domingo, 19 de janeiro de 2014

"Rurouni Kenshin" (Rurôni Kenshin: Meiji kenkaku roman tan, 2012)


“Rurouni Kenshin” é como um daqueles miúdos novos na escola que querem ser amigos de toda a gente e vai daí cedem à pressão dos pares. Entre o culto de seguidores da manga e o desejo do apelo a jovens fãs reside a fórmula para o filme “Rurouni Kenshin”. Mangas menores e com público infinitamente mais reduzido já foram adaptadas a outros meios pelo que o “Samurai X” não era uma questão de “se” mas de “quando”.
“Rurouni Kenshin” baseia-se na saga de Kenshin Himura, conhecido por “Hitokiri Battosai”, um assassino tão letal, que os guerreiros mais poderosos estremeciam à menção do seu nome. Tomado por uma súbita claridade, Kenshin (Takeru Sato) decide abandonar o caminho de morte que conduziu a sua vida e envenenou o seu espírito, optando por uma vida de mendiga expiação. Infelizmente, a nova opção de vida é vista com desconfiança por quem conhece a sua história e colocada em causa por toda uma série de vilões que se vão insurgindo. Kenshin vive assim num estado de dissonância cognitiva constante. A luta entre o desejo de largar as armas e a incapacidade de o fazer quando se cruza com a injustiça. A sua senda não é solitária e surgem amigos que lhe oferece a oportunidade da redenção e até felicidade, ainda que de curta duração.

“Rurouni Kenshin” ocorre dez anos após a tomada de decisão por uma existência pacífica do jovem samurai, quando chega a uma cidade tomada por políticos corruptos, traficantes de ópio e uma polícia semi-conivente. Sato é um “pretty boy” e transparece como tal mas exala o ar de “samurai torturado” e o (anti)herói que a estória exige. Ele acaba por ser acolhido com bondade e talvez sentimentos românticos por Kaoru Kamiya (Emi Takeda) que luta para manter o dojo da família a despeito dos interesses que a rodeiam. As suas ideias românticas de manutenção de uma escola de artes marciais de auto-defesa são maiores do que a sua capacidade para manter o lugar. Com a ajuda de apenas um órfão Tahiko Myojin (Taketo Tanaka) pouco conseguirá fazer. O rufia adorador de uma boa luta e, diga-se de passagem, uma espada gigantesca, Sanosuke Sakara (Munetaka Aoki) e a intrigante Megumi Takani (Yu Aoi) acrescem à família disfuncional. Em Teruyuki Kagawa, que interpreta o grande vilão Kanryu Takeda temos o peso pesado do elenco e a sua maior desilusão. O argumentista demonstrou grande cuidado com os personagens já queridos do público mas descurou o vilão, que padece do mal da unidimensionalidade como tantos outros que lhe antecederam. Uma grande injustiça, já que parte do encanto do “Samurai X” é o facto de os vilões serem tão memoráveis quanto ele. Aqui, Takeda soa a uma diva histriónica, um miúdo que faz birras quando não lhe fazem as vontades. Entre os seus apetites, encontram-se a morte indiscriminada e a utilização de armas grandes.
Quem disse que o Kenshin não podia ser bem-parecido?
“Rurouni Kenshin” é uma espécie de mulher de César, é séria e parece séria. Talvez demasiado para conforto. A linha temporal, acontecimentos e personagens são apresentados sem grandes desvios da manga. Escolhas demasiado seguras no entanto. Ao contrário de adaptações como “Death Note”, que tomou decisões arriscadas para o bem e para o mal. “Rurouni Kenshin” parece demasiado interessado em parecer inofensivo, como se quisesse agradar aos já fãs da saga japonesa e quisesse apelar a novos, sem espantar ninguém. Mas fácil de seguir para quem nada conhece deste universo. Resulta como interessante testemunho de uma época na qual os samurais eram extirpados dos seus antigos poderes e reputação e subjugados a uma nova ordem. Mudar ou desaparecer é o paradigma actual, mas, como bem se sabe, os momentos de transição não se perfeitos e criam-se vazios, que devem ser ocupados por alguém. Kenshin não é perfeito, mas nenhum dos outros personagens o é. Kaoru é romântica mas ingénua, Megumi sensual mas possuidora de uma moral questionável e assim por diante. O elenco é jovem, mas a representação não sofre por este motivo, todos são perfeitamente capazes de assumir o fardo. Atentem os fãs, por este constituir um primeiro momento de apresentação, as cenas de luta, que consumiam largos episódios da série televisiva “Samurai X” são ainda limitadas. A aceitar-se as ansias dos fãs mais fervorosos, “Rurouni Kenshin” será para a trilogia (sim que já estão completos pelo menos mais dois filmes) o que “The Fellowship of the Ring” (2001) foi para “The Lord of the Rings”. Conduzido com mais competência que o usual filme manga, suficientemente eficiente para qualquer fã de cinema. Três estrelas e meia.

O melhor: 
-Fiel ao espírito da Manga; 
- Não conhecem a estória? Não faz mal. A narrativa fácil de seguir e não está inundada de referências obscuras

O pior:
- Já faziam um vilão menos cartoonesco.


Realização: Keishi Otomo
Argumento: Kiyomi Fujii, Keishi Ohtomo e Nobuhiro Watsuki
Takeru Sato como Kenshin Himura
Emi Takeda como Kaoru Kamiya
Yu Aoi como Megumi Takani
Yosuki Eguchi como Saito Hajime
Munetaka Aoki como Sanosuke Sagara
Teruyuki Kagawa como Kanryu Takeda
Taketo Tanaka como Yahiko Myojin
Kôji Kikkawa como Jine Udo

Próximo Filme: "23:59", 2011

Le bónus


Making of de "Rurouni Kenshin: The great Tokyo Fire" Fonte

1 comentário:

  1. Já ouvi falar bastante bem dele, fiquei curioso, proque tenho sempre receio destas adaptações de mangás.

    ResponderEliminar