quinta-feira, 28 de abril de 2011

"World Invasion: Battle Los Angeles", 2011

Los Angeles. O centro do Mundo. Ou assim nos querem fazer crer. Nisto dos filmes de invasões alienigenas, Lisboa parece sair sempre incólume. Já o mesmo não se pode dizer do Rio de Janeiro. Pobre, belo Rio. Mas vá lá, sermos pequeninos sempre tem as as suas benesses.
Tudo começa com uma chuva de meteoritos. Aparentemente, meteoritos de dimensões gigantescas que são detectados com meses, se não mesmo anos de distância, só se tornam do conhecimento público algumas horas antes de entrarem na nossa atmosfera. Não faz mal, eu consigo viver com isso. É impossível impedir o seu impacto com a superfície terrestre mas, felizmente, só acertam nos oceanos. Can anyone say hurrah?
Ora, sucede que estes não são os meteoritos típicos, vocês sabem, aqueles que caem aleatoriamente e bem que poderiam acertar, digamos a Venda das Raparigas. Neste filme não, eles caem à frente das grandes cidades costeiras do planeta. (Pausa para respirar). O...K... É estranho mas também consigo viver com isso.
Em algumas horas começa a invasão do que se supõem ser alienigenas. Se a película se fica pelos 116 minutos bem que podia ter mais cinco minutos. Os instantes iniciais são provavelmente, os mais mal aproveitados de sempre. Estão a ver o poster do filme com os surfistas? O ataque podia começar com um grande Bang! Não, ficamo-nos por uma televisão com má emissão e por muito que vejamos as reacções de quem está em segurança não provoca o mesmo impacto. Claro que a resposta não se faz esperar. E é nesta que o filme se centra. Na americana, quero dizer. E de Los Angeles. Um pelotão do exército, entre tantos outros é destacado para a acção. Com ou sem nenhuma história anterior, sabemos que estes homens incluem um virgem, um pai de familia, um que perdeu alguém na guerra, um prestes a reformar-se, etc, etc. Mas não o têm todos os filmes? As suas vivências anteriores são o que menos interessa, assim como nada se sabe da agenda dos invasores. Who cares?
Numa cidade devastada pelo inimigo, o nosso pelotão americano, de heróis americanos, tem de cumprir uma missão dir-se-ia mundana, em solo americano. Não me canso de repetir americano, porque o resto do mundo é totalmente posto de parte. Não devem ter tanques e caças e navios de guerra. Aliados? Coitados. Como num "Independence Day" (1996), cabe-lhes a eles, heróis anónimos, salvar o dia e livrar o planeta do extermínio. São homens e mulheres normais que passam pelos mais diversos estados de espírito à velocidade de uma câmara frenética. Os soldados passam por situações de meter medo ao mais experiente e alguns caem. Isto demonstra alguma coragem e à-vontade com o risco dos cineastas por deixarem partir personagens com os quais já tinhamos criado alguma empatia, tornando, o cenário de guerra mais real.
A partir daqui começam os problemas com o elenco, em particular, com a Michelle Rodriguez (Elena Santos) e o Michael Peña (Joe Rincon). Começando por Michelle, ela aperfeiçoou o papel de mulher durona à la "Private Vasquez" (Aliens 2, 1986). Com tantos papéis assim, ela não tem de se preocupar com o encarnar uma personagem tipo, ela é uma actriz tipo. Fê-lo em "The Fast and The Furious" (2001), "Resident Evil" (2002)... É só escolher. Por outro lado, é interessante verificar que ela tornou a personagem um pouco mais sofisticada e vulnerável com o pouco material que lhe foi dado para trabalhar. A espaços, quase que poderia ser tomada por donzela em apuros. Quanto a Peña, o eterno secundaríssimo, merecia melhor. Ainda não foi este o seu filme.
Entretanto, no meio de tanto fumo e explosão, que mal dão para nós, audiência, percebermos o que se está a passar, o pelotão consegue passar do ponto A para o ponto B, sem vêr um palmo à frente do nariz. Ah, graças a Deus pelos mapas, que eu ainda não tive o prazer de conhecer L.A. Ainda bem que o filme não está em 3D senão ainda menos se conseguia ver. Que eu saiba, não se faz repeat ou rewind nas salas de cinema. Quero ainda partilhar convosco uma cena absurda reminiscente de "The Lord of The Rings: The Two Towers" (2002), em que os heróis partem numa cavalgada por entre um número massivo de orcs, destruindo meio exército, à vontade. Quem precisa de um exército, quando se tem meia dúzia de homens que valem por centenas? Também se dispensam os discursos pseudo-lamechas de encorajamento. Não é como se não os tivessemos visto antes e muito melhores. A sério. A sua terra está a ser atacada, amigos e familiares poderão estar mortos ou feridos. De que mais motivação necessitam? Já os E.Ts são feios mas também é complicado perceber como é que eles são, com tanto fumo, detritos e o raio da câmara que não pára. Parecem uma mistura de alforreca com... qualquer coisa.
"Battle Los Angeles" não é um filme para todos os gostos, nem sequer é revolucionário. Os desempenhos estão dentro do possível que é uma algaraviada técnica, umas quantas asneiras e caretas feias, enquanto disparam contra tudo o que mexe do outro lado da barricada. Por isso, duas estrelas, sem querer afirmar que este é um bom filme. Não é. Mas se me entreteve durante os 116 minutos de duração? Sure. why not?

