domingo, 3 de agosto de 2014

Ragnarok (Gaten Ragnarok, 2013)


Há quanto tempo não assistem a um filme de aventura? Ou melhor, qual foi o último verdadeiro filme de aventura a que assistiram que não envolva robots ou heróis da Marvel e que não seja uma sequela? Foi o que me pareceu.

“Gaten Ragnarok” inicia-se com uma obsessão. Sigurd Svendsen (Pål Sverre Hagen) é um arqueólogo trintão e pai de dois filhos que vive para o trabalho. Desde a morte da mulher (a quantidade de viúvos desgraçados por esse cinema fora), que Sigurd descura a vida a pessoal e busca, de modo compulsivo, uma grande descoberta relacionada com um antigo navio viking. Na sua mente perturbada pela dor, Sigurd crê que a falecida mulher ficaria feliz por ele. Acho que criar os filhos para se tornarem jovens adultos saudáveis faria mais pela felicidade de todos os que ainda vivem mas isso sou eu que sou esquisita. Na verdade Sigurd não está a fazer grande coisa nem pelos filhos nem pela carreira, pois mais não faz senão andar em círculos. Para o director do museu (Terje Strømdahl) onde trabalha é a gota de água, depois de mais um discurso fantasioso de Sigurd perante potenciais patrocinadores que provoca o corte de uma vital bolsa de investigação. Ele experimentou dizer-lhe que seguisse outra linha de trabalho, aconselhou até que acompanhasse mais os filhos e nada. Tudo parece perdido para Sigurd quando desilude a pequena Ragnhild (Maria Annette Tanderød Berglyd) pela enésima vez e vê, perante si, a possibilidade de anos a fio sem aventura, limitado ao papel de mero guia dos visitantes do museu. Quantos não desejariam um simples trabalho de escritório pago? É o colega Allan (Nicolai Cleve Broch) quem vem abalar a realidade monótona que decerto se abateria sobre o homem ainda novo e inconformado. Uma antiga pedra, com runas milenares revela informação fulcral sobre um dos momentos mais obscuros e interessantes da mitologia nórdica, o “Ragnarok”, ou a série de ocorrências que levarão ao fim do mundo como este é conhecido na actualidade. Determinados e empurrados pela informação recém-descoberta Sigurd e Allan partem com as crianças para Finnmark, a região de beleza inóspita mais ao norte da Noruega que faz fronteira com a Rússia. Lá reúnem-se a Elisabeth (Sofia Helin) uma exploradora experiente e a Leif (Bjørn Sundquist) um guia com mau feitio, para encontrar mais artefactos arqueológicos, vestígios da era soviética e algo de que ninguém estava à espera (se não tiverem visto mais do que o 1.º trailer, claro).

Sabem aquele ditado que diz qualquer coisa como não ser o destino que conta mas a viagem que se faz para lá chegar? Não é isto. As paisagens são magníficas e atravessar terras que poucos pisaram tem algo de excitante mas é Sigurd é um completo idiota. Trouxe os filhos a reboque apenas por obrigação e pouco mais que a atenção de Elisabeth o atrai quando não está à procura de pistas para o “maior achado arqueológico nórdico de sempre”.  Está completamente cego quanto ao que tem à sua frente. Por isso, quando finalmente se apercebe do seu erro pode ser tarde demais para salvar os filhos e o novo interesse amoroso.
Esta entrada oriunda da gelada Noruega encontra na sua própria terra e na mitologia escandinava os ingredientes certos para um filme de aventura. Os planos gerais de fiordes noruegueses e montanhas virgens parecem gritar por um grupo de intrépidos exploradores e evoca personagens como Indiana Jones ou James Bond cujo encanto ia além da sua própria persona. A audiência queria saber de que estes personagens eram capazes quando eram inseridos, por vezes inadvertidamente, em ambientes que não eram o seu e se conseguiam testar-se até ao fim das suas forças. Se a “Gaten Ragnarok” falta algo presente nestas narrativas é “O” personagem. Sigurd não inspira simpatia, ainda que a sua demanda desponte a curiosidade, Allan não deixa de ser um sidekick, mas até ele tem os seus defeitos e Elisabeth que se demonstra forte e corajosa, uma mulher alfa, se quiserem, não surge no ecrã tempo suficiente para roubar o estrelato. Mas os problemas não se quedam por aí. O ângulo da mitologia ou da presença soviética tal como o julgávamos, perde-se demasiado rápido e dá lugar a efeitos gerados por computador que deixam muito a desejar. As cartadas do argumento são depois, por demais previsíveis e inofensivas, (digamos que os maus têm o que merecem) deixando até abertura para uma sequela. Mas num deserto de filmes de aventura sem o predicado da originalidade, “Gaten Ragnarok” torna-se quase um “mal” necessário. Pode não ser o filme de aventura que queremos mas o filme de aventura que precisamos. Para ver com os miúdos. Duas estrelas e meia.

O melhor:
- Filme para ver em família
- Factor aventura
- Produto light, refrescante e inofensivo

O pior:
- Efeitos especiais fraquinhos, fraquinhos...
- Sigurd e Allan são capazes de ser os piores arqueólogos de sempre
- Sigurd também não é exactamente o pai do ano
- Necessitava de mais uns minutos de acção.

Realização: Mikkel Brænne Sandemose
Argumento: John Kåre Raake
Pål Sverre Hagen como Sigurd Svendsen
Nicolai Cleve Broch como Allan
Bjørn Sundquist como Leif
Sofia Helin como Elisabeth
Maria Annette Tanderød Berglyd como Ragnhild
Julian Podolski como Brage
Terje Strømdahl como Director do Museu



Próximo Filme: "The Raid 2: Berandal", 2014

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