domingo, 6 de novembro de 2011

"Karak" (2011)

Os mitos urbanos são uma boa fonte de material para um filme de terror. Se o tema ainda não tiver sido explorado é uma boa forma de atrair aficionados por filmes de terror e apelativo para aqueles que ouviram falar da história e querem saber um pouco mais. “Karak” é baseado numa lenda que envolve a auto-estrada de Karak, na Malásia. Diz-se por esses lados, que a estrada foi construída sobre um velho cemitério e que desde então tem sido palco de inúmeras aparições e acidentes mortais. Se a auto-estrada foi mal construída ou está mal sinalizada é coisa que não sei. O certo é que a fama de assombração já ninguém lhe tira, como demonstram os diversos relatos de fenómenos paranormais na Internet. Norman Abdul Halim venceu a corrida para ser o primeiro a aproveitar esta rica matéria-prima e escreveu “Karak”. A história desenvolve-se em torno de quatro jovens apanhados num engarrafamento, que decidem atalhar caminho por uma estrada secundária, decisão essa que acaba por se revelar fatal. Eles sofrem um acidente rodoviário e são obrigados a procurar refúgio numa cabana no meio da floresta. Lá são recebidos por um velho de aspecto pavoroso (peço imensa desculpa mas o senhor tem um tumor massivo a que é impossível ficar indiferente) que os deixa pernoitar ali. No entanto, espera-os uma longa noite…
Os primeiros 7 minutos de filme são brutais, empolgantes e assustadores, tendo um dos monstros mais feios que já se viu na tela. A acompanhar estão trechos musicais que acompanham adequadamente o desenvolvimento da narrativa e contribui para a atmosfera de horror. Infelizmente, o resto do filme não corresponde às elevadas expectativas levantadas pelo início promissor. Somos brindados com um quarteto de personagens estereótipo: Nik, o brincalhão que está mortinho por que uma alma penada o leve de vez; Zura, a rapariga boazinha que é por esse motivo a personagem principal; Jack, o descrente que não acredita nessa treta a que chamam fantasmas e Ida, a loura burra que só está ali para passear o seu corpo perfeito. Ok, ela não é loura mas pelo modo como encarna a personagem não restam dúvidas. Ela até é apelidada de Angelina Jolie malaia e tudo. É a personagem mais irritante de todas e aquela que desejamos, ardentemente, que seja chacinada de modo particularmente atroz. Dos quatro actores só Md Ayzendy que interpreta Jack tem alguma experiência de representação, o que no meio da mediocridade, se nota, acreditem. Nik (Shahir Zawawai), que também faz par amoroso com a Zura de Shera Ayob é dislikeable até mais não e é complicado compreender o que é que ela vê nele. Zura está sempre a admoestá-lo devido às suas provocações e piadas sem graça. Parece mais mãe dele do que namorada. Agora e se eu vos disser que o nome da actriz de Ida é Kilafairy? I kid you not. Prova aqui.
Kilafairy: "Oh! Olhem para mim tão assustada, a fugir de saltos altos!"
Que eu saiba ainda não existe o filme “Killer Fairy” mas se o fizerem, eu faço lobby para que a Kilafairy entre nele, mediante umas lições de representação claro está. Entretanto, dizia eu que o início vale a pena mas o resto nem por isso. A lógica desaparece a dada altura. Quem é que no seu juízo total, pára numa estação de serviço com um ar assustador e se desloca até aos lavabos que por acaso estão muito longe da loja e têm um ar igualmente terrífico? Jack. Quem é que no meio da floresta, onde está escuro como breu, sai para tomar banho correndo o risco de a) ser atacada por uma fera ou b) ser atacada por um predador sexual? Ida. Quem é que vê imagens de velhinhas usando um colar e depois quando o encontra vai a correr colocá-lo? Zura. E a sucessão de comportamentos parvos continua até à revelação final que já se viu antes e já não surpreende ninguém, a não ser eremitas que vivam numa qualquer caverna isolada do mundo. Apesar do monstro estar bem caracterizado, a direcção é no mínimo desinspirada, o argumento é fraco e a equipa de actores foi mal escolhida. Posto isto, não me impressiona que o filme tenha um bom desempenho de bilheteira na Malásia, onde basta ter o rótulo de “terror” para chamar as massas ao cinema. Neste horizonte, só se vê uma estrela.
Realização: Yusry Abd Halim
Argumento: Norman Adul Halim
Elenco:
Shera Ayob como Zura
Shahir Zawawai como Nik
Md Ayzendy como Jack
Sidek Hussin como Tok Malam
Kilafairy como Ida

Próximo Filme: Curta #2: "Three - The Wheel" (Saam Gaang, 2002) 

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