quinta-feira, 14 de junho de 2012

"Attack the Block", 2011



Posso dizer que no universo das más traduções de títulos à portuguesa “ETs in da bairro”, está lá bem no topo. Tipo: uau. De modo literal seria algo como “Ataque ao bloco de apartamentos”. Esta foi a maneira de serem engraçadinhos ou espirituosos, se atendermos ao grupo de protagonistas.
Estamos mais que habituados a filmes nos quais os aliens invadem a terra e a humanidade só não é exterminada por um triz. Eles são sempre retratados como seres de suprema inteligência e os seres humanos, são uns pobres desgraçados que têm de utilizar todo o tipo de recursos para sobreviver. Invariavelmente, quem é “invadido” são os norte-americanos, a maior potência mundial nos anos 90 vá, que agora o século XXI é da China e se os invasores forem minimamente inteligentes começam por atacar a nação que pode constituir maior ameaça. Mas vá lá, pela primeira vez, lá se lembraram de criar uns alienígenas que não são a espécie mais brilhante do universo e criar antagonistas à altura: um gangue de adolescentes que até os próprios vizinhos aterrorizam. É caso para dizer “meteram-se com os tipos errados”.

Nascidos e criados num bairro a sul de Londres na Inglaterra e, sem perspectivas de algum dia sair de lá, Moses (John Boyega) e o seu bando atravessam as ruas da cidade nas suas bicicletas, procurando passar um bom bocado e gamar aqueles que cometerem a imprudência de se cruzar com eles.
Não será muito difícil imaginar que eles venham de lares desfeitos e famílias monoparentais que os deixam ao abandono durante dias inteiros, para prejuízo da sua educação e valores fundamentais. Notavelmente, estes jovens conseguem transformar o preconceito da sociedade em compaixão e apoio declarado perante um inimigo temível. Só um inimigo comum poderia unir pessoas tão diferentes com um bando, uma enfermeira, um hipster à procura da próxima broca e o dealer do bloco de apartamentos.
“Attack the block” é a prova de que não é necessário criar grandes cenários para um filme de acção. Dentro do bloco de apartamentos, nas rampas de acesso sinuosas e acessos labirínticos circulam uma série de miúdos com a destreza de um duplo que salta de edifícios ou carros em andamento. Às vezes menos é mais.
Um meteorito cai na terra e o gangue cruza-se com um bicho que não é desta Terra, cedo descobrem que este não é o único e que eles são tudo menos amigáveis. O que começa como diversão de miúdos acaba por se tornar um confronto pela terra. Onde “Attack the Block” sucede é no equilíbrio entre os géneros da comédia e do drama. Mas não é parecido com nada que se tenha visto antes. Nem o grupo de resistentes pertence aos militares como vimos em tantos filmes como “O dia da Independência” nem são um grupo de crianças inocentes como vimos em “Super 8”, acabando por funcionar como uma mescla bem-sucedida e mais realista. A justificação para a “invasão” parece muito mais natural, seguindo as ciências da vida e da natureza e não uma explicação demasiado rebuscada e por isso mais artificial. Os próprios alienígenas têm um design simplista que funciona. Definitivamente não pensem no Alien do H. R. Giger ou num predador. Quanto aos actores há um toque de hiper-realismo nas suas actuações, desde a enfermeira com demasiado trabalho entre mãos que chega a casa a horas ridículas ao gangue de jovens com o dialecto muito próprio de bairro. Destaque-se o jovem John Boyega que demonstra um espectro de emoções acima da média para um estreante no cinema. A personagem mais caricatural é sem dúvida a de Ron, o dealer drogado que é interpretado por Nick Frost. Depois das suas presenças em “Shaun of the Dead” e “Hot Fuzz”, não lhe atribuir um papel cómico seria uma ofensa às suas capacidades como cómico natural. Depois temos Luke Treadaway como Brewis, um dos personagens mais cool e que acabou por sair do filme como um sex symbol em potência, com o seu hipster simpático. De resto, a sucessão louca de acontecimentos apoiado numa fórmula comédia vs. drama e a banda-sonora de Steven Price que compõe o urbe londrina finaliza um dos filmes mais divertidos de 2011. Três estrelas.

Realização: Joe Cornish
Argumento: Joe Cornish
John Boyega como Moses
Jodie Whittaker como Sam
Luke Treadaway como Brewis
Alex Esmail como Pest
Franz Drameh como Dennis
Leeon Jones como Jerome
Simon Howard como Biggz
Nick Frost como Ron

Próximo Filme: "Prometheus", 2012

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