quinta-feira, 25 de outubro de 2012

"Aokigahara: Suicide Forest", 2011



Com apenas 21 minutos de duração e a satisfação de um enredo que pertence à história autêntica da humanidade, devo admitir que foi um caso delicado para vir aqui transmitir a gravidade dos eventos que “Aokigahara: Suicide Forest”, se propõe descrever. Devia ser mais fácil não é? Escrever sobre a realidade que vivemos, neste ou noutro canto do mundo. A imaginação e a suposição são abstractas. A morte não.
Quando se aborda um objecto penoso a tendência é para carpir sobre ele. No entanto, “Aokigahara: Suicide Forest”, compromete-se com a verdade de Azusa Hayano, o geólogo com um dos trabalhos mais ingratos de sempre: patrulhar a floresta Aokigahara localizada no sopé do monte Fuji em busca de potenciais suicidas ou cadáveres. Quando a câmara foca a vegetação virgem, praticamente intocada pelo homem é difícil de imaginar o que podia levar alguém a decidir terminar a sua vida num sítio tão pacífico. De facto, por entre os grandes troncos centenários, fetos que lutam uns com os outros pela luz solar e as trepadeiras que cobrem todo o espaço vital da floresta, Aokigahara podia ser pensada como um retiro espiritual. Então, veio um livro de Seicho Matsumoto, no qual, um casal decide morrer na floresta e de repente, morrer naquele lugar magnífico tornou-se romântico. Mais de cem corpos são encontrados ali todos os anos. Estima-se que muitos mais ficarão por encontrar. Inúmeras fontes consideram ainda a floresta Aokigahara o segundo lugar onde ocorre o maior número de suicídios do mundo, apenas atrás da ponte Golden Gate em São Francisco. O método de eleição, a forca. “Aokigahara: Suicide Forest” é um relato honesto, mas talvez demasiado unidimensional, (bem, não estava à espera que os mortos se erguessem da campa e explicassem porque é que escolheram acabar com a própria vida) mas, mais visitantes da floresta encantadora e sinistra ou familiares das vítimas ou…
Com um enquadramento tão delicado, a frieza de Azusa Hayano é arrepiante. Como pode ele ser tão insensível ao facto de sobre um ramo estar a corda de um dependurado? Como permanecer impassível enquanto o geológo vai descobrindo pistas de pessoas que terão por ali passado e não mais voltado? Ele vai, calmamente, falando das fitas que as pessoas prendem às árvores para regressar, não vão eles arrepender-se. E vestígios de pessoas… E cadáveres… Rebate da realidade, Hayano está tão habituado a conviver com a morte como se de uma amiga se tratasse. Imagine-se o que ele já terá visto, o que ele terá impedido e o que não pôde deter. Retive sobretudo um momento em que Hayano menciona um amigo que terá entrado na floresta para fazer o impensável. A meio do processo desistiu mas ficou com uma cicatriz permanente no pescoço. Uma memória com que ele poderá congratular-se. Já que outros que optaram belo beijo frio da morte não puderam arrepiar caminho e abraçaram o único destino possível, uma morte lenta e dolorosa. Duas estrelas.



Próximo Filme: "The Red Shoes" (Bunhongsin, 2005)

1 comentário:

  1. Muitos parabéns pelos TCN :). Continuação do excelente trabalho.

    cumprimentos,
    cinemaschallenge.blogspot.com

    ResponderEliminar