRkHp2nposyk92XRPbipgbXuUhyvin-uImQ44_mkMdlwDCjoNODxMGg5gODGWsC2o/s320/6d6354_3f5f11218e504e33a755b4b6a71a15ff_mv2.jpg" width="320" /></a></div><p>Não sei se essa afirmação está correta, mas se for verdadeira, é uma estreia que augura um futuro risonho para o género neste país.</p><p>"Post Mortem" acompanha Thomas, um ex-soldado que teve uma experiência de quase morte durante a I Grande Guerra e agora ganha a vida integrando uma caravana itinerante onde fotografa os mortos, como forma de dar uma última lembrança às suas famílias. É lá que conhece Anna uma menina que já tinha visto antes: na visão que teve quando quase morreu. Ela também lhe desperta a curiosidade para a sua aldeia, plena de cadáveres não enterrados, dado o solo estar congelado.</p><p>"Post Mortem" encontra algumas parecenças no cinema asiático e no horror <i>mainstream</i> como um "Insidious" mas mantém uma identidade própria, distinta.</p><p>Aborda tópicos tão dispares tematicamente e tão próximos historicamente como a fotografia de mortos, as feiras de <i>freaks</i>, a I Guerra Mundial ou a Gripe Espanhola. Qualquer um deles seria merecedor do seu próprio filme. No entanto, funcionam coesos neste "Post Mortem".</p><p>Thomas queda-se numa aldeia como tantas outras por um mundo devastado pela Guerra. As pessoas estão traumatizadas. Já quase não há homens. Há mulheres, crianças e velhos. E estes foram os que conseguiram sobreviver à gripe espanhola.</p><p>A cinematografia esplêndida faz um trabalho delicado de demonstrar pessoas afetadas de modo profundo pelos eventos já mencionados e de enveredar numa jornada sobrenatural, sem fazer pouco dos seus traumas reais. Onde se perde é na relação entre Thomas e Anna, natural nos inícios do século XX, porém perturbadora à luz da época atual. Desculpem lá qualquer coisinha se me faz confusão, ainda por cima num país onde se pretende proibir a homossexualidade por esta supostamente conduzir à pedofilia. A nível técnico, de referir também os efeitos gerados por computador que não são perfeitos mas também não comprometem. Vou estar muito atenta ao cinema húngaro e vocês também devem estar.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpBT2wyvmsKqEm19SeN3IH8bHszAZHERUWB-K1XwQmFbeosFfi3m1lQWDiNWMQlG04lLrRgY3wYgzPUO4cjKahSIv-sCIlSMfDeqdN73djjGyvwRAG1C75QP9TpORfOBcjw5kOWTRQvy0/s77/3-estrelas-novo.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="30" data-original-width="77" height="30" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpBT2wyvmsKqEm19SeN3IH8bHszAZHERUWB-K1XwQmFbeosFfi3m1lQWDiNWMQlG04lLrRgY3wYgzPUO4cjKahSIv-sCIlSMfDeqdN73djjGyvwRAG1C75QP9TpORfOBcjw5kOWTRQvy0/s0/3-estrelas-novo.gif" width="77" /></a></div><h3 style="text-align: left;">After Blue</h3><p><i>Pesadelo psicadélico soft core</i></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlVDNoTH8OAP1m5jgkEsfO2nuui2oixi_Poh4xJLUEnehNq2iBK72KqQiEsoaLu0xbQpcxmUkoiqyW2QOq9euIyZwCBPtiLzRneczsu7dXrOPaCa8gv3qEAaEf7Lz-iUYNeAqb4UmukTk/s1024/after-blue.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="400" data-original-width="1024" height="125" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlVDNoTH8OAP1m5jgkEsfO2nuui2oixi_Poh4xJLUEnehNq2iBK72KqQiEsoaLu0xbQpcxmUkoiqyW2QOq9euIyZwCBPtiLzRneczsu7dXrOPaCa8gv3qEAaEf7Lz-iUYNeAqb4UmukTk/s320/after-blue.jpg" width="320" /></a></div>Por onde começar? O <i>trailer</i> fazia adivinhar uma película diferente com alguma inspiração de um "Mad Max" com a tolice psicadélica de "Flash Gordon" e os filmes de série B e <i>sexploitation</i> dos anos 80. Contudo, NADA me podia preparar para o que iria ver.<p></p><p>Num futuro distópico, os humanos habitam um novo planeta, intitulado "After Blue", após a terra ser destruída. A colonização não correu bem na totalidade. Os homens não se conseguiram adaptar ao novo ambiente e acabaram por morrer, consumidos por pêlos que lhes cresceram nos órgãos (EW). After Blue é então habitado por mulheres, que procuram dar seguimento à espécie através de inseminação artificial e de uma sociedade justa e pacifista.</p><p>Roxy, mais conhecida por Toxic, pelas suas amigas encontra numa praia uma mulher enterrada até ao pescoço na areia, deixada para morrer afogada. Apesar, das advertências das amigas, ela desenterra a mulher, maia conhecida por Kate Bush, que foge não sem antes matar as suas amigas. Julgada pelas outras mulheres Roxy e a sua mãe cabeleireira, são obrigadas a perseguir e matar a assassina se quiserem ser reintegradas na sociedade. O que se segue é a sua jornada pelo planeta exótico. A ação é intercalada com exposição através de uma conversa em jeito confessional em que Roxy é questionada acerca do seu comportamento e desejos mais íntimos.</p><p>Chamaram-lhe um "<i>acid sci fi erotic western</i>". Infelizmente, os rótulos atribuídos se podem fazer aparentar "After Blue" fascinante também conseguem transmitir como este filme é uma mescla incoerente. É lindo de ver? Por vezes é. A visão de Bertrand Mandico não conhece igual. Dou-lhe isso. Gostava de ver mais no futuro? Sim. Precisava de mais estória? Também. Entre o despertar sexual de Roxy e até da mãe Zora e a procura por um espírito comunitário inexistente, não há motivo para me importar seja com quem for. São tudo personagens egoístas, agarradas às suas pulsões de sensualidade ou violência, que querem viver nos seus termos, por mais caprichosos que possam ser. Bertrand Mandico usa e abusa da sexualidade. Entre as inúmeras sessões de masturbação ou interações mais ou menos sensuais, nenhuma é em demasia para a sua objetiva. A sua visão está mais próxima da obsessão do sexo pelo sexo, desde o explícito ao sugerido - um terceiro olho acima da vagina, criaturas cuja morfologia faz lembrar uma vagina ou a quantidade de vezes que a protagonista se acaricia -, até vomitarmos a imagética pelos olhos, que em explorar a sensualidade feminina. E são duas horas disto gente. Ok. Já percebemos. São seres livres, à descoberta que desejam pertencer a um grupo. A esse propósito, informo que não vou integrar o grupo de fãs de “After Blue”.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdn_oQFw-89iaFRg8zHPuZMIdIWo3f22wcyKLaYZkY8Ghwr4Abl7PFhMbv0nMMorx_9ztw8xx0RkwIf8wabPBZ7wtk13RUPURz7QsRJId2eofRlvkPpCAmGsWGXboJbEXPCRjMDtj1vJs/s50/1-estrela-e-meia-novo.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="31" data-original-width="50" height="31" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdn_oQFw-89iaFRg8zHPuZMIdIWo3f22wcyKLaYZkY8Ghwr4Abl7PFhMbv0nMMorx_9ztw8xx0RkwIf8wabPBZ7wtk13RUPURz7QsRJId2eofRlvkPpCAmGsWGXboJbEXPCRjMDtj1vJs/s0/1-estrela-e-meia-novo.gif" width="50" /></a></div><p style="text-align: right;">Próximo: Notas de um Festival de Terror, Edição de 2021 – parte três</p><div><br /></div>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-44809990376936249582021-09-09T12:50:00.004+01:002021-09-09T12:50:51.815+01:00Notas de um Festival de Terror, Edição de 2021 – parte um <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyr4AMmqGQK8A3pdPT2sEy8TM9oZDWmypsUuT3NoGAZhVtPuNEZPTzjl2_pZt2CKk_Wt3iWYcPDOAf6C7OTIlDiNYLDPKe1x_f7vNl9WYuhEuI6Bp-zXOuUeu9t0MPIHt0mbt_O1KUdi0/s1669/CARTAZ_MOTELX.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1669" data-original-width="1180" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyr4AMmqGQK8A3pdPT2sEy8TM9oZDWmypsUuT3NoGAZhVtPuNEZPTzjl2_pZt2CKk_Wt3iWYcPDOAf6C7OTIlDiNYLDPKe1x_f7vNl9WYuhEuI6Bp-zXOuUeu9t0MPIHt0mbt_O1KUdi0/s320/CARTAZ_MOTELX.jpg" width="226" /></a></div><br /><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Em modo de retorno pleno ao MOTELX em modo de fingimento que não existiu uma pandemia punitiva pelo meio e, com a expectativa de que a edição de 2021, se materialize como uma das melhores de sempre. Sim, leram aqui. É porventura um dos melhores cartazes dos últimos 5 anos. O veredito será dado no fim do Festival. Vamos a jogo!</div><div style="text-align: left;"><h2 style="text-align: left;">Dia I</h2></div><h3 style="text-align: left;">"The Green Knight"</h3><p></p><i>O Rei quer ouvir um conto de bravura.</i><p></p><p>A sessão de abertura abriu com o onírico “The Green Knight”, uma longa de David Lowery baseada nas lendas arturianas.</p><p>Numa primeira impressão “The Green Knight” não deixa margem para dúvidas: é um filme da A24. No entanto, tem uma identidade muito própria. </p><p></p><div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhH5595m3I4V5rbfJkp4aIMo5WlFW8t8nCPQwbEw5kD6siGldCgOVXokttNSH6lAsX8-1CluknsVJW-2OUHIMS3ISqCGNXGK6LJfaQMFTRfjoot8jcCe93nrZaqJF9O7bHZ8sJFgevljRY/s1400/The-Green-Knight-Dev-Patel-Garwain.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Green-Knight-Dev-Patel-Garwain" border="0" data-original-height="1400" data-original-width="1400" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhH5595m3I4V5rbfJkp4aIMo5WlFW8t8nCPQwbEw5kD6siGldCgOVXokttNSH6lAsX8-1CluknsVJW-2OUHIMS3ISqCGNXGK6LJfaQMFTRfjoot8jcCe93nrZaqJF9O7bHZ8sJFgevljRY/w200-h200/The-Green-Knight-Dev-Patel-Garwain.jpg" width="200" /></a></div>Dev Patel interpreta o jovem Garwain, sobrinho ocioso e inconstante do Rei. Quer muito impressionar o tio, mas o nível de esforço não acompanha o desejo. Numa noite de Natal surge um cavaleiro verde, uma besta mística que desafia a Távola Redonda para um jogo. Quem aceitar o seu desafio poderá desferir-lhe um golpe mas atenção, daí por um ano, deverá cavalgar ao seu encontro e deixar o Cavaleiro Verde devolver o ferimento. Garwain aceita o desafio sem refletir sobre as consequências e corta-lhe a cabeça. O Cavaleiro Verde sobrevive e larga uma gargalhada triunfal. Daí por um ano a cabeça de Garwain irá voar.<p></p><p>É um equívoco pensar que se irão seguir contos heroicos de capa e espada, duelos sangrentos, a morte de dragões ou o resgate de donzelas escondidas em castelos remotos.</p><p>“The Green Knight” é muito mais sobre a natureza que nos rodeia e humana que os caprichos de cavaleiros em demandas fúteis.</p><p>Inclui uma Alicia Vikander hipnotizante, numa linha ténue entre anjo e bruxa, entre o real e ilusão, por vezes uma espécie de consciência por outras, como um desafio àquilo que Garwain toma como certo. Dev Patel é o cavaleiro atormentado por uma escolha irrefletida, querendo encontrar o seu lugar no mundo, ainda que a sua expectativa de vida possa ser bastante inferior ao que desejava. Com pouco diálogo, a sua face é um espelho permanente de tudo o que não se encontra no galante cavaleiro dos contos: indecisão, temor ou confusão. Se ainda têm dúvidas de que Patel é um excelente actor, permitam-se ver este filme.</p><p>“The Green Knight” é contemplativo, é belo, é simbólico. A natureza é luxuriante. Por vezes é rica, é a vida, como o nascer de uma nação. Por outros é imperdoável, brutal, como o apodrecer de corpos enviados para uma guerra. A verdade encontra-se algures entre a lenda e a versão não linear que nos é contada por Lowery. Mas, oh que linda, é!</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjC8I-sXG7p617V71NLj44pphhUeAyUAXO7SyqbbTJ2Sfq3YGGQwK33uGu0DCb3-xZ3kuMcOPTXnfPB_436ZRwlYr49mhcHfKBa5NX9vkk91VCfWzy3nM0nK71t5DWMjw7JkR88X1AOGcI/s81/3-estrelas-e-meia-novo.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="56" data-original-width="81" height="56" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjC8I-sXG7p617V71NLj44pphhUeAyUAXO7SyqbbTJ2Sfq3YGGQwK33uGu0DCb3-xZ3kuMcOPTXnfPB_436ZRwlYr49mhcHfKBa5NX9vkk91VCfWzy3nM0nK71t5DWMjw7JkR88X1AOGcI/s0/3-estrelas-e-meia-novo.gif" width="81" /></a></div><br /><h3 style="text-align: left;">"The Samejima Incident"</h3><p><br /></p><p><i>Tudo o que está errado com o atual cinema japonês.<br /></i></p><p>Recordam-se dos tempos áureos do cinema japonês em que em meio mundo, incluindo Hollywood, se faziam remakes de tudo o que este lançasse? Eu também não.</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0F6Yzd7eUNRB4i_r_US6DtD20P876N9CBTMf6GBLj4ij-2q0XbfuuGTTfVUC9jzUILRShZ1JotgiEFJEqooa8lBzPKyechbVB8tKSojw6RERvigg-iSl333dYSW7euIP1_ejNvTuMlh4/s848/The-Samejima-Incident-Nana-Rena-Takeda.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="848" height="181" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0F6Yzd7eUNRB4i_r_US6DtD20P876N9CBTMf6GBLj4ij-2q0XbfuuGTTfVUC9jzUILRShZ1JotgiEFJEqooa8lBzPKyechbVB8tKSojw6RERvigg-iSl333dYSW7euIP1_ejNvTuMlh4/s320/The-Samejima-Incident-Nana-Rena-Takeda.jpg" width="320" /></a></div>Nana reúne-se com o seu grupo de amigos numa reunião em formato virtual dado o contexto de pandemia. A dada altura surgem imagens perturbadoras do cadáver de uma das suas amigas e vêem o seu namorado a ser arrastado por uma força estranha. De súbito, todos se tornam prisioneiros nas suas próprias casas e começam a ser acossados por uma força sobrenatural. Entretanto, um deles acaba por confessar que num desafio, dirigiram-se a uma casa onde teria ocorrido um assassinato bárbaro e que terá recaído sobre eles uma maldição… Será que conseguem quebrar a maldição antes que seja tarde de mais?<p></p><p>Como já perceberam “The Samejima Incident” envolve uma maldição (estão chocados eu sei) que está associada a uma lenda urbana (ainda mais chocante). O mais curioso de “The Samejima Incident” é que os argumentista/realizador deve ser fã do David Fincher. Se não, vejamos, “<i>The first rule of fight club is you do not talk about fight club</i>”, ora, segundo a maldição se os personagens mencionarem o incidente, a morte irá recair sobre eles. Oops. Depois, a dada altura e sem contexto, surgem os 7 pecados mortais conectados ao incidente chocante. O que é isto? O cinema japonês a copiar o ocidental?</p><p>Se viram o britânico “Host” (2020), filme-sensação da pandemia filmado quase totalmente através do ZOOM, “The Samejima Incident” é mais do mesmo, com uma concretização inferior.</p><p>O cinema japonês precisa de uma séria reinvenção. Não existe instrospecção sobre o conteúdo que é apresentado. São sequências inteiras de repetição de cenas antes icónicas, que mancham o legado dos filmes que homenageiam e banalizam e ridicularizam os novos filmes. Em 2020, já não faz sentido espreitar em armários para ver de onde provém o barulho. E muito menos que miúdos nascidos no novo milénio e conheçam os Ringu e “The Grudge” desta vida, continuem a congelar de terror. Seria interessante os novos talentos do cinema japonês, espreitar além-mar, para a Coreia do Sul e aprender com uma indústria muito mais criativa e consolidada. Orçamentos limitados não podem ser desculpa para a falta de ideias.</p><p>Costuma-me horrores dizer isto mas, se é para o MOTELX continuar a assegurar que o terror japonês contemporâneo tem presença no seu programa, mais vale não ter nenhum filme deste país.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnWu68nzW56eN_3rpgtxjFfFTrEHsBMwGSundO67bg9b2aIx1Yi75cIErWJ1Z0uB32vRL0sjlQUAjjrC7XLncUG6YusRp1BbVz0E6ZyMVa-Fbkkow-vs5rRAGEFEtQcp35Qc4TUNlPwv4/s29/meia-estrela-novo.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="29" data-original-width="15" height="29" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnWu68nzW56eN_3rpgtxjFfFTrEHsBMwGSundO67bg9b2aIx1Yi75cIErWJ1Z0uB32vRL0sjlQUAjjrC7XLncUG6YusRp1BbVz0E6ZyMVa-Fbkkow-vs5rRAGEFEtQcp35Qc4TUNlPwv4/s0/meia-estrela-novo.gif" width="15" /></a></div><p style="text-align: right;">Próximo: Notas de um Festival de Terror, Edição de 2021 – parte dois</p>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-77417369057122383842021-07-13T19:08:00.001+01:002021-07-13T19:08:00.224+01:00"In Fabric" (2018)<div style="text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/biHUTtV4K40" width="320" youtube-src-id="biHUTtV4K40"></iframe></div><div style="text-align: center;"><i>Uma besta estranha.</i></div><i><br /></i></div><div style="text-align: left;"><i>Filmes sobre objectos assombrados são sempre uma provocação. Além da iminente e fulcral suspensão da crença, há ainda toda uma abordagem que é uma incógnita. Será que os argumentistas optaram por prosseguir com o absurdo puro ou, espera-nos um registo mais poético, quiçá onírico? A oferta é variada e podemos encontrá-la em muitos períodos do cinema: “Christine” (1983), “Trucks” (1997), “The Red Shoes” (2005), “Fridge” (2012), filmes de bonecas assombradas, então, encontram-se a rodos no cinema do sudeste asiático, tal como os slashers nos anos 80.</i></div><div style="text-align: left;"><i><br /></i>“In Fabric” enquadra-se nesse subgénero, mas as particularidades não se quedam por aí. É um pseudo-<i>giallo</i> produzido em plano século XXI, por Peter Strickland, que é mais conhecido pelo seu “Duke of Burgundy”, de 2014. Este é um bom ponto de partida para compreender os temas de “In Fabric” e, por que é que este, não é apenas um filme sobre um objeto assombrado. Strickland renova o interesse em contar histórias sobre as relações humanas, com ênfase na sensualidade, mesmo estas tomem um caminho mais negro ou, de como o desejo pode fazer os amantes tomar atitudes inesperadas ou mais bizarras. Assim, não é surpreendente desenhar-se uma teia de morte e erotismo em torno de um vestido vermelho. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhI7W79pg4yWyZnpcXCNdDOrCfS83pEK6CiL7lTgWIj4CNug06PZLXRyL947xQy_lQh2SaYCqnjtqfZFSYwJdM5UCKleBQII9z4MD4kl3VeLwLGkCqE4M6E-GNb-asQUqq06afkonHGs7U/s625/In-Fabric-sheila-luckmoore.