Realização: Jonathan Liebesman
Argumento: Christopher Bertollini
Elenco:
Aaron Eckhart como Sgt. Michael Nantz
Ramon Rodriguez como William Martinez
Bridget Moynahan como Michelle


Próximo Filme:"Bedevilled" (Kim Bok nam salinsageonui jeonmal, 2010)

domingo, 24 de abril de 2011

"Shadows in the Palace" (Goongnyeo, 2007)

*Trailer + Legendas em PT

Como as mulheres podem ser umas cabras para as outras. Tanto melhor se têm a liberdade para o serem a coberto das regras da corte, "fecha os olhos, tapa os ouvidos, não fales". "Shadows in the Palace" é um retrato ficcional das mulheres da corte durante a dinastia Joseon, no qual o guarda-roupa e cenários sumptuosos contrastam com um estilo de vida marcado sempre e em primeiro lugar, pela hierarquia e rigidez no comportamento. No entanto, à medida que a acção de "Shadows in the Palace" se desenrola, o comportamento palaciano revela-se paradoxal. Estas mulheres sujeitas a uma conduta regrada pelo silêncio, num cinismo interminável, para não abalar a estrutura vigente, acabam por tudo saber umas das outras. O palácio tem paredes de papel, não há segredos nenhuns! Viver no palácio significa ainda devotar a vida inteira ao serviço da realeza, abdicar da individualidade e dos prazeres carnais. O não cumprimento destes requisitos, traz duras penas, como o filme nos lembrará aliás, com frequência.
A película quase poderia ser um docu-movie, numa incursão pelo que poderão ter sido as vidas das mulheres do palácio, vidas que a História esqueceu, meras sombras que lá passaram. O filme é reminiscente de uma boa história de Agatha Christie, com o seu Hercule Poirot a ser desempenhado por Jin-hie Park que representa Chun-ryung, uma teimosa médica da corte. Chun-ryung é chamada após Wol-ryung (Yeong-hie Seo), aia de uma das concubinas do rei, Hee-Bin (Se-ah Yun) ser encontrada enforcada no seu quarto. A sua morte levanta, desde logo, suspeições, tanto mais que logo se erguem manobras políticas com o intuito de declarar a morte de Wol-ryung suícidio. Contudo, a nossa heroína não se deixa deter na sua persecução da verdade, mesmo que isso signifique colocar em causa todas as mulheres da corte, incluindo ela. É nas intrigas palacianas que o filme melhor funciona, em passo rápido, rico em acontecimentos que não deverão ser ignorados para a compreensão do filme. Existem tantas reviravoltas que podemos perder-nos facilmente a meio do caminho. É o filme ideal para quem gosta de apreciar uma história com calma, de comando na mão pronto a carregar no play, pause e repeat. Mas não se iludam. "Shadows in The Palace" é tudo menos um chick flick, não haverão longas sequências de conversas sobre os sentimentos das protagonistas. Há um sentido de pragmatismo em toda a história. Estas mulheres não se coibem de proceder às práticas de tortura mais horrendas para obterem respostas rápidas. Aviso: não é para os fracos de estômago. Ah e também existe a execução punitiva como modo de fazer das transgressoras um exemplo e plantar a semente do medo nas mentes das mais novas serventes.

Os desempenhos são na generalidade, muito bons. Por fim, a película introduz, já tarde, elementos do sobrenatural que são o verdadeiro calcanhar de Aquiles do filme. A audiência ficaria mais do que satisfeita com um thriller detectivesco na corte. Além destes elementos adicionais não convencerem não acrescentam grande coisa ao desenlace. As pistas acabam por levar a uma conclusão de certo modo óbvia.
Kim Mi-jeong, na sua primeira incursão na cadeira de realizador apresenta um filme que apesar de ter potencial para ser muito melhor não deixa de estar muito bem conseguido. Por isso, "Shadows" recebe umas merecidas três estrelas e meia em cinco.

