domingo, 3 de novembro de 2013

"Dark Flight 407 3D", 2012


A ideia de uma centena ou mais de pessoas desconhecidas despenderem várias horas dentro de um passaroco gigante com um mínimo de liberdade de movimentos já é desconfortável. Se a isso juntarmos a possibilidade de uma ave entrar por uma das turbinas do aparelho, de ocorrer uma situação de negligência ou indisposição súbita dos pilotos que estão por trás de uma porta da qual nem um vislumbre ou de um tarado qualquer passar-se a meio da viagem, eis a vontade de viajar parece tornar-se subitamente mais reduzida. Demasiado pode correr mal… No ar, ninguém pode correr, ninguém escapar. Qual caixinha de surpresas, onde qualquer factor levado ao extremo pode gerar uma situação explosiva. Está-se à mercê de quaisquer circunstâncias imprevistas e da capacidade da tripulação e do apoio técnico, distante, produzir soluções. Posto isto, o avião parece o cenário ideal para um thriller de terror, certo?
Regressar ou não regressar ao trabalho, eis a questão.

New (Marsha Wattanapanich) é uma hospedeira de regresso ao trabalho após um acidente terrível que vitimou bastantes pessoas e a conduziu a anos de terapia intensa. Ela sente-se preparada para voar novamente mas, vítima do destino ou uma dose brutal de azar, este avião é demasiado reminiscente daquele que a traumatizou. Os mortos regressaram do além e querem arrastar os passageiros com eles. Será que alguém acreditará nela antes que seja tarde demais?
Ai tanto medo que nós temos. Uhhhhhhhhhh!
Acredito que falecer num acidente do género não seja a experiência mais agradável deste (e do outro) mundo mas, a sobreviver sob a forma espectral, não estou a ver onde é que atrair gente inocente para a morte provocasse algum tipo de alívio ou satisfação, pela condição de espírito. Uns exagerados estes fantasmas. A justificação prende-se com o facto conveniente do avião ter sido construídos com as peças do avião do acidente anterior. Ah e com o desejo de levarem New com eles. Como se atreveu ela a sobreviver? Felizmente, as suas acções extremadas quase são perdoadas pela circunstância de grande parte dos passageiros actuais serem de maus a horríveis. Há a mulher que faz do marido um capacho e utiliza a filha como moeda de troca para os caprichos do momento, a miúda de Hong Kong extremamente sexy porque pelos vistos tem de haver lá alguém com ar de meretriz sem que o público refile, um monge (últimos ritos e coisas do género, dão sempre jeito), o comissário de bordo efeminado, o jovem másculo que há uns anos teve um romance com New e ficou acidentalmente fechado no compartimento de bagagem, uns estrangeiros, um rastafariano... E pouco mais, que o voo 407 vai quase vazio. São mais os lugares vazios que os ocupados. Na Tailândia deve ser difícil arranjar figurantes, não?
E o prémio de melhor cena do filme vai para...

“Flight 407 3D” apresenta dificuldades que custam a aceitar ou o marketing não o apresentasse como o primeiro filme tailandês em três dimensões. Se isso é verdade… Diz que em 2012 estreou “Mae Nak 3D” e não teço mais comentários sobre esse assunto. Marsha Wattanapanich não tem nem o destaque nem o desempenho que merece. A sua personagem é apresentada como a principal mas a espaços é deixada de lado para dar lugar ao impacto da assombração sobre os outros passageiros. E quando surge, ela alterna entre o pensativo e a apatia. Como se ela tivesse desistido antes mesmo de começar. O argumento é tão mau que Marsha faz os possíveis por passar despercebida quando não está a efetuar um desempenho digno de uma daquelas actrizes que são descobertas em centros comerciais. Depois de participar no brilhante “Alone”, “Flight 407 3D” é um erro atroz. A grande mácula deste filme encontra-se precisamente na utilização da tecnologia 3D que não se justifica e apenas serve de engodo para apelar aos mais distraídos. O potencial do cenário é descartado por oposição à crença de que o 3D faz tudo mas não serve de desculpa para uma película sem quaisquer méritos e que sucede no hilário, ao invés do medo que o marketing prometia inspirar. Uma estrela e meia.

Realização: Isara Nadee
Argumento: Kongkiat Khomsiri, Chanin Panthong, Nattamol Peanthanom e Nattapot Potchumnean
Marsha Wattanapanich como New
Peter Knight como Bank
Paramej Noiam como Jamras
Patcharee Tubthong como Gift
Anchalee Hassadeevichit como Phen
Thiti Vechabul como Prince
Namo Tongkumnerd como Wave
Sisangian Sihalath como Ann
Jonathan Samson como John
Kristen Evelyn Rossi como Michelle´

Próximo Filme: "Phone" (Pon, 2002)

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