So-yeon (Kim Min-Kyung) e Joon-sik (Jo Han-seon) são um casal que sofre ainda bastante devido com um aborto espontâneo sofrido anos antes. Joon-sik fechou-se sobre si próprio e passa os dias num martírio diário entre o trabalho e o álcool, deixando So-yeon sozinha. Além do sentimento de abandono, So-yeon ressente-se com a falta de intimidade. Desde o acontecimento traumático que Joon-sik desenvolveu impotência e não dá mostras de a conseguir curar sem apoio. Determinada a salvar a relação ferida e gerar o tão desejado rebento So-yeon decide marcar um dia de férias numa ilha remota de descanso e romance. Lá, encontram um restaurante que é gerido por Seong-cheol, um Ma Dong-seok num papel sinistro e a sua bonita irmã muda Min-hee (Ah jin). Após uma noite de bebidas estranhas e comida gostosa, Seong-cheol faz a proposta indecente a Joon-sik: dormir com Min-hee e recuperar a pujança para ter um filho com So-yeon. Entre os quatro é gerada uma dinâmica desconfortável que é aparente a todos quanto a ela assistem mas, sobretudo para So-yeon e, pela sua parte, quase omissa para um Joon-sik semi-alcoólico.
“Deep Trap” é bastante explícito quanto ao que pretende. O cenário isolado, o par de personagens estranhas que não inspiram total confiança, a série de coincidências que leva a que o casal fique preso no local e propostas inconcebíveis são a mera antecipação do que tantas vezes se viu antes no cinema do género. O filme apresenta algumas cenas de sexo que deixam pouco à imaginação e uma cena de violação brutal a que poderá ser difícil assistir. De igual modo, à boa maneira coreana, há duas ou três sequências de extrema violência e que parecem contrastar com o dramazinho romântico sobre um casal que tenta ultrapassar e reacender a chama da paixão que os minutos iniciais aparentavam prometer. O quarteto de protagonistas, liderado pelo experiente Ma Dong-seok que mais uma vez rouba o protagonismo (vide “Train to Busan”, 2016) e é um dos parcos motivo para que “Deep Trap” não caia na penúria total. Ma Dong-seok encontra nuance suficiente no personagem amoral para ainda assim, encarnar o bronco ignorante que pode ser desculpado pela educação que teve e pouca exposição às boas regras de civilidade. Quase podia ser uma boa pessoa se ao menos tivesse tido acesso às oportunidades que outros têm… isto se conseguirem ignorar os maus-tratos a Min-hee.
O que não será de digestão fácil serão algumas das acções dos personagens. Para sociedades mais liberais comportamentos onde o bem-estar e segurança própria são relegados para segundo lugar em favor de agradar ao “Homem” ou a flor delicada que sofre estoica em silêncio, não são fáceis de entender. No entanto, são elementos indeléveis de culturas patriarcais, como a sul-coreana. Onde os países tendencialmente ocidentais verão fraqueza, os orientais poderão encontrar heroísmo. Mas temo informar que se mantém o padrão tantas vezes visto e iguais vezes criticados em filmes coreanos e japoneses. A síndrome de petrificação e de colagem ao chão continua viva. Onde em situações limite a reacção rápida é essencial, os personagens continuam imóveis, chocados com os acontecimentos. Um exemplo paradigmático sucede quando dois homens combatem corpo a corpo e a mulher de um deles permanece imóvel, sabendo bem que o companheiro poderá perder a luta. É um pressuposto que em filmes de assassinos psicopatas e, como a boa tradição de filmes como um “Friday the 13th” (1980) e suas iterações demonstraram, os personagens devem ter uma boa dose de tontice para que sejam apanhados pelo papão. Gostava contudo, de ver a parte do contrato em que diz que os personagens não devem correr e tropeçar bastante ou mais simplesmente ficar colados ao chão enquanto uma figura malévola se dirige a eles para lhes fazer coisas muito más. Por estes motivos “Deep Trap” torna-se um exercício de concentração para não carregar no botão de stop e para o filme quando os personagens agem de forma tão, mas tão, frustrante, que ficamos a pensar que se o assassino os apanhar não se perde nada ou pior, torcer que o assassino os apanhe para limpar o mundo (do cinema) de tamanha estupidez. “Deep Trap” tem zero de factor surpresa. Um casal de betinhos da cidade fica preso no covil do inimigo e sofre horrores a tentar escapar. Been there done that… and better. Próximo. Duas estrelas.
Realização: Hyeong-jin Kwon
Ji An como Min-hee
Sun-Jo Han como Joon-sik
Dong-seok Ma como Seong-cheol
Min-Kyeong Kim como So-yeon
Próximo Filme: "Better Watch Out", 2016
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