Realização: Mee-jeung Kim
Argumento: Seok-Hwan Choi, Mee-jeung Kim
Elenco:
Jin-hie Park como Chun-ryung
Se-ah Yun como Hee-Bin
Yeong-hie Seo como Wol-ryung
Próximo Filme: "World Invasion: Battle Los Angeles", 2011

quinta-feira, 21 de abril de 2011

"Carved - a slit-mouthed woman" (Kuchisake-Onna, 2007)

Do Japão vem uma lenda urbana sobre uma mulher desfigurada que, de tempos a tempos, provoca acessos de histeria. A esse propósito, encontrei um video interessante aqui e mais algumas variações da história aqui . Em Portugal, a lenda encontra paralelismos na história do "Gang do sorriso de palhaço".
Reza a lenda, (ou assim se inícia uma história), que uma mulher foi vítima da vingança de um marido ciumento que após a desfigurar perguntou "E agora quem é que te vai achar bonita?" Agora a pobre alma vagueia pelas ruas usando uma máscara cirúrgica e de tesoura na mão procurando alguém que a ache bonita. Quando isso sucede, sobretudo crianças e jovens, ela pergunta "Sou bonita?" (Watashi kirei?). Se responderem que sim, ela retira a máscara e diz "E agora? (Kore demo?), revelando a boca cortada de bochecha a bochecha. Nessa altura, se responderem não, a mulher mata a sua vítima ou deixa-a com um sorriso de orelha a orelha, percebem? Se responderem sim, ela talvez a deixe viver com um sorriso novo ou talvez a siga até casa e lá termine o que começou. Normalmente, o encontro acaba mal e não vale a pena correr que ela acaba sempre por vitimar o infeliz que se cruzar no seu caminho. Mas ainda há esperança. Numa versão mais recente da história se responderem "assim-assim", ela ficará confusa e não fará nada.
"Carved - a slit-mouthed woman", apresenta uma variação original da lenda, cumprindo uns aspectos e falhando redondamente outros. Se por um lado se explica porque é que ela persegue crianças, por outro a pergunta "Sou bonita?", perde o sentido. O guião não explora a imagem pessoal da personagem para que possamos compreender a obsessão com a sua beleza ou falta dela. Também a explicação da sua relação abusiva com crianças fica muito aquém do esperado. Não existe uma backstory que responda aos porquês que se vão criando em torno da personagem. Como tal, torna-se difícil ter pena dela ou detestá-la, convenientemente. No entanto, a aposta na caracterização está ganha. Quando ela abre a boca, é difícil não esboçar uma careta de desagrado. A história é mais centrada nas crianças do que nos adultos. Faz sentido, parece o tipo de história que se partilha com amigos numa noite escura. O medo omnipresente do desconhecido e a vontade de demonstrar aos pares a coragem estão presentes.
Quem sabe se não estarei a ser demasiado crítica e a figura da mulher máscara represente uma alegoria do medo da fealdade que as sociedades desenvolvidas em geral, desenvolveram. Talvez, represente o medo no subconsciente dos jovens, de um objecto de sofrimento encarnado numa figura de mãe.
Há uma cena na qual três crianças são brutalizadas. Não é comum. Apesar, de a maior parte da cena não ser explicíta fica o horror daquilo que imaginamos que terão sofrido. É quase um tabu não é? Muitos filmes jogam com o medo de um papão qualquer maltratar uma criança. Aqui, esse limite é ultrapassado. Se dúvidas existissem fica a certeza, a mulher da máscara tem uma agenda e é imparável. Também os principais personagens adultos, a professora Yamashita (Eriko Satô) e o professor Matsuzaki (Haruhiko Katô) não são likeable à falta de termo que traduza melhor o que pretendo dizer. Satô tem uma representação forçada e, embora, pessoalmente, não goste de olhar para a aparência física dos actores ela é excessivamente magra. É demais. Distrai, não é nada apelativo de se ver e até preocupante. A última coisa que deve ter passado pela mente do realizador Koji Shiraishi é que a audiência tivesse ensejo de comprar um menu double cheeseburger com uma coca-cola e batatas grandes à actriz principal. Quanto a Katô, a personagem não pega, a estranha familiaridade e ausência de medo da mulher da máscara não convencem. Ainda menos, o facto de ele possuir uma sensibilidade de espírita quase. 
A primeira metade da película é aborrecida e a outra metade acaba por produzir alguma tensão, alguns sustos e muita irritação, mais para o fim, com a incapacidade de agir da professora Yamachita. É um daqueles casos, em que a audiência se quer levantar da cadeira e lhe dar um par de estalos para ver se acorda e se contribui, nem que seja um bocadinho, para a confrontação. Uma estrela.


