segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Suores Frios - "Ter medo é coisa que não me assiste" - por Vítor Rodrigues


Tenho uma relação muito especial e invejosa com o terror. Se por um lado sei que não estou a apreciar correctamente um género cinematográfico com mérito próprio, por outro não consigo entender de todo o fascínio. Permitam então que me envergonhe...

Se eu não gosto de ser assustado na vida real, porque haveria de o querer numa sala de cinema? Porque hei-de pagar para me sentir contraído e receoso com o que aí vem? Poderão falar-me em rush de adrenalina ou até que o terror não é sinónimo de jump scares, mas ainda assim não me convencem. É então com extrema vergonha que apresento três momentos que me marcaram e cimentaram a minha convicção.

Em 1997, com 13 anos, lembro-me de ficar “cagado” com o início de Men in Black. Sim, a comédia com Will Smith (eu não disse que vinha aqui envergonhar-me?!). A verdade é que aquela cena inicial em que um alien “caça” Tommy Lee Jones deixou-me apreensivo até quase meio do filme, receando o que aí pudesse vir. Aos 15 aventurei-me “à séria” com o género e vi o Projecto Blair Witch. Único filme que vi no velhinho XXX, e dos poucos que tive de me sentar na zona lateral da sala, por esta estar já tão lotada. Lembrem-se que esta é uma altura pré-internet, logo, tudo o que eu estou a ver é “real”! Saí daquela sala perfeitamente convencido que tinha visto um documentário. A imagem final, em que a camêra cai e um dos jovens está virado para o canto da sala ficará gravado na minha memória para todo o sempre.

O meu último exemplo é o mal amado Signs de 2002, com Mel Gibson e Joaquin Phoenix. Poderia escolher várias cenas de tensão em campos de milho ou o final na casa, mas a cena que mais me marcou é a de um noticiário, em que é reproduzido um video amador do Brasil e do nada surge um alien. Apanhou-me tão despercebido que me encheu de medo. Não de susto, mas de medo.



Estes exemplos completamente lights fizeram-me perceber que não tinha nem mãozinhas nem palato para terror valente. Uma grande parte de mim tem ainda um preconceito real com o género que não consigo afastar. Há uma pobreza de ideias revolucionárias e recurso a artimanhas repetitivas em argumentos fracos que usam o terror como muleta, em vez de uma característica secundária. Consciente que falo de certeza do alto pedestal da ignorância, mas ainda assim, é o meu pedestal.

Aos 36 já podia ganhar vergonha na cara e ver umas obras primas. Afinal de contas, quando vi o Exorcista, anos depois de todos os meus amigos, encontrei mais comédia que terror. Men in Black é agora pura comédia e Blair Witch perdeu o “encanto” depois de perceber que era tudo mentira. Talvez um palato mais maduro me fizesse despertar para novas sensações... mas, tenho medo...

O Vítor escreve umas coisas no Vida em Série e no Séries da TV e pode ser encontrado no Twitter a pastar...

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