Um produtor de TV (Pongpit Preechaborisutkhun), seu amigo/cliente ouve a história e considera Ton, o alvo perfeito para a sua próxima reportagem. Ele acredita que Ton sofre da síndrome Hikikomori, um termo japonês que designa um novo fenómeno de isolamento social da juventude. Perante uma sociedade repleta de agressão, seja pelo ruído, estímulos visuais ou a pressão social para sair de casa, trabalhar e enfim, ter filhos, muitos jovens desenvolvem uma fobia social que os leva a fechar-se dentro de casa a coberto de pais, muitas vezes, sobre protectores. O produtor convence Nida a deixá-lo entrar no seu mundo, que ele talvez possa ajudar Ton. Não é como se ela tivesse realmente obtido resultados quanto ao filho nos últimos anos. Ela deve ser afinal conivente e fraca e introduz o estranho na sua casa. O refúgio de Nida está recheado de animais empalhados, uma lembrança constante de um passado distante, a certeza de que a sua vida estagnou. Quem mal a conheça duvidará da existência de Ton. Cinco anos é tempo demais para ele não se dar a conhecer. A história dos bilhetes é demasiado rocambolesca. Será Nida uma mulher doente em busca de atenção? Será Ton, a corporização do seu pedido de ajuda? Afinal, ela anda metida com essas seitas esquisitas. Quem és tu. Alguém que não precisa da ajuda de um culto que provavelmente lhe leva todo o pouco dinheiro da venda de DVDs, a troco de um pouco de estabilidade emocional. No prédio em frente vive Pan (Kanya Rattapetch). Também ela não sai do quarto. E também ela tem uma mãe protectora. Mas ela não pode viver como gostaria por que ela sofre de alergias graves. Ela não chegou a completar a escola e não sai de casa, como o fazem outros, nem para dar um simples passeio. O único motivo de movimentação são as idas ao médico. Será que a sua condição se agravou?
Ao contrário de Ton, Pan vive atormentada pelo facto de não poder conhecer o mundo lá fora. Enquanto a mãe de Pan a vai protegendo no seu ninho, Nida deseja que o seu filho saia das amarras que ele próprio criou e viva a vida. Pan e Ton são dois seres indefesos por motivos distintos. Enquanto um se reclui voluntariamente, o outro anseia por extravasar. “Who are you” retrata com distinção dois dilemas terríveis do crescimento. Devemos ceder ao desejo de ficarmos para sempre numa Terra do Nunca e não crescermos ou efectuarmos o empurrão final para sairmos do ninho e tomarmos o destino pelas nossas próprias mãos? Crescer? Independência? Por outro lado, talvez seja altura de Nida se consciencializar que Ton cresceu e está na altura de o deixar partir. Nada dura para sempre. Podemos empalhar animais mas o que subsiste é o exterior. A essência, o que nos fez sentir afecto por eles, já se mudou para outro lugar. É a vida nunca em permanência, sempre em mutação que merece a nossa reflexão. Resulta pois que “Who are you” é uma peça original mas não totalmente inesperada de Eakasit Thairatana que escreveu a banda desenhada que seria a base de “13 Beloved” (2006), “Body #19” (2007) e o segmento “Tit for Tat” de “4bia” (2008). Tanto melhor, pois que “Who are you” transpira fulgor por todos os poros. Muito longe de ser o filme de terror sobrenatural sobre cabelo, “Who are you” parece mais centrado no desenvolvimento dos personagens, em particular, na actuação de Sinjai. “Who are you” teve uma participação discreta no MoteLx, em Setembro deste ano e como lamento não ter visionado esta pequena gema no grande ecrã. Este filme atesta o potencial que o cinema tailandês pode ter em diversas vertentes: argumento, direcção e representação. O único defeito é mesmo o final. Quando se aposta na reviravolta como um dado adquirido de todos os filmes de terror, o fôlego inicial perde-se. As expectativas que se criaram em torno das representações sólidas da dupla de actrizes e o argumento difícil mas, ainda assim credível, são destruídos quando se recorre ao choque com imagens geradas por computador. Como um lindo laço cujas pontas são mal atadas. Em todo o caso, “Who are you” é manifestamente superior ao cinema de terror tailandês típico. Se este é um pronuncio do cinema tailandês para a segunda década do século XXI, aguardam-nos uns próximos anos bastante excitantes. Três estrelas.
Realização: Pakphum Wonjinda
Argumento: Eakasit Thairatana
Sinjai Plengpanit como Nida
Pongpit Preechaborisutkhun como produtor de televisão
Kanya Rattapech como Pan
Próximo Filme: "13 Assassins" (Jûsan-nin no shikaku, 2010)
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