Realização: Koji Shiraishi
Argumento: Naoyuki Yokota, Koji Shiraishi
Elenco:
Eriko Satô como Kyôko Yamashita
Haruhiko Katô como Noboru Matsuzaki
Chiharu Kawai como Mayumi Sasaki

Próximo Filme: "Shadows in the Palace" (Goongnyeo, 2007) + Bónus: trailer com legendas em PT

domingo, 17 de abril de 2011

"I Saw The Devil" (Akmareul boatda, 2010)

Ele matou a mulher errada. Ele, lá no fundo da sua mente distorcida, tinha de saber que um dia seria apanhado. Provavelmente, pensou que seria a polícia. Como ele estava enganado.
Jee-woon Kim, realizador do brilhante "A Tale of Two Sisters" (Janghwa, Hongryeon, 2003) e de "The Good, The Bad, The Weird" (Joheunnom nabbeunnom isanghannom, 2008) que ainda não tive oportunidade de ver, (damn it!), aventurou-se na velhinha história da vingança. Byung-hun Lee é Soo-yun um agente especial cuja noiva é a mais recente vítima do serial killer Kyung-Chul, desempenhado pelo mestre Min-sik Choi "Oldboy" (Oldeuboi, 2003). Byung-hung parece ter nascido para o papel de um jovem que perde a frieza e a fé nas instituições, lançando-se numa perseguição mortal quando a sua amada é brutalmente assassinada. Min-sik, além da qualidade como actor reune também a capacidade de encarnar fisicamente o psicopata. Se pensarmos que o seu papel em "Oldboy" está muito próximo da perfeição, não menos o podemos afirmar como Kyung-Chul. Antipatizamos tanto com Kyung-Chul que desejamos que Soo-yun repita vezes sem conta a sua vingança, como se nenhum sofrimento bastasse. Raras são as personagens que Kyung-Chul deixa viver e cada morte é mais brutal que a anterior. Este assassino, violador, sádico, psicopata é o mal em forma de gente. Por pouco não vemos Soo-yun seguir o mesmo caminho. Ou vemos?

O curioso nesta película é que não é muito diferente de qualquer outro dos filmes de vingança anteriores em termos de história. Ora, vejamos o mau mata familiar(es) indefesos do bom com brutalidade, que é para este bom só encontrar paz numa reparação igualmente brutal. Assim, de repente, faz recordar uma mão cheia de filmes não é? O que "I Saw The Devil" traz de novo é a intensidade: o realizador prepara as cenas em lume brando e arranca um desfecho que, poucas vezes, será fácil de ver. Ele não tem pudores na violência, porém não é gratuita. Tudo tem uma razão de ser, ao contrário de um Steven Seagal a quem mataram não sei quantas mulheres e filhos e abre o caminho a pontapé até ao vilão da fita. Jee-woon Kim vai alternando entre Soo-yeon e Kyung-Chul, num jogo de gato e de rato que nunca se torna cansativo. Talvez, apenas exasperante. Quando é a altura certa de parar? Para Soo-yun, nunca, será a resposta. Ele terá a eternidade para sofrer a perda da sua noiva. Só que enquanto o faz, Kyung-Chul, sobrevive e continua a fazer das suas, largando um rasto de sangue que vai daqui até à China (não estou a ser literal, mas quase).
O guião também contempla alguns familiares da noiva de Soo-yun que lhe pedem a dada altura para terminar aquela loucura, para seu bem e deles, mais do que poderão imaginar. E tem uns polícias que parecem ser a equipa policial mais incapaz que já se viu. Soo-yun, consegue (apesar de ser um agente especial), localizar vários assassinos e "visitá-los", com a polícia sempre a quilómetros de distância. Mais parecem uma equipa de resgate de cadáveres e registo de ocorrências do que qualquer outra coisa.
Os desempenhos são excelentes, a história sem ser original está bem contada e agarra a audiência até ao fim. É um regresso aos velhos filmes que contam uma história sólida sem uma reviravolta absurda no final. A película tem violência que chegue e não é aconselhável a pessoas mais sensíveis, seja devido às imagens gráficas ou ao terror psicológico. Deixa um gosto amargo e afecta. Não conseguimos ser emocionalmente indiferentes. Por isso, quatro estrelas e meia em cinco.