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="352" data-original-width="625" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhI7W79pg4yWyZnpcXCNdDOrCfS83pEK6CiL7lTgWIj4CNug06PZLXRyL947xQy_lQh2SaYCqnjtqfZFSYwJdM5UCKleBQII9z4MD4kl3VeLwLGkCqE4M6E-GNb-asQUqq06afkonHGs7U/s320/In-Fabric-sheila-luckmoore.jpg" width="320" /></a></div><div style="text-align: left;"><br />Marianne Jean-Baptiste interpreta Sheila, uma senhora de meia-idade respeitável mas solitária, que tenta ultrapassar o divórcio e um filho adulto cada vez mais desafiante. O ex-marido já mostrou ter ultrapassado o casamento, arranjando um nova namorada e o filho, nem sequer tenta ser discreto nas manifestações de afecto, na sua relação ardente com uma mulher mais velha, Gwen (Gwendoline Christie). A solidão arrasta, por fim, Sheila para os saldos e os anúncios românticos dos classificados. É no retalho, que uma estranha e enigmática Miss Luckmoore, a convence de que o vestido vermelho trará a admiração e afecto por que Sheila tanto anseia. Seguem-se episódios, de encontros falhados e de sucesso, de tensão no outro e acidentes estranhos. Tudo isto, conectado ao estranho vestido vermelho.<br />Não posso garantir, com total segurança, que não existam outros<i> giallos </i>sobre objetos assombrados mas, na mão de Strickland, a proposta é, sem dúvida única. As analogias a “Suspiria” suscitadas por essa internet fora não são descabidas.<br />A selecção musical do colectivo Cavern of Anti-Matter, dá-lhe a singularidade que uns Goblin trouxeram ao anteriormente mencionado filme de bruxas. "Suspiria" estará sempre indelévelmente ligado ao tema principal. A bizarra Miss Luckmoore podia ter sido retirada do filme de Argento. Sem qualquer alteração, encaixava que nem uma luva no imaginário desse realizador. O comportamento e aparência desta personagem, em conjunto com o das outras colegas de loja, parecem sugerir a existência de um convénio de bruxas. Existe um momento, o qual não vou desvendar para manter o interesse, entre Luckmoore, o dono da loja e um manequim, que é tão peculiar, que não posso deixar de me perguntar, dado que não acrescenta nada à história, se não foi uma ideia posterior que o realizador/argumentista, certamente insistiu para colocar no filme, somente pela imagética. E, em simultâneo, não consigo imaginá-la num outro filme.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikwR1kyHoYHHrfe1QclvveBnxb96XKNjJQAtG4xk_1r0ETzQqn2FZuitXe6No-kF_K7QhnWbturSnBtcixCChm4xAFas4KkEGO7nt9MXheKEwFZSx0kJHe1UuSRxrzAMag4uzK0PERJ3Q/s1160/In-Fabric-cast.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="1160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikwR1kyHoYHHrfe1QclvveBnxb96XKNjJQAtG4xk_1r0ETzQqn2FZuitXe6No-kF_K7QhnWbturSnBtcixCChm4xAFas4KkEGO7nt9MXheKEwFZSx0kJHe1UuSRxrzAMag4uzK0PERJ3Q/s320/In-Fabric-cast.jpg" width="320" /></a></div><div style="text-align: left;">Mas a mensagem porventura mais ainteressante é a crítica ao consumo que nos destrói, mais do que um vestido assassino. Strickland não se coíbe de inserir alguns anúncios televisivos da loja, estridentes e hipnóticos em igual medida, que funcionam como mensagens subliminares para a compra. Uma homenagem a “They Live” (1988), não é descabida.<br />O realizador demonstra ainda ser amigável ao universo LGBTQI, devotando-lhe, se não, as estórias mais desenvolvidas, pelo menos, uns dos momentos mais interessantes de todo o filme, em particular, os chefes de Sheila, Stash e Clive, demasiado, entusiásticos acerca de narrativas da vida pessoal dos funcionários e de clientes.<br />“In Fabric” não é isento de críticas. Por vezes, transmite uma sensação de falta de auto-controle de quem está atrás da câmara. O realizador não sabe quando parar. Deixa a câmara rolar, muito depois de já ter demonstrado o seu objetivo. Isso, alonga uma estória que não precisava de duas horas para ser contada e anda em círculos.<br />O filme assenta, por fim, em três linhas principais: o <i>slasher</i> (que não o é), o erotismo ligado a pulsões de morte e a crítica social, resultando, como comecei por referir, numa estranha besta. Três estrelas e meia.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDi3pgvtoGWF09O5ndbhyphenhyphenE4xP7D-2utr_blcNiv0REmZh0yTVJjuKA9A7hcoz8mcVT1-COUh6r6zKpuJiuvXgN9FrlWg5NSY66iBoTrNOe8enNDVLIfPzGaGUIGoTfL7cxi_NTJdIzDgA/s1000/In-Fabric-offical-movie-poster-2018.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="675" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjDi3pgvtoGWF09O5ndbhyphenhyphenE4xP7D-2utr_blcNiv0REmZh0yTVJjuKA9A7hcoz8mcVT1-COUh6r6zKpuJiuvXgN9FrlWg5NSY66iBoTrNOe8enNDVLIfPzGaGUIGoTfL7cxi_NTJdIzDgA/s320/In-Fabric-offical-movie-poster-2018.jpg" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrU0_qV2G9x7ynZWWVTSqz-vnu6QwV6GcyG8LpuCNbe8yTZVcKtAAzQz-C3cZGB1JnPZJSGrup1251KnK5-EaWzz9SDcyYAXM6pPcNbPh38KnnBn_VtS_0aSdDEjdQW-0ppzAszbPxOnY/s81/3-estrelas-e-meia-novo.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="56" data-original-width="81" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrU0_qV2G9x7ynZWWVTSqz-vnu6QwV6GcyG8LpuCNbe8yTZVcKtAAzQz-C3cZGB1JnPZJSGrup1251KnK5-EaWzz9SDcyYAXM6pPcNbPh38KnnBn_VtS_0aSdDEjdQW-0ppzAszbPxOnY/s0/3-estrelas-e-meia-novo.gif" /></a></div><br /><div style="text-align: left;"><div>Realização: Peter Strickland</div><div>Argumento: Peter Strickland</div><div>Elenco:</div><div>Marianne Jean-Baptiste como Sheila</div><div>Fatma Mohamed como Miss Luckmoore</div><div>Jaygann Ayeh como Vince</div><div>Gwendoline Christie como Gwen</div><div>Leo Bill como Reg Speaks</div><div>Hayley Squires como Babs</div><div>Julian Barratt como Stash</div><div>Steve Oram como Clive</div></div>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-7902918046614930222021-01-09T21:52:00.000+00:002021-01-09T21:52:20.889+00:00Top 10 Filmes 2020 - Parte II<p>A primeira parte pode ser consultada <a href="https://notfilmcritic.blogspot.com/2021/01/top-10-filmes-2020-parte-i.html" target="_blank">aqui</a></p><p>6) O dia em que as pessoas começaram a Explodir!</p><p>“Spontaneous”</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgF0ld_B287D8ZzfG0kNId5ZS33X7dQalWKyp-YqAZaermj5FLOwL-saKq0PZ9feHRKz5Lv_u9rutoAyTOgXWjDae2IN4YAP9yC4JDRUdhW26Shy_5huHsapfqPJe9-kS8Zhh-KDYMpuDc/s660/katherine-langford-as-mara-in-spontaneous-movie-1599041906-660x330.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="330" data-original-width="660" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgF0ld_B287D8ZzfG0kNId5ZS33X7dQalWKyp-YqAZaermj5FLOwL-saKq0PZ9feHRKz5Lv_u9rutoAyTOgXWjDae2IN4YAP9yC4JDRUdhW26Shy_5huHsapfqPJe9-kS8Zhh-KDYMpuDc/s320/katherine-langford-as-mara-in-spontaneous-movie-1599041906-660x330.png" width="320" /></a></div>E se um dia os teus colegas de turma começassem, de súbito, a explodir? Qual seria a tua reacção? A resposta óbvia é fazer o que Mara (Katherine Langford) e os seus colegas tentam, a custo, fazer: viver. Para adolescentes, isto é, aquela fase estranha do desenvolvimento, sobreviver por si só, pode já ser uma realidade penosa. Sem as explosões espontâneas, eles têm de lidar com o tão temido acne, passar pela tentação do sexo, drogas e álcool, passando pela construção de uma imagem corporal saudável, as sempre complicadas relações amorosas e o fazer e desfazer de amizades, além do constante questionamento identitário. Parece pouco? Da confusão inicial, emerge Dylan (Charlie Plummer), um colega de turma a quem Mara nunca prestou atenção, a confessar com leveza a sua paixão por ela. Podem morrer em qualquer altura por isso, mais vale admitir os seus sentimentos. Ela retribui, sabendo, de antemão, que têm um alvo sobre as suas cabeças e que podem ser a próxima vítima da estranha maldição que se abateu sobre a turma. Assim, o que começa num registo de comédia de terror evolui para uma comédia romântica dramática. Há mil e uma formas de explorar as dores de crescimento. A explosão aleatória e espontânea de corpos humanos é apenas mais uma! E, neste caso, resulta na perfeição. “Spontaneous” trilha o caminho do luto e a espiral de decadência a que tal pode conduzir: se é dificil um adulto sair do outro lado intacto, imaginem malta que ainda está nos seus anos formativos e a adquirir mecanismos para lidar com a vida, as pessoas que almejam ser e as inevitáveis ilusões e desilusões que lhes surgem no caminho. Langford e Plummer têm desempenhos sólidos e credíveis. As suas personagem são espirituosas, atrevidas e rebeldes da forma que os verdadeiros adolescentes são mas sem nunca se tornar irritantes, como num argumento da Diablo Cody. Sem tom moralista, uma mensagem implícita a extraír deste “Spontaneous” pode ser “Carpe Diem”. <p></p><p><br /></p><p>7) O dia repete-se. </p><p>“Palm Springs”</p><p>Deve haver qualquer coisa de irónico, uma piada cósmica diria, com o lançamento de um filme sobre reviver o mesmo dia, todos os dias, num <i>loop</i> infinito, numa altura em que meio mundo se encontrava fechado em casa à conta de uma pandemia, a descobrir quão aborrecidas são as novas rotinas. “Palm Springs” é um foco de luz no meio da escuridão. Um dos bons filmes que têm saído nos últimos anos a pegar no conceito e encontrar-lhe novas perspectativas de análise que permitem que esse não se torne, passe a piada, repetitivo. Um deles é o pormenor óbvio de que não é preciso ser-se uma pessoa terrível para lhe suceder tal destino. Acho que não escapa a ninguém como a vida pode ser injusta. Por outro lado, por que não dar à miséria uma companheira? Andy Samberg encontra-se igual a si próprio no estilo cómico que tão bem se lhe conhece mas é uma Christin Milioti, melancólica, empática e com timing para comédia impecável capaz de fazer concorrência ao companheiro de infortúnio. A sua Sarah que abraça a certeza de ser a ovelha ronhosa da família e embarca na autodestruição é digna da nossa piedade e faz com que queiramos torcer por ela apesar do segredo que carrega, todos os dias, como um fardo. É óbvio que a dupla tem personalidades diferentes e o argumento extrai daí as maiores gargalhadas. É também inequívoco que são almas gémeas que ainda não perceberam que o são. De resto, é na energia trocada entre Samberg e Milioti que reside a alma desta comédia romântica. “Palm Springs” ainda atira alguns conceitos quânticos complicados de última hora que não interessam a ninguém mas também não prejudicam o filme. O que fariam se tivessem todo o tempo do mundo?</p><p><br /></p><p>8) O que a mente esconde.</p><p>“I’m thinking of Ending Things”</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjy4UzTYv3z1ue2GnHv3ugrt2bfieqLkkiJvP80OF53Gf6r0mO_2VXdWx7B9RMXRbqa0gjL8DSOtzdUJ5Hh42XrdCwG2dYW-MF_iPd3crLkA9tEhfN-2nQsppM7js4xXdX-1rp20McIbqI/s1800/im-thinking-of-ending-things-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1012" data-original-width="1800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjy4UzTYv3z1ue2GnHv3ugrt2bfieqLkkiJvP80OF53Gf6r0mO_2VXdWx7B9RMXRbqa0gjL8DSOtzdUJ5Hh42XrdCwG2dYW-MF_iPd3crLkA9tEhfN-2nQsppM7js4xXdX-1rp20McIbqI/s320/im-thinking-of-ending-things-1.jpg" width="320" /></a></div>Durante algum tempo debati-me com o significado deste filme e se de facto tinha gostado de o ver. O facto de ter permanecido na minha memória venceu a minha hesitação inicial. Que interessa se há uma utilização abundante de citações de autores que não li e o explanar de teorias que não me interessam por aí além? “I’m thinking of Ending Things” é um affair tão intimista e tão pensativo quanto o “Eternal Sunshine of The Spotless Mind”. Embora seja, porventura, um momento menos pessoal e mais solitário por parte de Charlie Kaufman, dado que este filme é, afinal, a adaptação de uma obra literária a que, especulo, não falte em densidade. Acompanhamos um casal que se juntou há pouco tempo, numa viagem à quinta dos pais dele para apresentar a nova namorada. Na viagem, na casa, em cada momento, a jovem e, isto é importante – o nome dela varia conforme a perspectiva –, contempla terminar a relação, mas será mesmo a isso que se refere? O filme dá uma volta para o surreal, quando os pais são apresentados e as situações se tornam embaraçosas e insólitas à medida que vão discorrendo sobre o seu querido menino e os seus feitos. O filme é narrado pela jovem. Entretanto, surge um senhor mais velho, no seu trabalho de limpeza numa escola, enquanto a vida passa por ele. Qual será a ligação? Acho que a ordenação cronológica e a obsessão por encontrar um inicio, meio e fim podem redundar na resposta negativa ao filme. Quem viu as obras anteriores de Kaufman saberá que nada é por acaso e o significado está lá, mesmo que este seja diferente consoante a pessoa que o visionou. O que melhor resulta é a construção do interior, tão complexo, cheio de ego e esperança, aspirações, desejos concretizados e outros que não passam de uma miragem de que a nossa jovem é incorporação viva e o Jesse Plemons é brilhante na encarnação do cansativo Homem aspiracional por que qualquer mulher teria o prazer e a honra de se entregar. Ou assim se quer fazer parecer. <p></p><p><br /></p><p>9) Julgados por um pensamento</p><p>“The Trial of the Chicago 7”</p><p>Eis a segunda entrada de Sasha Baron Cohen na minha lista de final de ano e num filme também político. Tenho a sensação de que “The Trial of the Chicago 7” passou despercebido, pelo menos quando comparado com “Da 5 Bloods” do Spike Lee. Enquanto um menciona a oposição à Guerra no Vietname pelos olhos de hippies e objetores de consciência, o outro fala da Guerra do Vietname por quem a viveu na pele e os traumas que esta provocou. São ambos profundamente políticos e pertinentes para o momento histórico que atravessamos. Nos anos 70, como neste preciso momento, as questões raciais estão na ordem do dia e a concretização efetiva de justiça é questionável. Aaron Sorkin conduz um elenco vasto, com uma excelente direção, num dos momentos mais emblemáticos da oposição à Guerra e conta a história das intenções, das tensões, do incidente e do drama em tribunal, como se de um documentário se tratasse. Acompanhei o percurso colada ao ecrã, enquanto me divertia com as liberdades exaltadas na época e o desafio constante dos homens que sabiam estar a ser julgados por motivos políticos revanchistas e me indignei com o despudor com que as forças políticas e o Excelentíssimo Juiz Julius Hoffman demonstrava preconceito para com as suas ideias e lhes negava justiça em cada momento. Apesar das diversas iterações em cinema e documentário, a história nunca me pareceu tão essencial de revisitar como em 2020. A exposição mediática da excessiva prisão de homens não caucasianos, o movimento Black Lives Matter, a ascensão dos supremacistas brancos com o apoio do seu Presidente e do Congresso americano urgiam a que se fizesse uma revisão histórica e perceber que, afinal, os passos dados desde 70 foram tímidos e pouco ou nada fizeram para mudar o <i>status quo</i>. Sorkin conduz os trabalhos com o respeito e a sabedoria que já lhe (re)conhecíamos, ainda que faça sempre um piscar de olhos às suas películas anteriores. Tudo isto para dizer que a história não é dele mas o filme é indelevelmente seu. </p><p><br /></p><p>10) O dia repete-se. Novamente.</p><p>“Boss Level”</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFaN5UoMmveOD9f0-rA1fFGVy8GUG3QRODxN4jWBpk76IFq6HWNPDPq9XX8aek06qzuj4Lg8B_6pmk7qkc3hp5dDSYsrbBzZ2_Q3VLl9U4abr7kjMNkeJbGqc9_kCTAqX5B1rCjsGVXck/s450/Boss-Level-movie-film-sci-fi-action-2020-Frank-Grillo-x-2.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="188" data-original-width="450" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFaN5UoMmveOD9f0-rA1fFGVy8GUG3QRODxN4jWBpk76IFq6HWNPDPq9XX8aek06qzuj4Lg8B_6pmk7qkc3hp5dDSYsrbBzZ2_Q3VLl9U4abr7kjMNkeJbGqc9_kCTAqX5B1rCjsGVXck/s320/Boss-Level-movie-film-sci-fi-action-2020-Frank-Grillo-x-2.png" width="320" /></a></div>Confesso que não esperava incluir este filme na minha lista de melhores do ano. Raios, nem sequer alguma vez pensei que um filme com o Frank Grillo pudesse alguma vez integrar um top de qualquer coisa com “Melhor”, no título. Ah, e antes que digam que o filme é de 2021, tenham lá paciência que o filme já foi exibido em algumas salas no ano de 2020, portanto, vou recusar sempre essa crítica. Certo é que se alguém me falasse no Grillo para me vender um filme, iria responder com um inequívoco "não" e atirá-lo para o fundo da lista, que é GRANDE. Para mal deste “actor”, para mim será sempre aquele gajo de higiene duvidosa, que transpira machismo e ação chunga por todos os poros do corpo. Não é exactamente uma imagem sexy aqui para a <i>je</i>. Agora, se me falarem no conceito “Groundhog Day”, só irei perguntar a que horas querem que ligue a televisão. Em “Boss Level”, Grillo interpreta um agente de elite reformado que entrenta todos os dias, desde o momento em que acorda, tentativas de assassinato por parte de desconhecidos que o tentam alvejar, fazer explodir ou esquartejar. Porquê? Ele não sabe, mas também ele não é muito esperto. Se calhar tem algo que ver com o trabalho SUPER SECRETO QUE A EX DESENVOLVE NUM LABORATÓRIO OPERADO PELO ULTRA SUSPEITO MEL GIBSON! A esposa é uma Naomi Watts competente mas resignada ao papel de mãe e um Mel Gibson que está em sintonia com o seu Nicholas Cage interior e abraçou o facto de fazer todo o tipo de filmes por um cheque e que acabam por ser os papéis mais interessantes da sua carreira. O estilo videojogo, tão em voga e a que “Guns Akimbo” ou um “Free Guy” ainda por estrear se entregam é refrescante quando assumido sem preconceito. Os níveis de jogo, com os respetivos “Boss” <i>over the top</i> e as frases que lançam para o público consciente da piada que se encontram num delicado equílibrio entre a poesia e o azeite, são, no mínimo, um retorno à infância. Foi só um dos filmes mais divertidos e inesperados do ano. Pensem em: “Crank” + “Goundhog Day” + “Street Fighter”.<p></p><p><br /></p>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-31054991180936915172021-01-05T18:36:00.001+00:002021-01-05T18:36:27.604+00:00Top 10 Filmes 2020 - Parte I<p><br /></p><p>Quem me visita há alguns anos sabe que não tenho por hábito fazer tops anuais, apesar de ser fã de listas. É uma forma sempre interessante de organizar informação e descobrir novos filmes mas pouco mais. Os filmes que colocamos no topo hoje, podem não ser os mesmos amanhã. Como tal, tenho sempre receio de dizer que são os melhores do ano. Mas este foi um ano atípico e anos atípicos exigem respostas diferentes. Assim, aqui fica, sem mais demoras, a 1.