“The Tracer” é um filme de acção e artes marciais vietnamita de 2016, que resulta em parte dos fundos bolsos da gigante produtora e distribuidora coreana CJ Entertainment que está cada vez mais interessada no cinema florescente daquele país.
Esta película tem por foco uma agente policial, a Major An (Truong Ngoc Anh), implacável na sua perseguição aos bandidos e consegue manter uma aparência espectacular enquanto o faz. Ela é também irrequieta e irreverente o suficiente para ignorar as ordens do seu superior Minh (Vinh Tuy) e iniciar as hostilidades antes de chegarem reforços. Numa dessas ocasiões, a Major acaba por provocar a morte acidental de um elemento importante do gangue criminoso dos Lobos. O chefe dos criminosos Loc Sui (Lamou Vissay) e a sua irmã e noiva do falecido Phuong Lua (Maria Tran) iniciam então uma persecução a An, que só poderá cessar com a morte ou captura de uma das partes.
Assisti a este filme quando me encontrava a várias milhas de altitude. Encontrei alguns filmes que raramente se encontram por estas paragens e decidi dar-lhe uma hipótese. Quando acabei o visionamento tinha a forte sensação de déjà vu. Regressada a Portugal, fui pesquisar informação adicional sobre o filme e encontrei algumas alusões à qualidade e até inovação de “The Tracer”. Isso surpreendeu-me pois nada podia estar mais longe da verdade. Parecia até conversa de marketing.
Na verdade, tinha visto e escrito há uns anos sobre “Clash” (Bay Rong, 2009), com uma Veronica Ngo que estaria ainda longe de imaginar que iria entrar no Star Wars: Episode VIII - The Last Jedi (2017) e muito pouco mudou desde então. O argumento continua tão incipiente como na iteracção anterior e talvez até pior. A comparação entre os elencos também não deixa margem para dúvidas. Em 2009, existia, apesar de tudo, uma tentativa de elevar o material. “The Tracer” é toda uma série de erros atrás uns dos outros, a começar na personagem principal. Truong Ngoc Anh tenta interpretar uma espécie de agente do bem, fria e inamovível na sua busca por justiça mas provocar mais sensação pela incapacidade de representação enquanto as próprias acções da personagem também a tornam pouco simpática. A Major tem um irmão mais novo portador de deficiência a quem quer a todo o custo proteger mas a isso não a faz ter cuidado com a sua própria vida quando, se ela falecer, o jovem ficará sozinho no mundo. Existem ainda alguns outros agentes do seu lado, por curiosidade, todos homens, sendo que uma boa percentagem destes surge com alguma frequência de tronco nu. Não seria difícil adivinhar que dispõem de uma boa forma física, sendo um filme de artes marciais mas, isso só torna “The Tracer” gratuito. A tudo isto não é alheio o facto de o cinema do país estar sob o escrutínio de censores do regime mas enquanto “The Tracer” pouco terá de ofensivo para o regime tem tudo para as audiências. Para um filme do século XXI, financiado por um conglomerado gigante, a estória parece tirada a papel químico dos filmes de acção série B, dos anos 90. Isto parece deliberado: dá a impressão que o cineasta Cuong Ngo se limitou a seguir as referências que tinha enquanto subestima a audiência que entende por pouco sofisticada e capaz consumir com voracidade tudo o que tiver para lhe apresentar.
"Olhem só para a minha cara de acção!" |
Realização: Cuong Ngo
Argumento: Nguyen Thi Nhu Khanh
Truong Ngoc Anh como Major An An
Thien Nguyen como Kien Lang Tu
Lamou Vissay como Loc Soi
Vinh Thuy como Truong Phong Minh
Cuong Seven como Ong Trum
Maria Tran como Phuong Lua
Hieu Nguyen como Dau Bac
Marcus Guilhem como Hai San Quyen
Próximo Filme "Annihilation", 2018
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