Realização: Jee-woon Kim
Argumento: Hoon-jung Park
Elenco:
Byung-hun Lee como Soo-yun
Min-sik Choi como Kyung-Chul
Gook-hwan Jeon como Chefe Jang

Próximo Filme: "Carved - a slit-mouthed woman" (Kuchisake-Onna, 2007)

terça-feira, 12 de abril de 2011

"The Child's Eye" (Tungngaan, 2010)

Ah, os irmãos Pang. Por onde começar? Esta dupla de Hong Kong é a responsável pelo sucesso de "The Eye" (Gin Gwai, 2002) e consequente franchise "The Eye 2" (Gin Gwai 2, 2004) , "The Eye 10 (Gin Gwai 10, 2005)" e o mais recente: "The Child's Eye 3D" (Tungngaan, 2010). Uma série de filmes sofríveis a maus, excepto o original, esse é bom e apresentou, na altura, uns sustos originais. Hollywood até fez um remake do filme com Jessica Alba no papel principal. Suspiro. "The Child's Eye", deveria ser uma brincadeira de criança para quem já fez três filmes da série, mas em vez de aprimorarem, os irmãos Pang parecem afundar-se cada vez mais no absurdo. A acção passa-se na Tailândia, (um olhar rápido pela filmografia dos realizadores confirmará a familiaridade com o terreno), numa altura de plena convulsão social e política. Desta vez, tentaram imprimir alguma seriedade ao filme, com o cenário bem real das manifestações anti-regime que a Tailândia atravessa. No entanto, ficam-se por aí. Esta nota introdutória apenas contribui para explicar a permanência dos heróis num hotel misterioso até poderem viajar em segurança.
Os personagens são três casais, oriundos de Hong Kong que vieram passar umas férias à Tailândia e quando tentam regressar encontram o aeroporto fechado. Como estão demasiado longe para regressar ao hotel onde ficaram, inicialmente, o creepy hotel é a the next best thing.  A nossa heroína Rainie (Rainie Yang) está desavinda com o namorado Lok (Shawn Yue), não se percebe bem porquê mas ele mostra uma personalidade tão desagradável, que a relação terminar, não seria a pior coisa que lhes poderia acontecer. Entretanto, ela tem algo para lhe contar... Até que ele e os outros dois rapazes desaparecem. Cabe-lhe a ela e às suas duas BFFs (best friends forever) encontrarem-nos e escaparem à ameaça que paira sobre os ocupantes do hotel. Ora, se o início não é auspicioso a qualidade vai sempre a descer, produzindo-se momentos de comédia num filme que se pretende de horror.

Para começar as duas amigas de Rainie passam o filme todo nuns calções perigosamente curtos. Deve ser para nos distrair da representação. Embora, a Ling (Elanne Kwong), pareça, a espaços, ter mais potencial como actriz do que Rainie. A culpa é dos calções pah! Quanto a Rainie, passa o filme a fazer uns olhares lânguidos para a câmara por entre a sua franja sexy. Dos rapazes, só o namorado de Rainie é que tem direito a uma personalidade, que como já se viu não é agradável. Os outros dois só servem para momentos de comédia e um ou outro susto. Não lhes queria chamar peças de mobiliário mas têm a profundidade artística de um móvel. Yep, as personagens estão assim tão pouco desenvolvidas. Depois, a narrativa é muito confusa, ficando, a sensação de que há ali muitos pormenores, muitos quase sub-enredos que poderiam ter sido cortados pela raíz. Um ghost movie puro seria sempre mais do mesmo mas ao menos compreenderiamos para onde é que os irmãos Pang pretendem ir. É que temos um cão (espírita?!), três orfãos, um dono de hotel comprometidissimo com o que se está a passar, uma suposta mulher que foi assassinada, um estranho ser que passeia nos corredores, possessões, mitos urbanos sobre mulheres grávidas numa mini-alusão ao "The Eye 2"... Enfim, são demasiadas micro-histórias, que podem não ser o que parecem e mesmo que se desvendem por completo, para que é que precisávamos de saber aquilo? Por exemplo, quando se vêem os três orfãos sentimos que a história vai tomar uma dada direcção que acaba por não se concretizar. É assim até meio do filme: irmãos Pang, já se decidiam!
O filme também é responsável pelas piores cenas de tensão que tenho visto. Tudo em nome do 3D. Não tenho dúvidas que a história foi sacrificada para provocar uns bons momentos de: "agora vês-me, agora já não, agora apareço de repente e apanhas um cagaço que até cais da cadeira". A cena de Rainie com o cão é estúpida, ponto. Uma estranha criatura com o olfacto muito desenvolvido, não consegue encontrar Rainie e um cão que tremem que nem varas verdes ali ao lado dela. Noutra cena, Rainie, num "confronto do outro mundo" faz olhinhos melados à criatura que lhe quer fazer mal, derretendo-lhe o coração... Verosímil não é? Acabei por forçar-me a ver o filme até ao fim apenas para fazer esta apreciação. O próprio final, também é fraquíssimo, se bem que se não prestarem atenção a alguns detalhes não irão entender a última cena. A imagem também não é nada que justifique o 3D. Pronto, eu disse-o. A grande maioria dos filmes não justificam a utilização da imagem a três dimensões. Contudo, o filme é um sucesso de bilheteira, o que decerto não irá limitar os irmãos Pang, na sua exploração do "horror" em 3D. Resta-nos esperar, por dó de nós, que eles vejam o "The Eye" em repeat e vejam onde é que erraram, vezes sem conta, nos filmes seguintes. Meia estrela, sem mais comentários.
Próximo Filme: "I Saw The Devil" (Akmareul Boatda, 2010)

