domingo, 14 de setembro de 2014

"71 into the fire" (Pohwasogeuro, 2010)


Todos os países padecem de momentos menos felizes, uma espécie de loucura colectiva que leva a que irmãos combatam entre si, traumatizando gerações inteiras. No meio destes eventos surgem histórias de coragem, façanhas enaltecidas pelos que foram favorecidos por elas e cujos pormenores negativos são propositadamente obscurecidos de modo a alimentar um sentimento patriótico nas gerações futuras. “71 into the Fire” é baseado numa estória verídica que decorreu durante o conflito coreano (1950-1953), na qual 71 estudantes com pouca ou nenhuma formação militar aguentaram durante 11 horas, uma escola em Pohang, ponto estratégico fulcral para os invasores norte-coreanos da companhia 766.

A narrativa apresenta Seung-hyeon Choi como Jang-beom Oh, um estafeta aterrorizado que é colocado na posição ingrata de líder dos estudantes que são largados numa pequena escola para raparigas em Pohang. Depois de falhar espetacularmente num primeiro confronto com o inimigo, ele recebe o voto de confiança do Capitão Seok-dae Kang (Seung-woo Kim) para guardar a escola que, à partida não deverá constituir um alvo importante para o exército norte-coreano. As circunstâncias mudam e os 71 jovens mal preparados e com poucas munições encontram-se perante um exército arrogante, numa manifestação de força e sem qualquer apoio daqueles que os destacaram para a posição. “71 into the Fire” foca-se mais na batalha interior de Jang-beom se erguer à altura da situação como convém e inspirar os camaradas para a batalha das suas vidas. Desde o início a sua liderança é questionada pelo delinquente Gap-jo Koo (Sang-woo Kwon) e os que este recruta para o seu "lado". Para ele não existe um verdadeiro sentido de causa, o mundo é um lugar aterrador, onde é cada um por si. Não existe lugar para heroísmo ou sentimentalismo. Se calhar é o personagem mais realista em toda a película. Mas felizmente, a história faz-nos recordar que há lugar a milagres quando as pessoas se juntam para combater as forças do mal (o que quer que elas sejam). Gap-jo Koo cai na armadilha de se aproximar dos camaradas que atravessam a mesma situação e nos momentos críticos, revela-se o anti-herói que os setenta companheiros de desventura merecem e a bomba de oxigénio perfeita para Jang-beom descobrir a força que lhe faltava para os liderar.

Se a primeira metade do filme se arrasta, são os últimos momentos antes do embate que melhor demonstram o que aqueles jovens deverão ter sentido antes do embate. Num momento eram crianças, no outro os seus olhos assustados mostravam-nos como Homens. A reconstituição histórica sofreu uma influência óbvia de filmes mais realistas como “Saving Private Ryan”(1998) o que certamente o eleva acima do mero instrumento de propaganda baseado em factos reais. O elenco é também competente sendo que o mais conhecido será o cantor pop T.O.P. (Seung-hyeon Choi) que no papel de um introvertido e pouco confiante líder não compromete, demonstrando até que com tempo e experiência terá muito mais a dar no campo da 7ª Arte. Uma jogada de mestre, pois atrai as fãs do “cantactor” sem alienar quem procura um filme mais sério. O final é o standard do género com explosões, discursos inflamados e acrobacias de cortar a respiração. O prazer adiado por vezes sabe melhor e no caso em questão, fora ele mais tardio e “71 into the Fire” perdia o motivo de interesse. De facto, as tácticas para ganhar tempo e o confronto directo só pecam por escassez. “71 into the Fire” não é original mas cumpre a promessa de uma estória empolgante que poderá agradar quer a sul-coreanos quer a um público internacional. Três estrelas.

Realização: John H. Lee
Argumento: Man-hee Lee, Dong-woo Kim e John H. Lee
Seung-hyeon Choi como Jeong-beom Oh
Sang-woo Kwon como Gep-jo Koo
Seung-woo Kim como Seuk-dae Kang
Seung-won Cha como Moo-rang Park

Próximo Filme: "Life After Beth" (2014)

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