domingo, 1 de fevereiro de 2015

"Blood Letter" (Thien Menh Anh Hung, 2012)


Depois do massacre da família o jovem Nguyen Vu (Huynh Dong) é deixado num templo. Ele passa os anos seguintes escondido da civilização com um monge que o acolhe como a um filho e o inicia nos caminhos das artes marciais. Um dia o local é invadido por oficiais e Nguyen reconhece num dos homens, um dos mandantes do assassinato da sua família. O monge procede a revelar o trágico passado do clã do filho adoptivo: uma das concubinas do seu avô foi acusada de traição e a inflexível imperatriz Thai Hau (Van Trang), ordenou a morte da família inteira por associação à criminosa. Na sofreguidão de repôr a justiça ele acaba por ir espiar a corte real onde se depara com Hoa Xuan (Midu) que partilha do mesmo desejo de vingança que ele. Ela e a irmã Hoa Ha (Kim Tien) também testemunharam a fúria da imperatriz e tornam-se suas aliadas. Perante o rumor da existência de uma "carta de sangue" que poderá abalar o processo de sucessão real, ele e as irmãs embarcam numa aventura para a encontrar.

Aos primeiros segundos de filme, a estória aponta para um filme de vingança: entre mortos e feridos, Nguyen desmonta a cabala arquitectada contra a sua família e desmascara perante o mundo os malfeitores que entretanto destruiu com o domínio total e completo das artes marciais, qual filme de acção série B. Ao fim de uns minutos, a euforia acalma consideravelmente. Uma pessoa percebe que a mestria da arte da arte do combate não é a maior quando o melhor que o personagem principal é capaz de fazer é o kamehameha do “Dragon Ball”, num efeito digital embaraçoso. Isto não abona muito a favor de Johnny Tri Nguyen, o coreógrafo de acção de serviço, que aliado a uma edição tosca e uma câmara desinteressada fazem suspeitar que as cenas de combate não constituem de todo os melhores atributos de “Blood Letter”. O que a câmara procura isso sim é uma quantidade obscena de paisagens montanhosas, vegetação luxuriante e lagos de águas límpidas, cristalinas. Cenário remanescente de um filme wuxia qual “Crouching Tiger, Hidden Dragon” de início do milénio. Isto é fantástico mas um cinéfilo procura a paixão da estória e não apenas um postal animado de um país que de outra forma podia conhecer, através de publicidade institucional do Organismo Oficial de Promoção do Turismo: “Descubra as paisagens virgens do Vietname”. Pois que surge então uma rapariga bonita e afinal, “Blood Letter” inicia a trilhar os caminhos do romance. O herói descobre o sentimento mais precioso de todos e deverá querer tornar-se um homem melhor, acima do desejo de satisfação pessoal, que inclui o abandono completo do sentimento destrutivo da vingança.

“Blood Letter” é uma película muito interessante quando analisada do ponto de vista do cinema vietnamita, ainda pouco prolifico e amplamente influenciado pelo rumo político do país que dita até onde é que a inspiração dos cineastas poderá ir. Surge pois uma estória fantasiosa onde o herói não sobressai nem impressiona. A palavra que melhor o descreve é banal. O argumento é um mix dos filmes wuxia com filmes de série B e soma os defeitos de uns e de outros: peca por excesso de considerações filosóficas ou falas atiradas para o ar, sem convicção e desconexas de verdadeiras emoções. O actor principal sofre de uma mortal ausência de carisma e não consegue carregar o filme nos seus ombros. No início, Nguyen é ingénuo e altruísta como sempre convém. Depois torna-se um tolo apaixonado e pelo fim, pouco ajudado por uma edição desleixada, parece adquirir uma sabedoria que deve ter brotado do solo. Acordou um dia e teve uma epifania sobre o perdão e o que será melhor para o povo vietnamita. Desde quando é que ele, uma pessoa que sempre viveu num templo, nos confins da civilização e sem qualquer contacto social tem poder para decidir sobre os destinos dos outros? Se no papel a mudança já é demasiado brusca e despropositada, o facto de o actor não possuir a experiência necessária para a transmitir mata qualquer hipótese de aproximação ao seu dilema. De igual modo a sua amada no ecrã, a despeito de possuir um pouco mais de energia, age na maior parte do tempo como uma adolescente com a birra porque os pais não lhe compraram uns ténis caros. E assim por diante, incluindo vilões caracterizados com maquilhagem apatetada e esgares exagerados. Fica a ideia que “Blood Letter” foi realizado apenas com o intuito de ser bom o suficiente e nunca teve a excelência como alvo. Feito o balanço, nem é bom para figurar numa lista pessoal, quanto mais de melhor do ano. Duas estrelas

O melhor:
- Postal da beleza natural vietnamita
- Guarda-roupa

O pior:
- A representação
- Edição tosca. Sensação de frequente ausência de continuidade
- Já era altura de os vilões não terem maquilhagem exagerada para demonstrar que são os maus da fita!

Realização: Victor Vu
Argumento: Victor Vu
Huynh Dong como Nguyen Vu
Midu como Hoa Xuan
Khuong Ngoc como Tran Tong Quan
Minh Thuan como Su Phu
Kim Hien como Hoa Ha
Van Trang como Thai Hau

Próximo Filme: "Sleepwalker 3D" (Meng you 3D, 2011)


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