sábado, 9 de abril de 2011

"Acácia" (Akasia, 2003)

"Acácia" é um filme com uma premissa interessante mas que acaba por se perder e nunca ganha um rítmo ou acção interessantes. A história desenrola-se à volta de um casal Choi Mi-sook (Hye-jin Shim) e Kim do-il (Jin-geun Kim), que adoptam Kim Jin-seong (Oh-bin Moon), um menino de seis anos devido à incapacidade de conceberem um filho. Quando Mi-sook, inesperadamente, engravida, Jin-seong sente-se rejeitado e começa a demonstrar um comportamento cada vez mais bizarro, alienando os pais adoptivos, num processo que culmina com o seu desaparecimento misterioso. Os desempenhos parecem forçados e só o pequeno Oh-bin Moon se revela interessante sem ser isento de falhas. A minha grande crítica vai para Choi Mi-sook que parece, desde o início, ter sido forçada a alguma coisa. Tiveram de ser o sogro e o marido a convencerem-na a adoptar uma criança. É o amor de Mi-sook pelas artes, a única coisa de parece gostar, profundamente, em todo o filme que a une a Jin-seong. Quando vê os desenhos maduros de Jin-seong, algo lhe diz que é aquele o menino que deve adoptar. Aí vemos uma ténue ligação maternal que nos dá esperança de que a relação floresça. A partir desse ponto parece que Mi-sook se acomoda, o que vai fazendo ao longo do filme, até quando descobre que está grávida.
A reacção, ou melhor, ausência de reacção de Mi-sook, provocam danos irreparáveis na relação. Jin-seong não tem comportamentos tipicos, mas o que queriam quando o menino está só no mundo? Talvez a criança não seja assim tão estranha como pensamos e Mi-sook seja mesmo fria e não deseje realmente ter filhos. A própria mãe de Mi-sook, uma das personagens mais malvadas que vi nos últimos tempos, sem apontar uma pistola ou uma faca a alguém, faz questão que o menino de 6 anos saiba que ele não é neto dela e não pertence àquela casa, indo mesmo a ponto de sugerir que o casal devolva a criança ao orfanato. Que faz Mi-sook? Nada. Não admira que a criança se agarre a um mundo de fantasia no qual uma árvore é a sua verdadeira mãe. Ainda menos é de admirar que ela desenvolva comportamentos rebeldes e de atrito contra o irmão recém nascido Hae-sung (um dos bebés mais adoráveis a gracejar o écrãn, não duvidem). Mais uma vez, Mi-sook é inepta como mãe. Não compreende o sofrimento e grito de atenção da criança, não é capaz de mandar cortar a árvore nem de o mandar para o quarto para pensar naquilo que fez por um mês, sem a nintendo! Apenas se aliena mais da criança o que vai contribuir para o fim previsível de Jin-seong.
No meio da acção, está a Acácia, uma árvore decrépita que se encontra no jardim do casal a fazer não se sabe bem o quê. Se tivessem uma árvore morta no quintal, provavelmente já a teriam mandado cortar, digo eu. O menino é estranho, preferindo o mundo dos desenhos e desenvolve uma relação bizarra com a Acácia. De acordo com Jin-seung, numa noite chuvosa a sua mãe verdadeira saiu e transformou-se numa árvore percebem? É a única explicação dada na película para a estranha ligação afectiva entre o menino e a Acácia. Por mim, a mãe dele até podia ser um banco de jardim. E as constantes visões da árvore que enchem todo o écran com som a preceito são pouco eficazes. Dei por mim a aguardar pela cena em que um Mark Wahlberg em tronco nu nos diria com ar sério: "há algo nas árvores." Não sendo fã de sobrenatural por dá cá aquela palha já desesperava por que algo acontecesse. Qualquer coisa! Divago. Todo o pathos que se desenvolve com o desaparecimento de Jin-seong é pouco convincente. Não houve a vinculação que seria expectável da mãe para com ele. Por isso, não se percebe o sofrimento e a loucura exagerados ao quadrado, que a levam, aliás, a negligenciar o segundo filho. E o fim, embora prevísivel, é confuso. É como se os cineastas tivessem chegado à conclusão que os sustos não eram eficazes e precisavam de enfiar ali mais alguma coisa, tudo ao mesmo tempo. Não crítico a lentidão das falas nestes filmes. É uma questão cultural. Nos filmes asiáticos os actores tendem a falar na medida certa. Só assim se percebe o sentido de urgência muitas vezes presente nos filmes americanos. Critica-se sim, a ausência de cenas eficazes e que contribuam para nos levar a algum lado. E a Ácácia, o elemento fulcral do filme é a suprema falha. As tentativas de demonstrar o lado maternal da árvore, o súbito ganhar de vida não enchem as medidas. Lá está, já esperava que ela se levantasse, falasse e fosse embalar o Jin-seong. Nada. Assim, o filme é triste, previsivel e ficamos a pensar em tudo o que não devia ter falhado. Duas estrelas, muito puxadas, por que tentei gostar do filme, em cinco.