ª parte dos meus filmes favoritos de 2020:</p><p><b><span style="font-size: medium;"><br /></span></b></p><p><b><span style="font-size: medium;">1) A história de uma irmã</span></b></p><p><b>"Gretel & Hansel"</b></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0aUGqkx91L8ZBSYio3vxbhNKaDlOIwh3G4Czs8mk_08FPKXmC2_URyOPmiZG17VSge0xGD0aJATZjlvBG0S8_lFkUNin5GsCv4Bh-fTHO_MLgq568tGxfUKFhycp_a-0ZkmBDQnAanJM/s1415/gretel-and-hansel-poster-art.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="759" data-original-width="1415" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0aUGqkx91L8ZBSYio3vxbhNKaDlOIwh3G4Czs8mk_08FPKXmC2_URyOPmiZG17VSge0xGD0aJATZjlvBG0S8_lFkUNin5GsCv4Bh-fTHO_MLgq568tGxfUKFhycp_a-0ZkmBDQnAanJM/s320/gretel-and-hansel-poster-art.png" width="320" /></a></div>Grimm e Perkins são no papel e na execução uma combinação de sonho. Pode ter sido uma abordagem tímida e subtil mas 2020 foi o ano dos filmes sobre mulheres. Depois do #metoo expôr o sexismo e hipocrisia que permeiam toda a existência dos géneros, era uma questão de tempo até o cinema enveredar por um caminho que já tardava. De um “The Invisible Man”, a “The Assistant”, passando por uma “Wonder Woman 1984” – não sem a sua dose de polémica –, em 2020 a histórias das mulheres tiveram primazia.Porque haveria Hansel de ser o personagem principal? Perkins transpõe a carga pesada que todos os seus filmes corajosamente envergam, para um conto de crianças que já quase não o são e as bruxas que os acossam, num festim lindo para a vista e perturbador para a mente. Sofia Lillis é uma Gretel recém agraciada pela puberdade que tenta fugir por todos os meios à penúria e aos maus-tratos que esta traz, para si e para o irmão criançola e desatento, sem ter de se acormodar ou perder a sua identidade. Num tempo que não se sabe muito bem quando é mas é bem evocativa dos horrores de uma idade média e das suas superstições, acompanhamos os dois irmãos à medida que navegam de poiso em poiso, à deriva, até cairem nas garras da demasiado amistosa para ser real Holda (Alice Krige). Gretel conta apenas com o espírito inquisidor permanente e o ardor de sobrevivência para escapar a um terrível destino. Os sintetizadores e um design de produção com laivos de inspiração art-deco, ainda ajudam mais à sensação de anacronismo e surrealidade. Um dos momentos cinematográficos mais intrigantes do ano. Para mais notas sobre este filme podem acompanhar o meu <a href="http://www.segundotake.com/podcast/2020/12/27/episodio267" target="_blank">contributo</a> para o podcast Segundo Take, no qual se faz o balanço de 2020, com vários bloggers e podcasters convidados.<p></p><p><br /></p><p style="text-align: left;"><b><span style="font-size: medium;">2) Borat torna-se pai!</span></b></p><p><b>"Borat Subsequent Moviefilm: Delivery of Prodigious Bribe to American Regime for Make Benefit Once Glorious Nation of Kazakhstan"</b></p><p>Este Borat reune várias distinções: é o 2.º na minha lista pessoal, é uma boa segunda sequela e o título mais maior grande a largas milhas de distância dos outros filmes que enumero e, cujo título, desafio a que enumerem em voz alta sem ir consultar a Wikipedia. A sequela é, também, o que poucos esperavam de Sacha Baron Cohen, neste ano para ele, a todos os níveis extraordinário, tendo surgido num registo tonalmente diferente mas em nada inferior em “The Trial of the Chicago 7”, depois de um marcado por um atroz Grimsby entre outros papéis histriónicos ou esquecíveis. Que ninguém me interprete mal, eu repito e subscrevo todos os elogios rasgados à novata Maria Bakalova que é quem brilha mais alto no final. No entanto, onde o primeiro Borat exigia atenção e o fazia do modo mais exuberante possível, aqui temos um personagem mais maduro e consciente do seu impacto. O Borat do trikini verde, imagem que marcou indelevelmente a carreira de Cohen subsiste mas não se importa de ceder o seu lugar no palco de vez em quando. A sequela tem no seu núcleo o tema universal da relação entre um pai e a sua filha, na sua forma tão própria de o demonstrar, ainda que a crítica à hipocrisia implícita e manifesta das políticas norte-americanas sejam o alvo do escárnio. A pandemia Covid-19, os padrões absurdos de beleza, o conservadorismo, o consumismo desenfreado, encontram todos, de forma natural o seu lugar neste filme. Sem esforço.</p><p><br /></p><p><span style="font-size: medium;"><b>3) Filho de Peixe sabe Nadar</b></span></p><p><b>"Possessor"</b></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhH93-khnUqo4RUKz22NYACGp7_Iax5d3xQIAluMrlmvVe33yGBPGrGEv5HCPAUFMpU1QlZVR0-hdvCvzH0_7zRUthaPrFCq2gUIMvXm93mBcGFWxtqrwaKXuk-kZFtH8d-p_GWS_txmDQ/s640/possessor.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhH93-khnUqo4RUKz22NYACGp7_Iax5d3xQIAluMrlmvVe33yGBPGrGEv5HCPAUFMpU1QlZVR0-hdvCvzH0_7zRUthaPrFCq2gUIMvXm93mBcGFWxtqrwaKXuk-kZFtH8d-p_GWS_txmDQ/s320/possessor.jpg" width="320" /></a></div>Possessor" é tudo o que se pode ansiar de um Cronenberg se bem que num registo mais contido. Entenda-se que sexo, violência explícita e a fusão homem-máquina, se mantém temas transversais muito vívidos e presentes. Onde o pai deixa a imaginação ir aos píncaros, Brandon parece saber editar. Sem dúvida que o filho também opera no negócio da densidade mas não o faz de modo que o conteúdo se torne indistinguível e frustrante. Em “Possessor” explora os caminhos da identididade de como pode ser tão fácil perdê-la, se já estiver fracturada, quando se forma uma ligação simbiótica com a tecnologia. Andrea Riseborough está irreconhecível no papel de uma Tassia Vos que faz de assassina por uns dias e depois regressa à aborrecida rotina de mãe e esposa de seres humanos que lhe estão cada vez mais distantes. Ela é quase como um peixe fora de água, a lutar contra o inevitável e aos poucos sufocar. Vos entra sem ser convidada nos corpos de pessoas e actua como uma hóspede insidiosa forçando-os a matar os alvos que lhe são assinalados pela chefe Girder, interpretada por uma Jennifer Jason Leigh cada vez mais lacónica e arrepiante. É uma questão de tempo até perder o controlo. Christopher Abbott, um sósia do Kit Harington mas em bom actor, interpreta a personagem que vai levar Tasia aos limites ao recusar-se domar por ela. A questão que se coloca a Vos e ao pública é se que cada vez que termina um trabalho, ela perde mais um pouco a sua humanidade e é mais a máquina assassina ou se será o contrário e a assassina é que constitui a sua verdadeira identidade. <p></p><p><span style="font-size: medium;"><b><br /></b></span></p><p><span style="font-size: medium;"><b>4) Deploráveis para que vos quero</b></span></p><p><b>“The Hunt”</b></p><p>Foi adiado por coincidir com o infeliz timing de tiroteios em solo norte-americano. Os testes de audiência terão revelado algum desconforto com os contornos políticos da mensagem do filme. Enfim, o Agente Laranja, com certamente pouco que fazer na presidência dos EUA naquele dia, fez uma publicação no Twitter que acusava as elites de Hollywood de troçar com a sua base de apoio. O sucesso não lhe estava destinado. Todas estas peripécias extra filme captaram a minha atenção e a percepção com que fiquei é que a iliteracia é um problema sério. A ironia patente em “The Hunt” nem é assim tão fina. Mostra uma certa elite que se considera superior a caçar humanos, o que por si só, já desmontra o seu argumento. Os caçados são na sua parte pessoas com pouca educação, pouco inteligentes e a quem faltam algumas qualidades inerentes à formação de um bom carácter. Ninguém fica exactamente bem na fotografia. Os argumentistas podiam ter ainda ido um pouco mais longe para enfurecer os deploráveis – recuso-me a empregar aquela hashtag -, mas os caçadores são tão humanos, imperfeitos e hediondos como visualizam as suas presas. O gore e o facto de ninguém estar livre de uma morte se não horrenda, cómica, como uma Emma Roberts que é despachada num instante, são outros motivos de interesse além da componente política. Equipa <i>Schadenfreude</i> me assumo! “The Hunt” também nos traz o melhor confronto feminino de 2020. Que me perdoem os fãs da Wonder Woman mas a luta com a Cheetah é do mais meh que há. Não não, vejam mais é a Hillary Swank no papel de liberal insuportável que enfrenta uma Betty Gilpin como uma sulista lacónica que não está ali para acatar a bestialidade para que foi arrastada. Esquerdalha vs. Direitolas? Amo.</p><p><br /></p><p><span style="font-size: medium;"><b>5) Lovecraft Submerso</b></span></p><p><b>“Underwater”</b></p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJY5wPpoS647QwzWWJHM3fIQ0yYWeVVPbpjqQ51itbU3UsfGGP_l4pH3QeyXUw5vZDCKG6p3lCEICM1BY_tc43aJy1df4GF7_XUazzY3_-hHEH8A9BcV4gUEY_o1H24tNa8Vehpy8eflQ/s1200/0_Underwater.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJY5wPpoS647QwzWWJHM3fIQ0yYWeVVPbpjqQ51itbU3UsfGGP_l4pH3QeyXUw5vZDCKG6p3lCEICM1BY_tc43aJy1df4GF7_XUazzY3_-hHEH8A9BcV4gUEY_o1H24tNa8Vehpy8eflQ/s320/0_Underwater.png" width="320" /></a></div>Há uma boa meia dúzia de anos cometi o erro de ver 15 minutos de “Twilight”. Foi uma experiência transformadora. Decidi então que a Kristin Stewart era a pior actriz em exercício da sua geração. O Stress Pós-Traumático dita que continue a não gostar dela mas cá estamos. Ela é a heroína de ação que não sabia que precisava. Ela é pequena, franzina, diminuta, mas os acontecimentos impelem-na para a ação quando a estação de pesquisa em que trabalha é abalada por um terramoto. Onde outros entram em pânico ou desesperam ela age, mesmo que não esteja assim tão certa de querer sobreviver. A ação é rápida e não pára, traduzindo a sensação de emergência que a destruição iminente do ambiente onde os personagens se encontram evoca. Não há tempo para descansar, para reflexões filosofias, planos demasiado arriscados. É tempo de reacção. Onde “Underwater” me perde é nas profundezas. Há momentos em que é impossível perceber o que se passa debaixo de água, de tão escura que é a imagem e que me deixou tentada a carregar no “pause”. É certo que falamos das trevas do oceano. No entanto, não custava muito inserir algum iluminação adicional, da própria plataforma para se discernir alguma da ação. É uma miscelânea de terror claustrofóbico como um “The Descent”, com aquele que todos tentam emular, “Alien”, sem ter sucesso na totalidade. Contudo, revela-se um exercício interessante e que gostaria de ver replicado no futuro. Num ano em que o terror interior foi rei esperava um pouco mais que elevasse “Underwater” com as suas criaturas Lovecraftianas aos alturas dos melhores <i>creature movies.</i><p></p><p><br /></p><div><br /></div>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-64711470252748261422020-11-21T00:10:00.001+00:002020-11-21T15:20:30.824+00:00"Shanghai Fortress" (Shang hai bao lei, 2019)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/_TXLkU93rqo" width="320" youtube-src-id="_TXLkU93rqo"></iframe></div><br /><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">"Shanghai Fortress" é uma espécie de "Under the Dome" chinês, com um mix de muitos outros exemplares cinematográficos americanos (demasiados para contar mas não quer dizer que não tente!), em que a humanidade, após uma invasão alienígena, sobrevive sob uma espécie de cúpula, um escudo invisível que serve de campo de forças para repelir os aliens, usando como combustível "xiangteng", que foi descoberto e é detido pela população chinesa sobrevivente. A nave-mãe dos aliens, ataca ocasionalmente o escudo e a cada ataque este fica mais fraco e a humanidade mais vulnerável. Num universo em que "Shanghai Fortress" fosse um filme a sério, isto teria a sua piada dado que os alienígenas estão a atacar a humanidade para lhe retirar o recurso que é o que a está a proteger. Porquê insistir no tal combustível? Porque não cedê-lo simplesmente? Não é como se o Homem tivesse muito pudor na utilização de outros materiais fósseis...</div><div style="text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiE9tP55wQJbeEKX0nKqPGgbN0F3dzaxKp7AhtyiA_15pfnBocLTYBZVsm8pRq2G3AwGRTAS-G_fD6WeeK-EmA6Nui1oAlY_5WQNsEmjjlP-WDEJYrBkq4EWwhEYeFGxXjUsRCkBK-39bc/s1920/Aliens.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="764" data-original-width="1920" height="159" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiE9tP55wQJbeEKX0nKqPGgbN0F3dzaxKp7AhtyiA_15pfnBocLTYBZVsm8pRq2G3AwGRTAS-G_fD6WeeK-EmA6Nui1oAlY_5WQNsEmjjlP-WDEJYrBkq4EWwhEYeFGxXjUsRCkBK-39bc/w400-h159/Aliens.png" width="400" /></a></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">De facto, "Shanghai Fortress" é tão inépto que podia ter saído de um daqueles livros da série "Para Totós", intitulado "Como fazer Ficção Científica chinês em poucos passos para totós". É que o filme nem sequer sofre da problemática de falta de material onde se basear. É a adaptação de uma obra de ficção com o mesmo nome, escrita pelo escritor chinês Jiang Nan, também conhecido pelo título altamente original e nunca antes ouvido "Once upon a Time in Shanghai". O orçamento, que se diz por essa internet fora ter custado 400 milhões de yuan, até serviu para contratar um elenco muito jovem (e talento duvidoso), com pelo menos um ou dois ídolos muito famosos para figurar como "eye candy". Destaque-se o ex-membro de uma boysband Luhan aqui como o protagonista Jiang Yang, um militar que além de padecer de dores de amor pela sua superior Lin Lan (Shu Qi), pilota drones, frequenta discotecas nos tempos livros e parece enfadado 100% do tempo e até um pouco inconsciente quanto À INVASÃO ALÍENEGINA E FINAL ANUNCIADO DA HUMANIDADE! </div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDvReysV5DoIewmwfdRLW7Gv-dkLQRqIriwtRflKfN1t0dOUI2P9eJft8YeNsuWOlk1vIrg1X5akEFcn-WWhUz5I5HyGhD5BxfHGz91klvIFBtjio36eob-UmOoQjQ9JgQZ1-zmTeRPnU/s928/Shanghai-Fortress-cast.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="523" data-original-width="928" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDvReysV5DoIewmwfdRLW7Gv-dkLQRqIriwtRflKfN1t0dOUI2P9eJft8YeNsuWOlk1vIrg1X5akEFcn-WWhUz5I5HyGhD5BxfHGz91klvIFBtjio36eob-UmOoQjQ9JgQZ1-zmTeRPnU/s320/Shanghai-Fortress-cast.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O elenco tenta uma pose séria<br /></td></tr></tbody></table><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">As gentes do casting, tiveram pelo menos o bom-senso de contratar pelo menos um bom actor para conferir credibilidade - uma Shu Qi ("The Assassin", 2015) num papel em que a atriz parece contar os minutos para abandonar a rodagem e limpar a lágrimas com os muitos yuan que decerto ganhou para o fazer. Oh, como os grandes caem! <br />"Homenagem" sempre é um nome mais fofinho que cópia descarada, portanto, digamos que esta produção foi buscar inspiração às seguintes obras: "War of the Worlds", recordam-se de referir que os alienígenas estão a atacar o planeta porque querem roubar os recursos da Terra? "Independence Day" (1996) dado que o design da nave-mãe é tirada a papel químico das naves gigantescas do filme americano, porque saem raios destruidores da nave, ou a inclusão do patriotismo que nos impõem pelos olhos adentro, o próprio final do filme... enfim, diria que reviram vezes sem conta esse filme fantástico e piroso, para ver onde o que podiam levar emprestado e como é que podiam "elevar" o material. Também achei curiosa a inserção de actores estrangeiros pelo simples facto de o serem para representar o resto do mundo. Também podemos falar do "Core", "The Day After Tomorrow", entre muitos outros filmes-catástrofe, por causa dos eventos atmosféricos anormais e pelo grau de destruição a que a cidade de Shanghai é votada. Os momentos dedicados a estes acontecimentos são, de forma infeliz, parcos, para um filme com a escala que prometia ter. Num festim de efeitos gerados por computador, esses são muito desiguais mas também os mais fugazes, havendo alturas em que os efeitos estão tão maus que temos, enquanto audiência, de nos questionar, o porquê da sua integração no filme se o resultado é tão misto. </div><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaU39zEC0s93jcE8RjNNdWxFd1j7v5Z1KqtWR6tOkFOJEfJ-gXjM6BnH59oXiy2uPtgUVW38KeKf3G84BNGHaAx5JpwqFnj865g2EXeqs7ZOXi40sLPUCUmagaB5dpeKrdIRCceAgyjZI/s1842/Shanghai-Fortress-elenco-discoteca.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="776" data-original-width="1842" height="169" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaU39zEC0s93jcE8RjNNdWxFd1j7v5Z1KqtWR6tOkFOJEfJ-gXjM6BnH59oXiy2uPtgUVW38KeKf3G84BNGHaAx5JpwqFnj865g2EXeqs7ZOXi40sLPUCUmagaB5dpeKrdIRCceAgyjZI/w400-h169/Shanghai-Fortress-elenco-discoteca.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">O mundo está em ruínas mas que importa? As discotecas ainda estão abertas!