quinta-feira, 7 de março de 2013

"Hello Ghost" (Helowoo goseuteu, 2010)


A futurologia não se encontra entre as capacidades fantásticas aqui do burgo mas se apostasse que 8 em cada 10 pessoas que viram este filme gostaram, não estaria muito longe da verdade.
É um filme para chorões, sem margem para dúvidas. Não posso aconselhar a uma pessoa que se diga verdadeiramente sensível a visionar este filme sem uma caixa de lenços em cada um dos lados ou, um braço másculo e um peito quente onde se encostar nos momentos mais críticos, enquanto sussurra “pronto, pronto já passou”. Por que haveria uma pessoa de querer ver um filme que nos faz chorar baba e ranho? Por princípio, talvez muitos não queiram mas “Hello Ghost” sabe dosear na perfeição os momentos de drama e comédia. A dada altura, já não saberão se o sorriso é triste ou se, se deve a um dos muitos momentos adoráveis que permeiam esta comédia dramática sobre o falhado que se deseja matar e acaba com quatro fantasmas “atrelados” a si. A cena inicial não podia retratar uma imagem de maior desespero: um homem só, numa sala como no mundo, tenta matar-se. E falha. E volta a tentar. E não o deixam por que não tomou os comprimidos suficientes ou por que o acudiram a tempo. A partir daí ganha momentum e a esperança começa, paulatina, a crescer. Pois, por que Sang-man (Tae-yun Cha) chega a estar morto durante alguns minutos mas sobrevive graças à intervenção médica.

Com esta nova hipótese de sobrevivência advêm também quatro fantasmas safados que querem utilizar o corpo dele para os seus próprios fins. Isto gera os momentos mais engraçados já que cada vez que um fantasma entra no corpo de Sang-man ele adquire os seus tiques e vícios. No caso do velhote, ele fica com ar de pervertido que gosta de olhar para mocinhas de modo pouco inocente; no caso do fumador, além de ele se iniciar nesse vício pouco saudável, ganha uma franja à Bieber (última vez que menciono o puto rebelde neste blogue, prometo); quando é a vez do miúdo a gula vem ao de cima; enquanto a chorona, bem, é auto-explicativo além de que ganha trejeitos femininos pouco abonatórios da sua maneira de estar. Ah e já disse que o actor principal é o mesmo da grande comédia, mais vezes referida e revisitada do cinema coreano de todos os tempos, “My Sassy Girl” (2001)? Não? Ainda dizem que os relâmpagos não acertam duas vezes no mesmo sítio… Mas havia qualquer coisa que me deixava, não sei, à deriva e descobri bastante tempo depois de ver “Hello Ghost”. Então não é que o mesmo cenário se repete em “Heart and Souls” (1993) com o maravilhoso Robert Downey Junior pré drogas-destroem-a-vida-até-ao-regresso-mais-fantabulástico-de-sempre? A minha opinião quanto à peça coreana não se altera, pelo menos, não em termos de qualidade. O elemento originalidade cai por terra. Felizmente (e eu quis tanto gostar deste filme) há outras características redentoras. Deixam-me afirmar que é uma película com alma sem todos aqueles questionamentos metafísicos que a acompanham? Se calhar é a frase mais vaga e inócua para ajudar alguém a decidir-se a ver um filme mas, quando algo nos faz rir e chorar com sentimento, não se diz que toca a alma?
“Hello Ghost” também é um momento cultural maravilhoso para a Coreia, abordando tantos assuntos como a solidão, a depressão, o suicídio, o colectivismo, a importância da família, a existência de vida depois da morte e, depois, claro, há um breve passeio pela culinária, pelas actividades culturais... Há tanto por descobrir deste país no filme que só por isso, para quem for um apaixonado da cultura coreana ou estiver a frequentar o curso de estudos asiáticos é um encanto. De todos os personagens, mesmo assim, a protagonista é capaz de ser uma das mais desinteressantes. A enfermeira com um coração de ouro que revela uma relação conflituosa com o pai podia ter sido interpretada por qualquer outra actriz. Ela é quase desinteressante por comparação com os fantasmas e o adorável falhado Sang-man. E nem é por considerar que Yen-won Kang é má actriz. Quem consegue competir com personagens exagerados ao cubo?
“Hello Ghost” é tão mas tão adorável que seria capaz de derreter o inferno. Tão adorável que… céus, tenho de ir já a correr ver um filme de terror. Quatro estrelas.

Realização: Young-tak Kim
Argumento: Young-tak Kim
Tae-yun Cha como Sang-man
Yen-won Kang como Yun-soo
Moon-su Lee como o Fantasma velhote
Chang-seok Ko como Fantasma fumador
Young-nam Jam como Fantasma chorona
Bo-geun Cheom como Criança fantasma

Próximo Filme: "Death Bell" (Gosa, 2008)

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