quarta-feira, 7 de março de 2012

"Haunted Village" (Arang, 2006)

O cinema sul-coreano sempre teve um fraquinho por mistérios. Grandes detectives forjados num cenário de tragédia pessoal desbravam caminho por entre os casos mais difíceis, até à sua resolução. So-young (Yun-ah Song) é uma detective determinada e perspicaz assombrada pelo passado, que a compele a entregar-se de corpo e alma a cada novo caso.

Depois de um período de suspensão por deixar as suas emoções levarem a melhor sobre si, num caso de violação, So-young regressa ao activo para investigar as mortes de uma série de homens que começam a surgir brutalmente assassinados. Todas as vítimas parecem ter ingerido ácido. Mais estranho ainda, todos eles, velhos amigos de infância receberam o mesmo e-mail antes da sua morte. Este contém um link que encaminha os internautas para uma página gerida por uma bela jovem e uma casa de sal. Em conjunto com um novo parceiro Hyun-ki (Dong-wook Lee), So-young faz uma viagem ao meio rural para encontrar a casa de sal e compreender, se existe uma ligação entre os dois eventos. “Arang” é uma sucessão de erros e lugares-comuns. Uma das cenas inicias é a de um casal no dia do seu casamento, rodeado de amigos prestes a tirar a fotografia da praxe. Os meus neurónios efectuaram logo uma ligação directa ao “Shutter” (2004). E sabem que mais? Não está muito longe. Ao longo de “Arang”, temo dizer que esta sensação é recorrente.
A novela detectivesca pode ser recuperada a outros filmes e como não podia deixar de ser, existem elementos sobrenaturais, nomeadamente, a mulher de longos cabelos negros com mau feitio.
“Bestseller” (2010), é uma cópia tirada a papel químico de “Arang” com a vantagem de ser mais eficaz e a desvantagem de ter estreado quatro anos mais tarde. Também a comparação entre as duas actrizes principais é inevitável e nesse campo, “Arang” fica a perder. Não é que Yun-ah Song não seja competente mas o que não faltam nestas produções são actrizes competentes e Jeong-hwa Eom é excelente. Além disso, a imagem da tecnologia como meio portador da morte está por demais desgastado. “Pulse" (2001), “Ring” (1998) e “The Grudge” (2008), pertencem definitivamente ao manual de assombrações do realizador Sang-hoon Ahn.
A dinâmica entre a dupla de detectives é boa, não sendo levado ao extremo o polícia novato vs. Polícia veterano. A sua relação também está no centro da maior reviravolta de todo o filme.
No entanto, apesar da peculiaridade das mortes que dão inicio à trama o caminho para a sua resolução nada tem de extraordinário. A linha de investigação resulta mais de saltos ilógicos que do seguimento de pistas à semelhança de uma verdadeira inquirição policial. Quando So-young decide, realizar uma intervenção cirúrgica de improviso ao cadáver do cão de um dos mortos, é surreal. Desde a justificação desta acção ao modo como a própria cirurgia é realizada, é tudo demasiado fantástico para ser verdade. Tipo, quantos procedimentos de segurança e higiene quebraram logo ali? Uma prova obtida por tais meios alguma vez teria admissibilidade em julgamento? E imagine-se só, eles encontram um vídeo entre o conteúdo do estômago da criatura. Uau. Que poder de dedução extraordinário. Para mais, o vídeo encontra-se em óptimas condições. Os ácidos no estomago do bicho não chegaram a corroer a prova nem nada. Espectacular.
Mas talvez o aspecto mais surpreendente num filme como “Arang” em que existem cenas tais como: “embora autopsiar um cão, sem instrumentos cirúrgicos por que tenho um palpite”, a película mantém a seriedade e prende a atenção do espectador. É interessante seguir So-young perseguir um caso que lhe está tão próximo do coração e vê-la conter-se para não perder a frieza analítica de detective para levar o seu empreendimento até ao fim. Como Ícaro ela quer voar cada vez mais alto, mas com a prudência recém-adquirida de quem não quer perder os ventos favoráveis de Zéfiro e cair do céu. “Arang” tem suficientes argumentos para não se deixar cair na tentação de seguir os truques de uma vintena de filmes que lhe antecederam o que, infelizmente, não acontece. Em última análise, “Arang” acaba por adoptar uma via feminista, da mulher que faz justiça pela mulher que não se pode defender e da mulher que pode ser fraca mas escolhe não ser uma vítima. E o desenlace podia ter sido verdadeiramente especial se o cineasta se tem quedado pelo encerramento do caso de polícia. Não. Por algum motivo, (atenção, spoiler), a assombração não morre com o caso e toma como sua vendetta pessoal as ofensas a So-young, deixando o caminho aberto para a sequela que, até hoje, não se materializou. E como se costuma dizer, de boas intenções está o inferno cheio. Duas estrelas.


Realização: Sang-hoon Ahn
Argumento: Sang-hoon Ahn, Seon-ju Jeong, Jeong-seob Lee e Yun-kyung Sin
Yun-ah Song como So-young
Dong-wook Lee como Hyun-ki


Próximo Filme:  "Doll Master" (Inhyeongsa, 2004) 

2 comentários:

  1. Let's just say I was this close to disliking it. It takes inspiration from pretty much every other horror/detective movie. However the cast is solid and it comes out as a somewhat credible effort.

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