<br /></td></tr></tbody></table><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;">Depois há o romance. Nada contra. Há quem considere que o romance confere um grau de urgência, de gravidade até, às películas. Por seu turno, as audiências chinesas adoram um bom romance delicodoce entre pessoas bonitas. Para mal de pessoas como eu, venderam-me um filme de ficção científica. A última coisa que quero ver num contexto de invasão alienígena e luta pela sobrevivência da humanidade é um romance que parece deslocado do próprio filme. Não há uma pitada de química entre os protagonistas. Ainda que tivesse algo contra a grande diferença de idades entre os protagonistas (Shu Qi e Luhan) ela uma quarentona e ele na casa dos vinte e poucos e, a diferença nem parece assim tão acentuada - ela está muito bem conservada -, já vimos muito mais <i>creepy:</i> Marlon Brando e Maria Schneider, cof cof. Só que até a porcaria do pseudo-romance está mal cozinhado. Lin Lan nunca dá mostras de corresponder à paixonite quase adolescente do Jiang Yang e, para mais, ela é superior dele. Confraternizar com subalternos?! </div><div style="text-align: left;">Gostava muito de dizer que por muito desmiolado que "Shanghai Fortress" fosse, a experiência de visionamento tinha sido divertida mas não consigo. Com uma hora e quarenta e sete minutos consegue ser demasiado longo e um tédio de atravessar. É tempo das nossas vidas que não recuperamos. Tal como escrever este "texto". Suspiro.</div><div style="text-align: left;">Por fim, como <i>piéce de resistance</i> (se eles podem recorrer a tantos <i>clichés</i> eu também posso seguramente usar esta expressão), ia referir que os criadores deste filme deviam pedir desculpa pela trapalhada que fizeram mas parece que o realizador, o escritor/argumentista e o actor principal também já o fizeram. Depois do sucesso extraordinário de "The Wandering Earth" o género scifi parecia ganhar tracção na China. O estrondoso fracasso de "Shanghai Fortress", meros meses depois, pode ter sido o beijo da morte. Meia estrela.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhgWJQf94naXm19juOf2UEcgdyV2QJJW_91USPhX4qlf8ZJhB2c-RPlcBuyeVjEz6doWCpmXP_7fpRgJagFJcWiyJJuFNKEjG3vLVx80_lR2qVhyDwtFhGfJ4dXdwat95gdv8Y1Q_m72c/s265/Shanghai-Fortress-official-movie-poster-2019.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="265" data-original-width="190" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhgWJQf94naXm19juOf2UEcgdyV2QJJW_91USPhX4qlf8ZJhB2c-RPlcBuyeVjEz6doWCpmXP_7fpRgJagFJcWiyJJuFNKEjG3vLVx80_lR2qVhyDwtFhGfJ4dXdwat95gdv8Y1Q_m72c/s0/Shanghai-Fortress-official-movie-poster-2019.jpg" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnWu68nzW56eN_3rpgtxjFfFTrEHsBMwGSundO67bg9b2aIx1Yi75cIErWJ1Z0uB32vRL0sjlQUAjjrC7XLncUG6YusRp1BbVz0E6ZyMVa-Fbkkow-vs5rRAGEFEtQcp35Qc4TUNlPwv4/s29/meia-estrela-novo.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="29" data-original-width="15" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnWu68nzW56eN_3rpgtxjFfFTrEHsBMwGSundO67bg9b2aIx1Yi75cIErWJ1Z0uB32vRL0sjlQUAjjrC7XLncUG6YusRp1BbVz0E6ZyMVa-Fbkkow-vs5rRAGEFEtQcp35Qc4TUNlPwv4/s0/meia-estrela-novo.gif" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;"><div>Realização: Hua-Tao Teng</div><div>Argumento: Jinglong Han (argumento), Jiang Nan (autor do livro e argumentista)</div><div>Qi Shu como Lin Lan</div><div>Godfrey Gao como Yang Jiannan</div><div>Luhan como Jiang Yang</div><div>Sen Wang como Pan Hantian</div><div>Liang Shi como Shao Yiyun </div><div>Vincent Matile como George Bradley</div><div>Jialing Sun como Lu Yiyi</div></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div><div style="text-align: left;"><br /></div>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-54916927353268736122020-11-02T21:25:00.008+00:002020-11-02T21:25:00.150+00:00Suores Frios - "Piratas, coelhos, fantasmas e outras criaturas." - por Nuno Reis<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWs_kV7Rcku7q9r4ulvZ5N23vGVd1DaJWqgJ2zeyqWwfUQLFRV3HsKn-4_NVmHBngYABdB6SDnvV5VF30LmYiPH3O0-RsCSiGWELRFJkd5LoDPD9eeIRWBJEpsln5K0LMuip3SUQGAwdM/s2259/SUORES+FRIOS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="2259" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWs_kV7Rcku7q9r4ulvZ5N23vGVd1DaJWqgJ2zeyqWwfUQLFRV3HsKn-4_NVmHBngYABdB6SDnvV5VF30LmYiPH3O0-RsCSiGWELRFJkd5LoDPD9eeIRWBJEpsln5K0LMuip3SUQGAwdM/w400-h178/SUORES+FRIOS.jpg" width="400" /></a></div><p>Tenho a sorte de ter um pai que nunca me privou de cinema, fosse ele bom ou mau. Da mesma forma que ele me levava a festivais e a visionamentos de imprensa quando eu era pequeno, agora sou eu que o levo a festivais e o chamo para ver os DVDs que me chegam como membro da crítica. É um prazer ouvi-lo falar de filmes que nunca encontrei e outros que certamente não terei tempo para ver. Ainda hoje a conversa foi parar à crítica social nas obras de Billy Wilder a propósito de em zapping antes do almoço termos apanhado o final de “Jaws”. Ainda que conheça estes filmes bem como espectador, ouvir a perspectiva de quem os viu noutra época ajuda a compreender o seu impacto. Ficou decidido há muito tempo que para filmes anteriores aos anos 80 era ele o entendido, mas daí em diante era eu que ia devorar tudo. Assim nunca estamos em desacordo.</p><p>Como referi por algumas ocasiões, eu cresci no meio do cinema fantástico. Até hoje é por esse prisma que vejo o Cinema. Enquanto uns se maravilhavam por ver pessoas a sair da fábrica postas em tela pelos Lumiére, eu só me maravilhava quando as pessoas saíam da Terra pela mente de Méliès. Portanto, quando se trata de ter primeiras memórias do cinema, claro que se enquadram no género. Mas os suores frios começaram muito antes do terror...</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJymEYisZbUf_Lj86w0keqUwuWS3F5gyVMMv1w_u6OOLNlDNWKnXmxSav1vJ04E2EwDm-DaU_BdRMOejRYmKifGdNTts8N_pg120cLkLUlSHgaqGT-7GGjNtt7y3tMfCOI7F5sGAeU7WA/s1024/Goonies.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="687" data-original-width="1024" height="269" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjJymEYisZbUf_Lj86w0keqUwuWS3F5gyVMMv1w_u6OOLNlDNWKnXmxSav1vJ04E2EwDm-DaU_BdRMOejRYmKifGdNTts8N_pg120cLkLUlSHgaqGT-7GGjNtt7y3tMfCOI7F5sGAeU7WA/w400-h269/Goonies.jpg" width="400" /></a></div><p></p><p>O primeiro filme que me lembro de ver em sala foi “The Goonies” na altura era eu tão pequeno que nem sabia ler. Fui levado pelo meu pai atencioso e para a minha mãe eu ia ver a história de uns meninos que saíam de casa para explorar um farol abandonado. Claro que o detalhe de os mafiosos matarem inspectores, cortarem línguas a crianças, o chão se desfazer enquanto tocam piano e haver um esqueleto em cada esquina até serem atirados da prancha causou um impacto em mim. Todavia, não sei se hoje em dia lhe chamaria terror. Dizem-me que até chorei, mas todos admitem também que foi aí que me apaixonei pelo Cinema.</p><p>A esse seguiu-se “Who Framed Roger Rabbit?” que causou um impacto bem diferente. Aqui avisei o meu pai que já sabia ler e para ficar calado durante o filme! Alheio ao que fosse o tal de noir, simpatizei logo com aquele coelho brincalhão. A interação com tantos heróis dos desenhos animados que eu conhecia desde sempre ajudou a dar uma aura de realidade. E subitamente vão derretê-los? Fui enganado novamente! Mais uma noite sem dormir!</p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjz6I_vrBLsy8CB-4GHHTeCwdyUASpxVdx4Xj3h4Us3rP8pLJtNkifEO2oVUanCNIX41fysnfHv_Fy0GD5Udnx-Gl3zsdmgKuEATkDogvuTSDQaz6sbnOTbDue5tNNKpThtYCFvvI0we4g/s1024/who-framed-roger-rabbit.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="576" data-original-width="1024" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjz6I_vrBLsy8CB-4GHHTeCwdyUASpxVdx4Xj3h4Us3rP8pLJtNkifEO2oVUanCNIX41fysnfHv_Fy0GD5Udnx-Gl3zsdmgKuEATkDogvuTSDQaz6sbnOTbDue5tNNKpThtYCFvvI0we4g/w400-h225/who-framed-roger-rabbit.jpg" width="400" /></a></div><p></p><p>Quanto a terror propriamente dito, começou de forma ligeira. Terá sido um “Beetlejuice”, “Ghostbusters 2”, “Gremlins 2” ou “Edward Scissorhands”. Cresci a ver esses filmes e não sei precisar qual veio primeiro (ainda que saiba que vi as sequelas aqui referidas anos antes dos originais, tal como conheci o Lobisomem Americano em Paris antes de conhecer o de Londres). Vi filmes maus, filmes bons, filmes que não consegui ver inteiros de tão maus que eram, outros que não vi até ao fim de uma só vez por ser medricas, e cenas que não esquecerei ainda que não faça ideia do título. Como explicar que eu soubesse quem era Freddy Kruger anos antes de conhecer Elm Street?</p><p>O meu amor pelo Cinema começou muito próximo ao terror. No entanto, não sou fã do susto fácil ou das atmosferas claustrofóbicas que se prolongam por toda a duração o filme. Hoje em dia já poucos truques funcionam comigo e portanto serei mais fã de algo que misture ou brinque com o género do que de algo que siga a receita gasta. Se algo me causar suores frios, é porque foi bem escrito e não por estar cheio de momentos que arrepiam. Nenhum filme me vai deixar acordado com medo de fechar os olhos. Mas um grande filme pode-me deixar a pensar nele pela noite dentro. São coisas bem diferentes.</p><p>O Nuno Reis vai escrevendo ocasionalmente no <a href="https://antestreia.pt">https://antestreia.pt</a> e no <a href="https://thescifiworld.com">https://thescifiworld.com</a>. Também pode ser encontrado aqui: <a href="https://www.imdb.com/name/nm4591473/">https://www.imdb.com/name/nm4591473/</a></p><div><br /></div>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-68687790773927923642020-10-26T21:14:00.002+00:002020-10-26T21:14:00.549+00:00Suores Frios - "O Cristal Encantado: o lado negro do Jim Henson" - por J.B. Martins<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWXmb_A4r3UspKSdkv3lC7Oe98H273XDVUpp47AF-JSt_rTS6KJqEQGL80jATd7PPLG0t5xCTcX94q0av1FrE5tmbmL5TkY4JH7zRyEhyy3nE0bcRyKEjrp-9atT-1439tOdyG5Mw37pA/s2259/SUORES+FRIOS.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="2259" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWXmb_A4r3UspKSdkv3lC7Oe98H273XDVUpp47AF-JSt_rTS6KJqEQGL80jATd7PPLG0t5xCTcX94q0av1FrE5tmbmL5TkY4JH7zRyEhyy3nE0bcRyKEjrp-9atT-1439tOdyG5Mw37pA/w400-h178/SUORES+FRIOS.jpg" width="400" /></a></div><p>Tal como aconteceu com tantas outras crianças nascidas em meados dos anos oitenta, as criações do Jim Henson foram um pilar essencial na minha formação e permitiram-me, por exemplo, transformar sons em letras e essas letras em palavras muito antes de iniciar a escolaridade obrigatória. </p><p>A bonecada do Jim Henson eram um porto seguro, uma espécie de segunda família com a qual podia aprender tudo o que precisava para singrar nesses primeiros anos como habitante deste bonito planeta azul. Algumas das minhas primeiras (e mais felizes!) recordações audiovisuais envolvem o Cocas, o Gualter, o Becas e o Egas ou o Conde de Kontarr. Mas, como estava prestes a descobrir, nem tudo eram rosas no mundo do Jim Henson.</p><p>Não me lembro ao certo quando tive o primeiro contacto com O Cristal Encantado (The Dark Crystal, no original) mas sei que nada me tinha preparado para aquele momento.</p><p>O mundo de O Cristal Encantado não é aquela rua castiça onde aprendemos os valores da igualdade e da tolerância e onde o mal não passa de um conceito abstrato. Este é um planeta em ruínas liderado por seres cujo poder está assente na destruição das outras espécies. Aqui não há sinal das criaturas afáveis e coloridas a que a casa Henson nos habitou. Aqui mandam os Skeksis, uma espécie de abutres asquerosos e desprezíveis que se arrastam e grunhem de uma forma que até hoje me faz gelar a espinha. </p><p>São várias as cenas protagonizadas pelos Skeksis que me assombraram durante anos e nem é preciso esperar muito.</p><p>Logo nos primeiros minutos do filme vemos como o seu líder se desfaz em pó rodeado pelos outros membros do clã que, entre sussurros, aguardam com expetativa o momento perfeito para assumirem o poder, numa cena que lembra a icónica morte do antagonista na primeira aventura do Indiana Jones. </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEir-Hn6EN31wU_EMlbvmv1aSK1vmdi8N3GBomKQn10KcLhmEvWAHvDujwa97_-aOSt_rp4rSzmC2ETHDQlhmLqXGwcjx7nxgoWK5MzCc2wLi6po7w0DRI1utlgPNHdEn4uQF8jQirta0hU/s1400/morte+do+Podling.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="700" data-original-width="1400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEir-Hn6EN31wU_EMlbvmv1aSK1vmdi8N3GBomKQn10KcLhmEvWAHvDujwa97_-aOSt_rp4rSzmC2ETHDQlhmLqXGwcjx7nxgoWK5MzCc2wLi6po7w0DRI1utlgPNHdEn4uQF8jQirta0hU/s320/morte+do+Podling.jpg" width="320" /></a></div><p>Mas o momento que mais me marcou foi a sequência em que um Podling (umas das espécies que os Skeksis se divertem a maltratar) definha à nossa frente enquanto a sua energia vital é sugada e transformada num elixir que serve como alimento aos Skeksis e os ajuda a perpetuar a sua imortalidade.</p><p>No entanto, se este tipo de reação já seria expectável nos “maus da fita”, a verdade é que os “bons da fita” também não me inspiravam muita confiança, embora neste caso a rejeição estivesse mais relacionada com o desenho das personagens do que com as suas motivações. Os Gelflings, com as suas características demasiadas humanas e os seus olhos sem um pingo de vitalidade, caiam em cheio no “vale da estranheza” e a Aughra, com o seu olho “destacável”, era demasiado intimidante para um petiz que só queria que o Poupas aparece a voar a qualquer momento para salvar o dia.</p><p>Feitas as contas e passados todos estes anos, O Cristal Encantado é o exemplo perfeito da eficácia das marionetas e dos efeitos especiais orgânicos dos anos 80 à hora de mexer com o nosso subconsciente. Existem, mexem-se e estão realmente lá. São muito mais que zeros e uns sobrepostos num ecrã verde: são o material com que são feitos os sonhos... e os pesadelos.</p><p>(O J.B. Martins é sobretudo um indivíduo que fala de cinema na internet. Começou com um blogue, no longínquo ano de 2003, mas de há uns tempos para cá pode ser acompanhado no YouTube através do canal <a href="https://www.youtube.com/channel/UCUwZSxRoBPchrHrtkVk5EmA" target="_blank">CINEBLOG</a>)</p><div><br /></div>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-42666501277635170442020-10-19T10:03:00.001+01:002020-10-20T20:10:11.451+01:00Suores Frios - " Pesadelo num copo de água" - por Pedro Miguel Fernandes<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiw_fdiaB2oejwvY-7D4O8cMS3Cz47EkZr28efiyGz2waV9XpTnmEjQpHDpUGglgA3e8WxWR-0HBnNf4bWxcgVTXLLwKt5S361v3z4cMX4V5ENgYTlfebig4TbHsPGKw6dTd9txdcYA3FI/s2259/SUORES+FRIOS.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="2259" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiw_fdiaB2oejwvY-7D4O8cMS3Cz47EkZr28efiyGz2waV9XpTnmEjQpHDpUGglgA3e8WxWR-0HBnNf4bWxcgVTXLLwKt5S361v3z4cMX4V5ENgYTlfebig4TbHsPGKw6dTd9txdcYA3FI/w400-h178/SUORES+FRIOS.jpg" width="400" /></a></div><p>Nunca fui um grande fã do cinema de terror. Talvez o facto de ter sido um miúdo com medo de tudo e mais alguma coisa não me tenha ajudado no futuro a admirar e desbravar o género como fiz com outros mais tarde, à medida que ia descobrindo essa fantástica arte chamada cinema e os seus maravilhosos recantos. E se há altura ideal para termos medo destas coisas é precisamente quando somos garotos, mais tarde perde um bocado a piada com a perda da inocência. Mesmo quando acontece darmos um salto na cadeira do cinema à conta de um susto daqueles à séria quando aparece algum malandrão em cena sem avisar, acaba por se seguir um sorriso nervoso como quem diz ‘sacanas, enganaram-me, mas não me dão pesadelos que eu já não tenho idade para essas coisas’. Isto não significa que não me aventure uma vez por outra neste universo e por vezes até calha gostar de alguns títulos e há alguns realizadores que merecem muito do meu respeito. Mas se alguém me perguntar ‘então Pedro, vai uma fita de terror?’ há um grande grau de probabilidade de levar uma nega. A não ser que seja difícil resistir a sessões especiais em que o desafio seja algo como ver a trilogia Evil Dead pela noite fora com um grupo de amigos ou ir ao templo dos fãs de cinema de terror chamado Motelx para ver como param as modas no universo do terror. Moral da história: sustos e calafrios em miúdo com filmes de terror não houve muitos porque me afastava sempre deles como aquele sujeito com os dentes pontiagudos da cruz.</p><p>Contudo…como diria o outro, ‘no entanto, ela move-se’ e há um episódio marcante na minha infância que junta medo e uma sala de cinema: nem mais nem menos do que a minha primeira recordação que tenho de ver um filme num ecrã de cinema. Não me perguntem onde foi porque não sei onde terá sido, apenas me lembro do título do filme. Era o Indiana Jones e A Última Cruzada e nada melhor do que uma estreia no cinema do que o filme de uma personagem que permanece uma das minhas favoritas de sempre. Ou então não. Já antes, ao ver o anterior Indiana Jones e O Templo Perdido, tinha ficado aterrorizado com refeições com vida própria e a presença do mauzão de serviço, aquele que arrancava corações às criancinhas e cujo nome não me vem agora à memória. Mas nada me tinha preparado para ver um sujeito a ser transformado em esqueleto mesmo à frente dos meus olhos num ecrã gigante. A imagem ficou de tal forma retida na minha mente que a partir de então cada vez que ia buscar um copo para beber água demorava horas a decidir qual o copo correcto, não fosse acontecer alguma coisa estranha comigo.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYXTFOiMFLB8435NYbWB4qtTJzzP6lY7Jd5Ai9A2POm64yLBNLOYZCuYibgTSxyVi9cR1lhDCbHwIOCnndjWPFum-Xq40V66AQL3o_1IFN7D-fktAYm8hzjW0F4y4IfFc_Yi0ae0FGbBA/s1500/indiana-jones.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="986" data-original-width="1500" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYXTFOiMFLB8435NYbWB4qtTJzzP6lY7Jd5Ai9A2POm64yLBNLOYZCuYibgTSxyVi9cR1lhDCbHwIOCnndjWPFum-Xq40V66AQL3o_1IFN7D-fktAYm8hzjW0F4y4IfFc_Yi0ae0FGbBA/s320/indiana-jones.jpg" width="320" /></a></div><p>Escusado será dizer que hoje em dia já nada disto me impressiona. Continua a ser um divertimento garantido ver qualquer um dos filmes da saga como aquando da primeira vez (descontando aquela coisa que fizeram com o puto dos Transformers a fazer de filho do Indy, que não apenas me suscita algumas palpitações de raiva), mas agora sem ter medo de esqueletos, cobras e alimentos esquisitos. Os medos agora são outros e os calafrios vêm de outros sítios, nenhum deles situado numa tela gigante ou pequeno ecrã caseiro. A idade tem destas coisas e das coisas que mais sinto falta desses primeiros anos é precisamente esse misto de fascínio e medo que tínhamos em miúdos perante aquelas imagens que hoje provavelmente nos fazem rir ou pelo menos passámos a vê-las com um sorriso nostálgico nos lábios. Mas ao menos já consigo ir buscar um copo de água sem passar uma eternidade a tentar escolher o copo certo.