Próximo filme: "The Child's Eye" (Tungngaan, 2010)

quarta-feira, 6 de abril de 2011

"Shutter" (2004)


"Shutter" é um filme que talvez seja mais conhecido pela versão americana, protagonizada pelo Joshua Jackson ex-Dawson Creek - ele fez outros filmes mas "The Skulls" não pode ser considerado um filme ou pode? Na altura estive tentada a ir ao cinema vê-lo mas algo deve ter acontecido e acabei por não ir. Ainda bem, por que assim pude ver primeiro a versão original de 2004, na que foi a minha primeira incursão pelo cinema tailandês.
Eu, que não gosto muito de surpresas, pesquisei antes o que se diz sobre o cinema tailandês e por entre as lamentações, elogios e sorrisos rasgados haviam críticas à forma como os filmes coreanos e japoneses eram imitados, na técnica e no conteúdo, de modo incompetente. Ora, gosto de conhecer os dois lados da história e, considerando, que o cinema tailandês não terá os meios que a Coreia do Sul e o Japão, o que encontrei foi uma agradável surpresa.
É provável que ao ver o trailer se pense que é mais um filme com uma rapariga de longo cabelo negro despenteado pronta a aparecer nos sítios mais esquisitos e a pregar-nos um susto com direito a saltar da cadeira. Pois. É isso e muito mais.

A película é realizada por Banjong Pisanthanakun e protagonizada por Ananda Everingham (Tun) e Natthaweeranuch Thongmee (Jane). Ananda é ao que parece "Johnny Depp asiático", titulo que já antes fora atribuida ao actor chinês Tony Leung e com tal presença bonita e agradável a audiência do sexo feminino quase que está disposta a perdoar-lhe quaisquer transgressões. Similarmente, a actriz principal foi votada, pelos leitores tailandeses da FHM como a quinta mulher mais sexy do mundo de 2006. Por isso, temos à partida dois actores com os quais a audiência simpatiza e que acabam por se revelar competentes nos papéis atribuidos. A história em si, apresenta alguns dos "velhos" clichés à la "The Ring" (Ringu, 1998) e "The Grudge" (Ju-on, 2003) mas, anos depois, os sustos continuam eficientes e ainda surgem novas formas de abordar a figura fantasmagórica. No caso, a assombração revela-se através de uma máquina fotográfica. Asseguro-vos que não voltarão a olhar para uma máquina fotográfica da mesma maneira. Este objecto funciona como um terceiro olho ou um sexto sentido que revela o que os olhos humanos sozinhos não conseguem descobrir. Por esta altura talvez comecem a pensar: "Então para que é que utilizam a máquina? Se estivessem quietinhos fariam melhor figura." Respondo com um simples, "porque é humano." A curiosidade é uma das características humanas mais vincadas. Sabemos que algo que não deveria estar, está e sabemos que vamos ver algo de que não gostamos, mas não conseguimos resistir ao impulso. É um pouco como a criança marota a quem foi dito para não mexer no que não deve e que sabe que a sua infração terá consequências desagradáveis.
"Shutter" pode ser quebrado com facilidade em três fases cruciais: a cena inicial no jantar de amigos, os instantes seguintes no carro e depois a busca para a revelação/absolvição. Ao longo do filme há uma sensação latente de que algo está errado, mas não se percebe bem o quê. É por este motivo, que o jovem casal, (mais Jane do que Tun), assombrado desde a fatídica noite do jantar se envolve numa missão detectivesca para descobrir a motivação do fantasma e fazê-lo regressar de vez para o mundo dos mortos.Também é de destacar o modo como Tun trai, bem cedo no filme, que talvez saiba mais do que quer dar a conhecer. Em que nível não sabemos. Cabe-nos a nós, e a Jane, juntar as pistas e desvendar o mistério. No entanto, a maior desilusão é capaz de vir mesmo de Jane que apresenta a hipótese de assombração mais depressa do que qualquer pessoa sensata o faria na vida real. Além disso, a actriz demonstra demasiado desprendimento num momento de ruptura com Tun, um comportamento que não é típico de quem está apaixonado.

