domingo, 18 de maio de 2014

"Bad Milo", 2013


O Milo não é um cão fiel (por favor não confundir com Milu). E mais depressa nos arranca a mão do que a lambe. O conceito de “Bad Milo!” encontra-se mais próximo de um filme pornográfico com triplo X do que a comédia de terror mediana. Apenas não esperem ver uma estrela porno com o rabo destruído. Não, isso é o Ken Marino…

Duncan (Ken Marino) é um tipo simpático, com o qual todos, em certa medida se podem identificar já que trabalha mais horas do que as que devia e em condições cada vez piores, o chefe é um parvalhão sem escrúpulos (que levante a mão quem nunca teve um chefe assim) e em casa, não está muito melhor, já que a mãe aproveita cada oportunidade para lhe perguntar porque é que ainda não lhe deu um neto e a esposa sente-se ansiosa com a possibilidade de não conseguir engravidar. Com tantos problemas a avolumar-se, não é de admirar que Duncan sinta dores abdominais crescentes. O desconforto é aliás, tão grande que apenas depois de visitas especialmente dolorosas e amnésicas à casa de banho, Duncan se sente aliviado. É aí que ele descobre dois factos peculiares sobre si próprio: 1) tem um demónio aka hemorroida assassino no intestino e 2) ele persegue com fervor homicida as causas de stress do seu “pai”. Com a ajuda de Highsmith (Peter Stormare), um terapeuta pouco convencional, Duncan vai tentar impedir que o demónio ataque novamente.

Tem uma premissa incrivelmente parva? Com certeza. “Bad Milo!” é como que um filme dos anos 80, que foi enfiado numa capsula no tempo e só agora foi (re)descoberto, ganhando o estatuto de culto. Tem um orçamento minúsculo, diálogo à altura daquela década, desempenhos descontraídos mas uma genica e uma vontade de abraçar o absurdo como há muito não se via. Tem uma imaginação como se tem observado apenas ultimamente no cinema independente [vide “Proxy” (2013) e “Contracted” (2013)] e o monstro é de borracha e não uma imagem gerada pelo computador de um geek qualquer! Coisa que a malta nascida nos anos 90 não deve conhecer. Exemplos como “The Thing” (2011) vêm à mente. Por trás da máscara do humor/terror de casa de banho, a ideia base de “Bad Milo!” é brilhante. É um facto científico que o stress tem sérios efeitos no corpo humano. Tem-se acidentes vasculares cerebrais, ataques cardíacos, tromboses, esgotamentos nervosos, uma lista infindável de efeitos nefastos no corpo humano... E são todas manifestações do nosso interior.

Os criadores de Milo foram apenas um pouco mais perversos ao insinuar que Duncan conseguiu aglomerar todo o stress que sentia num monstro vingativo. E se quisermos ser ainda mais provocadores, a ideia de alguém que não nós próprios punir quem nos causa angústia é deliciosa. O nosso apetite pela destruição é retratado numa situação implausível, podendo, para os mais atentos, passar despercebido. É aí que “Bad Milo!” é um pouco mais cerebral que o slasher médio saído dos anos 80. Refira-se no entanto, que Duncan é um homem de família e o seu “assassino” apenas escolhe como vítimas quem cometeu o erro de interacções infelizes para com ele. Apesar de Milo consistir numa manifestação é a Duncan que cabe a decisão final sobre o seu futuro: se vai continuar a internalizar o que sente ou se vai aceitar e procurar resolver os problemas que o afligem para uma existência futura mais saudável. Além disso “Milo” é assim apelidado pelo seu hospedeiro e tem um ar adorável (para uma hemorroida). Milo é fofinho e mesmo enquanto assassino é difícil não simpatizar com os seus grandes olhos à la “Puss in boots” do "Shrek 2" (2004). Desta vez ganha o vilão! Três estrelas.

Realização: Jacob Vaughan
Argumento: Benjamin Hayes e Jacob Vaughan
Ken Marino como Duncan
Gilian Jacobs como Sarah
Mary Kay Place como Beatrice
Toby Huss como Dr. Yeager
Peter Stormare como Highsmith

Próximo Filme: "Just another pandora's box" (Yuet gwong bo hup, 2010)

2 comentários:

  1. Ha! Lembro-me de ver o trailer disto e quase rebolar a rir. Tenho de o ver na íntegra um dia destes (tem o Stormare, só por isso vai valer a pena).

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