</p><p>Pedro Miguel Fernandes </p><p>ex-blogger A Última Sessão (<a href="http://a-ultima-sessao.blogspot.com/">http://a-ultima-sessao.blogspot.com/</a>) e Shut Up and Watch the Movies (<a href="http://shutupandwatchthemovies.blogspot.com/">http://shutupandwatchthemovies.blogspot.com/</a>)</p><div><br /></div>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-26007801068996175562020-10-13T10:48:00.001+01:002020-10-13T10:48:42.492+01:00Suores Frios - "A Imparável Marran" - por Daniel Reifferscheid<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSjCUFS55b-hZjiw5ACqdJ5m0Wxe7qVFk8tLmIUi09oviYM6XWmqP5xSKTwtFZL2LG6CmNFuf_gxff7MPaaWg5mNPQl47Fm8UDz-F89vMianiUpzU4Jaq0R2d9nrXUGa4IsKxhTqQX8RA/s2259/SUORES+FRIOS.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="2259" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSjCUFS55b-hZjiw5ACqdJ5m0Wxe7qVFk8tLmIUi09oviYM6XWmqP5xSKTwtFZL2LG6CmNFuf_gxff7MPaaWg5mNPQl47Fm8UDz-F89vMianiUpzU4Jaq0R2d9nrXUGa4IsKxhTqQX8RA/w400-h178/SUORES+FRIOS.jpg" width="400" /></a></div><p>Admiro bastante a estratégia que os meus pais desenvolveram para guiar o meu consumo mediático enquanto petiz - nada estava propriamente proibido, e podia inclusive ficar na sala enquanto eles viam coisas que muitos pais não deixariam chegar perto dos seus filhos (filmes do Bunuel, <i>Rocky Horror Picture Show</i>, o <i>200 Motels</i> do Frank Zappa), mas ao mesmo tempo tudo era contextualizado, não havia consumo passivo. Podia por exemplo vibrar à vontade com as aventuras do Batman, mas ao mesmo tempo o meu pai me explicava porque é que discordava de uma abordagem punitiva ao crime, e que problemas tinha com a história de um milionário que passa o seu tempo a violentar pessoas com distúrbios mentais. Pode soar ridículo, mas em retrospectiva estou muito grato por me terem criado assim - tive o prazer de consumir toda e qualquer cultura Pop, sentindo-me ao mesmo tempo confortável em aceitar que há mensagens inerentes a muita coisa que consumo nas quais não me revejo minimamente. </p><p>Ao mesmo tempo, creio que os meus pais tiveram o seu trabalho facilitado pelo seguinte factor: terem um filho medricas.</p><p>Quando fui gentilmente convidado a participar nesta coluna, o maior problema que se me colocou imediatamente foi: como escolher? A minha infância está recheada de pequenos traumas, noites em branco fruto de todo o tipo de entretenimento. E claro que, crescendo numa aldeia em S. Miguel, não era preciso muito para passar por cobarde - finda a escola primária, todos os meus colegas já tinham digerido as franchises <i>Halloween</i>, <i>Friday The 13th</i> e <i>Nightmare On Elm Street</i> completas. Filmes de terror desses “a sério” eu nem me aproximava, mas mesmo assim conseguia aumentar medos e ansiedades com todo o tipo de monstrengos: temia principalmente vampiros (tanto que escrevinhava crucifixos nas paredes do meu quarto, levando a minha mãe a perguntar-se se tinha dado em gótico ou cristão), mas também havia espaço para o culto assassino em <i>Young Sherlock Holmes</i> (1985), para o <i>Jabberwocky </i>de Terry Gilliam e para os dois segundos e meio que apanhei sem querer do desenho animado <i>Tales From The Cryptkeeper</i>.</p><p>Parece que não havia história inofensiva o suficiente para não a conseguir transformar numa ameaça quando era pequeno. Nem mesmo uma adorada franchise infantil finlandesa. </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwem7fkRy6zIO1_z44j-ysjf9_7kMHjkduBlYVafhhsJAoJSTGl7mvkycSRoyphi8xRPcr5o8YScgUThcrwxYN_v7a-ho8R457eAmvrJvZVfyLn571iFklClVcaWvPANvTFjpk1bPvfEs/s1024/imagem+1+-+familia+mumin.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="620" data-original-width="1024" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwem7fkRy6zIO1_z44j-ysjf9_7kMHjkduBlYVafhhsJAoJSTGl7mvkycSRoyphi8xRPcr5o8YScgUThcrwxYN_v7a-ho8R457eAmvrJvZVfyLn571iFklClVcaWvPANvTFjpk1bPvfEs/s320/imagem+1+-+familia+mumin.jpg" width="320" /></a></div><p>A série Mumin não dirá muita coisa a um público português, mas em grande parte da Europa são tão adorados como qualquer Clube das Chaves ou Uma Aventura, e com muita boa razão: os livros originais, escritos pela finlandesa Tove Jansson, são da melhor literatura infantil que existe e, arrisco-me a dizê-lo, da melhor literatura do século vinte, ponto. Para dar só um cheirinho, eis a génese desta simpática família de <i>trolls</i> com aspecto de hipopotámo: aos treze anos, a jovem Tove teve uma discussão violenta com o irmão mais velho acerca do filósofo alemão Kant. Tão enraivecida estava ela que marchou para a casa de banho, sacou de um lápis e desenhou na parede a criatura mais feia que conseguiu conceber - e assim nasceu a família Mumin.</p><p>Com esse contexto, já devem ter adivinhado que as histórias de Jansson não são contos infantis genéricos: são histórias carregadas de uma profunda melancolia, e cujas personagens frequentemente exibem problemas a tender para o existencial. Como tal, a Marran (Morra em alemão, Groke em inglês), espécie de vilã dessas histórias (o rótulo é na verdade bastante redutor) também não exibe os traços de um mauzão típico. Não é motivada pela ganância nem pela vontade de destruir o mundo; não irrompe em ataques de raiva; não possui capangas nem esquemas. É, tão somente, uma criatura negra, redonda, que traz a miséria a tudo que toca. </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFlfXJRgh4SXOcMQhISftPHU60MVcJtcs7zdomUBYwY5t3kdIH3HvV5W7vWOdALsvH0QBq7LrnOioNUDnPAdMWfbBBK7-wTOoomc3rCoyb45HUK3gd32ipt9o2usm22bvUNEziIpge0eQ/s600/imagem+2+-+marran.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="335" data-original-width="600" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFlfXJRgh4SXOcMQhISftPHU60MVcJtcs7zdomUBYwY5t3kdIH3HvV5W7vWOdALsvH0QBq7LrnOioNUDnPAdMWfbBBK7-wTOoomc3rCoyb45HUK3gd32ipt9o2usm22bvUNEziIpge0eQ/s320/imagem+2+-+marran.jpg" width="320" /></a></div><p>Esta criatura aparece em vários livros da série, mas o meu contacto com ela enquanto criança veio principalmente através de uma parte da adaptação para anime da saga: nesta, os Mumins conhecem dois pequenos duendes que usam a casa da família como asilo após terem roubado algo que pertence à Marran. Inevitavelmente ela aparece para reaver o que lhe foi roubado; a família defende os pequenos duendes, mas negociar com a entidade parece impossível.</p><p>Como sempre nestas coisas, a minha lembrança é bastante diferente do que realmente acontece no episódio, que pode ser visto aqui (<a href="https://youtu.be/O-WWdLx0V1Y">https://youtu.be/O-WWdLx0V1Y</a>) - , disponibilizado gratuitamente pela conta oficial dos Mumins. Na minha memória, o confronto final entre os protagonistas e a Marran, com o pai Mumin de espingarda à porta, acaba com o monstro simplesmente a retrair-se, por razões obscuras, deixando muito claro que as acções da família são irrelevantes para a questão; na verdade, a Marran retira-se porque o pai Mumin lhe dá alguns segundos após os quais irá disparar. Pior ainda, a Marran despede-se com um Schwarzeneggeriano “<i>I’ll be back!</i>”; na minha memória era um monstro completamente mudo.</p><p>Mas mesmo assim, consigo ainda sentir um pouco daquilo que me aterrorizou em pequeno: a Marran como uma ameaça fatalista, que mais cedo ou mais tarde irá triunfar (a própria narração do episódio sugere isso); e também uma ameaça que vai para além da razão, com a qual é impossível comunicar, quanto mais negociar. Devo mencionar que a série animada dos Mumins não é tida em muito boa conta entre os apreciadores das obras de Jansson - a animação é bastante limitada e os enredos não completamente fieis à autora. No entanto, estaria a mentir se dissesse que parte do impacto que teve sobre mim não se deveu à interpretação que a série fez. Na versão que eu vi (existem várias) era negra, com um sorriso vazio estampado na cara. Some-se a isso também a banda sonora - ao reouvir o seu tema (<a href="https://youtu.be/jHyR8kD2Uuw">https://youtu.be/jHyR8kD2Uuw</a>) hoje detecto uma semelhança com algumas das composições mais macabras de Ennio Morricone (Le Trio Infernal - <a href="https://youtu.be/WzKYIIBLPbc">https://youtu.be/WzKYIIBLPbc</a>, por exemplo), mas com um travo synth mais pronunciado.</p><p>Nos livros, a criatura acaba por ser mais ambígua - condenada ao frio e à solidão pela natureza, por vezes pode ser ouvida a uivar de desgosto, sozinha na floresta. De facto não existem verdadeiros vilões nem heróis num universo soficticado como o de Janssen. Mas nos meus pesadelos, será sempre uma ameaça imparável, a aproximar-se…e aproximar-se…</p><p>Daniel Reifferscheid é o anfitrião do podcast de cinema português Prestes A Ver (<a href="http://prestesaver.libsyn.com">prestesaver.libsyn.com</a>), bem como do programa de rádio You Know The Score, especializado em bandas sonoras, transmitido na Rádio Quântica. Aos trinta e cinco anos tem orgulho em dizer que já consegue ver filmes da Hammer sem ter medo e que, chegado aos quarenta, deverá estar pronto para experimentar o <i>The Exorcist</i>. </p><div><br /></div>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-21327193398609071562020-10-01T10:19:00.002+01:002020-10-01T10:19:00.734+01:00Furie (Hai Phuong, 2009)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/SXiWz0yLLdE" width="320" youtube-src-id="SXiWz0yLLdE"></iframe></div><p></p><p><i>As 3 fúrias são 3 figuras da mitologia grega e, mais tarde romana, cuja estória de origem difere mas, no essencial, ligadas ao submundo, que perseguem com um espírito de justiça vingador as pessoas malévolas. Pretende-se, através do temor a estas que as pessoas não tenham atitudes condenáveis a nível moral e societal como o homicídio, ofensas contra os deuses, conduta pouco filial ou perjúrio.</i></p><p>Hai Phuong, interpretada por Veronica Ngo, mais conhecida a nível internacional pelo pequeno mas impactante papel de Paige Tico e, mais recentemente, como Quynn em The Old Guard é a Fúria titular. Algures um executivo considerou que manter o nome da personagem não traduziria bem para as audiências internacionais mas o que é que eu sei de marketing para cinema? Hai Phuong é uma ex-gangster que largou a vida do crime e mudou de cidade após descobrir que estava grávida. Nesta nova encarnação a pobreza e um trabalho legal, mas demasiado próximo para conforto da antiga vida que abandonou - faz a cobrança de dívidas -, valem-lhe a censura da filha Mai (Mai Cát Vi) e a desconfiança dos locais. Num raro momento em que questiona a inocência da filha, acusada de um roubo que não cometeu, esta foge e acaba por ser raptada por bandidos. Para Hai Phuong é impossível assistir de forma impávida e serena, promovendo uma perseguição implacável para reaver a sua filha antes que seja tarde demais.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbjCMB-IXfAeFxrgZq-Q8nmNNoZ5W_h5-EwQ3FRSn-Y24hZmDkvWuvhmPsb1VNAc44X1lSvxFpnf5lItCYtTOp2Z2282gP6dQF-vqAAOZowvwr_8_L8RQMf6NIiF6kr9fxBUX8mJo8tTI/s680/ahi-phuong-truc.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="452" data-original-width="680" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbjCMB-IXfAeFxrgZq-Q8nmNNoZ5W_h5-EwQ3FRSn-Y24hZmDkvWuvhmPsb1VNAc44X1lSvxFpnf5lItCYtTOp2Z2282gP6dQF-vqAAOZowvwr_8_L8RQMf6NIiF6kr9fxBUX8mJo8tTI/s320/ahi-phuong-truc.png" width="320" /></a></div><p>Se Furie parece familiar é porque já vimos outros filmes de mães-coragem lutando, contra tudo e todos, para reaver a sua prole. Mas e se vos disser que a Veronica Ng já fez este filme antes e melhor? Em 2009, Ng fez o filme "Clash", cuja apreciação podem encontrar neste mesmo blog, com Johnny Tri Nguyen, um actor praticante do Vovinam (arte marcial vietnamita), em que Ng, que também integrava o submundo do crime tentou resgatar a filha das mãos de um barão do crime. As cenas de acção corpo-a-corpo eram pelo menos mais realistas e o final surpreende.</p><p>Furie, lamento dizê-lo, aparte uma perseguição de mota ao longo de um rio e da capacidade da actriz de nos bombardear com torrentes de água oriundas dos seus canais lacrimais - juro que pensei que ninguém conseguia fazer concorrência às actrizes coreanas -, é uma desilusão. Sim, há cenas em que o elenco pouco mais que secundário, além de Hai Phuong e de um polícia que decide apoiá-la dá mostras de atleticismo, no entanto, a coreografia fica aquém do que já se fazia em 2009. Com isto, não menosprezo a importância de uma arte marcial menos conhecida ter atenção no palco mundial, à semelhança do que sucedeu em 2011 com "The Raid: Redemption", para mais, quando esta demonstra um nível de realismo longe das encenações graciosas de kung fu de inícios do milénio que já cansam e se aproxima mais do fenómeno John Wick (2014) ou Atomic Blonde (2017). A violência é esperada e quase glamorizada, os golpes são vistos e quase sentidos, o argumento é muitas vezes mínimo, com pequenas pausas para respirar, ao encontro das expectativas das audiências dos novos filmes de acção de 2010 em diante.</p><p>O argumento de Furie, não é muito exigente, dando total enfoque à missão de Hai Phuong, sendo pontuado pelos clichés do bandido que surge das brumas de um passado tenebroso para se vingar de ofensa cometida e dos familiares que foram deixados para trás, a quem se pede auxilio em altura de desespero, como se preencher os pontos de uma <i>checklist</i> se tratasse. Por isso, fico também, muito surpreendida com a comoção em torno de Furie. Se a relativamente nova fama de Ngo atrair as atenções para o cinema vietnamita tanto melhor mas, não se enganem pensando que Furie constituirá uma obra superior. Duas estrelas e meia.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQEWnWXWZ4rBSwZaVR7gkTF8Fono1aUa3LbWtiJYMDvVOWXxuUds32liBkdcwdXbl8u02LVBA5qeD73pmnkeW3faWBuuGI6Nbsnz_lTqcI5T-PSpuKJj_h4Kbns7pzEhPLfr9V2tZyrnc/s1000/Furie-official-movie-poster-2019.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="686" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQEWnWXWZ4rBSwZaVR7gkTF8Fono1aUa3LbWtiJYMDvVOWXxuUds32liBkdcwdXbl8u02LVBA5qeD73pmnkeW3faWBuuGI6Nbsnz_lTqcI5T-PSpuKJj_h4Kbns7pzEhPLfr9V2tZyrnc/s320/Furie-official-movie-poster-2019.jpg" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj40R8p-aJ-C_bbEyCYY9R97OEyDWZEKnoN4YAPb4kiTc7LHPAfATNxL92yaEJaBYnyPKlh-HEYo4JGpQ_7fI4ONeoSF9VlQxeo02oPyFfDpcYuZxLex5lc_G_uE_q_yE83ih3T8b06mEw/s81/2-estrelas-e-meia-novo.gif" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="30" data-original-width="81" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj40R8p-aJ-C_bbEyCYY9R97OEyDWZEKnoN4YAPb4kiTc7LHPAfATNxL92yaEJaBYnyPKlh-HEYo4JGpQ_7fI4ONeoSF9VlQxeo02oPyFfDpcYuZxLex5lc_G_uE_q_yE83ih3T8b06mEw/s0/2-estrelas-e-meia-novo.gif" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: left;">Realizador: Le-Van Kiet<br />Argumento: Kay Nguyen<br />Veronica Ngo como Hai Phuong<br />Mai Cát Vi como Mai<br />Thanh Nhien Phan como Capitã Vu Trong Luong<br />Pham Anh Khoa como Truc<br />Kim Long Thach como Huy<br />Khanh Ngoc Mai como Ngoc<br />Hoa Thanh como Thanh Wolf</div><div><br /></div>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-45210294431460685632020-09-29T14:27:00.000+01:002020-09-29T14:27:58.430+01:00Suores Frios - "Não abandonem os animais" - por Manuel Reis<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiw_fdiaB2oejwvY-7D4O8cMS3Cz47EkZr28efiyGz2waV9XpTnmEjQpHDpUGglgA3e8WxWR-0HBnNf4bWxcgVTXLLwKt5S361v3z4cMX4V5ENgYTlfebig4TbHsPGKw6dTd9txdcYA3FI/s2259/SUORES+FRIOS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="2259" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiw_fdiaB2oejwvY-7D4O8cMS3Cz47EkZr28efiyGz2waV9XpTnmEjQpHDpUGglgA3e8WxWR-0HBnNf4bWxcgVTXLLwKt5S361v3z4cMX4V5ENgYTlfebig4TbHsPGKw6dTd9txdcYA3FI/w400-h178/SUORES+FRIOS.jpg" width="400" /></a></div><p>Quando a Rita me convidou para escrever um texto para o blog dela, pensei logo que não vejo regularmente terror (nem filmes asiáticos). Mas a categoria foi aberta à "angústia", e aí… há alguma coisa.</p><p>Posso considerar que a minha infância cinéfila foi segura q.b., com muita animação da Disney, da Warner/Turner/MGM, algumas coisas europeias e canadianas… e alguns filmes já para maiores de 12 ou 16 - acho que vi o Robocop pela primeira vez quando tinha 6 anos, e os braços a explodir eram fixes, mas não tinha discernimento para perceber que aquilo não devia ser transmitido aos sábados à tarde na televisão.</p><p>Mas, indo para a animação, os meus pais acharam por bem enfiar-me pela goela abaixo os clássicos da Disney - uma decisão bastante responsável, até, durante o período renascentista da animação do Grande Rato (salvé, ó Grande Rato, nosso poderoso líder). Adorei o Aladdin, o Hércules, o Toy Story (que, não sendo ainda da Disney, era distribuído por eles e está lá, junto dos Clássicos). Anteriores à Renascença, até há outros dos quais gostei bastante: o Rato Basílio, Bernardo e Bianca, 101 Dálmatas (que é, para mim, um filme obrigatório)… Se não corri todos, corri boa parte. E isso incluiu um filme com alguma importância na história da empresa: Papuça e Dentuça.