Na generalidade o que "Shutter" promete, cumpre. Gore, não há. As mortes são pouquíssimas. Há sim, cenas mais ou menos breves de sustos, que fazem a audiência tremer com os actores, como deve ser neste tipo de filmes. Hitchcock disse o que o que não vêmos é aquilo que mais assusta e, por breves instantes, a película segue essa premissa. As cenas no estúdio, na cama, na escada e os momentos finais do filme conseguem ser assustadores e susceptiveis de provocar insónias no mais corajoso dos espectadores. Na Internet Movie Database, o filme está bem classificado, com 7,2 estrelas em 10. "Shutter" não é uma obra-prima nem o pretende ser mas está, fundamentalmente, bem conseguido, pelo que leva um sólido quatro em cinco estrelas, aqui do Not a Film Critic.




Próximo filme: "Acácia" (Akasia, 2003).

sábado, 2 de abril de 2011

"Dream Home" (Wai dor lei ah yut ho, 2010)


Dream Home é um filme que joga com o desejo que, mais tarde ou mais cedo, todos sentem de possuir casa própria e o explora obsessivamente. O filme, originário de Hong Kong, é realizado por Pang Ho-cheung que também co-escreveu o guião. A actriz principal é nada mais nada menos que Josie Ho, filha do magnata dos casinos Stanley Ho, que produziu o filme através da sua própria companhia, a 852 Films.
É dos poucos filmes asiáticos em que consigo antever uma versão hollywoodesca. Muitos dos filmes Made in U.S.A. pecam por pegar em conceitos e lendas urbanas com os quais os ocidentais não estão familiarizados. No entanto, o filme insere-se no contexto da crise imobiliária, o que me parece, perfeitamente, adequado à realidade norte-americana.
A premissa é muito simples: a jovem Cheng Lai-sheung (Josie Ho) sempre quis ter um apartamento com vista para o mar e tenta por todos os meios conseguir a casa que sempre desejou. O filme apresenta uma série de contratempos e de obstáculos que teimam em atravessar-se entre ela e o seu destino testando a sua paciência até ao ponto de ruptura. Numa cidade poluida, feia e furiosa o apartamento à beira do rio, o nº1 em Victoria parece um corte com toda a podridão que a rodeia e a salvação que ela almeja.
Embora, se descubra bem cedo na história, o plano tenebroso traçado por Cheng para atingir o seu derradeiro objectivo, o guião insiste em remeter-nos para épocas distantes, em que Cheng era apenas uma criança inocente cheia de sonhos e de como o mundo pode ser cruel para quem não possui meios financeiros. A esse propósito vão surgindo diversos papões: mafiosos que atiram cobras para casa das pessoas para as expulsar de casa e as companhias de seguros, com as suas cláusulas mais do que dúbias.
Mas todas as personagens são secundaríssimas, e não são mais do que peões num jogo, que procuram impedir, mais do que ajudar Cheng a atingir um fim. O guião não deixa grande espaço para empatizarmos com elas tirando talvez a mulher grávida devido à sua condição e mesmo assim, se esquecessemos esta questão não gostariamos muito dela. Talvez seja um meio que os cineastas encontraram de nos induzir a principiarmos algum tipo de empatia com Cheng.
Para quem procura gore, há mais do que suficiente. Tem uma das mortes mais originais que tenho visto nos últimos tempos, estrado da cama anyone? e as próprias mortes, que as há e bastantes, servem de pretexto aos poucos momentos de comédia existentes.

Chegado o fim do filme não simpatizamos com Cheng, a mulher é amoral, mas percebemos as suas motivações. O guião é competente e original no modo como aborda a crise imobiliária e a extensão em que a personagem principal se move para conseguir comprar o apartamento. O filme foi relativamente bem acolhido pela crítica e eu admito que se fosse ontem, talvez mesmo há dois dias atrás, lhe atribuiria quatro estrelas. Há medida que os dias passam, "Dream Home" perde a qualidade inicial que lhe apreciei. Os filmes excelentes não diminuem de qualidade, os bons sim. Por isso, hoje só leva 3 estrelas e meia.

Próximo: "Shutter", 2004