domingo, 24 de março de 2013

"Dark Water", (Honogurai mizu no soko kara, 2002)



Yoshimi (Hitomi Kuroki) é o retrato de uma mulher aterrorizada. Foi forçada a adquirir o apartamento mais barato que encontrou, numa zona degradada da cidade, com a filha Ikuko (Rio Kanno) e o ex-marido rancoroso não mostra qualquer sinal de abandonar a luta pela menina, apenas pelo prazer de a fazer sofrer. E agora que descobre que o apartamento que conseguiu arranjar herdou bastantes problemas, nem o solicito agente imobiliário que a convenceu a dar esse passo, nem o encarregado do prédio estão interessados em fazer o seu trabalho. É a maldita infiltração no tecto que parece segui-la, são as torneiras que não abrem e quando o fazem parecem espirrar… cabelos? É ainda a estória de uma menina, com a idade da sua Ikuko que desapareceu um ano antes. Nunca mais se sabe dela mas também não há ninguém terrivelmente preocupado apesar de ela ter morado ali…
Em “Dark Water” o realizador Hideo Nakata regressa ao género que o tornou o famoso, o terror. Embora seja bastante discutível se este é um filme de terror. “Dark Water” foi um dos últimos filmes com os onryo (fantasmas vingativos) a conseguir impressionar as audiências europeias. Quanto tempo dura uma moda? Quatro, cinco anos, no máximo? O auge dos slashers americanos, por exemplo, deu-se entre o final dos anos tempo e o início dos anos 80. Em 86 já ninguém queria ver o Jason, o Michael Myers ou o Freddy Krueger. Seria preciso uma década até ao slasher regressar, reformado com sarcasmo por um velho lobo (Wes Craven), entendedor do cinismo das gerações nascidas nos anos 80, os mesmos que ajudou a moldar! Não admira pois que dez anos passados da estreia os “Ringu” e “Ju-on” sejam recebidos pelos novos cinéfilos com escárnio ou a gargalhada. “Dark Water” é um exercício mais moderado de mais do mesmo. Ao invés de apostar na maldição/assombração a todo o gás, só parando no final, apresenta os desafios de “uma mãe solteira” amedrontada pela possibilidade de perder a filha que encontra eco em qualquer nação. E durante a maior parte dos 100 minutos de película é a isso que assistimos. Uma mulher que não sabe muito bem se está a ficar louca, à medida que os problemas do apartamento se amontoam e sem suporte emocional além da filha e uma força se torna demasiado próxima das duas para seu conforto.
Estaria a mentir se não achasse o cenário demasiado conveniente para o clima de assombro crescente. Os fantasmas “farejam” as criaturas mais vulneráveis, sobretudo mulheres e crianças e, ora bolas, se isso não nos deixa arrepios na espinha. Pior do que saber que os seres mais fracos da estória estão sob ataque é ter a certeza de que estão sós no mundo. Yoshimi, interpretada por Hitomi Kuroki é uma personagem multidimensional. Não é difícil imaginar Yoshimi como uma mulher abusada, pelo menos, em termos psicológicos. É uma daquelas pessoas que tenta agradar a todos e a evitar o conflito. Por fim, acaba por ser a principal prejudicada, a vítima das circunstâncias que ela própria ajudou a criar. “Dark Water” também funciona em crescendo como “Ringu” mas com um argumento mais sólido, ainda que isso não signifique grande coisa. O J-horror nunca foi celebrado pelas estórias magníficas mas sim por um conjunto de tecnicismos vários que criaram as cenas de tensão que têm sido celebradas e parodiadas nos últimos anos. Infelizmente, ultimamente, somente o facto de um filme ser rotulado como J-horror pode levar a que este seja recebido com descrédito pelas audiências ocidentais. Enquanto no extremo oriente a população acorre em massa para ver a mais recente reencarnação do onryo, a oeste as populações suspiram só à menção da rapariga de cabelos negros que aparece e desaparece a seu belo prazer. As actuações são boas, em particular a da então criança Rio Kanno que viria depois a protagonizar “Noroi”. De um modo ou de outro, os personagens são todos emprestados de outros filmes de terror ou viriam a ser repescados posteriormente para o efeito. “Dark Water” é um dos últimos exercícios superiores no que diz respeito aos sempre constantes fantasmas ameaçadores antes de a banalização atacar as estórias em proveito do terror pipoca. “Sadako 3D”? Alguém? Três estrelas e meia.

Realização: Hideo Nakata
Argumento: Koji Suzuki, Ken’ichi Suzuki, Yoshihiro Nakamura e Hideo Nakata
Hitomi Kuroki como Yoshimi Matsubara
Rio Kanno como Ikuko Matsubara
Mirei Oguchi como Mitsuko Kawai
Fumiyo Kohinata como Kunio Hamada
Yu Tokui como Ohta
Isao Yatsu como Kamiya
Shigemitsu Ogi como Kishida

PS: Mais ninguém achou a música no inicio do trailer, completamente desconexa da imagem?

Próximo filme: "Death Bell 2" (Gosa 2)

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