domingo, 12 de maio de 2013

"The Unseeable" (Pen choo kab pee, 2006)




Chega uma altura na carreira de um cineasta tailandês em que ele tem de escolher difícil. Continuar a fazer os filmes que deseja fazer ou apostar num filme de terror para conseguir financiar projectos futuros. Atualmente Pee Mak Phrakanong (Pee significa fantasma), uma comédia de terror ou terror cómico, se preferirem, é o segundo filme mais visto de sempre do cinema tailandês. E a presença de filmes de terror tailandeses no top dos filmes mais vistos de sempre não é um acaso. Já antes, filmes como “Mae Nak”, “Dorm” ou “Shutter” tinham feito as delícias das audiências locais, recolhendo aclamação crítica internacional. Em comum? Realizadores cujo currículo se estende além do género que os deu a conhecer e captou todo o tipo de apoios futuros. “The Unseeable” é um desses infelizes acasos. Wisit Sasanatieng teve de baixar bastante o tom dos filmes anteriores, “Tears of the Black Tiger” e “Citizen Dog”, cuja utilização de cores saturadas podia ser apelidada de sonho Tecnicolor. Isso ou melhor da pop art de Andy Warhol, em especial a evocação do glamour de Hollywood dos anos 30. Com menores recursos e um argumento que não o seu basta dizer que a estória foi escrita por um dos membros da “Equipa Ronin” Kongkiat Khomsiri, que escreveu a tão popular série de filmes “Art of the Devil” e, mais recentemente, o desastroso “Dark Flight 407”. Só filmes de terror denotam um padrão?
A narrativa acompanha Nualjan (Siraphan Wattanajinda), uma rapariga do campo que se apaixona violentamente por um músico que surge na pequena localidade de Cholburi. Ele corteja-a e acabam por casar. Mas ele é um músico e terá de partir por uns dias em trabalho. Nunca mais retorna e uma Nualjan grávida decide procurá-lo. Eis que chega a uma antiga casa senhorial que parece parada no tempo. Entre estórias de terror contadas por uma empregada estranha, uma governanta digna de uma Mrs. Danvers da literatura, um homem que apenas cava buracos sob o olhar atento da lua e uma viúva amarga presa nos bons velhos tempos que não deseja abandonar os aposentos qual rainha de um castelo, o local não parece o ideal para uma grávida em final de termo. Ainda assim, onde é que ela pernoita?
Note-se que ela nem coloca a hipótese do marido estar morto ou de ter fugido para escapar às suas responsabilidades maritais. Pobre inocente. A ação decorre nos anos 30, um dos últimos redutos do realizador de "Tears of the Black Tiger", sendo que um dos poucos pormenores de interesse são a luta de classes. Os mais pobres têm tez mais escura e menos educação. Falta-lhes toda uma maneira de ser e de estar, acentuada por uma pele branca e leitosa qual marca de nascimento que só os da alta possuem, a crer no conservadorismo da época. Talvez por isso, os personagens de um nível inferior da sociedade surjam infinitamente mais acolhedores, "humanos" e, de certo modo, inocentes.
“The Unseeable” é um conjunto de acontecimentos que se vêm a milhas, a começar pelo título. O que aconteceu ao mistério? Ao suspense? Ao ficar nos píncaros? A roer as unhas? A esconder a face atrás das mãos? Nãooooooooo… embora dar um titulo óbvio e um trailer que desvenda os melhores momentos…

Que mania! Se vão mostrar o melhor no trailer é por que há uma tremenda falta de confiança de que conseguem vender o produto. Não. É porque sabem que o produto carece no departamento da qualidade.
Se para os realizadores tailandeses há um momento em que têm de reflectir sobre o caminho a adoptar sob pena de não conseguir fazer mais filmes também existe uma altura em que audiência se questiona se os argumentistas fizeram um pacto secreto sob o qual se comprometem a seguir, com mais ou menos desvios, a mesma narrativa. Primeiro a rapariga do filme vai parar, sabe-se lá por que obra do destino, a um local misterioso. Segundo ela toma a decisão de permanecer no sítio que não inspira assim tanta confiança. Acontece, faz parte dos homens tomar decisões estúpidas. O que não é tão perdoável assim é o que sucede num terceiro momento. A jovem é avisada em diversas ocasiões para não ter certos comportamentos. E o que ela faz é ignorar todos os avisos, quebrar todas as regras. E, em boa verdade, quem é que não sente uma ligeira satisfação pela desgraça que se abate sobre a transgressora? Duas estrelas.

Realização: Wisit Sasanatieng
Argumento: Kongkiat Khomsiri
Siraphan Wattanajinda como Nualjan
Supornthip Choungrangsee como Madame Runjuan
Tassawan Seneewongse como Somchit
Sombatsara Teerasaroch como Choy

Próximo Filme: "Ghost Sweepers" (Jeomjaengyideyl, 2012)

Sem comentários:

Enviar um comentário