</p><p>Para quem não sabe qual é a história (obviamente, este resumo contém spoilers): Uma raposa (Tod/Dentuça) fica órfã e outros animais do bosque começam a tomar conta dela. Eventualmente, a raposa é adoptada por uma velhota. Problema: a velha vive ao lado de um caçador, que tem armas e cães de caça. Um desses cães, ainda cachorro (Cooper/Papuça) torna-se melhor amigo de Tod, enquanto ainda são jovens. Eventualmente crescem, Cooper é educado como sendo apenas e só um cão de caça, que não pode ser amigo dos animais que vai matar, e a velha abandona Tod… numa reserva de caça (porque era mais seguro para a presa do que estar a viver - literalmente - ao lado do caçador).</p><p>Lembro-me de ver isto e de ter chorado bastante (foi algures entre os 5 e os 9 anos de idade). Eu cresci numa família em que a presença de um cão (e, eventualmente, de mais) era obrigatória, mas sempre com a pedagogia que se deve incluir quando há um animal de estimação: ele faz parte da família, não é abandonado nem pode ser maltratado. E estava a ver ali o oposto disso. Por muita motivação que houvesse na história para que isso acontecesse, foi doloroso ver aquilo.</p><p>O filme é adaptado de uma fábula para adultos, <i>The Fox and The Hound</i>, de Daniel P. Mannix, que é muito mais negra e profunda do que a versão mais aguada que a Disney exibiu nas salas. Mesmo a própria Disney acabou por fazer uma alteração ao seu plano original de adaptação deste romance para um tom mais familiar.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCpAHraV0h85K6_il-zfgnFQA2YNsy0NO-A9_KkN4BirOq9wMpWNani2VSq0ByE00Qa_4Rx179Cvj2oOLFxU80DKZsXMF24IYivkYGumksfwbUUHmvN_k4S-XTlxW1WvrysUSiNgXTW08/s1200/papu%25C3%25A7a-dentu%25C3%25A7a-mreis.webp" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="843" data-original-width="1200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCpAHraV0h85K6_il-zfgnFQA2YNsy0NO-A9_KkN4BirOq9wMpWNani2VSq0ByE00Qa_4Rx179Cvj2oOLFxU80DKZsXMF24IYivkYGumksfwbUUHmvN_k4S-XTlxW1WvrysUSiNgXTW08/s320/papu%25C3%25A7a-dentu%25C3%25A7a-mreis.webp" width="320" /></a></div><p>Foi um penso rápido, que acaba por ser simbólico para o filme e para a história dos Clássicos da animação da Disney, dado que o seu longo processo de produção marcou a transição entre a equipa de animadores que originou os estúdios e uma nova equipa de animadores (de onde constavam nomes como Brad Bird ou John Lasseter) que, eventualmente, acabou por marcar a Renascença da Disney nos anos 90, a integração da animação CGI e, eventualmente, da Pixar, com todas as mudanças que estes últimos 30 anos causaram nesta abordagem da animação infanto-juvenil: uma subida de nível no tratamento intelectual das crianças ou a escrita de diálogos (e o <i>casting</i> de vozes conhecidas do grande público) para incluir toda a família… com algumas sensações agridoces pelo meio. </p><p>Mas isto é sobre mim: o filme causou-me dor durante alguns dias após tê-lo visto pela primeira vez. Já não me lembro se tive pesadelos, mas foi um filme que me marcou bastante. Tentei vê-lo uma segunda vez, ainda quando era puto, mas não deu. E fiquei com o trauma até hoje: não pego no filme há mais de 20 anos, e nem com a Disney+ lhe vou pegar. Talvez, daqui a muitos anos, quando tiver catraios a quem tenha de dar formação cívica e cinéfila. E, mesmo assim, Papuça e Dentuça não estará na lista de prioridades.</p><p><i>Manuel Reis já escreveu em blogs, faz podcasts e estuda Publicidade e Marketing. Vê demasiadas séries de televisão, e gosta de falar sobre elas. Podem seguir o que ele diz e faz no <a href="https://twitter.com/manuelreis" target="_blank">Twitter </a> ou em <a href="http://jaaseguir.blogs.sapo.pt">jaaseguir.blogs.sapo.pt</a>.</i></p>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-65794808304936888732020-09-14T10:17:00.002+01:002020-09-14T10:17:01.069+01:00Suores Frios - "O Nokia de Blair Witch" - por Carlos Reis<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWXmb_A4r3UspKSdkv3lC7Oe98H273XDVUpp47AF-JSt_rTS6KJqEQGL80jATd7PPLG0t5xCTcX94q0av1FrE5tmbmL5TkY4JH7zRyEhyy3nE0bcRyKEjrp-9atT-1439tOdyG5Mw37pA/s2259/SUORES+FRIOS.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="2259" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWXmb_A4r3UspKSdkv3lC7Oe98H273XDVUpp47AF-JSt_rTS6KJqEQGL80jATd7PPLG0t5xCTcX94q0av1FrE5tmbmL5TkY4JH7zRyEhyy3nE0bcRyKEjrp-9atT-1439tOdyG5Mw37pA/w400-h178/SUORES+FRIOS.jpg" width="400" /></a></div><p>Não gosto de filmes de terror. Ou melhor, não gosto de ver filmes de terror. Entrei nesta negação quando com onze ou doze anos apanhei "O Dentista" de Brian Yuzna a passar por volta da uma da manhã na TVI e, deitado na cama, às escuras no meu quarto, fiquei a vê-lo até ao fim. Sei lá porquê. Tanta coisa melhor que me fez adormecer ao longo das últimas três décadas no sofá, na cama, na cadeira do computador, até sentado no chão com miúdos com cólicas ao colo. Mas este fiquei até ao fim. Resultado? Anos de pesadelos inexplicáveis relacionados com dentistas. Eu que até sempre gostei - e ainda gosto - de ir ao dentista. Mas naquelas noites que acordava com "suores frios", ou era o Schwarzenegger de metrelhadora e peito ao léu a disparar contra um autocarro comigo lá dentro - e sim, tive este pesadelo várias vezes, acordando em pânico no exacto momento em que era atingido -, ou vinha o ca**ão do dentista despachar-me, comigo imóvel naquele cadeirão deitado, congelado e imobilizado por um qualquer anestésico. Vieram anos e anos a comer cinema ao pequeno-almoço, almoço e jantar. Nunca nada que tivesse pinta de pregar um cagaço ou outro. Nem o raio dos clássicos que todos falavam, dos Sextas-Feiras 13 ao Exorcista, dos Halloweens ao Poltergeist. Tudo muito bonito até ao momento em que me apaixonei pela minha mulher e, depois de passar o ponto de não-retorno, percebi que ela só gostava de filmes de terror. Tudo o resto adormecia em cinco minutos, fosse na sala de cinema ou em casa.</p><p>Lá tive que descobrir tudo o que tinha ficado para trás. Os clássicos, as estreias, os mais refundidos, os asiáticos, os raios que os partam. Até que chegou o dia, ou melhor, a noite, que me traz aqui. A noite em que metemos uma cassete VHS d'"O Projecto de Blair Witch". Sozinhos em casa, ali numa noite de verão durante o Euro 2004. Todos sabem do que se trata, não é preciso grandes apresentações. Remeto-vos já para a cena final. Lembram-se? Uma personagem possuída, em pé, num canto de uma casa abandonada no meio do mato, cabeça e braços para baixo. "Borrei (não literalmente, felizmente) a cueca", para não variar. Duas ou três da manhã, finito, vamos dormir: ela ri-se do que viu, eu estou tão incomodado quanto arrepiado. "Mas para que é que vejo estes filmes?", pensei uma vez mais. Fechamos os olhos, adormecemos.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1220" data-original-width="2000" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8f-jaAi9bBamMvjJ63YicmQTW_nJzJjj1K3cpqtg0mVrd893wPSPeNPAXrn_9elO1zpTc2qW4RmO9foIvkFqR4HxZ452Tpib9wnlpeHPc62mq5GeLqByKRfycBgZpZqw3cMRx-2ZG6rc/s320/The-Blair-Witch-Project-Carlos-Reis.jpg" width="320" /></div><p>Sono profundo. Uma, duas, três, sei lá quantas horas passam. Sinto movimento, oiço um barulho, descerro um dos olhos para espreitar o que se passa. O que vejo dispara-me o coração para fora do peito, como nunca antes - ou depois - na minha vida. A minha mulher (então namorada) no canto do quarto, cabeça e braços para baixo. Cabelo longo, como se fosse uma japonesa qualquer possuída do "Ringu". Caio da cama, começo aos gritos, acordo o prédio inteiro. Ela assusta-se tanto com a minha reacção quanto eu com a presença dela naquele canto. Pensei que tinha sido uma partida dela e estava pronto para a matar. Mas não, afinal tinha ido pôr um daqueles tijolos com Snakes chamados Nokias 3210 a carregar. Estava, segundo ela, há horas a fazer aquele apito irritante de bateria baixa de cinco em cinco minutos. Foi uma coincidência dos diabos - ou das bruxas, para ser mais preciso com o filme em causa. Foi o susto de uma vida. E voltei a fechar a porta ao terror. O amor também tem limites. Mais de quinze anos sem rever esta cena e, só de escrever este texto, lembro-me dela como se fosse ontem. Mas porque é que alguém vê filmes de terror? Explicam-me?</p><div style="text-align: left;">Autor do blogue Cinema Notebook: <a href="http://cinemanotebook.blogspot.com">http://cinemanotebook.blogspot.com<br /></a>Co-autor do podcast Nas Nalgas do Mandarim: <a href="http://nasnalgasdomandarim.pt">http://nasnalgasdomandarim.pt<br /></a>Co-autor dos anuários "Videoclube do Sr. Joaquim": <a href="https://www.facebook.com/SenhorJoaquim">https://www.facebook.com/SenhorJoaquim</a></div>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-64318471927384062902020-09-07T21:04:00.001+01:002020-09-07T21:11:05.201+01:00Suores Frios "Por entre Dois Dedos num assento de Veludo - por Tomás Agostinho<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSjCUFS55b-hZjiw5ACqdJ5m0Wxe7qVFk8tLmIUi09oviYM6XWmqP5xSKTwtFZL2LG6CmNFuf_gxff7MPaaWg5mNPQl47Fm8UDz-F89vMianiUpzU4Jaq0R2d9nrXUGa4IsKxhTqQX8RA/s2259/SUORES+FRIOS.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="2259" height="178" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSjCUFS55b-hZjiw5ACqdJ5m0Wxe7qVFk8tLmIUi09oviYM6XWmqP5xSKTwtFZL2LG6CmNFuf_gxff7MPaaWg5mNPQl47Fm8UDz-F89vMianiUpzU4Jaq0R2d9nrXUGa4IsKxhTqQX8RA/w400-h178/SUORES+FRIOS.jpg" width="400" /></a></div><div><br /></div><div>É curioso pensar que o carácter natural de um filme tem muito pouco a ver com a nossa relação de tensão com o mesmo. Lembro-me ainda antes de pensar em redigir este texto que as imagens que mais me assolam, que induzem medo não são necessariamente aquelas cuja natureza intrínseca o parece exigir, vulgo filme de terror. Associar um género a uma sensação, de certo modo tónica, não é atípico no cinema. As emoções básicas do ser humano encontram-se perfeitamente delineadas como respostas emocionais padrão enquadradas num determinado género – seria até estranho que assim não o fosse quando nos sentamos num determinado filme. Comédia é para rir; drama é para chorar; terror é para amedrontar. Porém é igualmente sabido que o binómio género/emoção enquanto carácter meramente dual e exclusivo é pouco expressivo. Mais interessante é um filme, à parte da sua sensação <i>essencial</i>, conter uma confluência de outras. É nesta fusão que se abre um espaço para as leituras não tónicas. Estas interpretações emocionais são afectadas pelo contexto do tempo e do espaço de cada pessoa que vê o filme. As obras não são apenas produtos do seu tempo; são igualmente frutos da nossa relação com as mesmas. </div><div><br /></div><div>Exemplo claro disto são os filmes de terror de outra época que semeavam o medo junto dos seus espectadores incautos e que hoje se oferecem mais como memórias e registos, cápsulas do tempo de técnicas narrativas e estilísticas que despoletavam essas reações. Uma outra instância destas leituras são os filmes que <i>vincaram</i> a nossa infância. Não falamos apenas de um elemento nostálgico que adorna as películas em visualizações futuras, mas sim de uma verdadeira memória fantasma de uma reação que não se desvincula do objecto. Tomo como exemplo pessoal e enquadrado na temática deste espaço editorial, Harry Potter and the Chamber of Secrets (2002). </div><div><br /></div><div>Naquela sessão da tarde, ainda no antigo cinema das Amoreiras, via o filme com a minha mãe, onde tive que lhe pedir – entre lágrimas e um eminente ataque de ansiedade – que me levasse dali para fora, voltando – decidido de o terminar e vencer o medo – ao filme após o intervalo (será que houve intervalo? – os detalhes escapam-me). Em causa, tantos anos depois, e de interesse para este texto não está apenas o carácter das cenas que me levaram a tal reação. Não é difícil entender que para uma criança de nove anos o filme contém o necessário para gerar tal resposta neuronal. Na análise deste fenómeno o mais curioso talvez seja a memória que ficou do mesmo. Tendo voltado à sala depois do intervalo, numa (semi) vã tentativa de controlar a ansiedade – digo vã, na medida em que se revelou uma tentativa infrutífera, porque apesar de aguentar até ao final, fui frequentemente assombrado pelas imagens do mesmo durante os dias seguintes –, esse esforço (a luta pelo controlo) acabou por produzir um resultado inesperado: não me lembro da segunda metade do filme, dessa primeira visualização – dir-se-ia que fui o alvo perfeito de um dos encantamentos de amnésia do professor Lockhart. A minha memória do filme tomou para si a natureza da estrutura de todas as memórias:<i> absolutamente</i> lacunar. Seria a caricatura das minhas rememorações cinematográficas. Espantosamente, nos anos que se seguiram e antecederam uma segunda visualização – desta vez mais controlada e “completa” – fui criando imagens fantasmas de cenas, que sei agora não existirem, de modo a preencher as lacunas narrativas da minha memória. Porém, encontrava-me firmemente convicto que existiam. Lembro-me, inclusive, de comentar que teria visto uma versão diferente do filme. E vi, na minha cabeça, com o medo como projector das imagens. Mantém-se até hoje como uma das minhas experiências mais radicais no grande ecrã, evidenciando apenas o poder do medo na manipulação da percepção do passado e na falência do controlo do presente. </div><div><br /></div><div><br /></div><div>Lisboa, Setembro (sob o medo da quarentena mundial) de 2020,</div><div>Tomás Agostinho</div><p></p>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-18243958935646490692020-08-24T19:10:00.003+01:002020-08-24T19:10:00.859+01:00Suores Frios - "Ben Gardner, Pescador Zarolho" - por David Martins<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWXmb_A4r3UspKSdkv3lC7Oe98H273XDVUpp47AF-JSt_rTS6KJqEQGL80jATd7PPLG0t5xCTcX94q0av1FrE5tmbmL5TkY4JH7zRyEhyy3nE0bcRyKEjrp-9atT-1439tOdyG5Mw37pA/s2259/SUORES+FRIOS.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="2259" height="177" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWXmb_A4r3UspKSdkv3lC7Oe98H273XDVUpp47AF-JSt_rTS6KJqEQGL80jATd7PPLG0t5xCTcX94q0av1FrE5tmbmL5TkY4JH7zRyEhyy3nE0bcRyKEjrp-9atT-1439tOdyG5Mw37pA/w400-h177/SUORES+FRIOS.jpg" width="400" /></a></div><p>Sinopse: Em Amity um tubarão branco estraga a economia local em plena época balnear. E come alguns turistas também.</p><p>Tudo o que se podia escrever sobre este portento já deve ter sido escrito nas ultimas quatro décadas, mas vamos lá. Um realizador prodigio e um filme prodígio que mudou a face do cinema moderno. Mas de todas as cenas de suspense e "susto" escolho o momento em que no destroço do barco afundado aparece a cabeça do pescador a cumprimentar o mergulhador Matt Hooper.</p><p>Mais que suor, esta cena proporcionou-me o que é conhecido pelo nome técnico de "cagaço". </p><p>Se a minha esburacada memória me serve bem, a primeira vez que vi o filme foi algures nos anos 90, numa noite de Verão. O ecrã era uma pequena televisão a preto e branco que funcionava a bateria e já toda a gente na nossa casa na ilha estava a dormir. E foi estendido no sofá no escuro que apanhei o grande susto de ver surgir entre um rombo nas tábuas do barco de pesca os restos mortais do pescador Ben Gardner. A cabeça flutua entre as tábuas de forma sinistra, sem o olho esquerdo e a pele com um tom doentio esverdeado. Cor esverdeada, pelo menos na memória. Porque se eu pelo menos na primeira vez vi em preto e branco, a recordação da cor verde deve ter sido influencia do relato da minha mãe, que já me tinha contado que quando ela viu o filme nos anos 70 também se impressionou (acrescentou que de todo o filme só se recorda desse momento). O cinema a unir gerações. </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxNdL76Yd9-RddlVXaau2geUawpc_A6Dl-6QUJcJKJHuPnUBftD1KUz7wSPYM67pKwFg_LZdzbtr-R5tQV-gMC5RdW_bWaeKNMWZslgzZvF1Jozj_lPCnMESc5351XrLN2tonQuViiyj4/s620/Jaws.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="240" data-original-width="620" height="155" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxNdL76Yd9-RddlVXaau2geUawpc_A6Dl-6QUJcJKJHuPnUBftD1KUz7wSPYM67pKwFg_LZdzbtr-R5tQV-gMC5RdW_bWaeKNMWZslgzZvF1Jozj_lPCnMESc5351XrLN2tonQuViiyj4/w400-h155/Jaws.jpg" width="400" /></a></div><p>Andei a ver vários vídeos recentemente, e a tal cor verde tem a ver com as diferenças de color grading e condições dos vários relançamentos e remasterizações. Não continuo grande fã de filmes de terror, e provavelmente esta cena ajudou. Ironicamente, um momento tão recordado foi filmada numa piscina e acrescentada ao filme quase no final do prazo.</p><p>É um jump scare, coisa que aprendi a abominar nas décadas seguintes. Mas, segundo um video que disseca a cena no Youtube, continua a proporcionar "cagaço" em visionamentos posteriores devido à forma diferente como está estruturado dos barulhentos jump scares modernos.</p><p>Claro que depois de ter visto o filme tantas vezes, a antecipação abafa o impacto da cena, e o boneco já não parece tão impressionante. </p><p>E as ultimas vezes que a revi foram em forma isolada no <a href="https://www.youtube.com/watch?v=lYoYK761wwc" target="_blank">Youtube</a>, portanto o efeito está praticamente ausente. Mas aposto que para primeiros visionamentos, o "cagaço" continua lá...</p><p> David Martins (do <a href="http://cine31.blogspot.com/" target="_blank">CINE31</a>) </p>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-41948278454469273052020-08-17T19:39:00.000+01:002020-08-17T19:39:00.272+01:00Suores Frios - "Ter medo é coisa que não me assiste" - por Vítor Rodrigues<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhi4d6ntmd8ts45UsCkuPr0kP64bTJg8LLXo0glmVa2NSekXNKqfxZFPqZZo7WwfImtdsTymQ3T74Rv7cWSmGmTrow3coRSb32C2qlZI2iDFtyVODnDQ18BGJxpkD2PE4wjtr8KKAFIluI/s1600/SUORES+FRIOS.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="709" data-original-width="1600" height="176" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhi4d6ntmd8ts45UsCkuPr0kP64bTJg8LLXo0glmVa2NSekXNKqfxZFPqZZo7WwfImtdsTymQ3T74Rv7cWSmGmTrow3coRSb32C2qlZI2iDFtyVODnDQ18BGJxpkD2PE4wjtr8KKAFIluI/s400/SUORES+FRIOS.jpg" width="400" /></a></div>
