"Shutter" é um filme que talvez seja mais conhecido pela versão americana, protagonizada pelo Joshua Jackson ex-Dawson Creek - ele fez outros filmes mas "The Skulls" não pode ser considerado um filme ou pode? Na altura estive tentada a ir ao cinema vê-lo mas algo deve ter acontecido e acabei por não ir. Ainda bem, por que assim pude ver primeiro a versão original de 2004, na que foi a minha primeira incursão pelo cinema tailandês.
Eu, que não gosto muito de surpresas, pesquisei antes o que se diz sobre o cinema tailandês e por entre as lamentações, elogios e sorrisos rasgados haviam críticas à forma como os filmes coreanos e japoneses eram imitados, na técnica e no conteúdo, de modo incompetente. Ora, gosto de conhecer os dois lados da história e, considerando, que o cinema tailandês não terá os meios que a Coreia do Sul e o Japão, o que encontrei foi uma agradável surpresa.
É provável que ao ver o trailer se pense que é mais um filme com uma rapariga de longo cabelo negro despenteado pronta a aparecer nos sítios mais esquisitos e a pregar-nos um susto com direito a saltar da cadeira. Pois. É isso e muito mais.
A película é realizada por Banjong Pisanthanakun e protagonizada por Ananda Everingham (Tun) e Natthaweeranuch Thongmee (Jane). Ananda é ao que parece "Johnny Depp asiático", titulo que já antes fora atribuida ao actor chinês Tony Leung e com tal presença bonita e agradável a audiência do sexo feminino quase que está disposta a perdoar-lhe quaisquer transgressões. Similarmente, a actriz principal foi votada, pelos leitores tailandeses da FHM como a quinta mulher mais sexy do mundo de 2006. Por isso, temos à partida dois actores com os quais a audiência simpatiza e que acabam por se revelar competentes nos papéis atribuidos. A história em si, apresenta alguns dos "velhos" clichés à la "The Ring" (Ringu, 1998) e "The Grudge" (Ju-on, 2003) mas, anos depois, os sustos continuam eficientes e ainda surgem novas formas de abordar a figura fantasmagórica. No caso, a assombração revela-se através de uma máquina fotográfica. Asseguro-vos que não voltarão a olhar para uma máquina fotográfica da mesma maneira. Este objecto funciona como um terceiro olho ou um sexto sentido que revela o que os olhos humanos sozinhos não conseguem descobrir. Por esta altura talvez comecem a pensar: "Então para que é que utilizam a máquina? Se estivessem quietinhos fariam melhor figura." Respondo com um simples, "porque é humano." A curiosidade é uma das características humanas mais vincadas. Sabemos que algo que não deveria estar, está e sabemos que vamos ver algo de que não gostamos, mas não conseguimos resistir ao impulso. É um pouco como a criança marota a quem foi dito para não mexer no que não deve e que sabe que a sua infração terá consequências desagradáveis.
"Shutter" pode ser quebrado com facilidade em três fases cruciais: a cena inicial no jantar de amigos, os instantes seguintes no carro e depois a busca para a revelação/absolvição. Ao longo do filme há uma sensação latente de que algo está errado, mas não se percebe bem o quê. É por este motivo, que o jovem casal, (mais Jane do que Tun), assombrado desde a fatídica noite do jantar se envolve numa missão detectivesca para descobrir a motivação do fantasma e fazê-lo regressar de vez para o mundo dos mortos.Também é de destacar o modo como Tun trai, bem cedo no filme, que talvez saiba mais do que quer dar a conhecer. Em que nível não sabemos. Cabe-nos a nós, e a Jane, juntar as pistas e desvendar o mistério. No entanto, a maior desilusão é capaz de vir mesmo de Jane que apresenta a hipótese de assombração mais depressa do que qualquer pessoa sensata o faria na vida real. Além disso, a actriz demonstra demasiado desprendimento num momento de ruptura com Tun, um comportamento que não é típico de quem está apaixonado.
Na generalidade o que "Shutter" promete, cumpre. Gore, não há. As mortes são pouquíssimas. Há sim, cenas mais ou menos breves de sustos, que fazem a audiência tremer com os actores, como deve ser neste tipo de filmes. Hitchcock disse o que o que não vêmos é aquilo que mais assusta e, por breves instantes, a película segue essa premissa. As cenas no estúdio, na cama, na escada e os momentos finais do filme conseguem ser assustadores e susceptiveis de provocar insónias no mais corajoso dos espectadores. Na Internet Movie Database, o filme está bem classificado, com 7,2 estrelas em 10. "Shutter" não é uma obra-prima nem o pretende ser mas está, fundamentalmente, bem conseguido, pelo que leva um sólido quatro em cinco estrelas, aqui do Not a Film Critic.
Próximo filme: "Acácia" (Akasia, 2003).
Bem-vinda à blogosfera.
ResponderEliminarVer um blog que na primeira semana publica 4 críticas e logo com tanto foco na Ásia é muito convidativo a um regresso.
Olá. Desde já, obrigada por visitares o meu blog. Devo dizer que sou uma enorme fã de terror. E tenho um fraquinho especial pelo cinema asiático, tendo uma boa colecção de filmes deste tipo. Confesso que gostei muito do Shutter. Nem tem comparação possível à versão americana. Um filme com uma óptima atmosfera, que carrega muito peso nos ombros. Tu percebes!!!
ResponderEliminarQue tal para uma próxima critica, discutires o One Missed Call? Versão asiática, claro.
Continua o bom trabalho. Com certeza, serei uma seguidora assidua. Bons filmes e bons sustos de deixar os olhos em bico... ;)
Obrigada Juliana. É curioso que menciones o "One Missed Call", porque já está programado para o mês que vem(não digas a ninguém). E sim, sempre na versão original!
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