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Tenho uma relação muito especial e invejosa com o terror. Se por um lado sei que não estou a apreciar correctamente um género cinematográfico com mérito próprio, por outro não consigo entender de todo o fascínio. Permitam então que me envergonhe...<br />
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Se eu não gosto de ser assustado na vida real, porque haveria de o querer numa sala de cinema? Porque hei-de pagar para me sentir contraído e receoso com o que aí vem? Poderão falar-me em rush de adrenalina ou até que o terror não é sinónimo de jump scares, mas ainda assim não me convencem. É então com extrema vergonha que apresento três momentos que me marcaram e cimentaram a minha convicção.<br />
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Em 1997, com 13 anos, lembro-me de ficar “cagado” com o início de Men in Black. Sim, a comédia com Will Smith (eu não disse que vinha aqui envergonhar-me?!). A verdade é que aquela cena inicial em que um alien “caça” Tommy Lee Jones deixou-me apreensivo até quase meio do filme, receando o que aí pudesse vir. Aos 15 aventurei-me “à séria” com o género e vi o Projecto Blair Witch. Único filme que vi no velhinho XXX, e dos poucos que tive de me sentar na zona lateral da sala, por esta estar já tão lotada. Lembrem-se que esta é uma altura pré-internet, logo, tudo o que eu estou a ver é “real”! Saí daquela sala perfeitamente convencido que tinha visto um documentário. A imagem final, em que a camêra cai e um dos jovens está virado para o canto da sala ficará gravado na minha memória para todo o sempre.<br />
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O meu último exemplo é o mal amado Signs de 2002, com Mel Gibson e Joaquin Phoenix. Poderia escolher várias cenas de tensão em campos de milho ou o final na casa, mas a cena que mais me marcou é a de um noticiário, em que é reproduzido um video amador do Brasil e do nada surge um alien. Apanhou-me tão despercebido que me encheu de medo. Não de susto, mas de medo.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglhef6bTHAcJZHJeeqcd8LQelGsS0nf18rU8kqOsvQIRKszuHlDDgzPddk4rgbAwh-0T6k_CuSVhQQk6oxbOaAF1HaVPvK_1zI5B6xqQPxADm73Cxvwtw6aCope2gNwSuxJ20s5h39PGw/s1600/Vitor-Rodrigues.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="389" data-original-width="1600" height="154" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglhef6bTHAcJZHJeeqcd8LQelGsS0nf18rU8kqOsvQIRKszuHlDDgzPddk4rgbAwh-0T6k_CuSVhQQk6oxbOaAF1HaVPvK_1zI5B6xqQPxADm73Cxvwtw6aCope2gNwSuxJ20s5h39PGw/s640/Vitor-Rodrigues.jpg" width="640" /></a></div>
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Estes exemplos completamente lights fizeram-me perceber que não tinha nem mãozinhas nem palato para terror valente. Uma grande parte de mim tem ainda um preconceito real com o género que não consigo afastar. Há uma pobreza de ideias revolucionárias e recurso a artimanhas repetitivas em argumentos fracos que usam o terror como muleta, em vez de uma característica secundária. Consciente que falo de certeza do alto pedestal da ignorância, mas ainda assim, é o meu pedestal.<br />
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Aos 36 já podia ganhar vergonha na cara e ver umas obras primas. Afinal de contas, quando vi o Exorcista, anos depois de todos os meus amigos, encontrei mais comédia que terror. Men in Black é agora pura comédia e Blair Witch perdeu o “encanto” depois de perceber que era tudo mentira. Talvez um palato mais maduro me fizesse despertar para novas sensações... mas, tenho medo...<br />
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O Vítor escreve umas coisas no <a href="https://vidaemserie.pt/">Vida em Série</a> e no <a href="https://www.seriesdatv.pt/">Séries da TV</a> e pode ser encontrado no Twitter a pastar...Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-18264212467507388942020-08-10T10:26:00.000+01:002020-08-10T10:26:00.635+01:00Suores Frios - "A mão que embala o medo" - por António Araújo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjGfiCC42JvdSQxmwk2NTJodgakCCyWJ5jqjuLBhNoM4D0GLnTTVOcRSc2hLcKbWX8k1xpXcDum7IYpYOoBv-pSc0OGScQBxMSkq5qvFFZ8zI9sBxOXBuXGUghndiLJ1tXKqN3I9sk-SI/s1600/SUORES+FRIOS.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="709" data-original-width="1600" height="176" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjGfiCC42JvdSQxmwk2NTJodgakCCyWJ5jqjuLBhNoM4D0GLnTTVOcRSc2hLcKbWX8k1xpXcDum7IYpYOoBv-pSc0OGScQBxMSkq5qvFFZ8zI9sBxOXBuXGUghndiLJ1tXKqN3I9sk-SI/s400/SUORES+FRIOS.jpg" width="400" /></a></div>
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<b><i>Carrie</i></b>, realizado por Brian De Palma em 1976 segundo adaptação de Lawrence D. Cohen do primeiro romance de Stephen King, conta a história de Carrie White, uma jovem tímida e inadaptada, gozada pelas colegas e aterrorizada pela mãe fanática religiosa, que descobre ter poderes telecinéticos, o que vem a dar muito jeito quando é vítima de uma elaborada e cruel piada à frente da escola toda na noite do baile de finalistas. No meu caso, quem me aterrorizava era a minha tia, também religiosa, se bem que não tão fanática, censurando-me a cada oportunidade na sua convivência constante na nossa casa. Porém, nos fins-de-semana em que dormia em casa da minha tia, por certo para aliviar os meus pais de ter de aturar uma criatura menor de idade cujo único sonho parecia ser o desejo impossível de ter um videogravador de cassetes VHS, testemunhava uma milagrosa e radical transformação: o demónio implicativo que conhecia durante a semana mutava-se nestas alturas em santa permissiva, aproveitando eu para ver todos os filmes que passavam na televisão tarde e a más horas, e que os meus pais nunca me teriam deixado ver. Foi assim que o meu destino se cruzou com o de Carrie.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglBZSt3ObNUCwbQbXBAmCPTif8oXapurNcWuymWbb5kUKiK145pYzGe_-2NuPn3poeD1_p7in29yDlIQCOaQ62RBfq9E61hhCUApkEwtbdYsgMiwg9qsn0LQA8sxKFR8Q686FHoou0xss/s1600/Carrie.tif" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="407" data-original-width="750" height="173" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglBZSt3ObNUCwbQbXBAmCPTif8oXapurNcWuymWbb5kUKiK145pYzGe_-2NuPn3poeD1_p7in29yDlIQCOaQ62RBfq9E61hhCUApkEwtbdYsgMiwg9qsn0LQA8sxKFR8Q686FHoou0xss/s320/Carrie.tif" width="320" /></a></div>
Assisti tenso e com uma falsa sensação de segurança dada pelas mantas puxadas até aos olhos a raparigas adolescentes despidas, bullying, menstruações — o suficiente para afligir de mil e uma formas qualquer pubescente —, e, menos problemático, matricídio por empalamento com tesouras e facas pelo poder da mente, além de chacina generalizada de toda uma escola. Depois de sobreviver à atribulada jornada, com o fim do filme à vista e profundamente orgulhoso da minha coragem, a minha ingenuidade foi-me roubada que nem tapete puxado à traição debaixo dos pés. Quando a arrependida Sue deposita flores na campa de Carrie, aquela ensanguentada mão que desponta pelo meio das pedras abalou o meu íntimo e traumatizou-me profundamente. Durante semanas, senti calafrios só de pensar naquele momento. O escuro passou a ser um traiçoeiro companheiro, potencialmente camuflando Carrie, escondida à espera para me agarrar ao virar da esquina. O corredor minúsculo da minha casa, que me levava da sala à casa de banho, com o interruptor apenas numa das pontas, passou a assistir a correrias desenfreadas pela vida de um miúdo amedrontado pelo espectro daquela cena. Foi esse o momento do meu primeiro contacto com finais-choque (ou twists finais, para ser mais moderno), o que não só me preparou para a restante filmografia de De Palma como para a obra de outro autor meu favorito descoberto pela mesma altura: John Carpenter. Nada mais foi como dantes. Passei a desconfiar e a questionar o que via na tela, em constante expectativa pela possibilidade de poder ser abalado por um filme, por muito que isso me pudesse assustar. O cinema, desde aí, passou a envolver alguma dose de perigo, e essa experiência, não a trocaria por mais nada.<br />
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O António Araújo é um cinéfilo com pretensões artísticas, mas talento reduzido (palavras do próprio, não minhas!), que se mascara de consultor de sistemas de informação durante o dia para se revelar à noite como apaixonado podcaster. É autor do<b> Segundo Take </b>e co-autor do <b>Universos Paralelos</b>, que podem ser ambos encontrados em <a href="http://www.segundotake.com/">www.segundotake.com</a>. Colabora também com a <b>Take Cinema Magazine</b> (<a href="https://take.com.pt/">https://take.com.pt</a>) onde é redactor e editor-adjunto.<br />
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Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-46998236046915532622020-08-03T10:39:00.002+01:002020-08-03T10:39:01.049+01:00Suores Frios - "Pesadelo no Videoclube" - por Carla Rodrigues<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWXmb_A4r3UspKSdkv3lC7Oe98H273XDVUpp47AF-JSt_rTS6KJqEQGL80jATd7PPLG0t5xCTcX94q0av1FrE5tmbmL5TkY4JH7zRyEhyy3nE0bcRyKEjrp-9atT-1439tOdyG5Mw37pA/s2259/SUORES+FRIOS.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="2259" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWXmb_A4r3UspKSdkv3lC7Oe98H273XDVUpp47AF-JSt_rTS6KJqEQGL80jATd7PPLG0t5xCTcX94q0av1FrE5tmbmL5TkY4JH7zRyEhyy3nE0bcRyKEjrp-9atT-1439tOdyG5Mw37pA/w512-h226/SUORES+FRIOS.jpg" width="512" /></a></div><div><br /></div><div>No início dos anos 90, eu era uma miúda assustadiça, com uma imaginação muito viva e, por isso, com facilidade em extrapolar da ficção para a realidade uma série de cenários aterrorizantes. Fugia de tudo o que fosse minimamente inquietante ou assustador. Nessa altura, havia um videoclube perto de casa dos meus avós no qual passava muito tempo. Fiz-me sócia e sempre que podia, alugava filmes. Quando não podia, vagueava pelas prateleiras, admirava as capas, jogava Mega Drive e apanhava bocados dos filmes que passavam na TV do videoclube. Era normal terem sempre um filme a rolar, para suscitar a curiosidade de quem lá entrava e, quem sabe, potenciar o aluguer. Neste belo dia em que lá fui, estava a dar um filme que me marcou para sempre.</div><div>O filme era nada mais, nada menos que Pesadelo em Elm Street. Uma escolha estranha para dar, de tarde, num videoclube que era frequentado por miúdos à caça dos filmes das Tartarugas Ninja ou apenas à procura de poderem jogar mais um nível do Sonic. O clássico de Wes Craven apresenta-nos um grupo de amigos adolescentes que, um por um, sucumbem aos ataques de um louco que os persegue em sonhos com uma luva <i>tunning</i> na qual cada dedo é encabeçado por uma faca. </div><div>Fui roubando olhares ao ecrã. O filme estava mesmo no início. Comecei a desconfiar que não ia sair dali nada de bom porque, logo na sequência inicial, havia um excesso deplorável de facas. Aparece uma rapariga, perdida numa sala de caldeira, cheia de vapores estranhos, corredores labirínticos, com um tipo estranho atrás dela. Ela não devia estar ali. E eu não devia estar a ver aquilo. Afinal, parece que era só um pesadelo que a rapariga estava a ter. O filme entra numa parte de maior calma. Mas cai a noite outra vez. E lá aparece a rapariga perdida, a ser perseguida pelo louco das facas. Desta vez, vemo-lo melhor. Estão os dois num beco. Ele segue-a, devagar, a rir-se. Os braços dele alongam-se, expandem, tocam nas paredes do beco. As facas da mão direita fazem faísca na parede. </div><div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1DM9gRoKmA2dDYCsxCDXEgcUaDNusK1eco4RBCFMl_-cGjZ7HUlAzPtL504gjc1PhM-_a_o3K7Qe4p0QeYm2DanHAhoEq1FELclvmi3l3Pa-WORs-nGt7Ack0F9si0f99PYL29Aypy0U/s924/Pesadelo-Elm-Street.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="506" data-original-width="924" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1DM9gRoKmA2dDYCsxCDXEgcUaDNusK1eco4RBCFMl_-cGjZ7HUlAzPtL504gjc1PhM-_a_o3K7Qe4p0QeYm2DanHAhoEq1FELclvmi3l3Pa-WORs-nGt7Ack0F9si0f99PYL29Aypy0U/s640/Pesadelo-Elm-Street.jpg" width="640" /></a></div></div><div>Aqui, eu estava colada ao ecrã, a sentir aquele pânico surdo que nos invade a alma e que nos torna incapazes de sair do sítio. A cena só piora – a rapariga não consegue fugir e é prontamente vindimada pelo gajo das facas. Percebemos que a morte no sonho representa a morte na vida real com uma das mais marcantes cenas do cinema de terror. No quarto onde dormia, vemos a rapariga ser arrastada por uma força invisível, que a puxa parede acima, parece abaixo, pelo tecto, enquanto lhe vão surgindo golpes no corpo, infligidos por essa mesma força invisível. </div><div>Não sei como é que me consegui descolar do chão. Mas mal me consegui mexer, saí porta fora do videoclube sem olhar para trás e não parei enquanto não cheguei a casa. Esta sequência marcou-me para sempre - e estranhamente, mais do que a violência de toda a cena, o que ficou comigo foram os braços a esticar, as facas a fazerem faísca na parede, e o riso sinistro de um louco de rosto queimado que aparecia nos sonhos das pessoas. Tive pesadelos durante semanas e tive tanto medo que não vi filmes de terror durante vários anos. </div><div>Eventualmente, comprei e vi todos os filmes da saga Pesadelo em Elm Street, que é de longe o meu franchise favorito de entre os três grandes franchises do terror. É a saga mais criativa e arrojada – nem todos os filmes são bons, é certo, mas são sempre divertidos e com ideias que, apesar de nem sempre resultarem, são audazes. O original é o melhor - um filme de terror com uma originalidade e um atrevimento brilhantes. É sagaz, afiado como as lâminas da luva do Freddy Krueger. Aterrorizou-me quando era criança, mas deixou a semente de um grande amor pelo género de terror e, por isso, estarei para sempre grata. </div><div><br /></div><div><div>Instagram: <a href="http://instagram.com/seecarladraw">instagram.com/seecarladraw</a></div><div>Tumblr: <a href="http://carlarodriguesart.tumblr.com/">carlarodriguesart.tumblr.com/</a></div><div>Péssima Arte - <a href="https://open.spotify.com/show/7uiYVwC5YUkqfwHYxI0cHh">https://open.spotify.com/show/7uiYVwC5YUkqfwHYxI0cHh</a></div></div><div><br /></div>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-30274546614155443932020-07-27T21:25:00.000+01:002020-07-27T21:25:59.741+01:00Suores Frios - "Rosemary’s Baby, Ou O Cinema de Terror Como Exploração do Quotidiano" - por David Lourenço<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlmR4mR7iKFo_gBbRPS_alwuuqNrLVB4NA3r9jF9cxnrh2wQxYfyBMg5G_WT4oiUgH-H7QtTB2OVqjq7AynQpwIlQTmN1W-mepIqtNzrfwVJ43z5XVCpk0H8WQVgMfWKJRsYhHdzcrPA8/s1600/SUORES+FRIOS.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="709" data-original-width="1600" height="176" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlmR4mR7iKFo_gBbRPS_alwuuqNrLVB4NA3r9jF9cxnrh2wQxYfyBMg5G_WT4oiUgH-H7QtTB2OVqjq7AynQpwIlQTmN1W-mepIqtNzrfwVJ43z5XVCpk0H8WQVgMfWKJRsYhHdzcrPA8/s400/SUORES+FRIOS.jpg" width="400" /></a></div>
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O cinema de terror sempre foi, para mim, um campo fértil em ideias, no qual se consegue abordar qualquer assunto com criatividade. Não raras vezes, é um género subestimado e visto como alienante, pela violência ou pelo esoterismo de algumas histórias, mas, quando é bem feito, o cinema de terror pode ser um reflexo distorcido de aspetos da nossa sociedade, como um espalho convexo que realça certas formas da(s) realidade(s) que conhecemos. Um dos filmes que me tornou mais consciente das possibilidades do género foi Rosemary’s Baby.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiF-soKz6t2MyqHCQFF2ZUCzGAw26yYHBHEa8fkx7AcgTeHJNoizHPWc9NWiiYG_VTOEpQagHa5pfj2E-omgoln4kCVuUKU0mxYq7g6zulAdl0JHjFwtWEBGNrsQDm5mAGYQRbqtfVTLbw/s1600/rosemarys-baby.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="426" data-original-width="707" height="192" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiF-soKz6t2MyqHCQFF2ZUCzGAw26yYHBHEa8fkx7AcgTeHJNoizHPWc9NWiiYG_VTOEpQagHa5pfj2E-omgoln4kCVuUKU0mxYq7g6zulAdl0JHjFwtWEBGNrsQDm5mAGYQRbqtfVTLbw/s320/rosemarys-baby.jpg" width="320" /></a></div>
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Inserido numa trilogia não oficial de Roman Polanski (com apartamentos citadinos como cenário central da ação), a personagem principal passa por uma gravidez particularmente difícil; o filme utiliza o satanismo como metáfora dos poderes ocultos que controlam as mais diversas áreas (nunca me esqueço de como o marido tenta convencer Rosemary a abdicar do bebé recém-nascido para serem recompensados com oportunidades). Os sinais de perigo vêm do comportamento estranho dos vizinhos e da arquitetura hostil dos blocos residenciais, isto é, de uma apresentação subversiva de aspetos do nosso quotidiano, dos quais não desconfiamos ou não queremos desconfiar.<br />
<br />
Aos poucos, Polanski questiona tudo na experiência da vida urbana, nomeadamente o lugar da mulher moderna. Rosemary é violada, a sua sanidade é posta em causa e, no fim, aceita que não consegue remar sozinha contra o estado das coisas e acaba a baloiçar o berço de um bebé que, afinal, é o filho do Diabo. Nem a maternidade é sagrada no mundo contemporâneo – aliás, o momento da conceção é a cena mais surreal de todo o filme.<br />
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Por tudo isto, continuo a adorar o cinema de terror, e, como este exemplo demonstra, qualquer filme, independentemente do género, pode ser uma referência cultural de relevo.<br />
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David Lourenço<br />
O Narrador Subjectivo (2011 – 2017)<br />
<a href="https://onarradorsubjectivo.blogspot.com/">https://onarradorsubjectivo.blogspot.com/</a><br />
Tarkovsky Wannabe (2017 – Presente)<br />
<a href="https://www.instagram.com/tarkovskywannabe/">https://www.instagram.com/tarkovskywannabe/</a>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-73651269737318367982020-07-20T18:48:00.000+01:002020-07-20T18:48:00.753+01:00Suores Frios – "A barata diz que tem (Pesadelo em El Street 4)" - por Miguel Ferreira<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSjCUFS55b-hZjiw5ACqdJ5m0Wxe7qVFk8tLmIUi09oviYM6XWmqP5xSKTwtFZL2LG6CmNFuf_gxff7MPaaWg5mNPQl47Fm8UDz-F89vMianiUpzU4Jaq0R2d9nrXUGa4IsKxhTqQX8RA/s1600/SUORES+FRIOS.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="709" data-original-width="1600" height="176" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSjCUFS55b-hZjiw5ACqdJ5m0Wxe7qVFk8tLmIUi09oviYM6XWmqP5xSKTwtFZL2LG6CmNFuf_gxff7MPaaWg5mNPQl47Fm8UDz-F89vMianiUpzU4Jaq0R2d9nrXUGa4IsKxhTqQX8RA/s400/SUORES+FRIOS.jpg" width="400" /></a></div>
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Curiosidade. É a curiosidade que melhor descreve e ensopa o meu cinema de cachopo. A magia do proibido sempre me inquietou. Tinha de saber, alguém tinha de me contar. E se por um lado os meus pais eram incansáveis timoneiros neste meu deslumbre, por outro tinham regras e linhas muito bem definidas. Um filme para maiores de 16, era um filme para maiores de 16. Mostra lá o BI. Pois. Nada feito. Foi assim que no alto dos meus dez anos sabia tudo o que tinha acontecido em “O Silêncio dos Inocentes”. De trás para a frente, porque tinha ouvido a história, feito perguntas, uma e outra vez. Tive um filme, ali naquela narração paternal cheia de emoção, terror, energia, que só materializei anos mais tarde. Eram obras imaginadas, em constante crescimento, aguardando o dia em que, juntamente com outras borbulhas, passariam a ser uma realidade. Porém, estes embargos cinéfilos, eram por vezes contornados: em casa de compinchas as leis eram outras, as cassetes também. Um dos meus grandes amigos era doidinho por terror e não tinha as minhas restrições em relação à faixa etária: predador, omen, mosca um, mosca dois, ia tudo a eito. E foi numa dessas tardes, no início dos anos 90, que em casa dele passava o “Pesadelo em Elm Street 4”.<br />
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A cena. A cena é muito simples. Uma rapariga está a treinar. Deitada num daqueles bancos de ginásio, empurrando a barra para cima, segurando para baixo. Unhas pintadas, cabelo com volume de aulas de ginástica em VHS. A música flui, até que duas mãos prendem o movimento. Uma figura de chapéu, cara queimada e camisola às riscas empurra a barra para baixo até os braços da rapariga estalarem e rasgarem na zona dos cotovelos. Os antebraços ficam bambos e na ferida aberta começa a crescer algo. Na carne antiga surge uma nova. Enquanto se levanta e foge da criatura a nossa heroína vê os seus apêndices trocados por patas de inseto, enormes, desproporcionais. No desespero e na fuga o quarto forrado a jornais dá lugar a um estranho túnel, luzes mais amarelas, mais pestilentas. Entretanto escorrega e cai de cara numa poça amarela, numa cola que a agarra. Ela grita e tenta descolar o rosto, mas ao puxar a cabeça a pele fica. Sai como se fosse uma máscara. A transformação estava quase completa: tronco e cabeça de barata, pernas humanas. Um conjunto indefinido e disforme, preso num movimento mudo, num pedido de ajuda. Mudamos de perspetiva e vemos que ela se encontra numa pequena caixa, nas mãos daquele sinistro vilão, que a esmigalha com escárnio, libertando mais uma catrefada de viscosidades. É isto, e eu ali, de pé, ao lado do sofá, imóvel. Impressionado, arrepiado. A perceber que tinha acabado de ver algo, que não só nunca tinha visto, como nunca mais me ia <a href="https://www.youtube.com/watch?v=_wksYAuafKg&feature=youtu.be&has_verified=1">largar</a>.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDJXCkpSXL2mZIDfmDyPFfbzOeX-E5johPyzFra_okIH5FA0VwaoLxCcNMK2EPbfFrsWE_I5okPoL0aoy9BsycOx24l7dZtCfeWSi8_yrN5lTqhbPWZUNt5dADry6uscwIwQ6gHElgp3k/s1600/nightmare-4-debbie-roach.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1049" data-original-width="1600" height="209" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDJXCkpSXL2mZIDfmDyPFfbzOeX-E5johPyzFra_okIH5FA0VwaoLxCcNMK2EPbfFrsWE_I5okPoL0aoy9BsycOx24l7dZtCfeWSi8_yrN5lTqhbPWZUNt5dADry6uscwIwQ6gHElgp3k/s320/nightmare-4-debbie-roach.jpg" width="320" /></a></div>
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Sonhos. Não deixa de ser irónico, um real pesadelo a amedrontar-me os carneirinhos. Um terror de outrem convertido num medo próprio. Ao longo dos anos fui fazendo os meus sustos e regando o que é hoje um dos meus géneros favoritos. Porém, só muito recentemente é que voltei a Elm Street. O original de Wes Craven (1984) apresentava-nos Freddy Krueger, uma figura deformada, vingativa e sádica, que vinha atrás de nós durante os sonhos. Deu origem a oito sequelas, incluindo um crossover com a saga “Sexta-Feira 13” e um remake (aborrecidíssimo) para as novas gerações. Vi os cinco primeiros, “O Novo Pesadelo de Freddy Krueger” e o “Never Sleep Again: The Elm Street Legacy”, excelente documentário que varre duma ponta a outra a mitologia. Chegar a “Pesadelo em Elm Street 4”, do meu querido Renny Harlin, e rever, agora com enquadramento, esta cena é como terminar um quadro. Uma última pincelada, a última linha antes de fechar e encostar o livro no colo. E apesar de achar tudo um pouco mais colorido, com deliciosas e míticas deixas de Krueger, o terror continua lá. O terror que hoje assumo como fundação: a claustrofobia, o crescendo, a construção, a carne. Os efeitos práticos, a marcar passo e a ditar todo um imaginário. Apesar de hoje o meu amigo já não gostar tanto do género. Apesar de a criatividade da morte se ter encostado a sagas como o “O Último Destino” ou “Saw”. Apesar, apesar, apesar, há algo que permanece. Nesta dicotomia do sonho e do real, da ficção e da vida. Debbie, a tal rapariga que acaba transformada numa barata, diz logo no início da cena a Freddy que não acredita nele. Às vezes precisamos de ser relembrados, que eles, por outro lado acreditam em nós, e que o nosso cinema está sempre lá, à nossa espera. Obrigado à Rita por este convite e por este regresso.<br />
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Miguel Ferreira<br />
Blogue Créditos Finais <a href="http://creditos-finais.blogspot.com/">http://creditos-finais.blogspot.com/</a><br />
Podcast Nas Nalgas do Mandarim <a href="https://www.facebook.com/nalgasdomandarim/">https://www.facebook.com/nalgasdomandarim/</a><br />
e Videoclube do Sr. Joaquim <a href="https://www.facebook.com/SenhorJoaquim/">https://www.facebook.com/SenhorJoaquim/</a><br />
<br />Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-52519025050664604072020-07-13T19:01:00.000+01:002020-07-13T19:01:15.060+01:00Suores Frios - "Anticristo – ou de como a depressão cinéfila pode ser um filme", por Samuel Andrade<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSjCUFS55b-hZjiw5ACqdJ5m0Wxe7qVFk8tLmIUi09oviYM6XWmqP5xSKTwtFZL2LG6CmNFuf_gxff7MPaaWg5mNPQl47Fm8UDz-F89vMianiUpzU4Jaq0R2d9nrXUGa4IsKxhTqQX8RA/s1600/SUORES+FRIOS.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="709" data-original-width="1600" height="176" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSjCUFS55b-hZjiw5ACqdJ5m0Wxe7qVFk8tLmIUi09oviYM6XWmqP5xSKTwtFZL2LG6CmNFuf_gxff7MPaaWg5mNPQl47Fm8UDz-F89vMianiUpzU4Jaq0R2d9nrXUGa4IsKxhTqQX8RA/s400/SUORES+FRIOS.jpg" width="400" /></a></div>
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Quando me foi proposto invocar um filme que, de algum modo, me tivesse causado singular impressão física após a sua visualização, nunca imaginei que tal tarefa se apresentasse tão custosa. Talvez por não ser, desde os meus “verdes anos”, pessoa particularmente impressionável por imagens em movimento projectadas no grande ecrã (“it's only a movie”, tal como Hitchcock bem ajuizava), não fui capaz, durante imenso tempo, de nomear um título que – e citando o repto do “convite” – “contenha um momento que te fez tremer, ter pesadelos, ou de que não conseguiste parar de pensar durante os dias seguintes ou, se fores mais para o “forte” te desconcertou”.<br />
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Honesta e curiosamente, na minha vida, tais sensações pareceram provir apenas de experiências televisivas: a saber, V (mini-série de terror e ficção científica, exibida em meados da década de 80) e as primeiras temporadas de Twin Peaks. De resto, o horror cinematográfico raramente me suscitou um inesquecível assomo de “agitação física”; obras como O Exorcista (The Exorcist) ou História de Duas Irmãs (Janghwa, Hongryeon) estão, definitivamente, entre os meus eleitos do género, todavia são filmes que me perturbam mais pelo teor implícito que revelam do que pelo seu grafismo.<br />
<br />
Mas, de facto, e na minha idade adulta, há um filme que toca a (má) reacção pós-visionamento: Anticristo (Antichrist), de Lars von Trier. Saído do Festival de Cannes 2009 envolto em acalorada polémica, e o fruto da luta do realizador contra uma depressão que quase o incapacitou de trabalhar, Anticristo é veículo de terror – psicológico e sobrenatural – apropriadamente sombrio e grotesco, e um alvo fácil de escândalo mediático pela misoginia intensa e violência gráfica que patenteia.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi51E2u8uBNu1UKOxSn9ovyUGva2__lX8Gh0rCmoifrQYOa7ztlOSieL_EvWgTxQySgKvG4pSOCM40jSJLgLodZJuZUrhEPdPZR1g3qwYjPMgFh4DMVeMELDkoSUSRD5JiR8tDEm9P5wEI/s1600/Anticristo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="788" data-original-width="1400" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi51E2u8uBNu1UKOxSn9ovyUGva2__lX8Gh0rCmoifrQYOa7ztlOSieL_EvWgTxQySgKvG4pSOCM40jSJLgLodZJuZUrhEPdPZR1g3qwYjPMgFh4DMVeMELDkoSUSRD5JiR8tDEm9P5wEI/s400/Anticristo.jpg" width="400" /></a></div>
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Desde a sua sequência inicial, percebemos que von Trier não poupa nada nem ninguém. Filmada em extremo slow motion, somos confrontados com o êxtase de uma cena de sexo entre o casal protagonista (Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, aqui somente designados como Ele e Ela), um momento de “distracção” durante o qual o bebé do casal cai, fatalmente, de uma janela aberta. Crivada pela mágoa, Ela sucumbe a profunda depressão, responsabilizando-se pela perda e encarando a calma do marido como insensibilidade. Ele, um terapeuta experiente, decide assumir o tratamento da esposa e, durante este processo, decide que a viagem a uma cabana isolada — apelidada de Éden — no meio da floresta ajudará à sua recuperação psicológica.<br />
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Assiste-se, de seguida, ao definitivo confronto físico e espiritual entre o casal que, rapidamente, evolui para a violência conjugal impiedosa, para um horror de índole realista e no sentido de uma “estética da agressão” que, na raia da pornografia, leva ao extremo a dicotomia sexo/morte.<br />
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A sua conclusão, de toada incerta e algo mística, apela sobremaneira à interpretação do espectador. Tenha sido por "o caos reinar", pelo subtexto(?) ou simplesmente pela violência, enfrentei um longo e profundo sentimento de mal estar: o filme não só me obrigou a desviar o olhar (lembram-se de não ser habitualmente impressionável?) perante “aquela” auto-mutilação da protagonista, como também me infundiu de uma depressão que se instalou nos dias seguintes, durante os quais, para o bem e para o mal, o filme simplesmente não me saiu do pensamento.<br />
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Samuel Andrade<br />
filmSPOT (<a href="https://filmspot.pt/">https://filmspot.pt</a>/) & À Pala de Walsh (<a href="http://www.apaladewalsh.com/">http://www.apaladewalsh.com</a>)<br />
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Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-931790507421741818.post-85824474379508457132020-07-06T18:11:00.002+01:002020-07-06T18:11:52.560+01:00Suores Frios - Um Lobisomem Americano em Londres (An American Werewolf in London, John Landis, 1981) - por José Carlos Maltez<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWXmb_A4r3UspKSdkv3lC7Oe98H273XDVUpp47AF-JSt_rTS6KJqEQGL80jATd7PPLG0t5xCTcX94q0av1FrE5tmbmL5TkY4JH7zRyEhyy3nE0bcRyKEjrp-9atT-1439tOdyG5Mw37pA/s1600/SUORES+FRIOS.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="709" data-original-width="1600" height="176" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWXmb_A4r3UspKSdkv3lC7Oe98H273XDVUpp47AF-JSt_rTS6KJqEQGL80jATd7PPLG0t5xCTcX94q0av1FrE5tmbmL5TkY4JH7zRyEhyy3nE0bcRyKEjrp-9atT-1439tOdyG5Mw37pA/s400/SUORES+FRIOS.jpg" width="400" /></a></div>
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Muito do que é o meu gosto pelo cinema foi alimentado pelo facto de haver a 50 metros da casa dos meus pais um daqueles antigos cineteatros que animavam os arredores de Lisboa, e onde todos os filmes mais bem-sucedidos chegavam, com o devido atraso que podia ser de semanas ou até meses, como era comum no início dos anos 80, antes da explosão do fenómeno videoclubístico.<br />
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O cinema era tão perto que eu (no início acompanhado, nas sessões de domingo de manhã ou sábado à tarde), atingida a avançada idade de 7 anos, já ia sozinho. Era só arranjar uma ou duas moedinhas para o bilhete, e às vezes nem era preciso escolher o filme, era o que lá estivesse: animação, aventura, acção, comédia. Até que, já quase adulto, com os meus 10 ou 11 anos, comecei também a ir à noite, para filmes que não eram só para a criançada.<br />
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Com essa idade, o terror não era um género que eu consumisse, mas a ideia de que pode haver emoções tão fortes que nos fazem saltar da cadeira era algo que tinha de ser testado. Foi isso que fiz, acompanhado de um primo ainda mais novo que eu, quando vi que "Um Lobisomem Americano em Londres" de John Landis tinha acabado de chegar. O filme era vendido como um produto bem-disposto, de efeitos especiais revolucionários, portanto, que hesitação havia?<br />
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Fomos à sessão das 21:30, e só ao comprar os bilhetes vimos nos cartazes a nota “maiores de 16 anos”. Entreolhámo-nos receosos, e dirigimo-nos ao porteiro como que tentando esconder-nos um atrás do outro, mas ele nem piscou. E entrámos triunfantes.<br />
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Adorámos o filme, é certo – para quem não sabe: é a história de dois jovens americanos a viajar de mochila às costas pelo interior de Inglaterra, que são atacados por algo numa noite de lua cheia, um morre e o outro fica ferido, passando a receber visitas do amigo morto que lhe diz que se irá transformar num lobisomem, coisa que realmente virá a acontecer. Tive de desviar o olhar nalgumas cenas, como as visitas ao hospital do amigo em decomposição; os pesadelos violentos e sangrentos; e… as penosas e minuciosas metamorfoses. Nunca tinha visto nada assim, e as mazelas não ficaram por aí. Como conversámos no dia seguinte, nenhum de nós pregou olho, e vimos bicharada peluda e muito dentada a aparecer-nos pelos quartos a noite toda.<br />
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Tal nunca me demoveu, antes pelo contrário. O terror, pela capacidade de gerar este tipo de emoções, e pelo seu carácter tão fantasista que é talvez o género cinematográfico que mais se aproxima dos antigos contos de fadas, tornou-se sempre uma refeição presente na minha dieta de cinéfilo.<br />
Os sustos vão aparecendo aqui e ali, e lembro-me de ter ficado incomodado quando, por essa altura, vi, na TV, "The Haunting" de Robert Wise, com o qual percebi o poder do que não se mostra. Ver, poucos anos mais tarde, "O Exorcista" (com uma irmã pequenina a dormir no quarto ao lado), ou o "Silêncio dos Inocentes", com aquele papel impressionante de Anthony Hopkins, também deixou marca. Mas não há susto como o primeiro, e o filme de John Landis ficou para sempre no meu panteão.<br />
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Recentemente, a propósito de um ciclo para o meu blogue "A Janela Encantada", revi o filme. Obviamente, desta vez não me tirou o sono, e não tive de fechar os olhos em nenhuma das cenas. Mas, esforçando-me para voltar a vê-lo com os meus 12 anos, pude perceber que o filme ainda se aguenta muito bem. Já com outro olhar pude reparar ainda no modo como ele presta homenagem ao ambiente que se tornou icónico nos filmes clássicos da Hammer, os quais foram os responsáveis pelo nascimento do meu blogue, e se calhar razão pela qual estou aqui a escrever. Há círculos muito curiosos.<br />
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José Carlos Maltez<br />
Autor do blogue A Janela Encantada<br />
<a href="https://ajanelaencantada.wordpress.com/">https://ajanelaencantada.wordpress.com/</a><br />
Colaborador e editor-adjunto da revista Take Cinema Magazine<br />
<a href="http://www.take.com.pt/">www.take.com.pt</a><br />
Co-autor do podcast Universos Paralelos<br />
<a href="http://www.segundotake.com/universos-paralelos">www.segundotake.com/universos-paralelos</a>Rita Santoshttp://www.blogger.com/profile/06966858282120338319noreply@blogger.com0